Casais
experimentam, depois dos sete anos, a sua primeira crise conjugal, lembram os
supersticiosos. Outros, mais pessimistas, acham que as crises são uma constante
na vida a dois. Nesta entrevista, o médico espírita cearense Francisco
Cajazeiras, autor de EXISTE VIDA... DEPOIS DO CASAMENTO, recém-publicado pela
Editora EME, é “bombardeado “, com dezenas de perguntas, algumas feitas por
seus próprios leitores.
Selecionamos aqui algumas delas. Confira!
O que
é sexualidade no ponto de vista espírita e como manter acesa a chama da paixão
no pós-casamento...
Cajazeiras
— Todas as pessoas, de uma ou de outra forma, amam. O sentimento
do amor é uma constante em todos os Espíritos, conquanto possa vir, em muitos
casos, a se ressentir da grosseria, da ignorância, do egoísmo circunstancial...
Devemos entender a sexualidade como a exteriorização do sentimento amoroso, em
qualquer das nuanças em que se venha a apresentar. Então, a sexualidade é muito
mais ampla e profunda do que se considera vulgarmente, pois não representa
exclusivamente a expressão genital, mas qualquer forma expressiva do sentimento
do amor: um aperto de mão, um abraço, um sorriso, etc...
Do ponto
de vista do médico, como entender certas criaturas na Terra que não constituem famílias
próprias, mas constituem macro-famílias, casos de missionários como Madre
Tereza ou Chico Xavier?
Cajazeiras
— Considerando-se a ausência de distúrbios na esfera da
sexualidade periférica (como tudo leva a crer nos casos descritos), aceita-se
do ponto de vista biológico que são pessoas que optam simplesmente por conter sua
impulsividade sexual genital. Em muitos casos, apresentam uma libido rebaixada
e conseguem apaziguar suas tensões corporais, através dos sonhos que podem
inclusive apresentar-se de forma simbólica ou não.
Fisiologicamente,
ocorre nos homens o fenômeno das poluções noturnas, através das quais se vem a
eliminar os espermatozóides que são maturados naturalmente. Tudo isso é possível, obviamente, por não representar a fisiologia
da reprodução uma função vital para a economia orgânica. Em outras palavras, é possível
para alguns Espíritos domiciliados no corpo físico expressar o amor através de
outros canais que não exatamente os da genitalidade, sem que haja resultados
danosos para a saúde. Apesar disso, é preciso que não interpretemos o exercício
da sexualidade genital como algo indevido para Espíritos mais evoluídos.
Em seu livro EXISTE VIDA... DEPOIS DO CASAMENTO,
alguns capítulos foram dedicados especialmente a questões como Aids, drogadição
e a problemática dos filhos de pais separados... Por quê?
Cajazeiras — No livro procuro abordar especialmente a qualidade de vida do casal, para
a conclusão-resposta ao título-pergunta da obra. Ora, dada a situação evolutiva
da Humanidade, é certo que a Aids atinge de perto a vida do casal, notadamente
se levarmos em conta a onda de infidelidade atual (tanto masculina, quanto
feminina), o que suscitou a alguns setores que trabalham a profilaxia da Aids
sugerirem o uso do preservativo mesmo entre os cônjuges, posto ser numeroso o
índice de mulheres contaminadas pelos seus maridos. Já no que concerne à drogadição,
vemos a cada dia se elevarem as estatísticas de adolescentes e jovens que
ingressam no caminho das drogas por motivos variados, onde sem dúvida faz-se
relevante a patológica relação entre pais e filhos. Isto vem afetar de maneira gritante
a relação do casal que são os pais dessa garotada, repercutindo de maneira dolorosa
e negativa na relação conjugal. Não tenho dúvidas, porém, que cada um dos temas
seria, de cada vez, motivo para uma obra específica.
Como proceder diante da infidelidade? Como deverá
reagir o espírita diante do cônjuge infiel?
Cajazeiras — A infidelidade constitui, sem nenhuma dúvida, motivo de grande
sofrimento tanto para o homem como para a mulher, em que pesem suas
particularidades quanto à maior preocupação (o homem mais se preocupa com o
fato de a mulher ser possuída fisicamente por outro, enquanto a mulher se aflige
em sentir que o seu parceiro pode se envolver afetivamente com outra). É comum,
no entanto, que haja a participação de ambos os cônjuges, no desenvolver da
infidelidade por parte de um. Sendo assim, o traído deve refletir sobre sua
participação, seja pela omissão no relacionamento ou por não haver oferecido o necessário
suporte para a manutenção do equilíbrio na relação conjugal, inclusive do ponto
de vista da genitalidade. Se o cônjuge é espírita, levará em conta, além disso,
os parâmetros espirituais: imperfeição, obsessão, lei de ação e reação etc. O
fato é que sofrer uma traição conjugal não é uma posição confortável para nenhuma
pessoa, assim como para o infiel não há justificativa plausível, conquanto
possa tentar explicar sua atitude de uma ou de outra forma.
Quais as conseqüências para o Espírito (do pai ou
da mãe), nas reencarnações futuras, quando há abandono dos filhos?
Cajazeiras — Não há obviamente uma penalização única e aplicável a todos os Espíritos
faltosos desse naipe, haja vista não se encontrarem no mesmo padrão evolutivo e
as circunstâncias variadas para a sua falência como pais. Todavia, é possível
conjecturar-se sobre a generalidade dessas repercussões.
Então, a orfandade, a solidão, a infertilidade, a lida
com filhos difíceis, na tentativa de reajuste, são situações que poderão estar
presentes nas futuras experiências palingenésicas, afora o drama consciencial
no mundo espiritual, bem como o
sofrimento de presenciar a queda e sofrimento dos filhos abandonados,
determinado por sua fatia de culpa.
Quais as dificuldades num relacionamento quando não
se professe uma mesma religião? É fácil superar?
Cajazeiras — As dificuldades serão diretamente proporcionais ao nível de respeito que
os cônjuges conseguiram estabelecer naturalmente a partir da união conjugal e a
uma postura de tolerância recíproca. Entretanto, na prática, é usual que as
dificuldades seja intensas, notadamente quando o cônjuge é adepto de certas
seitas ou igrejas. A superação contará freqüentemente com a atitude de compreensão
por parte do espírita que, pela sua transformação moral, findará por demonstrar
a validade da sua crença. Apesar disso, parece-me, não dever o cônjuge anular sua
opção religiosa, buscando a solução no debate frutífero e no diálogo racional
com o companheiro e mantendo-se em sua crença, demonstrando que não se pode
impor nenhuma religião a ninguém senão mostrar seu lado positivo.
As mulheres espíritas, cujos maridos não abraçaram
a mesma crença, costumam enfrentar dificuldade nas lides mediúnicas, visto que
a orientação espiritual pede abstinência sexual nos dias de reuniões. Como conciliar
o casal e negociar a paz entre os cônjuges?
Cajazeiras — É possível que a minha resposta venha a escandalizar muita gente. Mas
ouso afirmar que não existe universalidade na afirmativa que se deve evitar a
atividade sexual periférica nos dias de passe ou reunião mediúnica. O que me
parece é que esse pensamento se estrutura muito mais na idéia originada a
partir da interpretação da Igreja Romana do sexo-pecado do que propriamente de
qualquer nocividade da prática sexual. No entanto, para tudo vale o bom senso.
É natural que, em função da excitação própria do ato sexual, deve-se evitá-lo
momentos antes do trabalho. Porém se o casal está unido por um sentimento mais
profundo e se o sexo realizado não avilta os costumes e a nenhum dos cônjuges,
não vejo maior problema para que, no mesmo dia, se possa o médium posicionar-se
em seu trabalho espiritual. Aliás, alguns médiuns de efeitos físicos chegaram a
afirmar que, no dia em que mantinham contato sexual com suas esposas, maior era
a sua potência (?) mediúnica. Agora, se a atividade sexual é unicamente regida
pela sensualidade, sem responsabilidade, sem um sentimento mais profundo, com
resquícios de violência ou algo semelhante, então a história já passa a ser outra.
Não é sem motivos que os Espíritos, na Codificação Espírita, repetem sempre: “Tudo
depende da intenção”.
Sexo é uma coisa natural e saudável. Onde o equilíbrio?
Cajazeiras — Não é o sexo que é ruim, pois se assim fosse a culpa seria de Deus que
nos dotou de aparelhagem sexual periférica. Mas no Ser racional o sexo deve
representar a expressão exata do amor que envolve o casal, assim como deve ser
estribado no respeito à individualidade. Além disso, deve estar associado ao
senso de responsabilidade bilateral quanto ao parceiro, assim como no que pode
resultar a união conjugal. Nisso consiste o equilíbrio.
A iniciação sexual do jovem é alarmante hoje, pelo
risco da gravidez indesejável ou das DSTs.
Qual a contribuição da religião para o adolescente?
Cajazeiras — Algumas religiões acenam com o pecado para a impulsividade e a prática sexual,
criando mais desentendimento e confusão na cabeça dos jovens do que apoio e elucidação.
Isso pode indiscutivelmente conter o adolescente, mas, se passar a utilizar o raciocínio,
ele termina por desacreditar em um Deus que se diverte com a angústia que causa
em suas criaturas ao dotá-las de uma anatomia, de uma fisiologia e de um
psiquismo que os clamam à prática sexual, como sabemos, gerenciadas pela Lei de
Reprodução.
A visão espírita, no entanto, ao demonstrar e alertar
racionalmente para a responsabilidade que cabe a cada pessoa quanto ao
exercício de qualquer atividade (inclusive a sexual periférica!) e, ao mesmo
tempo, ao esclarecer sobre as repercussões futuras dos mesmos atos; e, por outro
lado, ao revelar a possibilidade que cada um possui de resistir às tentações —
porque é o Espírito, que somos nós, quem decide o que fazer —, põe maior
responsabilidade nos ombros do jovem, fazendo-o refletir acerca da sua
individualidade e do seu livre- arbítrio. Essa visão espírita, entendo eu, é
capaz de dotar os jovens espíritas da necessária força moral para decidir, de
forma favorável, sobre sua iniciação sexual periférica com mais
responsabilidade e, portanto, com maior possibilidade de acerto.
Para a mulher, o câncer de mama é um estigma, pois
afeta o órgão que ela tem como o mais feminino! Seria o ciúme uma de sua causas?
Cajazeiras — O desenvolvimento da Medicina Psicossomática vem demonstrando que, no câncer,
como em tantas outras doenças, a incapacidade de lidar positivamente com as emoções
é fator importante no que concerne à sua origem. Assim sendo, ódios e ressentimentos
crônicos, estados depressivos e depreciativos, inconformismos e violência costumam
representar as bases emocionais no estabelecimento de enfermidades variadas e
inclusive do próprio câncer. Nessa linha de raciocínio, vários Espíritos têm-se
reportado ao ciúme crônico, com agudizações periódicas, como uma das bases
psicológicas no desenvolvimento de tumores malignos da mama.
FONTE
Entrevista Francisco Cajazeiras - EME
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