domingo, 31 de janeiro de 2016

Estudo Evangélico

Livro: “PALAVRAS DE VIDA ETERNA”


Francisco C. Xavier / Emmanuel

Estudo n. 5
FÉ E OBRAS

“A fé se não tiver obras, é morta em si mesma”.
(Tiago, 2:17)

Tiago escreveu essa carta aos cristãos que se achavam entre os judeus dispersos (nome que se dava aos judeus que habitavam fora da Terra Santa), com o objetivo de corrigir os erros e condenar os pecados a que estavam sujeitos os primeiros judeus convertidos ao cristianismo e, animar os crentes convertidos a sofrer as provações a que estavam sujeitos.

Fé é a confiança que se tem no cumprimento de algo, certeza de atingir um fim para o qual se tende procurando os meios para atingir.

Do ponto de vista religioso, fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões.

Emmanuel, no livro “O Consolador”, pergunta 354, elucida: "Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassa o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade".

Significando luta, trabalho incansável para se alcançar objetivos e fins.

Existe a fé cega, que não examina nada, aceita sem controle o falso, o verdadeiro, e se choca, a cada passo, contra a evidência e a razão.

Allan Kardec, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XIX, item 7, ensina que" não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade". Para ser portanto, proveitosa deve ser ativa, e não se prender aos cultos exteriores da religião a que nos afeiçoamos.

Fé verdadeira é não mais dizer “eu creio”, mas afirmar " eu sei ", com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento.

Fé e obras se completam em nossas relações com a Vida, onde viver representará certezas tanto nos aspectos materiais quanto nos espirituais.

O exemplo de nossas obras mostra o mérito da fé que temos. Acreditar e nada fazer, crer e desanimar, ter fé e desesperar são paradoxos. Nossa forma de ser, agir, falar tem que exteriorizar as certezas que possuímos onde as obras serão contagiantes, envolvendo o outro em tranqüilidade, calma, paz, que só a segurança daquele que sabe por onde caminha, para onde vai proporciona.

Serviço é condição que a lei estabelece para todas as criaturas, a fim de que o Criador lhes responda.

A criatura que apenas trabalhasse, sem método, sem descanso, acabaria desesperada, em horrível secura de coração; aquela que apenas se mantivesse genuflexa, estaria ameaçada de sucumbir pela paralisia e ociosidade.

Em se tratando de religião, cada crente possui razões respeitáveis e detém preciosas possibilidades que devem ser aproveitadas no engrandecimento da vida e do tempo, glorificando o Pai.

Quando percebemos as bênçãos de Deus e nada realizamos de bom, em favor dos semelhantes e de si mesma, assemelhamo-nos ao avarento que passa sede e fome, com a intenção de esconder, a riqueza que Deus lhe emprestou. Por esta razão a fé que não ajuda, não instrui e nem consola, não constrói obras e não passa de escura vaidade e enganos do coração.

"O Reino Divino guarda o imperativo da ação por ordem fundamental. Sigamos para diante e propaguemos a verdade salvadora, através dos pensamentos, das palavras, das obras e de nossas próprias vidas. O Todo-Sábio criou a semente para produzir com o infinito. Desce do alto a claridade do Sol cada dia para extinguir as sombras da Terra. Esse é o objetivo do Evangelho. Amar, servindo, é venerar o Pai, acima de todas as coisas; e servir, amando, é amparar o próximo como a nós mesmos".

A fé sem obras é como a lâmpada que não clareia - é inútil.

Bibliografia:

O Evang. Seg. o Espiritismo - A.K. - XIX

À luz da oração - F.C.Xavier/Emmanuel

O Consolador - F.C.Xavier/Emmanuel - perg.354

Jesus no lar - F.C.Xavier/Neio Lúcio - lições 32 e 45


Márcia Casadio / Maria Ap. F. Lovo
Novembro / 2001
Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br 

sábado, 30 de janeiro de 2016

Estudo Evangélico

Livro: “PALAVRAS DE VIDA ETERNA”


Francisco C. Xavier / Emmanuel

Estudo n. 4

AMOR E TEMOR


"O perfeito amor lança fora o temor". (João, 4 : 18)

Muito se fala sobre o amor. Grandes expectativas são criadas em torno desse sentimento que há vinte séculos tanta ênfase foi dada por Jesus e em nome do qual o homem tem se hostilizado, fomentado tragédias, gerado grandes dificuldades e criado a separação entre os indivíduos.

Emmanuel a partir do versículo em estudo nos fala em Perfeito e Imperfeito Amor, identificando-o: evangélico e humano, isto é como o conhecemos na Terra.

Haverá divergências entre o amor humano e o amor instituído no Evangelho?

Se há, quais serão elas?

Léon Denis define o amor humano como "um sentimento, um impulso do ser que o leva para o outro com o desejo de unir-se a ele".

O que contem esse movimento, em direção ao outro, que caracteriza o amor comum, mais conhecido de nós?

Geralmente esse movimento, salvo raras exceções, está ligado a tendências neuróticas que levam a uma redução da sinceridade, aumento do egocentrismo, dos quais resultam freqüentemente emulações variadas do amor. Por isso, esse amor conhecido é uma mistura de sentimentos e impulsos que visam obter satisfações egoístas e doentias.

Assim, rotulam-se por amor:

As expectativas parasitárias de uma pessoa fraca e fútil de explorar o próximo para conseguir vantagens;

A necessidade de conquistar alguém para autoafirmar-se através do triunfo sobre a fraqueza alheia;

A necessidade de viver dentro de outra vida, induzindo prejuízos de natureza variada, que causa satisfação ao seu autor;

Necessidade de ser admirado, aprovado, elogiado;

Necessidade de afeto, atenção;

Dependência emocional que leva a buscar apoio em união com outros de modo a fugir de si próprio e a completar o vazio afetivo;

Utilização do outro para satisfação sexual, etc...

O “amor” estabelecido nessas bases se torna nocivo e perigoso já que os sentimentos e impulsos mórbidos contidos acabam por aflorar quando as necessidades doentias deixam de ser atendidas. Ao acontecer isso esse "amor" revela todo o seu fundo pernicioso e hostil dando a impressão falsa de que o amor se transformou em ódio, quando na realidade o ódio lá estava contido no íntimo. Enquanto as necessidades eram prontamente atendidas camuflava-se. Decididamente esse amor é desastroso gerando males, sofrimentos, comprometendo o homem.

Essa forma de amar não constitui o verdadeiro amor ensinado por Jesus, mas formas da infinita gradação que vai desde as mais simples até as mais sublimes formas de expressar-se.

Amor conjugal, amor materno, amor filial, amor à pátria, à raça, etc..., são refrações do verdadeiro amor, que abrange e penetra todos os seres e desabrocha sob formas variadas que nada mais são do que um meio de acender nos seres as claridades do verdadeiro amor.

O amor, que se reveste de variadas formas, é o princípio da vida universal, pois ele e nele o Pai criou os seres e hauriu a vida para dá-la às almas que concomitantemente a efusão vital, receberam o princípio afetivo destinado a germinar e expandir-se pelos séculos afora até aprender a dar-se, a dedicar-se e sacrificar-se pelos outros espontaneamente, sem nada esperar em troca. É dessa forma que o ser se engrandece, enobrece aproximando-se do Pai, da felicidade imperturbável.

Perfeitamente desenvolvido, o Amor é um sentimento que se manifesta em todas as atitudes do ser e não somente em relação a determinadas pessoas; tem como principal característica o real interesse pelas necessidades do outro, sejam elas quais forem.

A diferença entre o verdadeiro amor e o identificado no texto como amor imperfeito, está em que, no primeiro, o sentimento pelo próximo supera tudo o mais, e no segundo, prepondera as necessidades doentias ou pessoais do ser.

No texto em estudo Emmanuel ratifica estas reflexões dizendo:

“O imperfeito amor, procurando o gozo próprio no concurso dos outros é quase sempre o egoísmo em disfarce (...), buscando a si mesmo nas almas a fim para atormentá-las sob múltiplas formas de temor (...): a exigência e o crime, a crueldade e o desespero, acabando ele próprio no inferno da amargura e frustração.

O verdadeiro amor faz o bem e sacrifica-se sem esperar retribuição porque compreende que o Pai traçou caminhos para a evolução aprimoramento das almas, que a felicidade não é a mesma para todos e que amar significa entender, ajudar, abençoar e sustentar sempre os corações (...), no degrau de luta em que lhes é próprio “

Assim, "para que nossa alma se expanda sem receio através das realizações que o Senhor nos confia é necessário saber amar com abnegação e ternura entre esperança incansável e o serviço incessante do bem". Não devemos ficar aguardando uma oportunidade para praticar o bem ou esperando que alguém reconheça nossas atitudes como boas e amorosas essa postura caracteriza manifestação do amor imperfeito, do egoísmo que leva o indivíduo a ficar em amargura e frustração.

Nossa principal luta consiste na edificação, construção desse verdadeiro amor, conforme ensina Jesus e nos relembra João, o sentimento que leva a respeitar, interessar-se, auxiliar qualquer ser humano, a sentir em todos irmãos, a orientar no sentido da solidariedade e da cooperação.

Um novo mandamento vos dou, disse Jesus: "Que vos amei uns aos outros como eu vos amei". O amor entre os homens como mandamento tem uma conotação essencial: que é o modo como Ele ama e que estabelece o reinado da fraternidade legítima entre os homens onde impulsos e sentimentos egocêntricos, fontes de nossos temores, não permanecem.

Bibliografia.

Carlos Toledo Rizzini. Você e a Renovação Espiritual - O que é o amor? Editora

Cultural Espírita Edicel Ltda. 1 a. Edição.

Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Cap. XXV. O Amor. Federação Espírita Brasileira (FEB). 11 a. Edição.


IRACEMA LINHARES GIORGINI
JAIME GILBERTO ROSA
Outubro / 2001


Centro Espírita Batuira

cebatuira@cebatuira.org.br

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Céu inferno_041_2ª parte cap. III - Espíritos em Condições Medianas - Joseph Bré

JOSEPH BRÊ

(Falecido em 1840 e evocado em Bordéus, por sua neta, em 1862)

O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens

1. - Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos, dando-me quaisquer pormenores úteis ao nosso progresso?

- R. Tudo que quiseres, querida filha. Eu expio a minha descrença; porém, grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar: é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.
  
2. - Como? Pois não vivestes sempre honestamente?

- R. Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. E uma vez que desejas instruir-te, procurarei demonstrar-te a diferença. Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita.

Em podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à Humanidade! Erro! Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.

Assim o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germens de orgulho, de inveja, de ambição; deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo dalma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume "no amor de Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo".

Eis aí, querida filha, aproximadamente o que deve ser o homem honesto perante Deus. Pois bem: tê-lo-ia eu sido? Não. Confesso sem corar que faltei a muitos desses deveres; que não tive a atividade necessária; que o esquecimento de Deus impeliu-me a outras faltas, as quais, por não serem passíveis às leis humanas, nem por isso deixam de ser atentatórias à lei de Deus. Compreendendo-o, muito sofri, e assim é que hoje espero mais consolado a misericórdia desse Deus de bondade, que perscruta o meu arrependimento. Transmite, cara filha, repete tudo o que aí fica a quantos tiverem a consciência onerada, para que reparem suas faltas à força de boas obras, a fim de que a misericórdia de Deus se estenda por sobre eles. Seus olhos paternais lhes calcularão as provações. Sua mão potente lhes apagará as faltas.

Questões para estudo

1. Tendo este espírito vivido uma vida honesta, porque ele não estava feliz desencarnado?

2. Que diferença existe entre a observância das leis dos homens e das leis de Deus?

3. O que significa ser honesto aos olhos de Deus?

4. O homem que não pratica o mal estaria, agindo assim, praticando o bem?

CONCLUSÃO

1. Porque desencarnado ele se deu conta que a sua observância das leis terrenas não foi suficiente para ser considerado uma pessoa de alto padrão moral, já que deixou de cumprir a lei de Deus em certos aspectos.

2. Observar as leis dos homens é apenas seguir certas normas de conduta até sem pensar muito: é só ver o que diz a lei e obedecer; observar e seguir as leis de Deus é muito mais do que isso. É fazer o bem ao próximo em ações e pensamento.

O homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo.

3. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.


4. Não praticar o mal apenas, equivale a não fazer nada, pois apenas estará evitando envolver-se com seus semelhantes. As ações só terão valor diante de Deus se, além de não praticar o mal, o homem fizer o bem.

 (Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)
Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.

SEGUNDA PARTE

DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS

CAPITULO III  
                     
MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES

Estudo 24: itens 65 a 71

Referindo-se estudo do capítulo anterior (estudo 23), afirma Allan Kardec que nada certamente revela a intervenção de uma potência oculta e os efeitos analisados poderiam ser perfeitamente explicados pela ação de uma corrente magnética, ou elétrica, ou, ainda, pela ação de um fluido qualquer. Tal foi, precisamente, a primeira solução dada a tais fenômenos e que, com razão, podia passar por muito lógica. Teria, não há dúvida, prevalecido, se outros fatos não viessem demonstrar a sua insuficiência. Estes fatos são as provas de inteligência que eles deram. Ora, como todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, tornou-se evidente que, mesmo admitindo-se a ação da eletricidade ou de qualquer outro fluido, havia a presença de outra causa. Qual seria? Qual era essa inteligência? Foi o que o prosseguimento das observações revelou.

Para que uma manifestação seja inteligente, não precisa ser convincente, espiritual ou sábia. Basta ser um ato livre e voluntário, exprimindo uma intenção ou correspondendo a um pensamento. Quando se vê um papagaio de papel agitar-se, sabemos que obedece ao impulso do vento; mas se reconhecemos nos seus movimentos sinais intencionais, se gira para a direita ou para a esquerda, rápida ou lentamente, obedecendo ordens, tem-se de admitir, não que o papagaio tenha inteligência, mas que obedece a uma inteligência. Foi o que aconteceu com a mesa.

Viu-se, então, a mesa mover-se, levantar-se, dar pancadas, sob a influência de um ou de muitos médiuns. O primeiro efeito inteligente que se observou foi precisamente o de obediência às ordens dadas. Assim é que, sem mudar de lugar, a mesa se erguia sobre os pés que lhes eram indicados. Depois, ao abaixar-se, dava um determinado número de pancadas respondendo a uma pergunta. De outras vezes, sem o contato de ninguém, passeava sozinha pelo aposento, avançando para a direita ou esquerda, para frente ou para trás, executando movimentos diversos que os assistentes ordenavam. É claro que foram afastadas as suspeitas de fraude, aceitando-se a perfeita lealdade dos assistentes. 

Por meio de pancadas e, sobretudo, por meio dos estalidos, os quais foram tratados no estudo anterior (número 23), obteve-se efeitos ainda mais inteligentes. Era, como bem se compreende, um vasto campo a ser explorado. Raciocinou-se que, se naquilo havia uma inteligência oculta, forçosamente lhe seria possível responder a perguntas e ela de fato respondeu, por um sim, por um não, dando o número de pancadas convencionado. Por serem muito insignificantes essas respostas, surgiu a idéia de fazer-se que a mesa indicasse as letras do alfabeto e compusesse assim palavras e frases.

Estes fatos, repetidos à vontade por milhares de pessoas e em todos os países, não podiam deixar dúvida sobre a natureza inteligente das manifestações. Foi então que apareceu um novo sistema, segundo o qual essa inteligência seria a do médium, do interrogante, ou mesmo dos assistentes. A dificuldade estava em explicar como semelhante inteligência podia refletir-se na mesa e se expressar por pancadas. Averiguado que estas não eram dadas pelo médium, deduziu-se que, então, o eram pelo pensamento. Mas, o pensamento a dar pancadas constituía fenômeno ainda mais prodigioso do que todos os que haviam sido observados. 

A experiência não tardou a demonstrar que essa opinião era inadmissível. Com efeito, as respostas se mostravam muito freqüentemente em completa oposição ao pensamento dos assistentes, fora do alcance intelectual do médium e até mesmo em idiomas ignorados por ele ou relatando fatos desconhecidos de todos. São tão numerosos os exemplos, que é quase impossível alguém haver se ocupado de comunicações espíritas, sem os ter muitas vezes testemunhado. 

Allan Kardec apresentou o seguinte caso relatado por uma testemunha: Num navio da marinha imperial francesa, nos mares da China, toda a equipagem, desde os marinheiros até o comando, ocupava-se das mesas falantes. Resolveram evocar o Espírito de um tenente do mesmo navio, que morrera havia dois anos. Ele atendeu, e depois de várias comunicações que espantaram a todos, disse o seguinte, por meio de pancadas: "Peço-vos insistentemente que paguem ao capitão a soma de (indicou a quantia), que lhe devo e que lamento não ter podido pagar-lhe antes de morrer." Ninguém sabia do fato. O próprio capitão esquecera essa dívida, aliás, mínima. Mas, procurando nas suas contas, encontrou um registro da dívida do tenente, na importância indicada. Perguntou-se: do pensamento de quem essa indicação podia ter sido refletida?

Ao traduzir O Livro dos Médiuns, Herculano Pires recorda que o problema do inconsciente deu margem no passado e continua a dá-la ainda hoje, a numerosas hipóteses fantásticas sobre a possibilidade de serem telepáticas essas transmissões. Mas, os fatos são mais complicados do que o citado acima e essas hipóteses não abrangem a todos. As pesquisas parapsicológicas, longe de beneficiarem essas hipóteses fantásticas, vêm confirmando progressivamente a explicação espírita.

Apesar do aperfeiçoamento da arte de comunicação pelo sistema alfabético de pancadas, o meio continuava muito moroso. Algumas, entretanto, trouxeram interessantes revelações sobre o Mundo dos Espíritos. Desse meio surgiram outros e assim se chegou ao de comunicações escritas. 

As primeiras comunicações desse gênero foram obtidas adaptando-se um lápis ao pé de uma mesa leve, colocada sobre uma folha de papel. Movimentada pela influência de um médium, a mesa começou traçando alguns caracteres, depois escreveu palavras e frases. Simplificou-se gradualmente o processo, pelo emprego de mesinhas do tamanho de uma mão, construídas expressamente para isso; em seguida, pelo emprego de cestinha, de caixas de papelão e por fim de simples pranchetas. 

A escrita era tão fluente, rápida e fácil como a manual, mas reconheceu-se mais tarde que todos esses objetos serviam apenas de apêndices da mão, verdadeiros porta-lápis que podiam ser dispensados. De fato, a própria mão do médium, impulsionada de maneira involuntária, escrevia sob a influência do espírito sem o concurso da vontade ou do pensamento daquele. Desde então, as comunicações entre os dois planos não têm mais dificuldades do que a correspondência habitual entre os encarnados.

Concluindo, compreendemos que esse desenvolvimento gradual do processo da psicografia representa um dos episódios mais significativos da Ciência Espírita, mostrando a naturalidade do fenômeno. A prancheta, como se vê, não é mais do que uma miniatura da mesa girante, conservando-se assim, a forma do instrumento primitivo através da evolução para a escrita manual. O aparecimento da cesta e da caixa de papelão assinala o momento de transição dos meios materiais para o meio psíquico.

BIBLIOGRAFIA

KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap. II - 2ª Parte

KARDEC, Allan - Obras Póstumas: 2.ed. São Paulo: LAKE, 1997 - Pág. 217 a 222

WANTUIL, Zeus - As Mesas Girantes e o Espiritismo: Rio: FEB, 1959

Tereza Cristina D'Alessandro

Julho / 2003
Estudo Evangélico

Livro: “PALAVRAS DE VIDA ETERNA”


Francisco C. Xavier / Emmanuel

Estudo n.3

EVITANDO A TENTAÇÃO


“Vigiai e orai para não entrardes em tentação "- Jesus (Marcos,14:38)


A palavra evitar quer dizer fugir, evadir-se, esquivar-se, e a palavra tentação significa disposição ou ânimo para prática de coisas diferentes ou censuráveis, perdição. Devido a herança que cada um traz do passado, da nossa condição evolutiva, podemos entender que evitar a tentação é simplesmente fugir dela, quando na realidade ela será evitada, quando nos dispusermos ao trabalho de mudança íntima, nos educando, aí então, fortalecidos moralmente, conseguiremos superá-la naturalmente, com entendimento e não apenas fugindo. 

Qual o modo mais fácil de levar a efeito a vigilância pessoal para evitar a queda em tentações? (q. 217, “O Consolador”).

Emmanuel responde: "A maneira mais simples é a de cada um estabelecer um tribunal de autocrítica, em consciência própria, procedendo para com outrem, na mesma conduta de retidão que deseja da ação alheia para consigo próprio".

Isto quer dizer que devemos estar constantemente analisando nosso procedimento para com as pessoas, para não ferirmos, não magoarmos, da mesma maneira que não queremos ser magoados ou feridos.

Como seres, ainda, imperfeitos, conviveremos com o semelhante, também, imperfeito.

Não há como fugir e isolar-se em torres de marfim, mosteiros inacessíveis, para viver na solidão, com medo do convívio com o outro.

Somos multidão com deformidades espirituais e a diferença evolutiva entre nós, não é significativa. Vivemos num universo inteiramente solidário, no qual uns devem ajudar e amparar outros, ou como diz o Evangelho: amar-nos uns aos outros. Não é tão difícil, e é necessário. Para tanto é preciso exercitarmos o Amor.

Daí, a recomendação da vigilância.

Essa porém, não é no sentido de isolamento para fugir da tentação, mas, para que trabalhando os males que nos afligem intimamente, façamos esforço grande para os superarmos, procurando conhecer-nos intimamente, melhor trabalhando com as nossas dificuldades espirituais.

As mais terríveis tentações estão dentro de nós, no íntimo da nossa individualidade.

Ao reencarnarmos trazemos as forças desequilibradas pelo passado de enganos, porém, teremos as oportunidades que possibilitarão o reajuste, o equilíbrio.

Fazendo análise íntima, perceberemos que é nas nossas tendências encontramos as mais vivas sugestões de inferioridade. Daí a importância da vigilância, para não permitirmos que outras mentes, também, em desequilíbrio consigam domínio sobre nós.

Podemos exercitar o bom ânimo, a paciência, a fé e a humildade, abnegação, compreensão, etc., em todos os instantes. Nesses exercícios estaremos exercendo esse vigiar, que em síntese, significa estar atento mantendo um campo íntimo, mental de trabalho no Bem.

No contato com aqueles mais próximos, teremos material de aprendizado, para desenvolver os valores da boa-vontade, do perdão, da fraternidade pura e do bem incessante.

Devido ao estágio evolutivo em que estamos, é natural soframos tentações, pois, elas estão conosco. Temos o dever de educando-nos combatê-las energicamente, vigiando e orando.

Apesar da advertência, da convivência, da proximidade com Jesus, o apóstolo Pedro, que deixara tudo para seguir o Mestre, negou-o justamente quando mais se fazia preciso o testemunho de sua crença, de sua solidariedade. Ele que havia dito: "Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei", repentinamente, cedendo às suas próprias fragilidades, negou o Cristo três vezes, antes do cantar do galo.

Este fato confirma que não existe ninguém isento de tentações. Aliás, será nesse trabalho de despertamento que o estudo passa que ficaremos precavidos cautelosos, trabalhando, e não apenas guardando, do mesmo modo que orar não quer dizer adorar sem nada produzir, ficando na ociosidade.

Não podemos nos permitir ficar em atitude de vigilância e oração, fugindo à luta necessária para a renovação.

Trabalhemos no Bem infatigavelmente, e estaremos vigiando e orando para não cairmos em tentação.

Bibliografia:

Fonte Viva – F. C. Xavier/Emmanuel - lição 110

Diálogo com as sombras- H. Miranda - pág. 53

Maria Aparecida Ferreira Lovo
Setembro / 2001

Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Céu inferno_040_2ª parte cap. II - Espíritos Felizes - Maurice Goutran

TEXTO PARA ESTUDO

Foi filho único, falecido com dezoito anos, de uma afecção do pulmão. Inteligência rara, razão precoce, grande amor aos estudos, caráter doce, amante e simpático, ele possuía todas as qualidades que dão as mais legítimas esperanças de um brilhante futuro. Seus estudos terminaram cedo com o maior sucesso, e ele trabalhava na Escola politécnica. Para seus pais, sua morte foi a causa de uma dessas dores que deixam traços profundos, e tanto mais penosas quanto tenham sempre sido de uma santa delicadeza, atribuíam seu fim prematuro ao trabalho para o qual o impeliram, e se repreendiam: "A que serve-lhe agora tudo o que aprendeu? Melhor fora que tivesse permanecido ignorante, porque disso não necessitaria para viver e, sem dúvida, estaria ainda entre nós, consolaria a nossa velhice". Se conhecessem o Espiritismo, sem dúvida raciocinariam de outro modo. Mais tarde, aí encontraram a verdadeira consolação. A comunicação seguinte foi dada pelo filho a um de seus amigos, alguns meses depois de sua morte:

P. Meu caro Maurice, a terna afeição que tínheis por vossos pais faz com que eu não duvide do vosso desejo de levantar a sua coragem, se isso está no vosso poder. O desgosto, eu diria o desespero em que a vossa morte os mergulhou, altera visivelmente sua saúde e lhes faz se desgostarem da vida. Algumas boas palavras vossas, sem dúvida, poderão fazer renascer neles a esperança.

R. Meu velho amigo, esperava com impaciência a oportunidade que me ofereceis para me comunicar. A dor dos meus pais me aflige, porém ela se acalmará quando tiverem a certeza de que não estou perdido para eles; é em convencê-los dessa verdade que deveis vos interessar, e a isso chegareis certamente. Era necessário esse acontecimento para levá-los a uma crença que fará a sua felicidade, porque ela lhes impedirá de murmurarem contra os decretos da Providência. Meu pai era muito cético a respeito da vida futura; Deus permitiu que tivesse essa aflição para tirá-lo do seu erro.

Nós nos reencontraremos aqui, neste mundo onde não mais se conhecem os desgostos da vida, e onde os precedi; mas dizei-lhes bem que a satisfação de ali me reverem lhes será recusada como punição por sua falta de confiança na Bondade de Deus. Ser-me-ia mesmo interditado, daqui até lá, comunicar-me com eles enquanto estiverem ainda na Terra. O desespero é uma revolta contra a vontade do Todo-Poderoso, e que sempre é punida pelo prolongamento da causa que levou a esse desespero, até que se esteja submisso. O desespero é um verdadeiro suicídio, porque mina as forças do corpo, e aquele que abrevia seus dias com o pensamento de escapar mais cedo às opressões da dor, prepara para si as decepções mais cruéis; ao contrário, é manter as forças do corpo para que é necessário trabalhar para suportar, mais facilmente, o peso das provas.

Meus bons pais, é a vós que me dirijo. Desde que deixei o meu despojo mortal, não deixei de estar junto a vós, e mais do que estava quando vivia na Terra. Consolai-vos porque não estou morto; estou mais vivo do que vós; só meu corpo morreu, mas meu Espírito vive sempre. Ele está livre, feliz, doravante ao abrigo das doenças, das enfermidades e da dor. Em lugar de vos afligir, regozijai-vos por me saberem num meio isento de cuidados e de receios, onde o coração é arrebatado por uma alegria pura e sem mescla.

Meus amigos, não lastimeis aqueles que morrem prematuramente; é uma graça que Deus lhes concede, poupando-lhes as tribulações da vida. Minha existência, dessa vez, não deveria prolongar-se por mais tempo na Terra; eu tinha adquirido o que aí deveria adquirir, a fim de preparar-me para cumprir, mais tarde, uma missão mais importante. Se tivesse vivido por longos anos, sabeis a quais perigos, a quais seduções estaria exposto? Sabeis que se, não estando ainda bastante forte para resistir, houvesse sucumbido, isso poderia ser para mim um atraso de vários séculos? Por que lamentais o que me é vantajoso? Uma dor inconsolável, neste caso, acusaria uma falta de fé e não poderia ser ligitimada senão pela crença do nada. Sim, são para se lamentar aqueles que têm essa crença desesperante, porque para eles não há consolação possível; os seres queridos estão perdidos sem retorno; a tumba levou-lhes a última esperança!

P. Vossa morte foi dolorosa?

R. Não, meu amigo, não sofri senão antes de morrer com a moléstia que me arrebatou, mas esse sofrimento diminuía à medida que o último momento se aproximava; depois, uma luz, e dormi sem pensar na morte. Sonhei um sonho delicioso! Sonhava que estava curado, não sofria mais, respirava a plenos pulmões, e com volúpia, um ar embalsamado e fortificante; era transportado, através do espaço, por uma força desconhecida; uma luz brilhante resplandecia ao meu redor; mas sem cansar a minha visão. Vi meu avô; ele não tinha mais o rosto descarnado, mas um ar de frescor e de juventude; estendeu-me os braços e apertou-me com efusão sobre seu coração. Uma multidão de outras pessoas, com semblantes risonhos, acompanhava-o; todos me acolhiam com bondade e benevolência; parecia-me reconhecê-las, estava feliz por revê-las, e todos juntos trocamos palavras e testemunhos de amizade. O que eu acreditava ser um sonho era a realidade; não mais deveria despertar na Terra: eu estava desperto no mundo dos Espíritos.

P. A vossa moléstia fora causada pela vossa muito grande assiduidade ao trabalho?

R. Não, disso estejais bem persuadidos. O tempo que deveria viver na Terra estava marcado, e nada poderia aí deter-me por mais tempo. Meu Espírito, nesses momentos de desligamento, sabia-o bem, e estava feliz pensando na sua próxima libertação. Mas o tempo que aí passei não foi sem proveito, e hoje me felicito por não tê-lo perdido. Os estudos sérios que fiz fortificaram a minha alma e aumentaram os meus conhecimentos; foi outro tanto de educação, e se não pude aplicá-los na minha curta permanência entre vós, aplicá-los-ei mais tarde com mais fruto.

Adeus, caro amigo, vou para junto de meus pais, dispô-los para receberem essa comunicação.
                                                              MAURICE

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1. Os pais de Maurice diziam que seria melhor o filho não ter aprendido nada e vivido por mais tempo entre eles, já que o estudo de nada lhe adiantaria, pois morrera. Por que o texto afirma que, se eles conhecessem o Espiritismo, eles não pensariam dessa maneira?

2. Por que foi necessário o desencarne prematuro de Maurice?

3. Segundo Maurice, o que seria o desespero?

4. A morte prematura deve ser vista como uma desgraça? Comente.

5. Alguma dúvida ou comentário sobre o tema em estudo?

CONCLUSÃO

1. Os estudos sérios que fazemos fortificam a nossa alma e aumentam nossos conhecimentos. Se não pudermos aplicar esses conhecimentos nessa vida, os aplicaremos mais tarde com mais resultados.

2. Para que os pais de Maurice fossem levados a uma crença que faria sua felicidade, porque lhes impediria de murmurarem contra a Providência Divina. O pai de Maurice era muito cético, e Deus permitiu que tivesse essa aflição para tirá-lo de seu erro.

3. O desespero é uma revolta contra a vontade do Todo-Poderoso, e que sempre é punida pelo prolongamento da causa que levou a esse desespero, até que se esteja submisso. O desespero é um verdadeiro suicídio, porque mina as forças do corpo, e aquele que abrevia seus dias com o pensamento de escapar mais cedo às opressões da dor, prepara para si as decepções mais cruéis; ao contrário, é manter as forças do corpo para que é necessário trabalhar para suportar, mais facilmente, o peso das provas.


4. Deve ser vista como uma graça que Deus concede, poupando as tribulações da vida. Se a pessoa vivesse por longos anos, a quais perigos e seduções estaria exposta? Se ainda não estivesse bastante forte para resistir, teria sucumbido e isso seria um atraso de séculos.

(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)

Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.


DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS

CAPITULO II
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS E MESAS GIRANTES


Estudo 23: itens 60 a 64


Chamam-se manifestações físicas as que se traduzem por efeitos sensíveis, como os ruídos, o movimento e deslocamento de corpos sólidos. 

As manifestações físicas têm por propósito chamar nossa atenção sobre alguma coisa, e de nos convencer da presença de uma potência superior ao homem. Uma vez atingido esse propósito, as manifestações cessam, porque não são mais necessárias.

As Mesas Girantes

Explica Allan Kardec no desenvolvimento deste capítulo que, dentre as manifestações físicas, um dos fenômenos de efeito mais simples e um dos primeiros a serem observados, consiste no movimento circular de uma mesa. Este efeito se produz sobre todos os objetos igualmente, mas sobre a mesa é o mais cômodo, daí o nome de mesas girantes prevalecer na designação desta espécie de fenômeno.

Acrescenta que essas manifestações são conhecidas de todos os tempos e não poderia ser diferente, pois são fenômenos naturais. 

Este fenômeno entreteve, durante algum tempo, a curiosidade dos salões que, depois de se cansarem, passaram a outras distrações. Para pessoas sérias e observadoras, entretanto, propiciaram campo para uma revolução no campo das idéias ao se analisar as consequências resultantes desses fenômenos.

Quando, em 1854, o Professor Rivail ouviu referências às mesas girantes, entendeu, inicialmente, que o movimento inexplicável seria efeito do magnetismo animal, do qual tinha grande conhecimento, mas, ao continuar suas observações e acompanhar os fenômenos das mesas girantes, percebeu tratar-se de fatos gerados por uma causa não identificada que merecia estudos aprofundados. 

Ao presenciar o fenômeno das mesas girantes, declarou: "Entrevi, debaixo da aparente futilidade e da espécie de diversão que faziam com aqueles fenômenos, algo de sério e como que a revelação de uma nova lei que prometi a mim mesmo investigar a fundo." 1

O fenômeno das mesas girantes constituiu assim, o ponto de partida da Doutrina Espírita e por isso deve estudado com a clareza necessária.

Allan Kardec afirma que para a produção do fenômeno é necessária a participação de uma ou de muitas pessoas dotadas de aptidão especial e designadas pelo nome de médiuns. 

O número de participantes é indiferente. A forma da mesa, o material de que é feita, a presença de metais, os dias , as horas, a luz, a obscuridade, etc., também são indiferentes, porém a única prescrição realmente obrigatória é a do recolhimento, do silêncio absoluto e sobretudo paciência quando o efeito demora.

Assim preparada a experiência, quando o efeito começa a se manifestar, escuta-se, geralmente, um pequeno estalido na mesa; sente-se um estremecimento que é o prelúdio do movimento; ela parece fazer um esforço para se desamarrar, depois o movimento de rotação se acentua e se acelera a tal ponto que os assistentes se esforçam para segui-lo. 

Uma vez estabelecido o movimento, pode-se mesmo afastar-se que a mesa continua a mover-se, sem contato, em várias direções. 

Em outras circunstâncias, a mesa se eleva e se endireita, tanto sobre um pé, quanto sobre um outro, depois retoma suavemente a posição natural. De outras, se balança para a frente e para trás e de um lado para o outro, imitando o balanço de um navio. 

Outras vezes, enfim, ela se desloca inteiramente do solo, e se mantém em equilíbrio no espaço, sem ponto de apoio, elevando-se por vezes mesmo até o teto, de maneira que se possa passar por baixo; depois ela desce lentamente balançando-se como faria uma folha de papel, ou cai violentamente e se quebra, o que prova de maneira evidente que não é uma ilusão de ótica, mas para isso necessita uma potência mediúnica considerável.


Mais tarde iriam aparecer, também na Europa, as variantes do sistema das mesas girantes. Surgiriam as sessões com o "copinho deslizante" dentro de um círculo formado pelas letras do alfabeto. 

Os circunstantes colocavam a ponta do dedo indicador na borda do fundo do copo emborcado sobre a mesa. Dentro de algum tempo, mais ou menos longo, o copo começava a mover-se e ia apontando as letras, uma a uma, soletrando, assim, as palavras, mas, há muitos séculos, já se empregava um método parecido de comunicação com o Invisível: trata-se das "pranchetas" muito usadas na antiga China. 

O processo era semelhante. Em vez do copo, usava-se uma pequena tábua dotada de três pés que continha um indicador. 

O aparelho move-se dentro de um círculo formado por letras do alfabeto, incluindo também os algarismos de 0 a 9 e as palavras sim e não. A prancheta foi reinventada em 1853, na França, e tomou o nome de "ouija". 

Na realidade, o "ouija" é uma mesa de pequenas proporções. 

Além desses aparelhos rudimentares, outros foram imaginados e empregados, visando a comunicação com as inteligências invisíveis que, através desse processo, vêm, há muitos e muitos anos, tentando comunicar-se com o mundo dos vivos. 

É necessário mencionar também, a "corbeille" ou "carrapeta", uma cestinha de vime usada para servir o vinho em garrafa. Fixa-se um lápis na extremidade da cestinha, cuja ponta pode apoiar-se e deslizar sobre uma ardósia. 

Os circunstantes colocam o dedo indicador sobre a borda da "carrapeta", a qual, após algum tempo, se movimenta escrevendo palavras e frases inteiras. 

O "ouija" foi aperfeiçoado, constando de uma tábua plana de madeira, com o formato aproximado de um coração. Na extremidade mais estreita há um dispositivo para fixar-se um lápis. Duas roldanas móveis servem de apoio à parte posterior mais larga. 



A interpretação de Allan Kardec

Foi nessas reuniões que Kardec começou os seus estudos sérios de espiritismo, "mais pelas observações que pelas revelações". 

Aplicou à nova ciência, como sempre fizera o método da experimentação. Jamais utilizou teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava e deduzia as consequências. Através dos efeitos procurava chegar às causas pela dedução e o encadeamento lógico dos fatos, só admitindo uma conclusão como válida quando esta conseguia resolver todas as dificuldades da questão. 

Afirmou: "Compreendi, logo à primeira vista, a importância da pesquisa que iria fazer. Vislumbrei naqueles fenômenos a chave do problema do passado e do futuro da Humanidade, tão confuso e tão controvertido, a solução daquilo que eu havia buscado toda a minha vida. 

Era, em suma, uma revolução total nas idéias e nas crenças existentes. Era preciso, pois, agir com circunspeção, não levianamente. Ser positivo, não idealista, para não me deixar levar por ilusões." 1

Logo Allan Kardec percebeu que os Espíritos nada mais eram do que as almas dos homens, não possuindo nem a plena sabedoria, nem a ciência integral: "Agi com os Espíritos, como teria feito com homens. Foram para mim, do menor ao maior deles, veículos de informação e não reveladores predestinados" - declarou Kardec. 1

Finalmente, em 1857, após minuciosa pesquisa, surge a primeira obra sobre o que houvera investigado: Referindo-se ao seu trabalho, Allan Kardec afirmou: "Foi assim que mais de 10 médiuns prestaram colaboração neste trabalho. Foi através da comparação e da fusão de todas aquelas respostas coordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação que aprontei a primeira edição de O Livro dos Espíritos, publicada a 18 de abril de 1857." 1

Fenômenos de pancadas no interior da madeira

No estudo deste capítulo II, Allan Kardec também faz referências ao fenômeno das pancadas no interior da madeira, mas o mesmo será estudado, a seguir, no capítulo III.

Conclusão

O fenômeno das mesas girantes constitui assim, um período de manifestações do Mundo espiritual, com caráter preparatório, instrutivo, visando o despertamento dos homens para a realidade transcendente do Espírito. O Professor Rivail, em seus profundos estudos, realizou notável obra de investigação, trazendo à luz a Nova Revelação, o Consolador prometido por Jesus, que veio para esclarecer e consolar os homens na Terra.

BIBLIOGRAFIA

KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap. II - 2ª Parte

KARDEC, Allan - Obras Póstumas: 2.ed. São Paulo: LAKE, 1997 - Pág. 217 a 222

WANTUIL, Zeus - As Mesas Girantes e o Espiritismo: Rio: FEB,1959



Tereza Cristina D'Alessandro


Junho / 2003