Geese
Porque dormis? Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação (Lucas, 22:46)
Conforme o artigo anterior, o desenvolvimento espiritual nas escolas de Iniciação ocorre em três linhas de atividades.
Na primeira linha, o trabalho essencial é a observação de si, o estudo de si, o estudo do ensinamento da Escola, e nessa atividade deve-se ter iniciativa em relação a si mesmo. Nesta linha, recebemos conhecimento, ideias, ajuda.
Ela se refere apenas a nós mesmos, é inteiramente egocêntrica. Quem trabalha nesta linha, trabalha seguramente para si mesmo.
Devemos ser muito práticos e pensar no que podemos conseguir. Se sentimos que não somos livres, que estamos dormindo (iludidos pela matéria e pelos sentidos), talvez sintamos a necessidade de ser livres, de despertar, e, dessa forma, trabalharemos para conseguir isso.
Ao reconhecermos que estamos dormindo, o importante é o esforço que fazemos para despertar. A recomendação de Jesus sobre o orai e vigiai é muito ilustrativa de quão difícil é manter-se desperto (atento para a Verdade).
Quando chegamos a nos dar conta, não somente da necessidade do estudo e da observação de si, mas também da necessidade do trabalho sobre si com vistas a mudar, então o caráter da observação também deve mudar.
Quanto à questão do trabalho sobre si, perguntemo-nos quais são realmente nossas chances de nos observar.
Devemos descobrir em nós mesmos, comportamentos e manifestações que podemos mais ou menos dominar e devemos exercer esse poder, tratando de aumentá-lo o mais possível.
O que notamos quando tentamos nos observar?
Primeiro, que não tomamos conhecimento de nós mesmos, no momento em que tentamos nos observar.
Segundo, que a observação se torna difícil devido ao fluxo incessante dos pensamentos, imagens, ecos de conversas e impulsos emocionais que distraem a atenção da observação.
Finalmente ao nos observarmos, notamos que algo desencadeia a imaginação e que a observação de si é uma luta constante contra a imaginação.
Eis aqui o ponto essencial no trabalho sobre si. Se nos dermos conta de que todas as dificuldades provêm do fato de que não conseguimos lembrar-nos de nós mesmos, já sabemos o que fazer:
Tratar de nos lembrar de nós mesmos.
Nossa memória só guarda vivos os momentos de lembrança de si.
Para isso, é preciso lutar contra pensamentos aleatórios e contra a imaginação.
Se o fizermos com perseverança, os resultados não tardarão a aparecer. Mas não devemos crer que o exercício seja fácil, nem que possamos dominar essa técnica de imediato.
A lembrança de si é um ato cuja prática é difícil, não deve basear-se na espera dos resultados. Mas, sim, na compreensão do fato de que não nos lembramos de nós mesmos, mas que, ao mesmo tempo, podemos, se fizermos esforços suficientes e de maneira adequada.
Não podemos tornar-nos conscientes, no momento em que o desejamos.
Mas podemos lembrar-nos de nós mesmos, por um curto momento, porque, até certo ponto, comandamos nossos pensamentos. E, como todo ser humano, se começarmos, vendo que não nos lembramos de nós mesmos, e compreendendo o que isto significa, isso pode nos levar à lembrança de nós mesmos.
Se aprendermos coisas novas sobre nós mesmos, coisas que não sabíamos antes, poderemos depois comparar o que conhecíamos antes com o que aprendemos agora. Sem comparação, não podemos sair do lugar. Por isso, o hábito de registrar essas descobertas sobre nós mesmos (em uma caderneta) torna-se imprescindível neste sistema.
Já foi dito que o estudo de si e a observação de si, bem conduzidos, levam o homem a se dar conta de que algo está errado em seu estado habitual. Compreende que:
* Só vive e trabalha numa pequena parte de si mesmo.
* A maioria de suas possibilidades permanecem não realizadas e a maioria de seus poderes não utilizados.
* Não extrai da vida tudo o que ela poderia lhe dar e que sua incapacidade se deve aos seus defeitos.
A ideia de estudo de si adquire a seus olhos nova significação. A observação de si leva o homem a reconhecer a necessidade de mudar. E, praticando, nota que a observação de si traz, por si mesma, certas mudanças em seus processos interiores. Começa a compreender que ela é um meio de mudar, um instrumento para despertar.
No próximo artigo continuaremos detalhando a primeira linha de trabalho.
6 O TREVO - MAIO 2010
ESCOLA DE APRENDIZES
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