terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Recordando Luiz Antonio Millecco Filho


CELSO MARTINS
Do Rio de Janeiro


Lembro-me muito bem daquela tarde de novembro de 1999. Ao perceber no metrô que me trazia de um bazar espírita de antiguidades vendidas para a compra de comida e roupa para os pobres do Rio de Janeiro, a presença de um cego que iria saltar comigo na Estação da Central do Brasil, dele me aproximo e murmuro:
“- Maninho, em que posso ser-lhe útil?”
Espantado, o rapaz de seus 45 anos de idade me informa que iria tomar um ônibus para Duque de Caxias na rodoviária perto da ferrovia onde eu embarcaria em um trem para Cascadura. Assim, com cuidado subimos dois lances de escadas de um mármore encardido de tanto serem os degraus pisados pelos operários que por ali passavam todos os dias, chovesse ou fizesse sol.
No trajeto de uns 5 a 8 minutos, indaguei:
“- Paulo (era o seu nome), você conhece o Millecco?”  
“- Claro que conheço e muito!Foi meu colega no curso de contabilidade no Instituto Benjamin Constant. Quem no Brasil não conhece o Millecco?”
A mesma coisa ocorreu anos antes quando, ao dar aulas de Física em uma escola do Estado do Rio, ao perguntar: “- Renato, você conhece o Millecco?” E o cego exclamou:
“- Claro, professor, claro! Quem não conhece, no Brasil, o Millecco?”
Pois é, no sábado de carnaval de 2005, voltou ao Grande Além aquele deficiente visual que, com o auxílio do Marcus Vinícius (também privado da visão) e do Mal, Mário Travassos, criou a SPLEB, ou seja, a Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille, creio que em 1953... Ele era musicoterapeuta e combatia com amor intenso o aborto. Conheci Millecco quando tinha os cabelos negros. E pela Rádio Rio de Janeiro sempre o ouvia por volta das 11 da manhã de todo domingo.
Com vasto conhecer da Doutrina Espírita e sobre os mais variados assuntos, este cego de nascença casou-se com sua professora de Braille, dona Iza, dando-lhe um filho, que é ligado a uma banda musical. Com seu violão, o Millecco era a alegria em pessoa. Musicoterapeuta, conhecia o Inglês e o Esperanto. Viúvo, casou-se com a querida Maria de Fátima Rossi, do Grupo Espírita Redenção, do Bairro de Andaraí, zona norte da cidade do Rio de Janeiro.
Flamenguista, suas palestras eram voz vibrante e clara em diversos ambientes onde se fizesse campanha pela Paz Mundial ou contra o aborto provocado, tendo o cuidado de não atirar o complexo de culpa na mulher que o praticara, ou seja, sempre andou a aumentar a auto-estima do semelhante, tanto que criou e manteve ao fone um centro de atendimento para consolar os que pensam dar cabo da vida. E brejeiro dizia que conhecia uma espírita tão fiel ao Codificador, mas tão fiel que fazia tricô usando sempre a lã Kardec.
Millecco, até à vista!

JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
Diretor Responsável: Hugo Gonçalves Ano 53 Nº 623 Janeiro de 2006

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