EVANGELHO ESSENCIAL 6c
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
5 - BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
Esquecimento do passado
Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. A lembrança traria gravíssimos inconvenientes.
Poderia, em certos casos, humilhar-lhe singularmente, ou, então, exaltar-lhe o orgulho e, impedir o seu livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.
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Frequentemente o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas a quem odiara, talvez o ódio despertaria outra vez no seu íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido.
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Para seu aperfeiçoamento, Deus lhe dá o que necessita e basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-lhe do que seria prejudicial.
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Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez;
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Em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se esta sendo punido é que praticou o mal.
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Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar toda a sua atenção. Daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará.
As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às tentações.
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O esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Voltando à vida espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há do que uma interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não impede de que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias anteriores.
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E não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da vida de relação social.
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Motivos de Resignação
Deve o homem considerar-se feliz por sofrer, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as suas passadas faltas lhe fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores lhe pouparão séculos de sofrimentos na vida futura. Deve sentir-se feliz por Deus reduzir a sua dívida, permitindo que a pague agora, o que lhe garantirá a tranquilidade no futuro. São felizes porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Este é o sentido das palavras: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados."
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Se o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua libertação. A cada nova falta aumenta a dívida, porque nenhuma há, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será noutra.
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Se lamentarmos as aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento, e por isso teremos de recomeçar.
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O homem pode suavizar ou aumentar a amargura de suas provas, conforme o modo pelo qual encare a vida terrena.
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Tanto mais sofre ele, quanto mais longa lhe parece a duração do sofrimento. Aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe o quanto é breve e reconhece que esse difícil momento logo terá passado. A certeza de um futuro próximo mais feliz o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar.
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Da maneira de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sente-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber suavizada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da sua curta existência.
O suicídio e a loucura
A calma e a resignação extraídas da maneira de se considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio.
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A maioria dos casos de loucura se deve à emoção produzida pelas contrariedades da vida que o homem não tem forças de suportar.
Encarando as coisas deste mundo da maneira pela qual o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com serenidade, sem tristezas, as amarguras e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, essa força o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, o perturbariam.
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O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é certo que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que lhe apontem.
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Aquele que está certo de que só é infeliz por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum fim vê para os seus sofrimentos. E o que é a vida humana com relação à eternidade senão bem menos que um dia?
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Para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, quando os infortúnios e as aflições o oprimem, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico abreviar pelo suicídio as suas misérias.
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A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas são os maiores incentivadores ao suicídio; ocasionando a covardia moral.
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A propagação das doutrinas materialistas é o veneno que introduz a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem divulgadores de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade.
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Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; resultando a coragem moral.
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O Espiritismo ainda produz outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta os próprios suicidas a informar-nos da situação infeliz em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, a qual proíbe ao homem encurtar a sua vida.
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Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado.
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O espírita tem vários motivos a contrapor à ideia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será muito mais feliz, quanto mais confiante e resignado haja sido na Terra:
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Abreviando seus dias chega a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que matando-se vai mais depressa para o céu;
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O suicídio é um obstáculo a que no mundo espiritual ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a consequência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios desejos.
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