Gebaldo José
de Sousa
É
comum ouvirmos, em tom de ameaça, a expressão: “Sou muito bom, mas, se pisam no
meu calo!...”, dita jactanciosamente, como se fosse qualidade a preservar, e de
que se orgulha o autor, sempre com os brios à flor da pele.
Contudo,
à luz do Evangelho, devíamos nos envergonhar de emiti-la, e de, por dá cá aquela
palha, praticar a violência que expressa, eis que revela desequilíbrio e o orgulho
que nos cumpre erradicar de nossas almas enfermas.
Quando
o sangue nos ferve, por qualquer ofensa ao orgulho ferido e nos sentimos impelidos
ao ódio e ao revide, sem medir conseqüências, é sintoma de grave enfermidade
espiritual, sobretudo pela sutileza com que se disfarça aos nossos olhos, figurando
com aparência de virtude a preservar.
Se
somos daqueles que andamos armados, então a situação é gravíssima! É o caso de
urgente internação, para tratamento mental, a bem nosso e da comunidade.
“O
egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral
obsta”, afirma-nos, sabiamente, Emmanuel.
Linhas
à frente, indica-nos o mesmo Espírito: “(...) esse filho do orgulho é o
causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por
conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens. (...)
É
(...) à invasão do coração humano por essa lepra que se deve atribuir o fato de
não haver ainda o Cristianismo desempenhado por completo a sua missão.”
Ora,
se o filho é considerado ‘lepra’ e “é o causador de todas as misérias” humanas,
o que não será o indigitado pai, o orgulho... que nos leva a nos julgar
superiores aos demais.
É
fonte da maioria dos males que nos atribulam a vida.
Para
eliminá-lo e adquirir humildade, é indispensável erradicarmos do coração essa lepra.
Pois ela é o único antídoto que o destrói, à semelhança da luz, que silenciosa e
suavemente afasta a treva.
O
Espírito Lacordaire, incisivo, assinala:
“A
Humildade é virtude muito esquecida entre vós. (...) Sem humildade, podeis ser caridosos
com o vosso próximo?... este sentimento nivela os homens, dizendo-lhes que
todos são irmãos, que se deve auxiliar mutuamente, e os induz ao bem. Sem a humildade,
apenas vos adornais de virtudes que não possuís, como se trouxésseis um vestuário
para ocultar as deformidades do Vosso corpo. (...)
O orgulho
é o terrível adversário da humildade.
(...)
Não é teu igual o infeliz que passa fome?
(...)
lembra-te que a morte não te poupará, como a nenhum homem.
À
vista de tantas admoestações para tão grave falta (o orgulho), cumpre-nos
identificar, em nós, aquilo que a alimenta e a indiferença que a perpetua, para
atacar, prontamente, esse mal:
“As
principais reações e características do tipo predominantemente orgulhoso são:
a) Amor-próprio
muito acentuado: contraria-se por pequenos motivos;
b) Reage
explosivamente a quaisquer observações ou críticas de outrem em relação ao seu
comportamento;
c) Necessita
ser o centro de atenções e fazer prevalecer sempre as suas próprias idéias;
d) Não
aceita a possibilidade de seus erros, mantendo-se num estado de consciência fechado
ao diálogo construtivo;
e) Menospreza as idéias do próximo;
f) Ao ser
elogiado por quaisquer motivos, enche-se de uma satisfação presunçosa, como que
se reafirmando na sua importância pessoal;
g) Preocupa-se
muito com a sua aparência exterior, seus gestos são estudados, dá demasiada
importância à sua posição social e ao prestígio pessoal;
h) Acha
que todos os seus circunstantes (familiares e amigos devem girar em torno de si;
i) Não
admite-se humilhar diante de ninguém, achando essa atitude um traço de fraqueza
e falta de personalidade;
j) Usa da
ironia e do deboche para com o próximo nas ocasiões de contendas.”
Não
falta clareza e sinceridade nas orientações espirituais. Eis o que diz o
Espírito Adolfo, bispo de Argel, sem meias palavras:
“Homens,
por que vos queixais das calamidades que vós mesmos amontoastes sobre as vossas
cabeças? (...) Generaliza-se o mal-estar. A quem inculpar, senão a vós que
incessantemente procurais esmagar-vos uns aos outros? Não podeis ser felizes,
sem mútua benevolência; mas, como pode a benevolência coexistir com o orgulho?
O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males.
Com
energia inusitada e franqueza quase rude, no estilo “sim, sim; não, não” —
ainda mais por integrar o capítulo “BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E
PACIFICOS” — a Entidade Lázaro previne-nos, ainda em 1863, ano distante dos
tempos apocalípticos ora vividos: “Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que
cerra o seu entendimento!
Ai
dele! porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos
o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio
e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida.'
Quantos
poderosos já mandaram na Terra de forma absoluta, ao longo da história humana? Onde
estão eles, apesar de toda a pompa de que se cercaram?
Jesus,
contudo, chegou humildemente, numa manjedoura, entre pastores e animais, sem uma
pedra onde repousar a cabeça, e nos trouxe mensagem de Amor e Paz.
Os
primeiros vieram precedidos de armas, lutas e muito sangue. Aqueles se impunham
pela força, pela violência, pela esperteza.
O
Mestre busca conquistar-nos, sem violentar nossas consciências, sem se impor,
mas, sim, pela compreensão do Amor, da Fraternidade, da humildade, da
mansuetude.
Os
reis do mundo buscam o domínio exterior, espalhafatoso, sempre transitório.
Jesus
quer nos conceder a posse do reino de Deus e nos vem buscar o coração, conquistando-nos
de forma definitiva, convertendo-nos, a pouco e pouco, à compreensão da
verdade. Respeita nossas limitações.
Dirige-se
aos humildes de coração que não se iludem com o lado externo da vida, que alimentam
em seus corações fé sincera em Deus, que Nele confiam, que a Ele se entregam,
fazendo sua parte, trabalhando e orando, agradecendo-lhe por tudo.
Aos
orgulhosos, deixa a pesquisa dos segredos da Terra. “E revela os do céu aos simples
e aos humildes que diante d’Ele se prostram.”
Silenciosa
e imperceptivelmente, Ele trabalha nossos corações e nos transforma lentamente,
no ritmo de nossa compreensão e aceitação. Faz-nos viver experiências necessárias
às mudanças que devemos realizar em nós mesmos, buscando romper nosso
comodismo. Age sem pressa e de forma totalmente anônima, a ponto de muitos negarem
Sua existência. Convém-nos, pois, aderir, ainda que tardiamente, ao Seu programa
renovador.
O
orgulho independe da condição social: há orgulhosos entre poderosos e ricos
como os há entre pobres (aparentemente humildes, pois que humilde é a sua
condição social); assim como há, entre todos eles, pessoas humildes e submissas
aos desígnios de Deus.
Porque
as circunstâncias exteriores da vida (posses, posição social, poder, beleza,
saúde física, etc.) são passageiras, ilusórias, cumpre-nos despertar para
extirpar esse “calo” da alma, que nos mantém, há séculos, na retaguarda.
E
ninguém mais o pisará, quando deixar de existir em nossos corações.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
1.
KARDEC, Allan, O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, iiia cd. Rio dc
Janeiro: FEB, 1995, 435p. p. 191, Cap. ii, it. 11;
2. O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, h cd. Rio dc Janeiro: FEB, 1995. 435p. p.
139, Cap. 7, it. 11;
3. O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. 1 tia cd, Rio de Janeiro: FEB, 1995. 435p. p. 143, Cap. 7, ii. 12;
4. O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. 11 ia cd, Rio de Janeiro: FEB, 1995. 435p. p. 165, Cap. 9, it. 8;
5.
PERES, Ney Prieto, MANUAL PRÁTICO DO ESPÍRITA. 8 cd. São Paulo: PENSAMENTO,1993.
326p. p. 78.
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA
MENSAL
ANO XXXIII N° 387
DEZEMBRO 2008
Publicada
pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Correspondência:
Cx. Postal:
45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário