*A GÊNESE 17*
OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO
Por ALLAN KARDEC
*DEUS*
*Da natureza Divina*
O homem não pode, porque não consegue, sondar a *natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire pôr meio da completa depuração do espírito*. No entanto, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que aceite como premissa a sua existência, pode, *pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode deixar de ser sem deixar de ser Deus, deduz, daí, o que ele deve ser*, ou seja, não podendo compreender como Deus é, pode compreender como ele não pode deixar de ser.
É impossível compreender-se a obra da criação sem o conhecimento dos atributos de Deus. Esse o *ponto de partida de todas a crenças religiosas* e, é pôr não terem se reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a *onipotência* imaginaram muitos deuses; as que não lhe atribuíram *soberana bondade* fizeram dele um Deus cioso, colérico, parcial e vingativo.
Deus sé a suprema e soberana inteligência.
É limitada a inteligência do homem, pois que *não pode fazer nem compreender tudo quanto existe*. A de Deus , abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim pôr diante, até ao infinito.
*Deus é eterno,*
Deus não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não é coisa alguma e portanto coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado pôr outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim pôr diante, ao infinito.
*Deus é imutável.*
Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.
*Deus é imaterial.*
A sua natureza difere de tudo o que *chamamos matéria*. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito ás transformações da matéria.
Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria. Dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a boca de Deus, porque o homem, nada mais conhecendo além de si mesmo, toma a si próprio pôr termo de comparação para tudo o que não compreende. São ridículas essas imagens em que Deus é representado pela figura de um ancião de longas barbas e envolto num manto. Têm o inconveniente de rebaixar o Ente supremo até às mesquinhas proporções da Humanidade. Daí a lhe emprestarem as paixões humanas e fazerem-no um Deus colérico e cioso, não vai mais que um passo.
*Deus é onipotente.*
Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim pôr diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.
*Deus é soberanamente justo e bom.*
A providencial sabedoria das Leis Divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça nem da sua bondade.
*O fato de ser infinita uma qualidade, exclui a possibilidade de uma qualidade contrária, porque esta a tornaria menor ou a anularia*. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina mancha preta.
Deus, pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque então, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, não seria Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para nenhuma haveria estabilidade. Não poderia ele, pôr conseguinte, deixar de ser ou infinitamente bom, ou infinitamente mau. Ora, com suas obras dão o testemunho da sua sabedoria, da sua bondade e da sua solicitude, concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar de ser Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente bom.
A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse injustamente ou com parcialidade, numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em conseqüência, já não seria soberanamente bom.
*Deus é infinitamente perfeito.*
É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, é preciso que ele seja infinito em tudo.
Sendo infinitos, os atributos de Deus não são suscetíveis bem de aumento, nem de diminuição, visto que do contrario não seriam infinitos e deus não seria perfeito. Se lhe tirassem a qualquer dos atributos a mais mínima parcela, já não haveria Deus, pois que poderia existir um ser mais perfeito.
*Deus é único.* Do fato de serem infinitas as suas perfeições, resulta a unicidade de Deus. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então não seria Deus. Se houvesse entre ambos igualdade absoluta, isso equivaleria a existir, de toda a eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos, assim, quanto à identidade, *não haveria, em realidade, mais que um único Deus*. Se cada um tivesse atribuições especiais, um não faria o que o outro fizesse; mas, então não existiria igualdade perfeita entre eles, *pois que nenhum possuiria autoridade soberana.*
*A ignorância do princípio de que são infinitas as perfeições de Deus foi que gerou o politeísmo, parecia acima dos poderes inerentes à Humanidade. Mais tarde, a razão levou-os a reunir essas diversas potências numa só. Depois, à proporção que os homens foram compreendendo a essência dos atributos divinos, retiraram dos símbolos, que haviam criado, a crença que implicava a negação desses atributos.*
Em resumo, Deus não pode ser Deus senão sob a condição de que nenhum outro o ultrapasse, porquanto o ser que o excedesse no que quer que fosse, ainda que apenas na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro Deus. Para que tal não se dê, indispensável se torna que seja infinito em tudo.
É assim que, comprovada pelas suas obras a existência de Deus, por *simples dedução lógica* se chega a determinar os atributos que o caracterizam.
Deus é, pois, *a inteligência suprema e soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições*, e não pode ser diferente disso.
Tal o eixo sobre que repousa o edifício universal. Esse farol cujos raios se estendem pôr sobre o Universo inteiro, única luz capaz de guiar o homem na pesquisa da verdade. Orientando-se pôr essa luz, ele nunca se tranviará.
*Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste nem um til, das qualidades essenciais da Divindade*. A religião perfeita será aquela de cujos artigos de fé nenhum esteja em oposição àquelas qualidades; aquela cujos dogmas todos suportem a prova dessa verificação sem nada sofrerem.
*Denizart Castaldeli*
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