O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - XXXVII
ITEM 4: CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES
Como vimos, o espiritismo nos ensina que são de duas origens as causas dos sofrimentos do viver na Terra: umas da vida atual e outras das vidas anteriores, provocadas sempre, porém, por quem sofre as conseqüências.
Assim, podemos deduzir, em tese, que não há vítimas, sofredores inocentes.
Vamos refletir, neste estudo e no próximo, sobre as causas atuais das aflições e vamos perceber que grande parte das nossas dificuldades atuais são causadas por nós, em nosso viver cotidiano, reagindo, despreocupadamente, aos acontecimentos e situações, na dependência de como nos sentimos no momento, de como estão nossas emoções e sentimentos.
Ofendemos pessoas, não fazemos a escolha certa, damos origem a novas situações desagradáveis, porque toda ação gera uma reação, que por sua vez vai gerar outra reação e assim, sucessivamente.
Muitos dos nossos sofrimentos têm origem em nosso egoísmo, que nos impede de ver as necessidades alheias, pensando apenas em nós; em nosso orgulho, que nos coloca em posição superior aos demais, vendo-nos bons e inteligentes e aos outros como ignorantes, indolentes e aproveitadores; em nossa aspereza no trato com os demais, afastando até os que se simpatizam conosco ou nos amam; em nossa intolerância com as faltas alheias, não perdoando nada, sem mesmo percebermos o quanto precisamos do perdão alheio...
Quanto sofrimento evitaríamos se estivéssemos mais preocupados em conhecer-nos, enxergar-nos como realmente somos e, por amor a nós próprios, procurássemos melhorar-nos a cada dia, a cada hora!...
Passaríamos a ter menos tempo para criticar os outros e os olharíamos como pessoas iguais a nós, com as mesmas necessidades, os mesmos sonhos de paz e felicidade.
Muitos dos sofrimentos poderiam ser evitados se os homens buscassem seu desenvolvimento moral, renovando sentimentos e pensamentos, o que os levaria a agir de forma mais equilibrada e mais sensata.
Há pessoas que por terem tido uma vida mais fácil pelo dinheiro da família, não aprenderam que é dever de todos trabalhar e vão levando a vida, com os recursos que têm. Esses vão terminando, bens são vendidos para obtenção de dinheiro e, quase que de repente, se vêm com mais idade, sem recursos, com doenças, recorrendo a amigos e conhecidos, que acabam se cansando por que não vêm nelas a vontade de modificar a situação e porque também não têm recursos para sustentar outros, além dos seus. Essas pessoas sofrem muitas necessidades, não conseguem modificar os hábitos caros anteriores, julgam-se vítimas de todos, menos de si mesmas. São vítimas do seu orgulho, da sua vaidade.
Quantos pais, vivendo sós, na velhice ou em casas para idosos, sofrem pela ausência dos filhos, pela indiferença com que são tratados, julgando-os ingratos - e eles o são - culpando, muitas vezes, a Deus pela situação. Todavia, grande parte desses pais não procurou desenvolver nos filhos os sentimentos nobres de piedade, de amor ao próximo, e, muitos deles não foram bons pais.
Não estamos aqui justificando esta atitude dos filhos. A lei divina diz que se deve honrar os pais, pelo simples e grandioso ato de propiciar aos filhos a vida na Terra. Mesmo quando não fazem por eles o que deveriam e poderiam, ainda assim merecem honras, deferência e piedade filial nas necessidades.
Porém, isso não exime os pais das conseqüências do não cumprimento do dever e da missão de cuidar dos filhos, auxiliando seu desenvolvimento intelectual e moral. Recebem, pois, do que plantaram e bom seria se, ao invés de reclamarem, reconhecessem suas falhas e aprendessem com a situação.
Muitos casamentos infelizes têm sua origem nos motivos de sua realização: atração física apenas, interesses sociais, financeiros, "todo mundo casa...", " Ele/ ela vai me fazer feliz" e tantos outros, menos o principal : a afeição, que leva a querer fazer o outro feliz.
Kardec aconselha a todos que sofrem, a interrogar a própria consciência, procurando saber, de verdade, se esse sofrimento não foi provocado, bem na sua origem, por eles mesmos, quando ao invés de agirem de um modo o fizeram de outro não adequado, dando origem à vicissitude atual.
"- Se eu tivesse ou não tivesse feito tal coisa, não estaria nesta situação." Lamento esse que muitos repetem constantemente, sem, todavia aceitar as conseqüências como realmente frutos de suas ações, sem se sentir culpados porque não têm ainda a vontade de enfrentar os desafios, esperando que outros venham resolver seus problemas e dificuldades.
Fica sempre mais fácil culpar pessoas, ou a vida, ou Deus e, assim vão vivendo e sofrendo até que a dor seja tão intensa que os despertem para o conhecimento de si mesmo, aceitação da luta a ser enfrentada, transformando- se moralmente.
Somos responsáveis por tudo que sentimos, pensamos e fazemos. Quem já se conscientizou desta verdade, não pode mais agir e reagir, aleatoriamente, ao sabor das circunstâncias e das suas imperfeições.
Necessário o uso do raciocínio em quaisquer situações, para que os sentimentos, pensamentos e ações não tragam efeitos desagradáveis e dolorosos. Para isso é preciso querer modificar-se, no esforço de auto-análise constante e esforço de vivência no dia-a-dia, sem pressa de perfeição, mas perseverantemente.
*Leda de Almeida Rezende Ebner*
Junho / 2004
Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto (SP)
https://chat.whatsapp.com/BBdBqQYDWX063IQsvumtvW
Nenhum comentário:
Postar um comentário