THIAGO BERNARDES
De Curitiba
A reencarnação se
baseia nos princípios da misericórdia e da justiça de Deus:
• Na misericórdia
divina porque, assim como o bom pai deixa sempre uma porta aberta a seus
filhos faltosos, facultando-lhes a reabilitação, também Deus – por intermédio
das existências sucessivas – dá oportunidade para que os homens possam
corrigir-se, evoluir e merecer o pleno gozo de uma felicidade duradoura.
• Na justiça
divina porque os erros cometidos e os males infligidos ao próximo devem ser
reparados em novas existências, a fim de que, experimentando os mesmos
sofrimentos, os homens possam resgatar seus débitos e conquistar, assim, o
direito de ser felizes.
Respondendo à
questão 171 de “O Livro dos Espíritos” [Em que se funda a doutrina da
reencarnação?], ensinaram os Espíritos superiores:
“Na justiça de Deus
e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a
seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria
injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não
dependeu o melhorarem-se?
Não são filhos de
Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniqüidade, o ódio implacável
e os castigos sem remissão.”
A unicidade das
existências é, ao contrário, injusta e ilógica, pois não atende às sábias leis
do progresso espiritual:
• É injusta porque
boa parte dos erros humanos são resultantes da ignorância e numa única existência
não nos é possível o resgate de nossos equívocos e falhas, principalmente
quando o arrependimento nos sobrevém quase ao findar da existência. É preciso
dar oportunidades ao arrependido, para que ele comprove sua sinceridade por
meio das necessárias reparações.
• É ilógica porque
não consegue explicar as gritantes diferenças de aptidões das criaturas humanas
desde a infância, as idéias inatas e os instintos precoces, bons ou maus,
independentemente do meio em que a pessoa tenha nascido.
A
reencarnação nos
diferenças
sociais
As reencarnações
representam para as criaturas imperfeitas valiosas oportunidades de resgate e
de progresso espiritual.
Rejeitando-se a
doutrina da reencarnação, perguntar-se-ia inutilmente por que certos homens possuem
talento, sentimentos nobres, aspirações elevadas, enquanto muitos outros só
tiveram em partilha tolices, paixões e instintos grosseiros.
A influência dos
meios, a hereditariedade, as diferenças de educação – como todos sabem – não
bastam para explicar essas e outras anomalias que deparamos no contexto social,
porque temos visto membros de uma mesma família semelhantes pela carne e pelo
sangue, e educados nos mesmos princípios, diferençarem em inúmeros pontos.
Personagens célebres
e estimados têm descendido de pais obscuros destituídos até mesmo de valor
moral, e o oposto também se tem visto, ou seja, filhos inteiramente depravados
nascerem de pais honrados e respeitáveis.
Por que para uns vem
a fortuna,
a felicidade constante, e para outros a miséria, a desgraça inevitável? Por que a
uns é concedida a força, a saúde, a beleza, enquanto outros se debatem com as
doenças e a fealdade? Por que a inteligência e o gênio aqui, e acolá a
imbecilidade? Por que existem raças tão diversas? E umas são tão atrasadas que
parecem mais próximas da animalidade do que da humanidade! Por que pessoas
nascem enfermas, cegas, com retardo mental, deficiências físicas ou
deformidades morais, que parecem desmentir a bondade de Deus? Por que uns morrem
ainda no berço, outros na mocidade, enquanto muitos só deixam o palco terreno
na decrepitude?
Donde vêm os meninos
prodígios e os superdotados, enquanto pessoas há que não deixam a mediocridade
nem mesmo quando se tornam adultas?
a
reencarnação com
a
metempsicose
Questões dessa ordem
podem ser multiplicadas ao infinito, tratando não só de nossa situação presente,
mas também do passado e do que nos aguarda no futuro.
Sem a admissão da
reencarnação, não se compreende, por exemplo, que futuro estará reservado a um
canibal logo que finda sua existência corporal. Se for para o céu, que é que
fará ali? Se for condenado ao inferno, por que aplicar uma pena tão dura a um
ser tão primitivo? E os bebês, para onde irão depois da morte corpórea?
Crescerão em sua nova morada? Aprenderão a ler, progredirão, ou ficarão
estacionados para sempre na condição de bebês?
A reencarnação é o
instrumento que o Criador nos concede para atingirmos a meta da nossa evolução,
do nosso progresso individual e do mundo em que vivemos. Não se deve, contudo, confundi-la
com a metempsicose, porque a reencarnação da criatura humana só se dá na
espécie humana, enquanto a doutrina da metempsicose, que o Espiritismo não
aceita em nenhuma hipótese, admite a retrogradação, ou seja, a encarnação da
alma humana em corpos de animais e vice-versa.
O Espiritismo é, no
tocante a esse assunto, bastante preciso: o homem pode estacionar, mas nunca
retroceder na sua caminhada rumo à perfeição. A doutrina da reencarnação, tal
como ensinada pelo Espiritismo, se funda na marcha ascendente da Natureza e no
progresso do homem, dentro de sua própria espécie.
Ele pode, numa
existência futura, renascer em um meio mais humilde, mais singelo, menos dotado
de recursos materiais, mas será sempre ele mesmo, com a inteligência e as
virtudes adquiridas ao longo do tempo por seu Espírito.
O IMORTAL
JORNAL DE DIVULGAÇÃO
ESPÍRITA
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Ano 53 Nº 623 Janeiro de 2006
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