A Fé Ativa construindo uma Nova Era 18
Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa
Caráter e Consequências das
Manifestações Espíritas
(Allan Kardec, in “Obras Póstumas” –
cap. III)
1. As almas ou
Espíritos daqueles que viveram constituem o mundo invisível que povoa o espaço,
e no meio do qual nós vivemos; disso resulta que, desde que há homens, há
Espíritos, e que se estes últimos têm o poder de se manifestar, devem tê-lo
feito em todas as épocas. É o que constatam a história e as religiões de todos
os povos.
Entretanto, nestes
últimos tempos, as manifestações dos Espíritos tomaram um grande
desenvolvimento, e adquiriram um maior caráter de autenticidade, porque estava
nos objetivos da Providência pôr um termo à praga da incredulidade e do
materialismo, por provas evidentes, permitindo àqueles que deixaram a Terra
virem atestar a sua existência, e nos revelar a sua situação feliz ou infeliz.
2. Vivendo o mundo
visível no meio do mundo invisível, com o qual está em contato perpétuo, disso
resulta que reagem incessantemente um sobre o outro. Essa reação é a fonte de
uma multidão de fenômenos considerados sobrenaturais por falta de lhes conhecer
a causa.
A ação do mundo
invisível sobre o mundo visível, e reciprocamente, é uma das leis, uma das
forças da Natureza necessária à harmonia universal, como a lei da atração; se
ela viesse a cessar, a harmonia seria perturbada, como num mecanismo do qual
uma engrenagem viesse a ser suprimida. Estando essa ação fundada sobre uma lei
da Natureza, disso resulta que todos os fenômenos que ela produz nada têm de
sobrenatural. Não pareceram tais senão porque não se lhes conhecia a causa;
assim se deu com certos fenômenos da eletricidade, da luz, etc.
3. Todas as
religiões têm por base a existência de Deus, e por objetivo o futuro do homem
depois da morte. Esse futuro, que é para o homem de um interesse capital, está
necessariamente ligado à existência do mundo invisível; também o conhecimento
desse mundo foi feito, em todos os tempos, o objeto de suas pesquisas e de suas
preocupações. Sua atenção, naturalmente, foi levada sobre os fenômenos
tendentes a provarem a existência desse mundo, e deles não há, mais
concludentes, do que a manifestação dos Espíritos, pelas quais os próprios
habitantes do mundo revelam a sua existência; foi por isso que esses fenômenos
se tornaram a base da maioria dos dogmas de todas as religiões.
4. Tendo o homem,
instintivamente, a intuição de um poder superior, foi levado, em todos os
tempos, a atribuir à ação direta desse poder os fenômenos cuja causa lhe era
desconhecida, e que passavam, aos seus olhos, por prodígios e efeitos
sobrenaturais. Essa tendência é considerada, por alguns incrédulos, como a
consequência do amor do homem pelo maravilhoso, mas não procuram a fonte desse
amor do maravilhoso; ela está muito simplesmente na intuição mal definida de
uma ordem de coisas extracorpóreas. Com o progresso da ciência e o conhecimento
das leis da Natureza, esses fenômenos, pouco a pouco, passaram do domínio do
maravilhoso ao dos efeitos naturais, de tal sorte que o que parecia outrora
sobrenatural não o é mais hoje, e que o que o é ainda hoje, não o será mais
amanhã.
Dependendo os
fenômenos da manifestação dos Espíritos, por sua própria natureza, forneceram
um grande contingente aos fatos reputados maravilhosos; mas deveria vir um
tempo em que a lei que os rege sendo conhecida, eles reentrariam, como os
outros, na ordem dos fatos naturais. Esse tempo chegou, e o Espiritismo,
fazendo conhecer essa lei, dá a chave da maioria das passagens incompreendidas
das Escrituras sagradas deles fazendo alusão, e de fatos olhados como
miraculosos.
5. O caráter do
fato miraculoso é de ser insólito e excepcional; é uma derrogação às leis da
Natureza; desde que um fenômeno se reproduz em condições idênticas, é que ele
está submetido a uma lei, e não é miraculoso. Essa lei pode ser desconhecida,
mas nem por isso ela existe menos; o tempo se encarrega de fazê-la conhecer.
O movimento do
Sol, ou melhor, da Terra, parado por Josué seria um verdadeiro milagre, porque
seria uma derrogação manifesta da lei que rege o movimento dos astros; mas se o
fato pudesse se reproduzir nas condições dadas, é que estaria submetido a essa
lei, e cessaria, por conseguinte, de ser miraculoso.
6. É erradamente
que a Igreja se assuste em ver se restringir o círculo dos fatos miraculosos,
porque Deus prova melhor a sua grandeza e o seu poder pelo admirável conjunto
de suas leis, do que por algumas infrações a essas mesmas leis, e isso enquanto
ela atribui ao demônio o poder de fazer prodígios, o que implicaria que o
demônio, podendo interromper o curso das leis divinas, seria tão poderoso
quanto Deus. Ousar dizer que o Espírito do mal pode suspender a ação das leis
de Deus, é uma blasfêmia e um sacrilégio.
A religião, longe
de perder a sua autoridade naquilo que fatos reputados miraculosos passem para
a ordem dos fatos naturais, não pode com isso senão ganhar; primeiro, porque,
se um fato é erradamente reputado miraculoso, é um erro, a religião não pode
senão perder apoiando-se sobre um erro, se, sobretudo, ela se obstinasse em
olhar como um milagre o que não o seria; em segundo lugar, quantas pessoas, não
admitindo a possibilidade dos milagres, negam os fatos reputados miraculosos,
e, por consequência, a religião que se apoia sobre esses fatos; se, ao
contrário, a possibilidade desses fatos está demonstrada como consequência das
leis naturais, não há mais lugar para recusá-los, não mais do que a religião
que os proclama.
7. Os fatos
constatados pela ciência, de maneira peremptória, não podem ser negados por
nenhuma crença religiosa contrária. A religião não pode senão ganhar em
autoridade, seguindo o progresso dos conhecimentos científicos, e perder em
permanecer atrasada ou em protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome
dos dogmas, porque nenhum dogma poderia prevalecer contra as leis da Natureza,
nem anulá-las; um dogma fundado sobre a negação de uma lei da Natureza não pode
ser a expressão da verdade.
O Espiritismo,
fundado sobre o conhecimento de leis incompreendidas até este dia, não vem
destruir os fatos religiosos, mas sancioná-los, dando-lhes uma explicação
racional; ele não vem destruir senão as falsas consequências que deles foram
deduzidas, em consequência da ignorância dessas leis, ou de sua interpretação
errônea.
8. A ignorância
das leis da Natureza, levando o homem a procurar causas fantásticas para os
fenômenos que não compreende, é a fonte das ideias supersticiosas, das quais
algumas são devidas aos fenômenos espíritas mal compreendidos: o conhecimento
das leis que regem esses fenômenos destrói essas ideias supersticiosas,
conduzindo as coisas à realidade, e mostrando o limite do possível e do
impossível.
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