*O LIVRO DOS MÉDIUNS Estudo
117 – *Questão
230*
(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)
Por
ALLAN KARDEC
Contém o ensino especial dos Espíritos
sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação
com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os
escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.
*SEGUNDA PARTE*
*DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS*
*CAPITULO XX*
*INFLUÊNCIA MORAL DOS MÉDIUNS*
*QUESTÕES DIVERSAS*
*DISSERTAÇÃO DE UM ESPÍRITO SOBRE A
INFLUÊNCIA MORAL*
*Questão 230*
Na conclusão do capítulo XX, considerando a importância e atualidade
das instruções espíritas, transcrevemos a dissertação do Espírito Erasto sobre
a influência moral dos médiuns:
“Já o dissemos: os médiuns, como médiuns, exercem influência secundária
nas comunicações dos Espíritos. Sua tarefa é a de uma máquina elétrica de
transmissão telegráfica entre dois lugares distantes da Terra. Assim, quando
queremos ditar uma comunicação, agimos sobre o médium como o telegrafista sobre
o aparelho. Quer dizer, da mesma maneira que o tique-taque do telégrafo vai
traçando, a milhares de léguas, numa tira de papel, os sinais reprodutores do
despacho, nós também nos comunicamos através das distâncias imensuráveis que
separam o mundo visível do mundo invisível, o mundo imaterial do mundo
encarnado, aquilo que desejamos vos ensinar por meio do aparelho mediúnico.
Mas, assim também como as influências atmosféricas frequentemente atuam
sobre as transmissões telegráficas e as perturbam, a influência moral do médium
age algumas vezes sobre a transmissão dos nossos despachos de além-túmulo e o
perturbam, por que somos obrigados a fazê-los atravessar um meio contrário.
Entretanto, na maioria das vezes essa influência é anulada pela nossa energia e
a nossa vontade, e nenhuma perturbação se verifica. Com efeito, os ditados de
elevado alcance filosófico, as comunicações de moralidade perfeita são
transmitidas às vezes por médiuns pouco apropriados a essa função superior,
enquanto, de outro lado, comunicações pouco edificantes chegam às vezes por
médiuns que se envergonham de lhes servir de condutores.
De maneira geral, pode-se afirmar que os Espíritos similares se atraem,
e que raramente os Espíritos das plêiades elevadas se comunicam por mal
condutores, quando podem dispor de bons aparelhos mediúnicos, de bons médiuns,
numa palavra.
Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma
natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,
a frivolidade, as ideias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se
espiriticamente. Certamente eles podem dizer e dizem, às vezes, boas coisas,
mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e
escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas
insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções
mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé. Deve-se então eliminar
sem piedade toda palavra e toda frase equívocas, conservando no ditado somente
o que a lógica aprova ou o que a Doutrina já ensinou. As comunicações dessa
natureza só são perigosas para os espíritas que agem isolados, os grupos
recentes ou pouco esclarecidos, porque, nas reuniões de adeptos mais adiantadas
e experientes, é inútil a gralha de se adornar com penas de pavão, pois será
sempre impiedosamente descoberta.
Não falarei dos médiuns que se comprazem em solicitar e receber
comunicações obscenas. Deixá-los que se comprazam na sociedade dos Espíritos
cínicos. Aliás, as comunicações dessa espécie exigem por si mesmas a solidão e
o isolamento. Não poderiam acontecer, em qualquer circunstância, entre os
membros de grupos filosóficos e sérios.
Mas, onde a influência moral do médium se faz realmente sentir é quando
este substitui pelas suas ideias pessoais aquelas que os Espíritos se esforçam
por lhe sugerir. É ainda quando ele tira, da sua própria imaginação, as teorias
fantásticas que ele mesmo julga, de boa fé, resultar de uma comunicação
intuitiva. Nesse caso, há mil possibilidades contra uma de que isso não passe
de reflexo do Espírito do médium. Acontece mesmo este fato curioso: a mão do
médium se movimenta, às vezes, quase mecanicamente, impulsionada por um
Espírito secundário e zombeteiro.
É essa a pedra de toque das imaginações ardentes. Porque, levados pelo
ardor das suas próprias ideias, pelos artifícios dos seus conhecimentos
literários, os médiuns desconhecem a modéstia do ditado de um Espírito sábio e
desprezam a presa pela sombra, o substituem por uma paráfrase empolada. Contra
esse temível escolho se chocam também as personalidades ambiciosas que, na
falta de comunicações que os Espíritos bons lhes recusam, apresentam as suas
próprias obras como sendo deles. Eis porque é necessário que os dirigentes de
grupos sejam dotados de tato apurado e de rara sagacidade, para discernir as
comunicações autênticas e ao mesmo tempo não ferir os que se deixam iludir.
Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não
admitais, pois, o que não for para vós de evidência inegável. Ao aparecer uma
nova opinião, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e
da lógica. O que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais
vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria
falsa.¹ Com efeito, sobre essa teoria podereis edificar todo um sistema que
desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento construído sobre a
areia movediça. Entretanto, se rejeitais hoje certas verdades, porque não estão
para vós clara e logicamente demonstradas, logo um fato chocante ou uma
demonstração irrefutável virá vos afirmar a sua autenticidade.
Lembrai-vos, entretanto, ó espíritas! de que nada é impossível para
Deus e para os Espíritos bons, senão a injustiça e a iniquidade.
O Espiritismo já está, hoje, bastante divulgado entre os homens, e já
moralizou suficientemente os adeptos sinceros da sua doutrina, para que os Espíritos
não se vejam mais obrigados a utilizar maus instrumentos, médiuns imperfeitos.
Se agora, portanto, um médium, seja qual for, por sua conduta ou seus costumes,
por seu orgulho, por sua falta de amor e de caridade, der um motivo legítimo de
suspeição, rejeitai as suas comunicações, porque há uma serpente oculta na
relva. Eis a minha conclusão sobre a influência moral dos médiuns.” – ERASTO.
Em nota constante em O Livro dos Médiuns, aqui estudado, o Prof.
Herculano Pires (tradutor) destaca a regra de ouro do Espiritismo, dada pelo
Espírito Erasto, e informa ainda que essa regra espalhou-se como sendo do
próprio Kardec e em forma diferente, ou seja: Mais vale rejeitar noventa e nove
verdades do que aceitar uma mentira. Foi por esse motivo que ele, o tradutor, a
grifou no texto e afirma que ela deve ser constantemente observada nos
trabalhos e estudos espíritas.
Concluindo, então, os estudos do capítulo XX - INFLUÊNCIA MORAL DOS
MÉDIUNS -, compreende-se o quanto é importante para o médium cultivar valores
ético-morais que lhe permitam oferecer sintonia adequada às entidades
superiores, que poderão utilizar-se dos recursos oferecidos, levando socorro e
esclarecimento aos necessitados dos planos material e espiritual.
A imperfeição moral, que se manifesta nos encarnados ou desencarnados,
é indício do estágio inferior no qual transita o seu portador, o qual deve se
esforçar por superá-la, trabalhando com empenho para libertar-se de suas
amarras, e o estudo aprofundado de O Livro dos Médiuns é essencial para aquele
médium que deseja ser instrumento confiável dos Bons Espíritos.
*Bibliografia:*
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo, FEESP. 1989 -
Cap. XX, q. 230
Tereza Cristina D'Alessandro
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