quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Só existe a reencarnação porque Deus é justo e misericordioso


THIAGO BERNARDES
De Curitiba

A reencarnação se baseia nos princípios da misericórdia e da justiça de Deus:
• Na misericórdia divina porque, assim como o bom pai deixa sempre uma porta aberta a seus filhos faltosos, facultando-lhes a reabilitação, também Deus – por intermédio das existências sucessivas – dá oportunidade para que os homens possam corrigir-se, evoluir e merecer o pleno gozo de uma felicidade duradoura.
• Na justiça divina porque os erros cometidos e os males infligidos ao próximo devem ser reparados em novas existências, a fim de que, experimentando os mesmos sofrimentos, os homens possam resgatar seus débitos e conquistar, assim, o direito de ser felizes.
Respondendo à questão 171 de “O Livro dos Espíritos” [Em que se funda a doutrina da reencarnação?], ensinaram os Espíritos superiores:
“Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se?
Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniqüidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”
A unicidade das existências é, ao contrário, injusta e ilógica, pois não atende às sábias leis do progresso espiritual:
• É injusta porque boa parte dos erros humanos são resultantes da ignorância e numa única existência não nos é possível o resgate de nossos equívocos e falhas, principalmente quando o arrependimento nos sobrevém quase ao findar da existência. É preciso dar oportunidades ao arrependido, para que ele comprove sua sinceridade por meio das necessárias reparações.
• É ilógica porque não consegue explicar as gritantes diferenças de aptidões das criaturas humanas desde a infância, as idéias inatas e os instintos precoces, bons ou maus, independentemente do meio em que a pessoa tenha nascido.
A reencarnação nos
permite compreender as
diferenças sociais
As reencarnações representam para as criaturas imperfeitas valiosas oportunidades de resgate e de progresso espiritual.
Rejeitando-se a doutrina da reencarnação, perguntar-se-ia inutilmente por que certos homens possuem talento, sentimentos nobres, aspirações elevadas, enquanto muitos outros só tiveram em partilha tolices, paixões e instintos grosseiros.
A influência dos meios, a hereditariedade, as diferenças de educação – como todos sabem – não bastam para explicar essas e outras anomalias que deparamos no contexto social, porque temos visto membros de uma mesma família semelhantes pela carne e pelo sangue, e educados nos mesmos princípios, diferençarem em inúmeros pontos.
Personagens célebres e estimados têm descendido de pais obscuros destituídos até mesmo de valor moral, e o oposto também se tem visto, ou seja, filhos inteiramente depravados nascerem de pais honrados e respeitáveis.
Por que para uns vem a fortuna, a felicidade constante, e para outros a miséria, a desgraça inevitável? Por que a uns é concedida a força, a saúde, a beleza, enquanto outros se debatem com as doenças e a fealdade? Por que a inteligência e o gênio aqui, e acolá a imbecilidade? Por que existem raças tão diversas? E umas são tão atrasadas que parecem mais próximas da animalidade do que da humanidade! Por que pessoas nascem enfermas, cegas, com retardo mental, deficiências físicas ou deformidades morais, que parecem desmentir a bondade de Deus? Por que uns morrem ainda no berço, outros na mocidade, enquanto muitos só deixam o palco terreno na decrepitude?
Donde vêm os meninos prodígios e os superdotados, enquanto pessoas há que não deixam a mediocridade nem mesmo quando se tornam adultas?
Não se pode confundir
a reencarnação com
a metempsicose
Questões dessa ordem podem ser multiplicadas ao infinito, tratando não só de nossa situação presente, mas também do passado e do que nos aguarda no futuro.
Sem a admissão da reencarnação, não se compreende, por exemplo, que futuro estará reservado a um canibal logo que finda sua existência corporal. Se for para o céu, que é que fará ali? Se for condenado ao inferno, por que aplicar uma pena tão dura a um ser tão primitivo? E os bebês, para onde irão depois da morte corpórea? Crescerão em sua nova morada? Aprenderão a ler, progredirão, ou ficarão estacionados para sempre na condição de bebês?
A reencarnação é o instrumento que o Criador nos concede para atingirmos a meta da nossa evolução, do nosso progresso individual e do mundo em que vivemos. Não se deve, contudo, confundi-la com a metempsicose, porque a reencarnação da criatura humana só se dá na espécie humana, enquanto a doutrina da metempsicose, que o Espiritismo não aceita em nenhuma hipótese, admite a retrogradação, ou seja, a encarnação da alma humana em corpos de animais e vice-versa.
O Espiritismo é, no tocante a esse assunto, bastante preciso: o homem pode estacionar, mas nunca retroceder na sua caminhada rumo à perfeição. A doutrina da reencarnação, tal como ensinada pelo Espiritismo, se funda na marcha ascendente da Natureza e no progresso do homem, dentro de sua própria espécie.
Ele pode, numa existência futura, renascer em um meio mais humilde, mais singelo, menos dotado de recursos materiais, mas será sempre ele mesmo, com a inteligência e as virtudes adquiridas ao longo do tempo por seu Espírito.

O IMORTAL
JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
Diretor Responsável: Hugo Gonçalves
Ano 53 Nº 623 Janeiro de 2006

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