Carlos A. Baccelli é, sem dúvida, o
maior dos biógrafos de Chico Xavier.
Vários são os títulos de sua autoria
que traçam um perfil bastante completo
da trajetória desse missionário do
Bem.
Colecionou, numa convivência
prolongada, centenas de depoimentos que
bem expressam a grandeza de Chico.
Na sequência, dois desses momentos.
I
A mediunidade de
Chico Xavier não se restringia à psicografia. Sempre discreto, evitando
qualquer forma de promover-se, Chico se limitava a cumprir com o dever, fugindo
ao que pudesse evidenciá-lo; a verdade, porém, é que ele era maior médium do
que aparentava ser... Em uma das raras ocasiões em que nos falou de si, Chico
contou-nos que a sua sensibilidade mediúnica lhe permitia, por vezes, ao olhar
as pessoas, saber do que elas haveriam de desencarnar. Então, porque o fato lhe
era causa de profunda tristeza, já que não poderia interferir na Lei do Carma,
ele pediu a Emmanuel que lhe fosse bloqueada tal possibilidade, ao que o
referido Mentor o atendeu de pronto. De outra feita, dialogando com um amigo
que lhe indagara se ele dispunha de tempo para ler tantos livros e publicações
de confrades que iam ter às suas mãos, para análise, em tom confidencial respondeu:
— “Eu não tenho necessidade de ler um livro do começo ao fim; basta tê-lo em
minhas mãos e folheá-lo, para que eu saiba do que se trata e tenha acesso ao
seu conteúdo...”
Há poucas semanas,
recebemos,. no Lar Espírita “Pedro e Paulo”, a visita do casal Walter Negrão e
Orphila, ele, um dos autores de novela de maior sucesso da TV Globo.
Conhecedor do nosso
trabalho biográfico sobre Chico Xavier, fez questão de nos relatar o que presenciou
há cerca de 30 anos, quando veio a Uberaba, acompanhando a atriz Araci Balabanian:
— Eu estava acomodado
num dos bancos do salão e ninguém me conhecia. O Chico, que atendia a dezenas
de pessoas, de repente virou-se para mim e me chamou pelo nome:
“Walter, por
favor, venha até aqui...” Surpreso, imaginando que pudesse tratar—se de um homônimo,
não sai do lugar. Mas ele insistiu:
—“Walter, é você
mesmo, o de barba! Por favor, chegue mais perto...” Ora, como é que Chico
poderia saber o meu nome, se, embora escritor de novelas, eu nunca aparecia no vídeo
e, depois, nenhum de nós, eu ou a Araci, havia sido apresentado a ele?!...
Quando me aproximei, ele me falou:
— “Eu sei que você
também escreve e, com certeza, gostaria de observar o modo com que os espíritos
escrevem por meu intermédio... Pode sentar-se nesta cadeira, ao meu lado” —
convidou-me, entrando comigo num quartinho que dava para o salão das reuniões,
ainda na antiga sede da Comunhão Espírita-Cristã”.
Prosseguindo com a
narrativa, Walter Luís Negrão, que, a partir de então, se tornou espírita
convicto, explicou:
— “O Chico dividiu em
dois o pacote de folhas em branco que estava sobre a mesa e, caindo em transe,
começou a psicografar com as duas mãos do mesmo tempo, recebendo, simultaneamente,
uma mensagem de André Luiz e outra de Humberto de Campos!...
Como é que eu poderia
continuar tendo alguma dúvida, se o fenômeno acontecia diante dos meus olhos?
Aquilo foi demais para mim!...”
Conversando, então,
com o amigo, que conhecemos em uma de nossas andanças doutrinárias por São
Paulo, comentei:
— É, Walter, o Chico
nos dava a impressão de que “escondia” a própria mediunidade...
Talvez ele tivesse
sido médium demais para o nosso tempo...
A isto, o amigo, que
nos escutava, ajuntou:
— Concordo. A gente
sempre tinha curiosidade de saber se o Chico, de alguma maneira seria informado
quanto ao momento da sua própria desencarnação e, hoje, pelos acontecimentos da
véspera e do dia, eu não tenho mais qualquer dúvida.., O Chico sabia muito mais
do que ele ou os espíritos, por seu intermédio, nos revelavam!...
II
Em conversa reservada
conosco, em sua casa, Chico, certa vez, nos disse, enquanto íamos anotando
resumidamente suas palavras:
— “Eu já sofri,
meu filho, o assédio de muitos espíritos que, de todas as maneiras, tentaram comprometer
a tarefa do Livro por nosso intermédio; os Bons Espíritos, qual Emmanuel,
sempre estiveram comigo, mas nunca me isentaram das lutas que são minhas...
Houve época em que o assédio deles, dos espíritos infelizes, durava semanas e
até meses; queriam que eu abandonasse tudo!... Ora, deixar tudo, para fazer o
quê?!
Colocavam idéias
estranhas na minha cabeça; deitava-me e levantava-me com elas...
Só que eu não podia
parar. Perguntava a Emmanuel, ao Dr. Bezerra se alguma coisa poderia ser feita,
pois eu não estava aguentando. Eram perturbações no espírito e sinais de doença
no corpo, doenças fantasmas, evidentemente, dores por todos os lados, um pavor
inexplicável da morte!...
Às vezes, para mim,
um dia parecia uma eternidade. Então, não me restava alternativa, a não ser
continuar trabalhando sob aquela tremenda pressão psicológica. Escutava os espíritos
gargalhando aos meus ouvidos, ironizando - e eu já estava na mediunidade havia
bastante tempo... Na hora do serviço da psicografia, eles desapareciam, mas, depois,
voltavam. Eu não podia viver sempre em transe! Tinha de cuidar da vida! Enfim, apanhei
muito dos espíritos inimigos da Doutrina - não de socos ou pontapés, mas de
alguma coisa equivalente... Não foi fácil.
Somente à custa de
muita oração e trabalho na Caridade é que fui me desligando naturalmente
daqueles pensamentos. Não pensem que tudo para mim, na mediunidade, tenha sido
um mar de rosas: por vezes, eu me sentia sitiado - de um lado, a Incompreensão
dos encarnados e, de outro, o assédio espiritual, que, em verdade, em maior ou
menor grau, todo médium experimenta.” E prosseguiu:
- “Já conversei com
muitos companheiros de valor na mediunidade que estavam estreitamente
vampirizados por espíritos que a eles pareciam colados, como se estivessem
sugando suas energias mentais...
Não é brincadeira! Em
sua maioria, os espíritos, ao deixarem o corpo, ficam por aqui mesmo. Poucos
são os que acham o caminho para as dimensões mais altas.., O médium que não
persevera na tarefa e que, doente como esteja, não procura cumprir com seus
deveres acaba anulado por seus desafetos invisíveis de outras vidas...
Ernmanuel me
perguntava:
- ‘Chico, que é que
você tem?’ Eu respondia:
- ‘Estou triste,
deprimido...’ - ‘Então, vamos trabalhar’ - dizia - ‘porque,. se você não trabalhar,
eu não poderei ficar pajeando você...’ Foi assim que me habituei a trabalhar quase
sem descanso. Como é que ia parar?l Certa vez, os espíritos que me assediavam
me levaram a ficar de cama; comecei a tremer, a ter febre alta... Só que não
era doença. Ainda bem que, de modo geral, a Humanidade caminha alheia às Influências
dos espíritos obsessores, oferecendo obstáculos à sintonia com eles, pois, caso
contrário, a casa mental das pessoas seria invadida...
Por este motivo,
explica Emmanuel, os médiuns necessitam de vigilância dobrada.
Hoje, eu já me sinto
um tanto mais calejado: as cicatrizes são tantas, que os perseguidores
desencarnados já não encontram lugar para bater...” (Risos.)
E rematou,
bem-humorado:
- “Hoje, eu já
estou praticamente morto: eles não vão se preocupar com um... cadáver, não é
mesmo.”
FONTE
A FLAMA ESPÍRITA nº2741
e 2734
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA
MENSAL
ANO XXXIII N° 387
DEZEMBRO 2008
Publicada
pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Correspondência:
Cx. Postal:
45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)
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