MEDICINA PIONEIRA
—Ah!… doutor!… Eu
queria tanto ter saúde, a fim de ser feliz!… – suspirava aquela senhora que se
habituara a percorrer os consultórios médicos, presa de distúrbios diversos.
— Minha filha – responde
bondosamente o experiente facultativo –, esse é o erro de toda gente, porque não
se trata de procurarmos ter saúde para ser feliz, e, sim, de procurarmos ser
felizes para ter saúde.
Somente as pessoas
em paz com a Vida, que guardam em seus corações a euforia de viver, é que
desfrutam do equilíbrio físico e mental que todos almejamos.
— Mas doutor!… como
manter a euforia de viver, se a cada instante sou contrariada por aqueles que
me rodeiam? Como sentir‑me em paz com a existência se nunca alcancei a plena
satisfação de tudo aquilo com que sempre sonhei? É impossível ensaiar sorrisos,
se pisamos espinhos!…
— Você não sabe o
que é felicidade. Julga que ser feliz é ver atendidos todos os seus desejos e
necessidades. Mas, ainda que isso acontecesse, continuaria infeliz, porque
novos desejos e novas necessidades surgiriam. Quando nos acostumamos a pensar
muito em nosso bem‑estar, tornamo‑nos insaciáveis.
A Felicidade não é
nenhuma oferta gratuita da Vida. Ser feliz é uma verdadeira arte a exigir,
como todas as artes, muito esforço e dedicação para que a dominemos. Raros
conseguem porque os homens ainda se portam como crianças acostumadas a bater os
pés e reclamar, em altas vozes, quando não lhes dão o brinquedo desejado.
— Vejo – interrompe
a cliente –, que o senhor me situa nesse rol de crianças! Bem… talvez tenha
razão… E se assim for, como proceder para tornar‑me adulta? Diga‑me também o
que revela a maturidade.
— É simples. O nosso
crescimento começa quando aprendemos a olhar dentro de nós mesmos, esforçando‑nos
por eliminar o que há de errado em nosso íntimo.
Se formos sinceros e
usarmos da mesma acuidade que nos permite enxergar facilmente as deficiências
alheias, acabaremos por identificar o mal maior de nossa personalidade, o
grande culpado de nossa infelicidade. Chama‑se egoísmo – sentimento
desajustante que nos faz pensar muito em nós mesmos, com total esquecimento dos
outros: que faz exijamos respeito, afeto, compreensão, sem nunca oferecê‑los a
ninguém…
A partir do momento
em que, sentindo o imenso prejuízo que o egoísmo nos causa, nos esforçarmos por
eliminá‑lo, começamos a ser adultos.
E o homem adulto –
aquele que sabe ser feliz – é o que tem plena consciência de suas
responsabilidades diante da Vida e da sociedade em que vive, observando‑as,
integralmente…
É o que jamais
cogita em edificar um oásis particular, isolado do sofrimento e da miséria
alheias, pois compreende que a solidariedade é um dever elementar,
indispensável à edificação da paz no Mundo, e à preservação da paz na
consciência…
É, enfim, o que
observa, plenamente, o velho ensinamento da sabedoria oriental “Quando
nasceste, todos sorriam e só tu choravas. Procura viver de forma que, quando
morreres, todos chorem e só tu sorrias!”
O ARAUTO
ANO
XV – Nº 87 – NOVEMBRO/DEZEMBRO – 2011
PUBLICAÇÃO BIMESTRAL
ÓRGÃO OFICIAL DA USE – INTERMUNICIPAL
DE PIRACICABA
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