terça-feira, 31 de janeiro de 2012

São de três ordens as provas da existência da reencarnação


THIAGO BERNARDES
De Curitiba

As provas da reencarnação baseiam-se essencialmente no seguinte:
• Na regressão de memória, que pode efetuar-se por força de sugestão hipnótica ou da recordação espontânea de existências anteriores, sem que se identifique uma causa que a justifique; neste último caso, a recordação pode dar-se tanto no sono comum como no estado de vigília.
• Nos ditados mediúnicos, em que o médium transmite revelações sobre existências anteriores, próprias ou de terceiros.
• Nas idéias inatas e nas crianças prodígios, fato que abalou e continua a abalar as bases científicas de hereditariedade.
As recordações espontâneas de existências passadas foram objeto de pesquisas realizadas, entre outros, pelos professores H. N. Banerjee e Ian Stevenson. Professor na Universidade de Virgínia (EUA), Stevenson é autor do livro “Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação”, em que relata experiências de pessoas que recordam espontaneamente episódios de existências anteriores, espécie de fenômeno a que se deu o nome de “memória extracerebral”.
Secundariamente, não como prova de sua existência, mas como indício óbvio de sua antigüidade no pensamento humano, a reencarnação é também ensinada por diversas escolas filosóficas e religiosas – notadamente as orientais. Pitágoras, por exemplo, foi um dos seus defensores mais ardorosos.
Alguns fatos registrados nos anais da história merecem ser aqui lembrados, por constituírem testemunhos importantes em favor da realidade da reencarnação:
• Juliano, o Apóstata, lembrava-se de ter sido Alexandre da Macedônia.
• O poeta Lamartine declara em sua “Viagem ao Oriente” ter tido reminiscências muito claras de suas existências passadas.
• O escritor francês Mery recordava-se de ter combatido na guerra das Gálias e também na Germânia, quando então se chamara Minius.
• O sensitivo Edgar Cayce, em transe mediúnico, revelava fatos de existências anteriores das pessoas que o procuravam e dele mesmo.
Cayce afirma que numa existência imediatamente anterior fora John Bainbridge, nascido nas Ilhas Britânicas em 1742.
A reencarnação é
também provada pelas
revelações espíritas
Pelo sono provocado através da hipnose, método muito usado atualmente por médicos e psicólogos para fins terapêuticos, têm sido obtidas grandes e numerosas provas da reencarnação.
O psiquiatra inglês Denys Kelsey relata em seu livro “Muitas Existências”, escrito em parceria com sua esposa, o caso de um cliente, profissional liberal de meia-idade, afligido por persistente e invencível inclinação homossexual.
Depois de aplicar os métodos clássicos da psicanálise, sem nenhum resultado, numa sessão de hipnose, já pela décima quarta consulta, o paciente começou a descrever episódios de uma existência vivida entre os hititas, quando, na qualidade de esposa de um dos chefes da época, acostumada ao luxo, exercera grande poder sobre o marido. Os hititas habitaram a Síria setentrional por volta de 1900 a.C. Quando a beleza física se foi e o marido deixou de interessar-se por ela, o choque emocional foi muito forte para a sua natureza apaixonada. Tentando atrair terríveis malefícios sobre seu esposo, ela pediu a um sacerdote de Baal que o amaldiçoasse; mas acabou assassinada, levando para o Além toda a frustração da sua humilhante posição de esposa orgulhosa e desprezada. Ao que parece, deduziu o dr. Kelsey, o episódio estava repercutindo na existência atual, na qual a mesma pessoa experimentava inclinação homossexual.
A doutrina da reencarnação
estimula o progresso
coletivo e individual
Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores: “Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, o das línguas, do cálculo, etc.?” Os Espíritos responderam:
“Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela não tem consciência. Donde queres que venham tais conhecimentos? O corpo muda, o Espírito, porém, não muda, embora troque de roupagem”.
Nessa citação encontramos mais uma prova da reencarnação: a das idéias inatas. A História nos revela inúmeros exemplos de gênios, de sábios, de homens valorosos cujos pais, ou mesmo seus filhos, não foram grandiosos como eles.
Alguns desses Espíritos foram na Terra o que costumamos chamar de meninos prodígios, cujo talento conseguiu pôr em dúvida as leis da hereditariedade. Evidentemente, o Espiritismo não nega a hereditariedade física ou genética, mas repele a idéia de que exista uma herança moral ou intelectual transmissível de pais para filhos.
De fato, sabemos que vários sábios nasceram em meios obscuros, como é o caso de Augusto Comte, Espinosa, Kleper, Kant, Bacon, Young, Claude Bernard etc., enquanto homens de valor tiveram como descendentes pessoas comuns ou mesmo medíocres.
Péricles, por exemplo, procriou dois tolos. Sócrates e Temístocles tiveram filhos indignos de seus nomes, e os exemplos não param por aí, porque são muitos e conhecidos.
Ante as provas mencionadas, a tese da reencarnação mostra ser uma doutrina renovadora, porque estimula o progresso individual e, conseqüentemente, o coletivo. A reencarnação revela-nos o que fomos, o que somos e o que seremos, e constitui o instrumento por excelência da lei do progresso e da aplicação da lei de causa e efeito.
A doutrina das vidas sucessivas – ao contrário da crença de que somos condenados a uma pena eterna depois de uma única oportunidade na vida – satisfaz, pois, todas as aspirações de nossa alma, que exige uma explicação lógica do problema do destino. E, o que é inegavelmente mais importante, ela se concilia perfeitamente com a idéia de que existe uma Providência divina, ao mesmo tempo justa e boa, que não pune nossas faltas com suplícios eternos, mas que nos enseja, a cada instante, o poder de reparar nossos erros, elevando-nos na escala evolutiva graças aos nossos próprios esforços.
Em sua obra, Gabriel Delanne refere
inúmeras provas da reencarnação

Como exemplos de provas da reencarnação por meio de ditados mediúnicos, Gabriel Delanne, em seu livro “A Reencarnação”, menciona vários casos. Eis um deles, que lhe foi relatado pelo Sr. E. B. de Reyle, por meio de uma carta:
“Em agosto de 1886 – escreveu o Sr. de Reyle -, fizemos uma sessão de evocação, no curso da qual se apresentou, a princípio pela tiptologia, e depois, a nosso pedido, pela escrita medianímica, uma entidade que meus pais perderam, ainda de pouca idade...
“Assegurava esperar, para reencarnar-se, o nascimento do meu primeiro filho, especificando que seria rapaz e viria dentro de 18 meses. Não se esperava uma criança. Ora, em fevereiro de 1888, nascia o nosso filho mais velho, que recebeu o nome de Allan, na data prevista, com o sexo predito.”
(Thiago Bernardes)



O IMORTAL
JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
Diretor Responsável: Hugo Gonçalves Ano 53 Nº 624 Fevereiro de 2006
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A primeira necessidade do médium


Desde que o comandante Edgard Armond publicou sua excelente obra “Pontos da Escola de Médiuns”, multiplicaram-se em nosso país os chamados cursos de mediunidade, cujo apogeu se verificou na década de 1970 com o Centro de Orientação e Educação Mediúnica (COEM), organizado e implantado por uma equipe de confrades liderados pelo dr. Alexandre Sech, do Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba.
Pouco, porém, tem sido dito ultimamente sobre as reais necessidades do médium para que se torne um medianeiro seguro e confiável.
Claro que os autores espíritas jamais deixaram essa questão sem resposta, como veremos nas linhas abaixo. Somos nós, os trabalhadores da seara, que temos revelado a tendência de reduzir a mediunidade a uma mera questão técnica, esquecidos do fator moral, inerente à boa prática mediúnica.
Se, do ponto de vista do mecanismo da comunicação, a mediunidade, em si mesma, não depende do fator moral, do ponto de vista da assistência espiritual o fator moral torna-se relevante.
Médiuns moralizados contam com o amparo de Espíritos elevados.
E por médium moralizado referimo-nos ao medianeiro que pauta sua existência como um autêntico homem de bem, procurando ser uma pessoa humilde, sincera, paciente, perseverante, bondosa, estudiosa, trabalhadora e desinteressada.
A primeira necessidade de um médium é, pois, evangelizar-se a si mesmo, antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois de outro modo poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de sua missão. O médium eficiente é aquele trabalhador que melhor se harmoniza com a vontade do Pai Celestial, cultivando as qualidades que atraem os Bons Espíritos e destacando-se pelo cultivo sincero da humildade e da fé, do devotamento e da confiança, da boa vontade e da compreensão.
As qualidades que atraem os Bons Espíritos, conforme lemos em “O Livro dos Médiuns”, cap. XX, item 227, são:
I. A bondade
II. A benevolência
III. A simplicidade do coração
IV. O amor ao próximo
V. O desprendimento das coisas materiais.
Os defeitos opostos a essas qualidades, evidentemente, afastam de nós os Espíritos elevados, o que constitui um obstáculo que o médium consciente da importância de sua faculdade tem de transpor.
A mediunidade não representa em si mesma nenhum mérito para quem a possui, porque o seu aparecimento independe, como vimos, da formação moral do indivíduo.
Pessoas de comportamento moral duvidoso podem apresentar a faculdade mediúnica e sempre encontrarão entidades espirituais que lhes secundem a vontade e o pensamento, associando-se a elas na rede de desequilíbrio.
Ser bom médium é cousa diferente, como Kardec explica na seguinte passagem: “Ninguém poderá tornar-se bom médium se não conseguir despojar-se dos vícios que degradam a humanidade” (Revista Espírita de 1863, p. 213).
“Todo homem – asseverou, em seguida, o Codificador – pode tornar-se médium; mas a questão não é ser médium; é ser bom médium, o que depende das qualidades morais.”



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São inúmeras as evidências de que a reencarnação existe


THIAGO BERNARDES
De Curitiba


 Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores: “Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, o das línguas, do cálculo, etc.?” Os Espíritos responderam: “Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela não tem consciência. Donde queres que venham tais conhecimentos? O corpo muda, o Espírito, porém, não muda, embora troque de roupagem”.
Nessa citação deparamo-nos com uma das evidências da existência da reencarnação: a das idéias inatas. A História, como sabemos, revela-nos inúmeros exemplos de gênios, de sábios, de homens valorosos cujos pais, ou mesmo seus filhos, não foram grandiosos como eles, o que não pode ser explicado pelas leis da hereditariedade.
Os ditados mediúnicos, em que o médium transmite revelações sobre existências anteriores, próprias ou de terceiros, e a regressão de memória, que pode efetuar-se por força de sugestão hipnótica ou da recordação espontânea de existências anteriores, são as outras evidências de que a reencarnação constitui um fato e não uma simples hipótese.  

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Estrutura Didática do Livro dos Espíritos.


Entrevista: Sylvio Dionysio de Souza


“Toda a elaboração da codificação espírita
obedeceu aos critérios científicos”


ROBERTO CAMARGO
De Londrina

A convite da USEL – União das Sociedades Espíritas de Londrina, estiveram em Londrina no mês de novembro 2006 os confrades e professores de Física na Universidade Federal de São Carlos (SP) Maristela Olzon Monteiro D. de Souza e Sylvio Dionysio de Souza, que ministraram no Centro Espírita Nosso Lar seminário sobre a Estrutura Didática do Livro dos Espíritos.
A reportagem d´O Imortal se fez presente ao evento, ocasião em que Sylvio Dionysio de Souza (foto) concedeu a entrevista que se segue:
O Imortal - Qual foi a influência de Pestalozzi na formação de Allan Kardec?
Sylvio Dionysio de Souza -
Pestalozzi era um famoso educador, precursor da moderna educação (escola ativa).
Entre outros pontos, Kardec conviveu em Yverdon com a liberdade de pensamento; a liberdade religiosa; o gosto pela observação experimental dos fenômenos naturais; com o desenvolvimento da linguagem e a educação pelo amor.
Vê-se por essa amostragem, que a convivência com Pestalozzi reavivou em Kardec sua bagagem espiritual acumulada, adquirindo outras que porventura fossem necessárias ao seu trabalho como Codificador.
O Imortal – A contribuição de Kardec para a elaboração do Livro dos Espíritos ficou restrita à organização metódica, como ele próprio afirma nos Prolegômenos?
Sylvio - A contribuição e presença de Kardec é muito maior do que sua humildade permitiu-lhe dizer. De comum, Kardec refazia as informações vindas dos Espíritos e depois as submetia à apreciação dos mesmos. Outras vezes, fazia uma pergunta e após receber a resposta, dividi-a em partes organizando perguntas para uma dessas partes, tudo para aumentar a clareza do assunto tratado. Outras vezes ainda, formulava perguntas para aproveitar mensagens ditadas ou trechos delas.
O Imortal - Estudiosos afirmam que o Espiritismo é uma ciência, na acepção ampla do termo.
Tal afirmação sustenta-se naquilo que, reconhecidamente, compõe uma ciência?
Sylvio – Em primeiro lugar esclarecemos que a definição de Ciência não é a opinião de uma pessoa em particular, mas a definição dada pela Filosofia das Ciências, que é uma disciplina da Filosofia.
Realmente, segundo essa definição, que chamamos de moderna, a Ciência tem duas acepções: Ciência no sentido restrito (Ciências Acadêmicas - Química, Física e Biologia) e Ciência no sentido amplo, que é toda investigação de certos fenômenos ou fatos, à luz da razão. Tanto em um como em outro sentido, a classificação como “ciência” tem que obedecer aos mesmos critérios. É possível verificar que o Espiritismo, cumpre esses critérios e se encaixa na segunda acepção, sendo pois uma Ciência, no sentido amplo. Vale a pena ressaltar que o objeto de estudo das Ciências Acadêmicas é a matéria, mas o objeto de estudo do Espiritismo é o espírito.
O Imortal - Podemos ver um exemplo de aplicação do método científico na elaboração do Livro dos Espíritos?
Sylvio – Na realidade toda a elaboração da codificação espírita obedeceu aos critérios científicos, porém na investigação dos fenômenos mediúnicos, o método científico é mais evidente, pois Kardec baseou todas as suas análises e conclusões na observação e experimentação.
O método experimental é a essência do método científico.
O Imortal - Como pode ser entendida a divisão do Livro dos Espíritos em 4 partes, e que relação se pode estabelecer entre essa divisão e o conjunto das obras básicas do Espiritismo?
Sylvio – Kardec afirma em “A Gênese” (cap. I, item 14), que a elaboração do Espiritismo segue exatamente o método experimental, utilizado pela Ciência. “Fatos de ordem nova se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele as observa, compara, analisa e, partindo dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois deduz as conseqüências e busca as aplicações úteis.”

Comparemos o texto de Kardec, no qual explica qual o procedimento que ele utilizou na elaboração do Livro dos Espíritos:
1 - Fatos de ordem nova se apresentam, ...– OBJETO – escolha do objeto a ser estudado; 2 - observa, compara, analisa ...– MÉTODO - análise detalhada do universo ou domínio a ser estudado (parte experimental do Espiritismo); 3 - chega à lei que os rege; ...– TEORIA – conceitos fundamentais e suas relações são explicados; 4 - deduz-lhe as conseqüências ... aplicações úteis. – CONCLUSÕES – aplicações das leis ao objeto de domínio, previsões e explicações.
Vê-se claramente que ele segue os critérios básicos que definem modernamente uma Ciência. Observando agora “O Livro dos Espíritos”, vemos que ele se compõe de quatro partes, as quais são desenvolvidas nos quatro livros restantes da Codificação do Espiritismo. Assim temos:
1a parte do Livro dos Espíritos – Das causas primárias
(Objeto de estudo) à  A Gênese.
2a parte do L. E. – Mundo espírita ou Mundo dos Espíritos
(Método de pesquisa) à O Livro dos Médiuns.
3a parte do L. E. – As Leis Morais
(Teoria, conceitos fundamentais) à O Evangelho segundo o Espiritismo.
4a parte do L. E. – Esperanças e Consolações
(Conclusões, aplicações) à O Céu e o Inferno.


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A Revue Spirite há 140 anos


Revista Espírita de 1866 (Parte 1)


MARCELO BORELA
DE OLIVEIRA
De Londrina

Iniciamos nesta edição a publicação do texto condensado da Revista Espírita de 1866. As páginas citadas referem-se à edição feita pela Edicel.
*
1. As mulheres têm alma?
Esse é o tema do artigo que abre o número de janeiro de 1866, no qual Kardec diz que, além de ter sido posta em deliberação num concílio, tal questão nem sempre foi resolvida pacificamente, constituindo sua negação um princípio de fé em certos povos. No artigo, ele informa também que pouco tempo atrás ainda se discutia na França se o grau de bacharel podia ser conferido a uma mulher. (Págs. 1 e 2.)
2. O Espiritismo ensina que as almas podem animar corpos de homens e mulheres. As almas ou Espíritos não têm sexo; as afeições que os unem nada têm de carnal; fundam-se numa simpatia real e, por isso, são mais duráveis. (Págs. 2 e 3.)
3. Os sexos só existem no organismo; são necessários à reprodução dos seres materiais; mas os Espíritos não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual. (Págs. 2 e 3.)
4. A natureza fez o indivíduo do sexo feminino mais fraco que o outro, porque os deveres que lhe incumbem não exigem uma igual força muscular e seriam até incompatíveis com a rudeza masculina. Aos homens e às mulheres são, assim, assinados pela Providência deveres especiais, igualmente importantes na ordem das coisas, pois eles se completam um pelo outro. (Págs. 3 e 4.)
5. A influência que o Espírito encarnado sofre do organismo não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perdemos instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Pode acontecer ainda que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que durante muito tempo possa conservar, na erraticidade, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. (Pág. 4.)
6. Se essa influência se repercute da vida corporal à vida espiritual, o fato se dá também quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de sexo, poderá então conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres. (Pág. 4.)
7. Referindo-se à prece, diz Kardec que o Espiritismo proclama a sua utilidade, não por espírito de sistema, mas porque a observação permitiu comprovar a sua eficácia e o seu modo de ação. Além da ação puramente moral, a prece produz um efeito de certo modo material, resultante da transmissão fluídica, e sua eficácia em certas moléstias é constatada pela experiência, como demonstrada pela teoria. (Págs. 5 e 6.)
8. Rejeitar a prece é, portanto, privar o homem de seu mais poderoso suporte moral na adversidade, visto que pela prece ele eleva sua alma, entra em comunhão com Deus, identifica-se com o mundo espiritual e desmaterializa-se, condição essencial de sua felicidade futura. (Pág. 6.)
Nenhum princípio espírita
é fruto de opiniões pessoais
9. Concluindo o artigo sobre a prece, o Codificador lembra que o que faz a principal autoridade da doutrina é que não há um só de seus princípios que seja produto de uma idéia preconcebida ou de uma opinião pessoal: todos, sem exceção, são o resultado da observação dos fatos. (Págs. 8 e 9.)
10. A Revista noticia o falecimento em 2 de dezembro de 1865 do sr. Didier, membro-fundador da Sociedade Espírita de Paris e editor das obras de Kardec. No momento do falecimento, a editora do sr. Didier imprimia a 14a edição d’O Livro dos Espíritos. (Págs. 9 e 10.)
11. No dia 8 de dezembro, na Sociedade de Paris, Kardec pronunciou uma alocução em que teceu palavras de reconhecimento pelo trabalho realizado pelo amigo recém-desencarnado, cujo desprendimento foi devidamente destacado pelo Codificador. (Págs. 11 e 12.)
12. Em seu discurso, Kardec explicou por que não usara a palavra no enterro do amigo, ocasião em que se reuniram muitas pessoas pouco simpáticas e mesmo hostis à causa espírita. Considerando o momento inadequado, ele se absteve e, ao esclarecer o fato, aproveitou para fazer importante advertência, quando afirmou que o Espiritismo ganhará sempre mais com a estrita observação das conveniências. (Pág. 12.)
13. Não devemos esquecer – disse Kardec – que o Espiritismo visa ao coração e seus meios de sedução são a doçura, a consolação e a esperança. Sua moderação e seu espírito conciliador nos põem em relevo. “Não percamos sua preciosa vantagem”, aditou o Codificador.
“Procuremos os corações aflitos, as almas atormentadas pela dúvida: seu número é grande; lá estarão os nossos mais úteis auxiliares; com eles faremos mais prosélitos do que com reclames e exibição.” (Pág. 12.)
14. A Revista transcreve carta do sr. T. Jaubert, vice-presidente do Tribunal de Carcassone, em que o missivista destaca as inúmeras realizações que o ano de 1865 havia trazido ao Espiritismo. Quatro livros foram então mencionados pelo sr. Jaubert: Pluralidade dos mundos habitados, de Camille Flammarion; Pluralidade das existências da alma, de André Pezzani; O Céu e o Inferno, de Kardec, e a novela Espírita, de Théophile Gautier. (Págs. 14 a 16.)
15. Jaubert refere-se também em sua carta ao caso Davenport, que ele considerava menos causa do que pretexto para a cruzada instaurada naquele ano contra a doutrina espírita e os espiritistas. E apóia, por fim, a definição posta por Kardec no último número da Revista: “Quem quer que creia na existência e na sobrevivência das almas, e na possibilidade de relação entre os homens e o mundo espiritual, é espírita”. (Pág. 16.)
16. Com dezesseis anos e meio, Luísa B... morava com seus pais no lugar chamado le Bondru (Seine-et-Marne). Em conseqüência de violento pesar causado pela morte de uma irmã, Luísa caíra num sono letárgico, que durara 56 horas, após o que despertou para uma existência estranha. Durante o dia inteiro, ela ficava imóvel numa cadeira. Chegada a noite, entrava num estado cataléptico, caracterizado pela rigidez dos membros e pela fixidez do olhar. A jovem adquiria então o dom da segunda vista e o da segunda audição, ouvindo palavras proferidas perto ou longe dela. (Pág. 17.)
A emancipação da alma é
normal durante o sono
17. Nas mãos da cataléptica cada objeto apresentava para ela uma imagem dupla. Ela podia ver, assim, não apenas o exterior, mas a representação de seu interior. Transportada a um cemitério, Luísa via e descrevia as pessoas cujos despojos tinham sido ali sepultados. (Págs. 17 a 20.)
18. Comentando o fato, Kardec diz que nada nele existe de excepcional. Trata-se de um fenômeno bastante comum e explicável pelos atributos da alma, em que se encontra a sede de todas as percepções e de todas as sensações. Durante a sua união com o corpo, a alma percebe por meio dos sentidos e transmite o pensamento com a ajuda do cérebro. Separada do corpo, ela percebe diretamente e pensa livremente. (Págs. 20 e 21.)
19. Esse estado, que chamamos emancipação da alma, ocorre normal e periodicamente durante o sono, quando o corpo repousa, para recuperar as perdas materiais. Mas pode ocorrer também todas as vezes que uma causa patológica ou simplesmente fisiológica produz a inatividade total ou parcial dos órgãos da sensação ou da locomoção, como se dá na catalepsia, na letargia e no sonambulismo. (Pág. 22.)
20. O desprendimento da alma é tanto maior quanto mais absoluta a inércia do corpo. Nesse estado, a alma não mais percebe pelos sentidos materiais, mas, se assim podemos dizer, pelo sentido psíquico; eis por que suas percepções ultrapassam nesses casos os limites ordinários. Essa é a causa da segunda vista, da visão a distância, da lucidez sonambúlica etc. A forma corpórea que Luísa via nas pessoas mortas é o que na doutrina espírita se chama perispírito, envoltório fluídico que reveste a alma de todos os seres humanos. (Págs. 22 e 23.)
21. Concluindo suas explicações, Kardec adverte que casos como o da jovem Luísa B... exigem muito tato e prudência, pois, nesse estado de excessiva suscetibilidade, a menor comoção pode ser funesta. É que a alma, feliz por estar desprendida do corpo, a este se liga por um fio, que um nada pode romper irremediavelmente. “Em casos semelhantes – assevera Kardec –, experiências feitas sem cuidado podem matar.” (Pág. 23.)
22. De Alfred de Musset (Espírito) a Revista transcreve dois poemas, que a crítica considerou dignos de um poeta de primeira ordem, como o indigitado autor espiritual. “É a maneira de Musset, sua linguagem encantadora, sua desenvoltura de cavalheiro, seu encanto e sua graciosa atitude”, escreveu um dos redatores do jornal Monde Illustré, sr. Júnior, que não era espírita. (Págs. 24 a 28.)
23. A Revista comenta o surgimento em Paris do Novo Dicionário Universal, uma nova enciclopédia ilustrada por Maurice Lachâtre, que contava com o concurso de cientistas, artistas e escritores, encabeçados por Allan Kardec. Segundo o prospecto de divulgação da enciclopédia, esta era fruto da análise de mais de 400.000 obras e podia ser considerada como o mais vasto repertório de conhecimentos humanos até então publicado. Todos os termos especiais do vocabulário espírita, refere Kardec, ali se achavam, não com uma simples definição, mas com todos os desenvolvimentos que comportam. A transcrição do texto pertinente ao verbete ALMA – feita pela Revista – dá uma boa mostra da profundeza da publicação e do respeito que seus editores revelavam pela doutrina espírita, que conquistava desse modo relevante posição entre as doutrinas filosóficas da época. (Págs. 28 a 32.)
Destaque dado ao Espiritismo por
jornal de Bruxelas
24. Sob o título “O Espiritismo segundo os espíritas”, o semanário La Discussion, impresso em Bruxelas, edição de 31/12/1865, publicou um artigo em que o autor diz que os vocábulos Espíritas e Espiritismo se tornaram muito conhecidos e estavam sendo freqüentemente empregados, embora muitas pessoas não soubessem o que eles exatamente significavam.
O articulista transcreve, então, diversas referências colhidas junto a um amigo seu, partidário das idéias espíritas, adiante resumidas: I – O Espiritismo é uma ciência ou, melhor dito, uma filosofia espiritualista, que ensina a moral. II – Os médiuns são dotados de uma faculdade natural que os torna aptos a servir de intermediários aos Espíritos e a produzir com eles os fenômenos que passam por milagres ou por prestidigitação aos olhos de quem ignore a sua explicação. III – Os Espíritos não se comunicam com o único objetivo de provar aos vivos a sua existência: eles ditaram e desenvolvem diariamente a filosofia espiritualista. IV – É assim que o Espiritismo demonstra, entre outras coisas, a natureza da alma, seu destino, a causa de nossa existência aqui, e desvenda o mistério da morte e o porquê dos vícios e das virtudes do homem.
V – Esse sistema repousa em provas lógicas e irrefutáveis, que têm como base fatos palpáveis e a mais pura razão.
VI – Em todas as teorias que expõe, ele age como a ciência e não adianta um ponto senão quando o precedente esteja completamente certificado.
VII – O ensinamento moral que prega não é senão a moral cristã, a moral que está escrita no coração de todo ser humano.
VIII – A moral espírita ensina-nos a suportar a desgraça sem a desprezar, a gozar a felicidade sem a ela nos apegarmos, e nos explica que todas as vantagens com que somos favorecidos são outras tantas forças que nos são confiadas e de que deveremos prestar contas. (Págs. 33 a 36.)
25. A 28 de janeiro de 1866, o semanário – que não é especializado em assuntos filosóficos ou religiosos, mas políticos e financeiros – voltou ao assunto para dizer que o artigo precedente havia provocado numerosas perguntas e ilações descabidas, como a que sugeriu tivesse o periódico se transformado em um órgão espírita.
Em face disso, seu editor tornou bem claro que o jornal estava aberto a todas as idéias progressivas, o que é coisa diferente de assumir a paternidade dessa ou daquela doutrina. “Pomos a idéia em evidência em toda a sua verdade. Se for boa, fará o seu caminho e nós lhe teremos aberto a porta; se for má, teremos fornecido o meio de ser julgada com conhecimento de causa”, explicou o editor. (Pág. 37.)
(Continua no próximo número.)

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Um minuto com Chico Xavier


JOSÉ ANTÔNIO V. DE PAULA

Médico, Acupunturista,
De Cambé


Estávamos – diz Adelino Silveira – na residência do Chico. Seu estado de saúde não lhe permitia deslocar-se até o Centro.
A multidão se comprimia lá na rua em frente.
Quando o portão se abriu, a fila de pessoas tinha alguns quarteirões. Foram passando uma a uma em frente ao Chico. Pessoas de todas as idades, de todas as condições sociais e dos mais distantes lugares do País. Algumas diziam:
– Eu só queria tocá-lo...
– Meu maior sonho era conhecê-lo...
– Só queria ouvir sua voz e apertar sua mão.
Uns queriam notícias de familiares desencarnados, espantar uma idéia de suicídio.
Outros nada diziam, nada pediam, só conseguiam chorar.
Com uma simples palavra do Chico, seus semblantes se transfiguravam, saíam sorridentes.
Ao ver as pessoas ansiosas para tocá-lo, a interminável fila, a maneira como ele atendia a todos fiquei pensando:
“Meu Deus, a aura do Chico é tão boa... seu magnetismo é tão grande, que parece que pulveriza nossas dores e ameniza nossas ansiedades”.
De repente, ele se volta para mim e diz:
– Comove-me a bondade de nossa gente em vir visitar-me.
Não tenho mais nada para dar.
Estou quase morto. Por que você acha que eles vêm?
Perguntou-me e ficou esperando a resposta.
Aí, pensei: Meu Deus, frente a um homem desses, a gente não pode mentir nem dizer qualquer coisa que possa vir ofender a sua humildade (embora ele sempre diga que nunca se considerou humilde).
Comecei então a pensar que quando Jesus esteve conosco, onde quer que aparecesse, a multidão o cercava. Eram pessoas de todas as idades, de todas as classes sociais e dos mais distantes lugares. Muitos iam esperá-lo nas estradas, nas aldeias ou nas casas onde Ele se hospedava. Onde quer que aparecesse, uma multidão o cercava. Tanto que Pedro lhe disse certa vez: “Bem vês que a multidão te comprime”.
Zaqueu chegou a subir numa árvore somente para vê-lo.
Ver, tocar, ouvir era só o que queriam as pessoas.
Tudo isso passou pela minha cabeça com a rapidez de um relâmpago. E como ele continuava olhando para mim esperando a resposta, animei-me a dizer:
– Chico, acho que eles estão com saudades de Jesus.
Palavras tiradas do fundo do coração, penso que elas não ofenderam sua modéstia.
A multidão continuou desfilando.
Todos lhe beijavam a mão e ele beijava a mão de todos.
Lá pelas tantas da noite, quando a fila havia diminuído sensivelmente, percebi que seus lábios estavam sangrando.
Ele havia beijado a mão de centena de pessoas.
Fiquei com tanta pena daquele homem, nos seus oitenta e oito anos, mais de setenta dedicados ao atendimento de pessoas, que me atrevi a lhe perguntar:
– Por que você beija a mão deles?
A humildade de sua resposta continuará emocionando-me sempre:
– Porque não posso me curvar para beijar-lhes os pés.

(Do livro “Momentos com Chico Xavier”, de Adelino da Silveira.1ª ed. 1999.)




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