(Final)
Mistificação
consciente é fácil de entender, mas como caracterizar, identificar,
exemplificar a mistificação inconsciente e como diferenciá-la do animismo?
Alexandre
Sech – Parece-nos que já abordamos o assunto na pergunta anterior, restando,
para clarificar mais o assunto, darmos um exemplo. Suponhamos uma médium de
excelentes recursos psicofônicos, que trabalha no campo da desobsessão
alcançando resultados alentadores, mas cuja atuação não lhe dá tanta evidência
quanto outra que labora no campo da oratória e que possui um nível de
reconhecimento muito maior. Instigada pelos admiradores mais próximos, alentada
pelo desejo de ser mais conhecida e respeitada, começa a se aventurar no campo
da oratória recebendo o elogio dos circunstantes. Todavia, observadoras mais
percucientes, notam que as peças oratórias da médium psicofônica nada mais são
do que cópias ou pastiches da oradora original e procuram clarificar a questão
aconselhando-a permanecer na sua atividade inicial na qual sempre se houve bem.
Ferida em seu orgulho pessoal e espicaçada em sua vaidade narcisista, a médium
psicofônica se recusa a permanecer no anonimato, pois deseja alcançar, para
atender seus problemas emocionais da origem humilde e dificultosa, uma situação
em que seja colocada em evidência e aplaudida pelas multidões.
É feito
então um esclarecimento público sobre a questão, valendo como motivo para a
médium psicofônica colocar-se na condição de vítima. Lança-se ela então, agora
com uma motivação mais forte ainda, no campo da oratória, para apagar a imagem
de pastichadora e com um denodo impressionante continua suas atividades no
campo da desobsessão e se dedica também às atividades da oratória onde vai ganhando
a cada dia um número maior de admiradores, mas nada produzindo de original,
nada criando, senão apenas dando outra roupagem para as peças produzidas pela
outra, a original.
Em um caso
suposto como o que acabamos de apresentar, evidenciamos um mecanismo de
natureza anímica preenchendo os “vazios mediúnicos”, e como conseqüência da
situação emocionai familiar, como compensação dos complexos de inferioridade,
uma necessidade de competir com quem está em plano de sucesso e evidência, principalmente
depois de ter sido publicamente acusada de pastichadora das peças oratórias
originais Ouve as palestras da outra mais de uma vez, remastiga-as e as
reformula dando-lhes outra roupagem, num fenômeno típico de busca de
identificação com o seu modelo.
Mecanismos
de natureza inconsciente, automáticos, fora do controle da vontade no instante
de sua erupção, mas acalentados anteriormente pela necessidade de “provar” sua
faculdade mediúnica, caracterizam o animismo, ou a personificação. E quando isto
tudo não funciona ainda, há o jeito de introduzir falsificações, inicialmente conscientes,
mas que, pela repetição, se tornam automáticas e inconscientes, caracterizando
o fenômeno da mistificação.
Como se
vê, é preciso conhecer o médium e os mecanismos da mediunidade para se poder
diferençar os fenômenos mediúnicos, anímicos, de mistificação e fraude.
Exercícios
espirituais orientais, tais como meditação, ajudam o desenvolvimento da
mediunidade?
Alexandre
Sech – Tudo o que faz o indivíduo desenvolver a tranqüilidade, o equilíbrio,
a confiança, ajuda o desenvolvimento da mediunidade.
Atingimos
as culminâncias da evolução.
O animismo
substituiria o mediunismo?
Alexandre
Sech – São dois fenômenos diferentes e um não é menor que outro, portanto não
vemos possibilidade de o animismo substituir a mediunidade. Como a evolução é
intérmina, sempre teremos alguém que esteja em outro nível e superior ao nosso,
servindo a mediunidade como meio de comunicação. Admitindo, porém, que a
evolução atinja sua culminância com a identificação, com o Princípio Criador, sem
o espírito perder sua individualidade, ao espírito restaria a faculdade de
animismo como meio de comunicação.
De um modo
geral, mediunidade significa provação ou expiação, logo, dor, sofrimento. Eu
perguntaria: animismo, que traduz fenômenos decorrentes de energia própria,
seria uma conquista espiritual de quem é capaz de os exercitar?
Alexandre
Sech – Não acreditamos que a mediunidade de um modo geral signifique sofrimento
e dor. Tanto quanto o animismo, a mediunidade é um mecanismo psíquico que
possibilita ao espírito comunicar-se com seres de níveis vibratórios diversos.
Animismo e
mediunidade, portanto, são mecanismos que denotam desenvolvimento psíquico.
É
aconselhável descartarmo-nos de jóias, relógios e anéis durante os trabalhos mediúnicos?
A “qualidade” dos passes decresce quando utilizamos tais objetos?
Alexandre
Sech – Há certas práticas que se vão instituindo em nosso meio como frutos da
ignorância doutrinária e da necessidade mítica e ritualista que caracterizam os
espíritos primários. Os objetos de metal, conquanto tenham em torno de si seus
campos vibratórios particulares, não impedem que a mente humana os domine e
sobre eles se sobreponha. É mais folclórica do que necessária a atitude teatral
de se despojar de tais objetos para a aplicação de passes ou participação em
eventos mediúnicos. Se assim não fosse, não poderíamos entender como poderiam
participar de atividades práticas companheiros possuidores de obturações
dentárias de material nobre e portadores de placas de platina em sua ossatura.
A mente
humana tem potenciais ainda desconhecidos e incomensuráveis. Tal história nos
faz lembrar a parábola do Evangelho em que a preocupação farisaica é tamanha
que se filtra um mosquito e acaba-se engolindo um camelo.
A captação
do caráter de uma pessoa sem conhecê-la, é um fenômeno anímico?
Alexandre
Sech – Basicamente tal percepção se deve a mecanismos anímicos que todos nós
possuímos e nem sempre temos sabido utilizar, ou muitas vezes os confundimos
com a mediunidade.
Qual a
diferença entre mediunismo e mediunidade? Como podemos distinguir mistificação
mediúnica de uma mensagem mediúnica autêntica?
Alexandre
Sech – O mediunismo seria a potencialidade e a mediunidade a potência educada.
Na segunda parte de “O LIVRO DOS MÉDIUNS” há um capítulo que trata do
assunto e, em resumo, dá valor ao estilo, à forma, ao conteúdo, à lógica enfim.
A mensagem mediúnica autêntica resume simplicidade, clareza, objetividade, profundidade,
beleza e não é apenas a continuação das ideias pretensiosas do médium, nem
tampouco revela as suas segundas intenções.
Como
devemos entender o perispírito, como um elemento energético, ou seja, o
protoplasma nas nossas forças biológicas?
Alexandre
Sech – O perispírito é um corpo de natureza energética que serve de modelo
estruturador biológico, estando, portanto ligado intimamente às forças vitais que
impregnam o protoplasma das células do nosso corpo.
Qual a sua
opinião sobre os “mártires”, isto é, os que cultivam o sofrimento e a dor como
método único de evolução?
Alexandre
Sech – Os que cultivam intencionalmente o sofrimento e a dor como método
único de evolução não são mártires e sim masoquistas. Pessoas doentes e portadoras
de desvios comportamentais.
É atitude
sadia, correspondendo ao instinto de conservação, evitar-se a dor e o
sofrimento evitáveis, suportando-os com resignação quando se tornem
inevitáveis, mas jamais buscá-los como única forma de evolução.
Gostaria
de saber mais a respeito do relacionamento do Espiritismo com o caráter moral.
Por favor dê um exemplo.
Alexandre
Sech – Para um perfeito esclarecimento da questão recomendamos a leitura do
livro de Allan Kardec “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO”, que se propõe
a restaurar a base religiosa na área do conhecimento humano, como fundamental
para a evolução da humanidade. Por se fundamentar no Evangelho de Jesus, o
Espiritismo objetiva a elevação do homem ao plano superior através do
desenvolvimento e exercício de suas virtudes espirituais. Uma pessoa que promova
o mal, atingindo seu semelhante de maneira intencional, desencadeia um processo
através da lei de causa e efeito em que se torna devedor, necessitando anular os
efeitos do mal pela prática do bem, ao mesmo indivíduo ou outro qualquer, nesta
ou em uma próxima encarnação.
Na
comunicação mediúnica sempre há a interferência do animismo do médium? Mesmo
que ele esteja em estado completo de inconsciência?
Alexandre
Sech – Mediunidade e animismo são fenômenos distintos, ambos decorrentes do
funcionamento de mecanismos mentais. Em toda comunicação mediúnica
caracterizada pela ação da mente de um espírito desencarnado sobre o do médium,
tendo como resultante a mensagem, seja escrita ou falada, o elemento
intermediário que funciona como filtro, a mente do médium, sempre interfere,
mesmo que o fenômeno seja de natureza inconsciente, porque a ação ocorre de
perispírito para perispírito.
Que é
Telecinesia?
Alexandre
Sech – É um fenômeno de ação da mente sobre objetos materiais mudando-lhes
temporariamente o seu estado de inércia. É a movimentação de objetos materiais
pela ação da mente.
Pelo que entendi o animismo é subjetivo e o
mediunismo depende de uma comunicação que o médium recebe dos espíritos,
portanto os dois são limítrofes. Pergunto: como podemos distinguir (nesta
fronteira) o limite entre o animismo e a mediunidade?
Alexandre
Sech – Embora sendo dois fenômenos distintos, sua manifestação é
aparentemente idêntica. Em ambos, no transe, há alterações marcadas de natureza
neuro-vegetativa, como tremores generalizados finos de extremidade (não confundir
com as agitações próprias dos fenômenos histéricos), sudorese, vaso constrição
periférica, hipotermia, taquicardia, hiperpnéia, etc. O que diferencia um
fenômeno do outro é a sensação que o próprio médium ou sensitivo aprende a
identificar, a maneira e forma da mensagem, a linguagem e o estilo, o conteúdo
e o objetivo da comunicação, bem como o conhecimento que se tenha, prévio, do
médium ou do sensitivo, das suas ideias, dos seus projetos, dos seus sonhos,
dos seus ideais, de seus objetivos... E da entidade comunicante. Realmente o
trabalho de distinção é bastante sutil e minucioso em certos casos e simples e
fácil nos que saltam à vista, bastando ter olhos para ver.
Qual sua
orientação para que o Espiritismo não se multiplique por divisões, se os
próprios líderes espíritas são os mais intransigentes e intolerantes?
Alexandre Sech
– A nossa orientação é a de que vivamos o Espiritismo com mais
intensidade e menos interesses secundários. Que as chamadas lideranças sejam
alcançadas natural e espontaneamente, mas nunca impostas e preparadas artificialmente.
Que os verdadeiros líderes se conscientizem de seu papel útil e transitório,
sabendo os limites de seu território e de sua ação, evitando se autopromoverem
de maneira patológica, trocando os valores espirituais pelos galardões da
terra...
Como e
quando o espírito recém-desencarnado perde o perispírito, chegando a se sentir
apenas uma consciência pensante e individual?
Alexandre
Sech – O espírito recém-desencarnado não perde o perispírito, sentindo-se uma
consciência pensante e individual. O espírito se vai desfazendo de seu
perispírito à medida que evolui.
Ela se
desagrega inteiramente quando o espírito alcança os limites máximos de pureza e
de evolução, espiritual, através de multiplicidade das suas reencarnações.
Foi-nos
falado sobre o nível de consciência. Gostaria que o senhor nos esclarecesse a
respeito do processo de aceleração de tal nível de consciência.
Alexandre
Sech – Os vários níveis de consciência se dinamizam e aceleram com medidas
como: estudo, conhecimento, meditação, ação no bem, disciplina, tranquilidade,
etc.
De acordo
com sua palestra, os profetas eram médiuns. Se eram, que tipo de mediunidade
possuíam?
Alexandre
Sech – Os profetas, de uma maneira geral, possuíam todos os tipos de mediunidade,
desde as de efeito inteligente, entre as quais a psicofonia, psicografia, até as
de efeito físico, como a materialização.
Como se
desvencilhar do animismo e como ele pode nos prejudicar nas sessões práticas?
Alexandre
Sech – Não vemos porque devamos nos desvencilhar do animismo, como se ele fosse
um fantasma. Devemos é saber que ele é comum, tem características próprias;
aceitá-lo como um mecanismo psíquico normal embora inabitual; estudá-lo convenientemente,
a fim de que, por falta de preparo e estudo, não seja confundido com
mediunidade. Assim feito, não haverá prejuízo em nossas sessões práticas.
O que é
sensitivo? É o mesmo que médium?
Alexandre
Sech – Usamos o termo sensitivo para os portadores de animismo e o termo
médium para os portadores de mediunidade, conquanto muitos usem ambos os termos
indistintamente.
Devemos
submeter à aprovação dos mentores espirituais pelos “médiuns principais” a
eleição de diretorias?
Alexandre
Sech – Era só o que faltava acontecer. Tamanho absurdo é impossível de imaginar
nos dias atuais, embora tenhamos sido informados que ainda recentemente tal absurdidade
tenha acontecido alhures onde um médium “sugeriu” a seus amigos, que estavam
pleiteando participar de uma Casa Espírita, lhe fornecerem uma lista tríplice, onde
constasse o nome da pessoa já previamente escolhida, para que o mentor do dito
médium o confirmasse, o que realmente aconteceu. Diante do ocorrido, com
suposta ação do mundo espiritual escolhendo o que já estava combinado, todos se
congratularam... Felizmente tais exemplos são exceções, pois na maior parte das
nossas Casas Espíritas, os elementos que as compõem são suficientemente conscientes
e responsáveis para assumirem a responsabilidade da escolha, não fugindo das
consequências de tal escolha por expedientes e subterfúgios infantis quanto o
de submeterem ações de nossa alçada para que o mundo espiritual opine. Embora à
primeira vista possa parecer uma atitude de respeito para com o mundo
espiritual, submeter a ele escolhas que devem ser assumidas por nós, no fundo
tal atitude só demonstra o fanatismo e a fascinação que dominam certas mentes.
O senhor
acha que no nosso processo evolutivo, nossa percepção irá se aprimorando, até
que todos nós seremos capazes de ter desenvolvida a mediunidade? E o nosso
organismo irá se tornando mais sutil?
Alexandre
Sech – Como não. A mediunidade é também evolutiva e à medida que o espírito
se distancia do ponto inicial de sua evolução, sutiliza, perdendo
gradativamente seus envoltórios mais densos.
Sabemos
que a linguagem dos espíritos, no plano espiritual, é o pensamento.
Existem
espíritos desencarnados de diversos países e de outros mundos habitados. Ao
desencarnar, lembram-se de várias línguas em razão de terem reencarnado em
vários países e podem se comunicar com os encarnados através delas. E os que
estão em outros planetas, inferiores e superiores à Terra?
Alexandre
Sech – Parece-nos que deva existir um fenômeno de adaptação e de equivalência
de sinais significantes das ideias e pensamentos, podendo haver a intermediação
de espíritos desencarnados próprios do nosso ambiente da Terra, que serviriam
como intérpretes.
FONTE: ENCONTRO COM A CULTURA ESPIRITUAL, O CLARIN
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA
MENSAL
ANO XXXIII N° 387
DEZEMBRO 2008
Publicada
pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Correspondência:
Cx. Postal:
45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)
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