sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

DOIS MOMENTOS DE CHICO XAVIER

Carlos A. Baccelli é, sem dúvida, o maior dos biógrafos de Chico Xavier.
Vários são os títulos de sua autoria que traçam um perfil bastante completo
da trajetória desse missionário do Bem.
Colecionou, numa convivência prolongada, centenas de depoimentos que
bem expressam a grandeza de Chico.
Na sequência, dois desses momentos.
I
A mediunidade de Chico Xavier não se restringia à psicografia. Sempre discreto, evitando qualquer forma de promover-se, Chico se limitava a cumprir com o dever, fugindo ao que pudesse evidenciá-lo; a verdade, porém, é que ele era maior médium do que aparentava ser... Em uma das raras ocasiões em que nos falou de si, Chico contou-nos que a sua sensibilidade mediúnica lhe permitia, por vezes, ao olhar as pessoas, saber do que elas haveriam de desencarnar. Então, porque o fato lhe era causa de profunda tristeza, já que não poderia interferir na Lei do Carma, ele pediu a Emmanuel que lhe fosse bloqueada tal possibilidade, ao que o referido Mentor o atendeu de pronto. De outra feita, dialogando com um amigo que lhe indagara se ele dispunha de tempo para ler tantos livros e publicações de confrades que iam ter às suas mãos, para análise, em tom confidencial respondeu: — “Eu não tenho necessidade de ler um livro do começo ao fim; basta tê-lo em minhas mãos e folheá-lo, para que eu saiba do que se trata e tenha acesso ao seu conteúdo...
Há poucas semanas, recebemos,. no Lar Espírita “Pedro e Paulo”, a visita do casal Walter Negrão e Orphila, ele, um dos autores de novela de maior sucesso da TV Globo.
Conhecedor do nosso trabalho biográfico sobre Chico Xavier, fez questão de nos relatar o que presenciou há cerca de 30 anos, quando veio a Uberaba, acompanhando a atriz Araci Balabanian:
— Eu estava acomodado num dos bancos do salão e ninguém me conhecia. O Chico, que atendia a dezenas de pessoas, de repente virou-se para mim e me chamou pelo nome:
Walter, por favor, venha até aqui...” Surpreso, imaginando que pudesse tratar—se de um homônimo, não sai do lugar. Mas ele insistiu:
—“Walter, é você mesmo, o de barba! Por favor, chegue mais perto...” Ora, como é que Chico poderia saber o meu nome, se, embora escritor de novelas, eu nunca aparecia no vídeo e, depois, nenhum de nós, eu ou a Araci, havia sido apresentado a ele?!... Quando me aproximei, ele me falou:
— “Eu sei que você também escreve e, com certeza, gostaria de observar o modo com que os espíritos escrevem por meu intermédio... Pode sentar-se nesta cadeira, ao meu lado” — convidou-me, entrando comigo num quartinho que dava para o salão das reuniões, ainda na antiga sede da Comunhão Espírita-Cristã”.
Prosseguindo com a narrativa, Walter Luís Negrão, que, a partir de então, se tornou espírita convicto, explicou:
— “O Chico dividiu em dois o pacote de folhas em branco que estava sobre a mesa e, caindo em transe, começou a psicografar com as duas mãos do mesmo tempo, recebendo, simultaneamente, uma mensagem de André Luiz e outra de Humberto de Campos!...
Como é que eu poderia continuar tendo alguma dúvida, se o fenômeno acontecia diante dos meus olhos? Aquilo foi demais para mim!...”
Conversando, então, com o amigo, que conhecemos em uma de nossas andanças doutrinárias por São Paulo, comentei:
— É, Walter, o Chico nos dava a impressão de que “escondia” a própria mediunidade...
Talvez ele tivesse sido médium demais para o nosso tempo...
A isto, o amigo, que nos escutava, ajuntou:
— Concordo. A gente sempre tinha curiosidade de saber se o Chico, de alguma maneira seria informado quanto ao momento da sua própria desencarnação e, hoje, pelos acontecimentos da véspera e do dia, eu não tenho mais qualquer dúvida.., O Chico sabia muito mais do que ele ou os espíritos, por seu intermédio, nos revelavam!...
II
Em conversa reservada conosco, em sua casa, Chico, certa vez, nos disse, enquanto íamos anotando resumidamente suas palavras:
— “Eu já sofri, meu filho, o assédio de muitos espíritos que, de todas as maneiras, tentaram comprometer a tarefa do Livro por nosso intermédio; os Bons Espíritos, qual Emmanuel, sempre estiveram comigo, mas nunca me isentaram das lutas que são minhas... Houve época em que o assédio deles, dos espíritos infelizes, durava semanas e até meses; queriam que eu abandonasse tudo!... Ora, deixar tudo, para fazer o quê?!
Colocavam idéias estranhas na minha cabeça; deitava-me e levantava-me com elas...
Só que eu não podia parar. Perguntava a Emmanuel, ao Dr. Bezerra se alguma coisa poderia ser feita, pois eu não estava aguentando. Eram perturbações no espírito e sinais de doença no corpo, doenças fantasmas, evidentemente, dores por todos os lados, um pavor inexplicável da morte!...
Às vezes, para mim, um dia parecia uma eternidade. Então, não me restava alternativa, a não ser continuar trabalhando sob aquela tremenda pressão psicológica. Escutava os espíritos gargalhando aos meus ouvidos, ironizando - e eu já estava na mediunidade havia bastante tempo... Na hora do serviço da psicografia, eles desapareciam, mas, depois, voltavam. Eu não podia viver sempre em transe! Tinha de cuidar da vida! Enfim, apanhei muito dos espíritos inimigos da Doutrina - não de socos ou pontapés, mas de alguma coisa equivalente... Não foi fácil.
Somente à custa de muita oração e trabalho na Caridade é que fui me desligando naturalmente daqueles pensamentos. Não pensem que tudo para mim, na mediunidade, tenha sido um mar de rosas: por vezes, eu me sentia sitiado - de um lado, a Incompreensão dos encarnados e, de outro, o assédio espiritual, que, em verdade, em maior ou menor grau, todo médium experimenta.” E prosseguiu:
- “Já conversei com muitos companheiros de valor na mediunidade que estavam estreitamente vampirizados por espíritos que a eles pareciam colados, como se estivessem sugando suas energias mentais...
Não é brincadeira! Em sua maioria, os espíritos, ao deixarem o corpo, ficam por aqui mesmo. Poucos são os que acham o caminho para as dimensões mais altas.., O médium que não persevera na tarefa e que, doente como esteja, não procura cumprir com seus deveres acaba anulado por seus desafetos invisíveis de outras vidas...
Ernmanuel me perguntava:
- ‘Chico, que é que você tem?’ Eu respondia:
- ‘Estou triste, deprimido...’ - ‘Então, vamos trabalhar’ - dizia - ‘porque,. se você não trabalhar, eu não poderei ficar pajeando você...’ Foi assim que me habituei a trabalhar quase sem descanso. Como é que ia parar?l Certa vez, os espíritos que me assediavam me levaram a ficar de cama; comecei a tremer, a ter febre alta... Só que não era doença. Ainda bem que, de modo geral, a Humanidade caminha alheia às Influências dos espíritos obsessores, oferecendo obstáculos à sintonia com eles, pois, caso contrário, a casa mental das pessoas seria invadida...
Por este motivo, explica Emmanuel, os médiuns necessitam de vigilância dobrada.
Hoje, eu já me sinto um tanto mais calejado: as cicatrizes são tantas, que os perseguidores desencarnados já não encontram lugar para bater...” (Risos.)
E rematou, bem-humorado:
- “Hoje, eu já estou praticamente morto: eles não vão se preocupar com um... cadáver, não é mesmo.

FONTE
A FLAMA ESPÍRITA nº2741 e 2734


INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXXIII N° 387
DEZEMBRO 2008
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Correspondência:

Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)

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