Geese
Não deis aos cães as coisas santas,nem deites aos porcos as vossas pérolas, para que não aconteça que as pisem com os pés, e, voltando-se vos despedacem. (Mateus, 7:6)
Na cultura oriental, é costume utilizar metáforas e parábolas para transmitir ensinamentos transcendentais. Uma delas é a metáfora da prisão.
Um homem está na prisão: qual é seu desejo predominante? Provavelmente, é sair do confinamento, fugir da prisão.
Mas pode ser que não queira fugir.
Se alimentar este desejo, começa a ver as possibilidades de fuga e compreende que, sozinho, não tem condições de consegui-la, seja porque é necessário cavar por baixo da muralha ou outras coisas desse tipo. Dá-se conta de que, antes de tudo, deve ter algumas pessoas que gostariam de fugir com ele. Um pequeno grupo de pessoas que trabalhe em rodízio, ajudando-se, pode terminar o túnel e evadir-se.
Dessa forma, dá-se conta de que determinado número de pessoas talvez possa fugir.
Mas todos não podem, pois chamaria atenção e produziria imediatamente uma reação da guarda da prisão. Ou seja, um não pode e todos não podem, mas um pequeno grupo pode. Além disso, em que condições? Chega-se à conclusão de que é necessária uma ajuda. Sem esta não é possível escapar. É preciso ter mapas, ferramentas, etc. Devem, portanto, receber ajuda exterior.
É essa, exatamente, de modo quase literal, a posição do homem da atualidade.
Essa prisão significa realmente que estamos presos às restrições da materialidade.
Nesta metáfora, a prisão do homem é a ilusão da matéria. O primeiro ponto a considerar é que a ilusão é forte, pois a matéria dá a falsa sensação de liberdade, então o homem não se sente preso. É necessário, antes de tudo, perceber ou reconhecer essa condição, caso contrário desejará permanecer na ilusão. Além disso, se esse reconhecimento não é suficientemente claro, o homem sente-se inseguro só de imaginar em viver de um modo diferente do que tem vivido. Pensará que, sem os valores que lhe servem até então, poderia se encontrar numa situação desconhecida, sem referências, quase loucura e, dessa forma, conforma-se em permanecer na prisão.
Outra consideração importante é a de que ninguém pode, pela força, ajudar a libertação de um homem que não queira ser livre, que deseja exatamente o contrário. A liberdade é possível, mas só se resultar de vontade persistente, trabalhos prolongados, grandes esforços e, acima de tudo, esforços conscientes na direção de uma meta definida.
Voltemos à metáfora da prisão e passemos então a pensar em quais são as possibilidades que se abrem para aquele que decide fugir. Numa prisão de alto nível de segurança, fugir sozinho é muito difícil. E promover uma rebelião para uma fuga em massa é pior ainda. Então, a saída restante é a de integrar-se a um pequeno grupo de pessoas que desejem fugir (porque é preciso cavar túneis ou serrar grades e, quase sempre, um homem sozinho não consegue fazer isso).
Diante das dificuldades, o grupo que se prepara para a fuga precisa encontrar notícias e, talvez, auxílio, daqueles que escaparam antes, que descobriram as rotas e os meios para escapar. Há muitas razões pelas quais um homem não consegue fugir sozinho. Mas um pequeno grupo de pessoas tem condições, pois cada um aproveita o trabalho dos demais.
O que um ganhar, todos do grupo ganham.
Portanto, ninguém escapa da prisão sem a ajuda daqueles que já escaparam. Só eles têm condições de contar de que modo é praticável a evasão e fazer chegar aos cativos os recursos necessários. Mas um prisioneiro isolado não consegue encontrar esses homens livres nem entrar em contato com eles. É preciso uma organização (escola iniciática).
Este artigo continua na próxima edição.
O TREVO - DEZEMBRO 2009
ESCOLA DE APRENDIZES
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