ESPIRITISMO E MEDIUNIDADE
ESTUDO 3: AS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS
As manifestações ostensivas de Espíritos produzindo fenômenos, "assombrando”, causando sustos, podem ser encontradas em todas as épocas da história dos diferentes povos.
Significa isso, que sendo a mediunidade faculdade humana, sempre se exteriorizou produzindo consciente ou inconscientemente acontecimentos materiais, movimentos de corpos inertes, ruídos etc.
Esses médiuns, esses seres produziam e produzem esses fenômenos, são classificados na Literatura Espírita, em médiuns de efeitos físicos que para melhor entendimento são divididos em:
* Médiuns involuntários: são os que exercem sua influência sem querer. Não têm nenhuma consciência do seu poder e quase sempre o que acontece de anormal ao seu redor não lhes parece estranho.
* Médiuns facultativos: são os que têm consciência do seu poder e produzem fenômenos espíritas pela própria vontade. Essa faculdade, embora inerente à espécie humana , não se manifesta em todos no mesmo grau.
Colocados nessa ordem, ressalta-se a importância de transitar o médium da condição de medianeiro involuntário do Plano Espiritual, para conscientemente colocar-se à disposição para que o Bem possa estar entre todos. Para isso, era necessário que o Tempo, elemento imprescindível nesse processo, favorecesse o despertar da Consciência, tornando-a apta à assimilação de novos conhecimentos que do Mundo Espiritual seriam derramados sobre a Terra.
A intervenção ostensiva do Plano Espiritual, no Plano Físico, pode ser admitida como embaixada portadora de metas decisivas, a definir-se em três períodos essenciais: aviso, chegada e entendimento.
Após o preparo, a Terra recebe o Aviso da existência do mundo espiritual. A seguir, a Chegada, por meio da qual os Espíritos se materializaram perante nossos sentidos e o Homem usando seu livre-arbítrio, necessitou acionar o seu Entendimento, dando início ao processo de espiritualização que lhe permitirá ascender aos mundos superiores.
O primeiro período caracterizado como Aviso, acontece a partir de 1744 quando então Emmanuel Swendenborg, um homem extraordinário, de vastos conhecimentos, desenvolve a própria mediunidade, estabelecendo franco contato com o mundo espiritual. Outros fatos viriam através de Edward Irving, o pastor escocês, do curioso episódio dos "shakers" nos Estados Unidos, Andrew Jackson Davis, mostrando fenômenos independentes entre si, porém seguindo um grande plano, que no dizer de Arthur Conan Doyle, era uma invasão organizada. Esta, como que fizera o papel de "batedores" das patrulhas de reconhecimento e preparação de terreno.
Estes homens viam, ouviam, escreviam, falavam de um outro mundo onde os que lá chegavam através da morte, eram recebidos por seres que os encaminhavam na nova vida. A morte a ninguém mudava, não existia pena eterna, enfim, novas idéias, nas quais o homem comum não percebia a revelação espiritual aí contida.
Ainda nesse período, em 31 de março de 1848, Andrew J. Davis escreve em seu diário: "Esta madrugada um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz suave e forte dizer - Irmão, um grande trabalho foi começado. Olha, surgiu uma demonstração viva! Fiquei pensando o que queria dizer esta mensagem".
Exatamente nessa madrugada começavam os fenômenos na casa da família Fox, com as filhas do metodista John Fox e que marcaram o início das investigações espíritas no mundo.
Era a Chegada, e no vilarejo de Hydesville (Estado de Nova York, Estados Unidos), inicia-se publicamente a chegada dos comandos de sobrevivência. São os ruídos, as pancadas, batidas e palmas convencionadas, através das quais perguntas formuladas pelas meninas Fox, eram inteligentemente respondidas. Por esse "método", o Espírito Charles Rosna, o mascate, relata como ali havia sido morto e sepultado. A imprensa, o público, a curiosidade é tão intensa que a família Fox se vê forçada a mudar para a cidade realizando agora as sessões públicas no Hotel Barnum em Nova York.
Entre 1853 e 1855, a "dança das mesas", que se levantavam sobre um dos pés, rodando, respondendo perguntas através de batidas combinadas, elevando-se no ar, projetando-se em direção ao solo, constituem-se um inusitado passatempo, uma diversão obrigatória. Chega a ser considerada " o maior acontecimento do século".
Muitos já percebiam ali a demonstração da possibilidade de comunicação com seres de outro plano. As elaborações mentais buscavam respostas sem identificar por onde começar e seguir.
Ouvem-se batidas surpreendentes aqui e ali, mãos luminosas acenam por a toda parte, vozes ressoam entre lábios selados, mensagens rápidas são transmitidas, de maneira direta, e entidades materializam-se ante os experimentadores, tomados de assombro.
Iniciava-se o terceiro período, o do Entendimento, que é obra encetada com Allan Kardec, que esclarece a posição da doutrina e do fenômeno, como quem separa o trigo da vestimenta de palha, estabelecendo rumos, criando obrigações e definindo responsabilidades.
Assim, o prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail, através de um trabalho criterioso e bem conduzido, amparado pelo bom senso e mente lúcida, estrutura a Doutrina Espírita a partir da análise dos fenômenos que aconteciam sob a orientação do Mundo Espiritual, descobrindo o véu que mantinha a humanidade distanciada da Verdade, solidificando o Espiritismo como a Terceira Revelação, o Consolador Prometido por Jesus, que viria quando o Homem tivesse desenvolvimento intelectual preparado para o Entendimento.
Essa a importante revelação de nossa época. Mostra a possibilidade de comunicação com os seres do mundo espiritual, dando a conhecer o mundo invisível que nos cerca e em cujo meio vivemos sem suspeitar, mostrando leis que o regem, a natureza e o estado dos seres que o habitam e consequentemente, o destino do homem após a morte.
Tendo aparecido numa época de emancipação e madureza intelectual, onde o homem queria saber o porquê e o como da cada coisa, o Espiritismo surgiu, através de um ensino direto, mas também como fruto do trabalho e do livre exame, deixando ao homem o direito de tudo submeter ao cadinho da razão.
Pelo método aplicado na observação dos fatos, pelas respostas que oferece às indagações do Espírito humano, com reflexos inevitáveis no modo de proceder das criaturas, dizemos que o Espiritismo é uma doutrina de tríplice aspecto - científico, filosófico e religioso..
“... O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações". (I)
Ciência: No estudo dos fenômenos que concorreram para a codificação do Espiritismo, Kardec da mesma forma que nas ciências positivas, aplicou o método experimental. Não criou nenhuma teoria pré-concebida e nem apresentou como hipótese a existência e a intervenção dos Espíritos, concluindo pela existência destes quando ela foi evidenciada pela observação dos fatos.
A parte experimental do Espiritismo está contida em "O Livro dos Médiuns" editado em 1861, que segundo Allan Kardec, “... contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo”.
Filosofia: As bases da Doutrina Espírita foram estabelecidas pelo Codificador através da análise e seleção das comunicações dos Espíritos, usando os critérios da universalidade e concordância do ensino dos Espíritos, à luz da razão.
“... Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade". (II)
Nascia uma nova filosofia apoiada na ciência, cujas conseqüências morais, do mais alto alcance, preparam a humanidade para uma nova era, onde os valores espirituais preponderarão sobre os valores materiais.
A Filosofia Espírita está consubstanciada em "O Livro dos Espíritos", publicado em 18 de abril de 1857.
Religião: Aspecto Moral - O Espiritismo, não tendo formas exteriores de adoração, nem sacerdotes, nem liturgia, nem dogmas, não é entendido por muitos como religião e nesse sentido não é mesmo. Todavia, tendo como exemplo o Cristianismo no seu nascedouro, Jesus por Modelo e Guia, oferece um conjunto de princípios capazes de transformar o homem para melhor.
A Doutrina Espírita como ciência e filosofia dá ao homem o conhecimento dos grandes enigmas da vida, dentro de princípios lógicos. Através dela ficamos sabendo o que somos, de onde viemos, para onde iremos após a morte do corpo físico, o objetivo de estar encarnado, o porquê das vicissitudes da vida, onde o homem num viver diferenciado, em que se renova, toma a vida direcionando-a para um viver centrado em Jesus, portanto um viver religioso e não prescrito por fórmulas de religião.
Foi reconhecendo as conseqüências morais que decorrem dos ensinos dos Espíritos, que Allan Kardec publicou em 1864, o O Evangelho segundo o Espiritismo. A moral espírita é a moral do Evangelho, entendido este no seu sentido lógico e não desfigurado, quer pela letra, quer pelo dogma. As matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em cinco partes:
- Os atos comuns da vida do Cristo;
- Os milagres;
- As profecias;
- As palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja;
- O ensino moral.
Se as quatro primeiras partes têm sido objeto de discussões, a última permanece inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva.
É esse ensino moral o objeto de "O Evangelho segundo o Espiritismo", porque constitui uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura.
“... Religião é o sentimento Divino, cujas exteriorizações são sempre o Amor, nas expressões mais sublimes. Enquanto a Ciência e a Filosofia operam o trabalho da experimentação e do raciocínio, a Religião edifica e ilumina os sentimentos.
As primeiras se irmanam na Sabedoria, a segunda personifica o Amor, as duas asas com que a alma humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da espiritualidade". (III)
"... Somente no Espiritismo encontramos essa unidade tríplice do saber, em que ciência, filosofia e religião, embora mantendo cada qual a sua autonomia, se fundem num todo dinâmico, em que livremente se processa a simbiose, necessária à produção da síntese.
Mas como é possível essa harmonia do "todo dinâmico", num mundo em que cada uma das formas do conhecimento revela a tendência de absorver as demais? Nenhuma explicação nos parece mais feliz, mais precisa e mais didática, do que a formulada pelo espírito de Emmanuel, no livro "O Consolador” recebido mediunicamente por Francisco Cândido Xavier. Interpelado a respeito do aspecto tríplice da doutrina, respondeu nestes termos: "Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado desse modo, como um triângulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a religião é o ângulo divino, que a liga ao céu. No seu aspecto científico e filosófico, a doutrina será sempre um campo de investigações humanas, como outros movimentos coletivos, de natureza intelectual, que visam ao aperfeiçoamento da humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual."
O homem encontra a si mesmo, no triângulo de forças da concepção espírita. A pesquisa cientifica demonstra-lhe a realidade espiritual da vida, rompendo o véu das aparências físicas; a cogitação filosófica desvenda-lhe as perspectivas da vida espiritual, em seu processo dialético, através do tempo e do espaço; a fé raciocinada, consciente da religião em espírito e verdade, abre-lhe as vias de comunicação com os poderes conscientes que o auxiliam na ascensão evolutiva." (IV)
Estas reflexões levam ao entendimento, onde compreendemos que ao estudar a mediunidade à luz da Doutrina espírita, buscamos uma nova proposta de vida, estabelecendo rumos, definindo responsabilidades.
Se já estamos na fase do entendimento, cabe entender que milhares de pessoas ainda se atêm no aviso, isto é, no sobrenatural, no maravilhoso, no milagre. Outras tantas detém-se na chegada inseguras ainda entre a esperança, a convicção e a certeza. Desse modo, daqueles que entendem, espera-se um viver embasado na fraternidade, de tal forma que, onde quer que estejam, irradiem conforto moral, paz, estímulo ao Bem, estimulando a renovação e a luta que leva a crescer.
Assim ao distanciar-se o Homem das práticas primeiras, tornar-se o canal para que os Amigos Espirituais atinjam o Plano Físico, em cumprimento das promessas do Cristo, de modo a reunir todas as criaturas na lei do bem e habilitá-las, convenientemente, para a continuidade do serviço de hoje, no grande futuro ou no grande além, ante a Vida Maior.
Bibliografia:
ALLAN KARDEC - O Que é o Espiritismo, Prólogo - LAKE -21ª ed. São Paulo/SP, 1982 (I)
O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução -FEESP -6ª ed. São Paulo/SP 1990 (II)
Revista Espírita 1867 - Setembro, Caracteres da Revelação Espírita - EDICEL, São Paulo/SP.
O Livro dos Médiuns, questões 160 e 161 -FEESP -2ª ed. São Paulo/SP 1989
XAVIER, FRANCISCO C./ EMMANUEL - Seara dos Médiuns, Aviso, chegada e entendimento. FEB -6ª ed. Brasília/DF ,1988 pag. 95 - 97
O Consolador, questão 260 - FEB -6ª ed. Brasília/DF ,1988 pag. 157 ( III )
PIRES, J. HERCULANO - O Espírito e o Tempo, III Parte- Doutrina Espírita cap. I O triângulo de Emmanuel - EDICEL. - 7ª ed. Sobradinho - DF pag. 135 e 136 (IV)
DOYLE, A. CONAN - História do Espiritismo - cap. I ao VI - Editora O Pensamento, 1960 - São Paulo/SP.
No próximo estudo: PRINCÍPIOS BÁSICOS DA DOUTRINA ESPÍRITA
Tereza Cristina D'Alessandro
AGOSTO / 2001
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