CELSO MARTINS
Do Rio de Janeiro
Lembro-me muito bem daquela tarde
de novembro de 1999. Ao perceber no metrô que me trazia de um bazar espírita de
antiguidades vendidas para a compra de comida e roupa para os pobres do Rio de
Janeiro, a presença de um cego que iria saltar comigo na Estação da Central do
Brasil, dele me aproximo e murmuro:
“- Maninho, em que posso ser-lhe
útil?”
Espantado, o rapaz de seus 45 anos
de idade me informa que iria tomar um ônibus para Duque de Caxias na rodoviária
perto da ferrovia onde eu embarcaria em um trem para Cascadura. Assim, com cuidado
subimos dois lances de escadas de um mármore encardido de tanto serem os
degraus pisados pelos operários que por ali passavam todos os dias, chovesse ou
fizesse sol.
No trajeto de uns 5 a 8 minutos, indaguei:
“- Paulo (era o seu nome), você
conhece o Millecco?”
“- Claro que conheço e muito!Foi
meu colega no curso de contabilidade no Instituto Benjamin Constant. Quem no
Brasil não conhece o Millecco?”
A mesma coisa ocorreu anos antes
quando, ao dar aulas de Física em uma escola do Estado do Rio, ao perguntar: “-
Renato, você conhece o Millecco?” E o cego exclamou:
“- Claro, professor, claro! Quem
não conhece, no Brasil, o Millecco?”
Pois é, no sábado de carnaval de
2005, voltou ao Grande Além aquele deficiente visual que, com o auxílio do
Marcus Vinícius (também privado da visão) e do Mal, Mário Travassos, criou a
SPLEB, ou seja, a Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille, creio que em 1953...
Ele era musicoterapeuta e combatia com amor intenso o aborto. Conheci Millecco
quando tinha os cabelos negros. E pela Rádio Rio de Janeiro sempre o ouvia por volta
das 11 da manhã de todo domingo.
Com vasto conhecer da Doutrina Espírita
e sobre os mais variados assuntos, este cego de nascença casou-se com sua
professora de Braille, dona Iza, dando-lhe um filho, que é ligado a uma banda musical.
Com seu violão, o Millecco era a alegria em pessoa. Musicoterapeuta, conhecia o
Inglês e o Esperanto. Viúvo, casou-se com a querida Maria de Fátima Rossi, do
Grupo Espírita Redenção, do Bairro de Andaraí, zona norte da cidade do Rio de
Janeiro.
Flamenguista, suas palestras eram
voz vibrante e clara em diversos ambientes onde se fizesse campanha pela Paz
Mundial ou contra o aborto provocado, tendo o cuidado de não atirar o complexo de
culpa na mulher que o praticara, ou seja, sempre andou a aumentar a auto-estima
do semelhante, tanto que criou e manteve ao fone um centro de atendimento para
consolar os que pensam dar cabo da vida. E brejeiro dizia que conhecia uma
espírita tão fiel ao Codificador, mas tão fiel que fazia tricô usando sempre a
lã Kardec.
Millecco, até à vista!
JORNAL DE DIVULGAÇÃO
ESPÍRITA
Diretor
Responsável: Hugo Gonçalves Ano 53 Nº 623 Janeiro de 2006
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