quinta-feira, 28 de abril de 2016

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - XIII

CAPÍTULO II: MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

Item - I

"Tornou, pois, a entrar Pilatos no pretório e chamou Jesus e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus? Respondeu-lhe Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, certo os meus ministros haviam de pelejar para que eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes que eu sou rei. Eu não nasci, nem vim a este mundo senão para dar o testemunho da verdade; todo aquele que é da verdade ouve a minha voz". João, cap. XVIII 33:37.

Toda a tônica dos ensinos de Jesus é sobre a vida além da morte do corpo físico, a vida que nunca se acaba, quer o espírito esteja em mundos materiais, quer esteja em planos espirituais. Assim ensinando ele demonstrava como deveria ser o homem para poder um dia viver no reino de Deus, onde o mal não tem guarida e só o bem existe.

Para isso, o homem tem de desenvolver todo seu potencial intelectual e moral, desenvolvendo esse reino de amor e sabedoria dentro de si para poder tornar este mundo em um reino de Deus.

Jesus esclareceu à humanidade a meta do homem ao viver na Terra, indicou o caminho a ser seguido, ensinou como agir nessa caminhada, para atingir a perfeição possível, seguindo a senda do Bem traçada e exemplificada por ele, usando o instrumento do Amor a Deus e ao próximo.

Não foi compreendido pelos judeus da época, que interpretavam Jesus como sendo o Messias esperado, aquele que os libertaria do domínio romano, tornar-se ia seu rei e daria a esse povo o poder sobre os demais, ou como alguém que queria se passar como um profeta, sem o ser.

Daí a pergunta de Pilatos: Tu é o rei dos judeus?

Na resposta de Jesus, principalmente nas palavras: “por agora meu reino não é daqui", Jesus se apresenta como o colaborador de Deus na direção da humanidade terrestre, o Espírito Puro a quem o Pai confiou essa humanidade. Todavia, o reino de Deus que ele divulgava ainda não estava, nem ainda está na Terra, porque seus habitantes (encarnados e desencarnados) ainda não estão seguindo o caminho indicado por ele.

Ainda hoje, a grande maioria da humanidade, incluindo os seguidores de Jesus e os seguidores de outras interpretações espirituais, mas todos igualados na aceitação de um Ser Supremo, não conseguem vislumbrar esse reino de Deus, de paz, de harmonia, de amor, sem o contexto material, imaginando-o com os mesmos valores materiais da Terra.

Imaginam a vida futura com os parâmetros da vida material, estando o homem ainda muito preso a esses prazeres, esquecendo-se os cristãos do "por agora meu reino não é daqui", isto é, dos valores deste mundo, onde estamos, provisoriamente, enquanto não conseguirmos um desprendimento das coisas materiais, suficiente para merecermos viver em um mundo melhor. Assim, se "por agora meu reino não é daqui", um dia o será, quando os homens compreenderem, aceitarem os seus ensinos e viverem de acordo com eles.

Na frase “Eu não nasci, nem vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade", Jesus se apresenta como um enviado de Deus, como o Messias prometido, que veio trazer a uma humanidade ainda muito imperfeita, as leis morais divinas, relativas a este mundo, ao grau de entendimento que essa humanidade pode alcançar, enquanto viver em um mundo de expiações e de provas.

Jesus tinha tanta convicção do que viera fazer, que não argumentava, como vemos nesta passagem de sua vida, apenas respondeu a Pilatos o que lhe foi perguntado.

Enquanto o homem alimentar dentro de si sentimentos negativos, a Terra continuará sendo um mundo inferior.

Assim, o esforço maior de quem tenta compreender e viver as lições do Mestre Jesus é continuar estudando, aprendendo e praticando no dia a dia, onde estiver, com quaisquer pessoas, a moral cristã, que representa a Verdade que Jesus veio trazer, verdade que essa humanidade tem condição de assimilar, implantando o reino de Deus, dentro de cada um, a fim de que num futuro próximo, ainda neste milênio possa a Terra transformar-se em um mundo melhor, num verdadeiro reino de Deus.


Leda de Almeida Rezende Ebner
Junho / 2002


 Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto (SP)

O CENTRO ESPÍRITA BATUIRA esclarece que permanece divulgando os estudos elaborados pela Sra Leda de Almeida Rezende Ebner após o seu desencarne, com a devida AUTORIZAÇÃO da família e por ter recebido a DOAÇÃO DE DIREITOS AUTORIAIS, conforme registros em livros de Atas das reuniões de diretoria deste Centro.



domingo, 24 de abril de 2016

Céu inferno_059_2ª parte cap. V - Suicidas - O pai e o conscrito

Céu inferno_059_2ª parte cap. V - Suicidas - O pai e o conscrito

TEXTO PARA ESTUDO

No começo da guerra da Itália, em 1859, um negociante de Paris, pai de família, gozando de estima geral por parte dos seus vizinhos, tinha um filho que fora sorteado para o serviço militar. Impossibilitado de o eximir de tal serviço, ocorreu-lhe a ideia de suicidar-se a fim de o isentar do mesmo, como filho único de mulher viúva. Um ano mais tarde, foi evocado na Sociedade de Paris a pedido de pessoa que o conhecera, desejosa de certificar-se da sua sorte no mundo espiritual.

A S. Luís.) - Podereis dizer-nos se é possível evocar o Espírito a que vimos de nos referir?

R. Sim, e ele ganhará com isso, porque ficará mais aliviado.

1. - Evocação. - R. Oh! obrigado! Sofro muito, mas... é justo. Contudo, ele me perdoará.

Nota - O Espírito escreve com grande dificuldade; os caracteres são irregulares e mal formados; depois da palavra mas, ele para, e, procurando em vão escrever, apenas consegue fazer alguns traços indecifráveis e pontos. É evidente que foi a palavra Deus que ele não conseguiu escrever.

2. - Tende a bondade de preencher a lacuna com a palavra que deixastes de escrever.

R. Sou indigno de escrevê-la.

3. - Dissestes que sofreis; compreendeis que fizestes muito mal em vos suicidar; mas o motivo que vos acarretou esse ato não provocou qualquer indulgência?

R. A punição será menos longa, mas nem por isso a ação deixa de ser má.

4. - Podereis descrever-nos essa punição?

R. Sofro duplamente, na alma e no corpo; e sofro neste ultimo, conquanto o não possua, como sofre o operado a falta de um membro amputado.

5. - A realização do vosso suicido teve por causa unicamente a isenção do vosso filho, ou concorreram para ele outras razões?

R. Fui completamente inspirado pelo amor paterno, porém, mal inspirado. Em atenção a isso, a minha pena será abreviada.

6. - Podeis precisar a duração dos vossos padecimentos?

R. Não lhes entrevejo o termo, mas tenho certeza de que ele existe, o que é um alivio para mim.

7. - Há pouco não vos foi possível escrever a palavra Deus, e no entanto temos visto Espíritos muito sofredores fazê-lo: será isso uma consequência da vossa punição?

R. Poderei fazê-lo com grandes esforços de arrependimento.

8. - Pois então fazei esses esforços para escrevê-lo, porque estamos certos de que sereis aliviado. (O Espírito acabou por traçar esta frase com caracteres grossos, irregulares e trêmulos: - Deus é muito bom.)

9. - Estamos satisfeitos pela boa-vontade com que correspondestes à nossa evocação, e vamos pedir a Deus para que estenda sobre vós a sua misericórdia.

R. Sim, obrigado.

10. - (A S. Luís.) - Podereis ministrar-nos a vossa apreciação sobre esse suicídio?

R. Este Espírito sofre justamente, pois lhe faltou a confiança em Deus, falta que é sempre punível. A punição seria maior e mais duradoura, se não houvera como atenuante o motivo louvável de evitar que o filho se expusesse à morte na guerra. Deus, que é justo e vê o fundo dos corações, não o pune senão de acordo com suas obras.
OBSERVAÇÕES - À primeira vista, como ato de abnegação, este suicídio poder-se-ia considerar desculpável. Efetivamente assim é, mas não de modo absoluto. A esse homem faltou a confiança em Deus, como disse o Espírito S. Luís. A sua ação talvez impediu a realização dos destinos do filho; ao demais, ele não tinha a certeza de que aquele sucumbiria na guerra e a carreira militar talvez lhe fornecesse ocasião de adiantar-se. A intenção era boa, e isso lhe atenua o mal provocado e merece indulgência; mas o mal é sempre o mal, e se o não fora, poder-se-ia, escudado no raciocínio, desculpar todos os crimes e até matar a pretexto de prestar serviços.

A mãe que mata o filho, crente de o enviar ao céu, seria menos culpada por tê-lo feito com boa intenção? Aí está um sistema que chegaria a justificar todos os crimes cometidos pelo cego fanatismo das guerras religiosas.

Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum. Mas, ao homem - visto que tem o seu livre arbítrio - ninguém impede a infração dessa lei. Sujeita-se, porém, às suas consequências. O suicídio mais severamente punido é o resultante do desespero que visa a redenção das misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações e provações. Furtar-se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante a missão que se deverá cumprir. O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais. Não se pode tachar de suicida aquele que dedicadamente se expõe à morte para salvar o seu semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se privar da vida, e, segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não possa subtrair, quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é sacrifício meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem.

(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens nos. 5, 6, 18 e 19.)

QUESTÕES PARA ESTUDO

1.Qual foi a circunstância atenuante para este caso de suicídio?

2.Bastaria a este espírito esta circunstância para se aliviado de seu sofrimento?

3.Essa atitude, a qual teve como base o amor paterno, é de todo desculpável? Que consequência poderia ter esse ato para o filho?

CONCLUSÃO

1.O pai acreditava estar fazendo o bem ao filho impedindo, com sua morte, que ele fosse para a guerra.

2.Não. Como em qualquer outra circunstância faltosa, o espírito terá que responder por ela, embora sua "pena" possa ser suavizada no momento em que ele se deu conta de seu engano e se arrependeu.


3.Desculpável até o ponto em que ele acreditava que estava certa sua atitude, mas com este ato, ele teria impedido que o seu filho passasse pelas provas necessárias a sua evolução.

EVANGELHO ESSENCIAL 8 #7- BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO

EVANGELHO ESSENCIAL 8

Eulaide Lins
Luiz Scalzitti


7- BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO

Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus. (S.MATEUS, cap. V, v. 3.)

O que se deve entender por pobres de espírito Por pobres de espírito Jesus não entende os carentes de inteligência, mas os humildes, tanto que diz ser para estes o reino dos céus e não para os orgulhosos.
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Os homens cultos e inteligentes, segundo o mundo, formam geralmente tão alto conceito de si próprios e da sua superioridade, que consideram as coisas divinas como indignas de sua atenção.
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Se não admitem o mundo invisível e um poder extra-humano, não é que isso lhes esteja fora do alcance; mas porque o orgulho lhes revolta à ideia de alguma coisa a qual não podem sobrepor-se e que os faria descer do seu pedestal.
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Deus que é justo, não pode receber da mesma forma aquele que desconheceu o seu poder e outro que humildemente se submeteu às Suas leis, nem os contemplar igualmente.
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Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus dizer que a ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si mesmo do que em Deus.
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Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que dele afastam a criatura, e isso por uma razão muito natural: a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra ele.
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Mais vale ao homem para felicidade do seu futuro, seja ele pobre em espírito conforme o entendimento do mundo e rico em qualidades morais.

Aquele que se eleva será rebaixado Jesus entrou em dia de sábado na casa de um dos principais fariseus para aí fazer a sua refeição. Os que lá estavam o observaram. - Então, notando que os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola, dizendo: “Quando fores convidados para bodas, não tomes o primeiro lugar, para que não aconteça que, havendo entre os convidados uma pessoa mais considerada do que tu, aquele que te convidou venha a dizer-te: dá o teu lugar a este, e te vejas constrangidos a ocupar, envergonhado, o último lugar. - Quando fores convidado, coloca-te no último lugar, a fim de que, quando aquele que te convidou chegar, diga: meu amigo, venha mais para cima. Isso então será para ti um motivo de glória, diante de todos os que estiverem contigo à mesa; - porque todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado." (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 1 e 7 a 11.)

A humildade é apresentada por Jesus como condição essencial da felicidade prometida aos eleitos do Senhor nas seguintes palavras:

"Bem-aventurados os pobres de espírito, por que o reino dos céus lhes pertence."
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Ele toma uma criança como tipo da simplicidade de coração e diz: "Será o maior no reino dos céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma pretensão alimentar à superioridade ou à infalibilidade.
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O Espiritismo vem confirmar, pelo exemplo, os ensinamentos, mostrando-nos na posição de grandes no mundo dos Espíritos os que foram pequenos na Terra; e bem pequenos, muitas vezes, os que na Terra eram os maiores e os mais poderosos. É que os primeiros, ao morrerem, levaram consigo aquilo que faz a verdadeira grandeza no céu e que não se perde nunca: as virtudes, ao passo que os outros tiveram de deixar aqui o que lhes constituía a grandeza terrena e que não se leva para a outra vida: a riqueza, os títulos, a glória, a nobreza do nascimento.
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O Espiritismo nos mostra outra aplicação do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem, em existência seguinte, às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição.
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Não procurem na Terra, os primeiros lugares, nem se coloquem acima dos outros, se não quiserem ser obrigados a descer. Busquem, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porque Deus saberá dar-lhes um mais elevado no céu, se o mereceres.
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Mistérios ocultos aos doutos e aos prudentes Disse, então, Jesus estas palavras: "Graças te rendo, meu Pai, Senhor do Céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e pôr as teres revelado aos simples e aos pequenos." (S. MATEUS, cap. XI, v. 25.)

O poder de Deus se manifesta nas mais pequeninas coisas, como nas maiores. Ele não põe a luz debaixo do alqueire, mas a derrama em ondas por toda a parte, de tal sorte que só os cegos não a veem. A esses não quer Deus abrir à força os olhos, dado que lhes convém tê-los fechados.
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Não se admirem os incrédulos se nem Deus, nem os Espíritos, que são os executores da sua vontade, não se submetam às suas exigências.

Perguntem a si mesmos o que diriam, se o último de seus empregados lhes quisesse fazer imposições. Deus impõe condições e não se submete às deles. Escuta, bondoso, os que o procuram humildemente e não os que se julgam mais do que Ele.
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INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

O orgulho e a humildade

Lacordaire – Constantina, 1863

A humildade é uma virtude muito esquecida entre vocês. Os grandes exemplos que lhes foram dados são tão pouco seguidos.
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O orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometeu o reino dos céus aos mais pobres, é porque os grandes da Terra imaginam que os títulos e as riquezas são recompensas aos seus méritos e se consideram de essência mais pura do que a do pobre.
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Na balança divina, são iguais todos os homens; somente as virtudes os distinguem aos olhos de Deus. Todos os Espíritos são da mesma essência e formados de igual massa todos os corpos. Em nada a modificam os seus títulos e os seus nomes. Estes ficam no túmulo e não são eles que dão a felicidade prometida aos eleitos. A caridade e a humildade é que são os seus títulos de nobreza.
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Todos vocês que dos homens sofrem injustiças, sejam indulgentes para as faltas dos seus irmãos, lembrando que também não se acham isentos de culpas; isso é caridade e também é humildade. Se sofreres pelas calúnias, abaixe a cabeça sob essa prova.
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Quando Moisés subiu ao monte Sinai para receber os mandamentos de Deus, o povo de Israel, entregue a si mesmo, abandonou o Deus verdadeiro. Homens e mulheres deram o ouro e as joias que possuíam, para que se construísse um ídolo para o adorar. Vocês, homens civilizados, os imitam.
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Cada um de vocês, carregando as suas paixões, fabricou um Deus de acordo com a sua vontade: segundo uns, terrível e sanguinário; para outros, indiferente aos interesses do mundo. O Deus que fabricaste é ainda o bezerro de ouro que cada um adapta aos seus gostos e às suas ideias.
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Sejam generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, façam o bem com humildade. Que cada um proceda aos poucos à demolição dos altares que todos ergueram ao orgulho.
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Adolfo, Bispo de Argel – Marmamde, 1862

O orgulho, eis a fonte de todos os seus males. Dediquem-se em destruí-lo, se não quiserem perpetuar as funestas consequências. Um único meio se oferece para isso, embora infalível: tomem por regra invariável de suas condutas a lei do Cristo, lei que tens repelido ou falseado em sua interpretação.
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Quando o orgulho atinge ao extremo, tem-se um indício de queda próxima, porque Deus nunca deixa de castigar os orgulhosos. Se ás vezes consente que eles subam, é para lhes dar tempo de refletir e de corrigirem-se, sob os golpes que de tempos a tempos, lhes desfere no orgulho para os advertir. Mas, em lugar de se humilharem, eles se revoltam. Então, cheia a medida, Deus os abate completamente e tanto mais terrível é a queda, quanto mais alto tiverem se elevado.
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Na eternidade, o maior é aquele que haja sido o mais humilde entre os pequenos deste mundo; que aquele que mais amou os seus irmãos será também o mais amado no céu; que os poderosos da Terra, se abusaram da sua autoridade, ver-se-ão reduzidos a obedecer aos seus empregados.

Missão do homem inteligente na Terra

Ferdinando, Espírito Protetor – Bordéus, 1862

Se Deus, nos seus desígnios, lhes fez nascer num meio onde pudessem desenvolver a sua inteligência, foi por querer que a usassem em benefício de todos; é uma missão que lhes dá, pondo em suas mãos o instrumento com que podem desenvolver as inteligências retardatárias e conduzi-las a Ele.
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A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas, sob a condição de ser bem empregada. Se todos os homens que a possuem dela se servissem de conformidade com a vontade de Deus, fácil seria, para os Espíritos, a tarefa de fazer que a Humanidade progredisse. Infelizmente, muitos a transformam em instrumento de orgulho e de perdição contra si mesmos.

COMENTÁRIO

BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO

Jesus quando se dirige aos seus em Mateus 20;28; diz: “Sabeis que os príncipes das nações dominam os seus vassalos, e que os maiores exercitam sobre eles o seu poder. Não será assim entre vós; mas aquele que quiser ser o maior, esse seja o vosso servidor; e o que entre vós quiser ser o primeiro, seja o vosso escravo; assim como o Filho do Homem, que não vem para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em redenção de muitos.” Com essa colocação de Jesus fica mais clara a afirmação pois declara que maior é aquele que sabe e pode servir. Sim, viemos ao mundo para servir, servir a nós mesmos em essência, não é outra a razão da reencarnação, que não a de possibilitar-nos a remissão de nossas atitudes menos convenientes e ofensivas ao nosso próximo. A pobreza a que se refere Jesus é a do orgulho, sermos pobres de orgulho e de todas as suas vertentes, como ódio, inveja, ciúme, maledicência, etc.


Devemos ser ricos na simplicidade, no amor ao próximo, na caridade, nas virtudes, enfim que possam fazer-nos sentir o júbilo de sermos coparticipes da criação fazendo o mundo cada vez melhor. Muitos de nós entendemos ser os todo-poderosos quando ocupamos um cargo público, ou nos diplomamos e possuímos uma profissão mais rentável e que nos dê privilégios na sociedade. Isso não é crime, mas, o abuso que se faz desses cargos, isso sim é condenável, mesmo pelas leis da sociedade, que sempre são torcidas a benefício daquele que tenha maior poderio material. Essa soberba é que Jesus condenou, pois havia de ser o maior aquele que melhor servia. O homem infelizmente se torna orgulhoso de seus títulos e rótulos conseguidos, muitas vezes, sem saber o custo com que foi patrocinado pelos pais. Mas tarde será a hora da sua compreensão no mundo dos Espíritos quando se arrependerá amargamente vendo ali seus empregados em situação muito mais cômoda, mesmo assim continuando a servi-los. E muitos dirão ainda sem compreender: O que foi que fiz a Deus? Nós lhes diremos: O que foi que não fizeram a Deus! Precisamos analisar os fatos da nossa vida atual e repensarmos a nossa maneira dura ou de total indiferença ao tratar o ser humano, seja qual for a sua situação, pois além de exercitarmos as convenções da sociedade não nos cabe mais direito de julgar, devemos o respeito de um ser humano nas mesmas condições que a nossa perante o Pai. Não seja o orgulho do mundo que nos faça perder esta oportunidade encarnatória, embora tenhamos o mérito das conquistas aqui na Terra, são elas sempre propiciadas pela Divindade, seja através de Espíritos amigos, seja através de irmãos nossos que no dia a dia nos sugerem e incentivam, seja nossa mãe que na sua simplicidade muitas vezes lavou roupa até a madrugada. O mérito é nosso, mas a responsabilidade e consequências pelo aproveitamento positivo ou negativo também o é.

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 19 #O Livre Pensamento e a Livre Consciência

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 19

Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa

O Livre Pensamento e a Livre Consciência

(Allan Kardec, in “Revista Espírita” – fev./1867)

Num artigo de nosso último número (página 6), intitulado: Golpe de vista retrospectivo sobre o movimento do Espiritismo, fizemos duas classes distintas dos livres pensadores: os incrédulos e os crentes, e dissemos que, para os primeiros, ser livre pensador não é somente crer naquilo que se quer, mas não crer em nada: é se libertar de todo freio, mesmo do medo de Deus e do futuro; para os segundos, é subordinar a crença à razão e se libertar do jugo da fé cega.

Estes últimos têm por órgão de publicidade a Livre consciência, título significativo; os outros, o jornal o Livre pensamento, qualificação mais vaga, mas que se especializa pelas opiniões formuladas, e que vêm, de todos os pontos, corroborar a distinção que fizemos. Ali lemos no n-2 de 28 de outubro de 1866:

"As questões de origem e de fim preocuparam até aqui a Humanidade, a ponto, frequentemente, de perturbar sua razão. Estes problemas que se qualificaram de terríveis, e que cremos de importância secundária, não são do domínio imediato da ciência. Sua solução científica não pode oferecer senão uma meia certeza. Tal qual é, no entanto, ela nos basta, e não tentaremos completá-la por argúcias metafísicas. O nosso objetivo é, aliás, de não nos ocuparmos senão dos assuntos abordáveis pela observação. Entendemos permanecer sobre a Terra. Se, às vezes, dela nos afastamos para responder aos ataques daqueles que não pensam como nós, a excursão fora do real será de curta duração. Teremos sempre presente ao pensamento este sábio conselho de Helvétius: "É preciso ter a coragem de ignorar o que não se pode saber."

"Um novo jornal, a Livre consciência, nossa primogênita de alguns dias, como o fez notar, nos deseja a boa vinda em seu número de amostra grátis. Nós lhe agradecemos pelo modo cortês pelo qual usou de seu direito de primogenitura. Nosso confrade pensa que, apesar da analogia dos títulos, não estaremos sempre em "completa afinidade de ideias". Nós, depois da leitura de seu primeiro número, disto estamos certos; não compreendemos mais a livre consciência do que o livre pensamento com um limite dogmático assinalado antecipadamente. Quando sede clara claramente discípulo da ciência e campeão da livre consciência, é irracional, em nossa opinião, colocarem seguida como um dogma uma crença qualquer, impossível de provar cientificamente. A liberdade limitada da sorte não é a liberdade.

De nosso turno, desejamos as boas-vindas à Livre consciência, e estamos dispostos a ver nela uma aliada, uma vez que declara querer combater por todas as liberdades... menos uma."

É estranho ver considerar a origem e o fim da Humanidade como questões secundárias próprias para perturbar a razão. Que se diria de um homem que, vivendo o dia-a-dia, não se inquietasse de como viverá amanhã? Passaria por um homem sensato? Que se pensaria daquele que, tendo uma mulher, filhos, amigos, dissesse: Que me importa que amanhã estejam mortos ou vivos! Ora, o dia seguinte da morte é longo; não é preciso, pois, se admirar que tanta gente com isto se preocupe.

Se se fizesse a estatística de todos aqueles que perdem a razão, ver-se-ia que o maior número está precisamente do lado daqueles que não creem nesse dia seguinte ou que dele duvidam, e isto, pela razão muito simples de que a grande maioria dos casos de loucura é produzida pelo desespero e a falta de coragem moral que faz suportar as misérias da vida, ao passo que a certeza desse dia seguinte torna menos amargas as vicissitudes do presente, e as faz considerar como incidentes passageiros, cujo moral não se afeta senão mediocremente ou nada se afeta. Sua confiança no futuro lhe dá uma força que jamais terá aquele que não tem por perspectiva senão o nada. Ele está na posição de um homem que, arruinado hoje, tem a certeza de ter amanhã uma fortuna superior àquela que acaba de perder. Neste caso, toma facilmente seu partido, e permanece calmo; se, ao contrário, ele nada espera, se desespera e sua razão pode sofrer com isto.

Ninguém contestará este princípio: saber dia por dia de onde se vem e para onde se vai, o que se fez na véspera e o que se fará amanhã, não seja uma coisa necessária para regular os negócios diários da vida, e que ela não influi sobre a conduta pessoal. Seguramente o soldado que sabe para onde se o conduz, que vê seu objetivo, marcha com mais firmeza, com mais vivacidade, mais entusiasmo do que se o conduzisse às cegas. Ocorre assim do pequeno ao grande, da individualidade ao conjunto; saber de onde se vem e para onde se vai não é menos necessário para regular os negócios da vida coletiva da Humanidade. No dia em que a Humanidade inteira tiver a certeza de que a morte é sem saída, ver-se-á uma confusão geral, e os homens se lançarem uns sobre os outros, dizendo: Se não deveremos viver senão um dia, vivamos o melhor possível, não importa às expensas de quem!

O jornal o Livre pensamento declara que entende permanecer sobre a Terra, e que, se disto sai às vezes, é para refutar aqueles que não pensam como ele, mas que suas excursões fora do real serão de curta duração.

Compreenderíamos que assim o fosse com o jornal exclusivamente científico, tratando de matérias especiais; é evidente que seria intempestivo falar de espiritualidade, de psicologia ou de teologia a propósito de mecânica, de química, de física, de cálculos matemáticos, de comércio ou de indústria; mas desde que faz entrar em seu programa a filosofia, não poderia enchê-la sem abordar as questões metafísicas. Se bem que a palavra filosofia seja muito elástica, e que haja sido singularmente desviada de sua acepção etimológica, implica, por sua própria essência, pesquisas e estudos que não são exclusivamente materiais.
O conselho de Helvetius: "É preciso ter a coragem de ignorar o que não se pode saber," é muito sábio, e se dirige sobretudo aos sábios presunçosos que pensam que nada pode ser ocultado ao homem, e o que não sabem ou não compreendem não deve existir. Seria mais justo, no entanto, dizer: "É preciso ter a coragem de confessara sua ignorância sobre o que não se sabe." Tal como está formulado, se poderia traduzi-lo assim: "É preciso ter a coragem de conservara sua ignorância," de onde esta consequência: "É inútil procurar saber o que não se sabe." Sem dúvida, há coisas que o homem não saberá jamais enquanto estiver sobre a Terra, porque, qualquer que seja a sua presunção, a Humanidade está ainda no estado de adolescência; mas quem ousaria pôr limites absolutos àquilo que pode saber?

Uma vez que se sabe disto infinitamente mais hoje do que os homens dos tempos primitivos, porque, mais tarde, não se saberia mais disto do que se sabe agora? É o que não podem compreender aqueles que não admitem a perpetuidade e a perfectibilidade do ser espiritual. Muitos dizem a si mesmos: Estou no cume da escala intelectual; o que não vejo e não compreendo, ninguém pode vê-lo e compreendê-lo.
No parágrafo reportado acima e relativo ao jornal a Livre consciência, está dito: "Não compreendemos mais a livre consciência que o livre pensamento com um limite dogmático assinalado antecipadamente. Quando se declara discípulo da ciência, é irracional colocar como um dogma uma crença qualquer impossível de se provar cientificamente.

A liberdade limitada da sorte não é a liberdade."

Toda doutrina está nestas palavras; a profissão de fé é limpa e categórica. Assim, porque Deus não pode ser demonstrado por uma equação algébrica, que a alma não é apreensível com a ajuda de um reativo, é absurdo crer em Deus e na alma. Todo discípulo da ciência deve, consequentemente, ser ateu e materialista. Mas, por não sair da materialidade, a ciência é sempre infalível em suas demonstrações? Não se a tem, muitas vezes, visto dar por verdades o que mais tarde foi reconhecido ser erros, e vice- versa? Não foi em nome da ciência que o sistema de Fulton foi declarado uma quimera? Antes de conhecer a lei da gravitação, não demonstrou ela cientificamente que não podia haver antípodas? Antes de conhecer a da eletricidade, não demonstrou ela pôr a mais b que não existia velocidade capaz de transmitir um despacho a quinhentas léguas em alguns minutos?

Tinha-se muito experimentado a luz, e, no entanto, há poucos anos ainda, quem teria suspeitado os prodígios da fotografia? No entanto, não foram os sábios oficiais que fizeram esta prodigiosa descoberta, não mais do que as do telégrafo elétrico e das máquinas a vapor. A ciência conhece ainda hoje todas as leis da Natureza? Sabe ela somente todos os recursos que se podem tirar das leis conhecidas? Quem ousaria dizê-lo? Não se pode que um dia o conhecimento de novas leis torne a vida extracorpórea tão evidente, tão racional, tão inteligente quanto a dos antípodas? Um tal resultado interrompendo todas as incertezas, seria, pois, a desdenhar? Seria menos importante, para a Humanidade, do que a descoberta de um novo continente, de um novo planeta, de um novo engenho de destruição?

Pois bem! Esta hipótese se tornou realidade; é ao Espiritismo que se o deve, e é graças a ele que tantas pessoas que acreditavam morrer uma vez por todas, estão agora certas de viverem sempre.

Falamos da força da gravitação, essa força que rege o Universo, desde o grão de areia até os mundos; mas quem a viu, quem a pode segui-la, analisá-la? Em que consiste ela? Qual é a sua natureza, a sua causa primeira? Ninguém o sabe, e, no entanto, ninguém dela dúvida hoje. Como se a reconheceu? Por seus efeitos; dos efeitos se concluiu a causa; fez-se mais: calculando a força dos efeitos, calculou-se a força da causa que jamais se viu. Ocorre o mesmo com Deus e com a vida espiritual que se julga também por seus efeitos, segundo este axioma: "Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. A força da causa inteligente está em razão da grandeza do efeito." Crerem Deus e na vida espiritual não é, pois, uma crença puramente gratuita, mas um resultado da observação tão positiva quanto aquela que faz crer na força da gravitação.

Depois, na falta de provas materiais, concorrentemente a estas, a filosofia não admite as provas morais que, às vezes, têm tanto e mais valor do que as outras? Vós, que não tendes por verdadeiro senão o que é provado materialmente, que diríeis se, estando injustamente acusado de um crime do qual todas as aparências seriam contra vós, assim como se vê frequentemente a injustiça, os juízes não tivessem em nenhuma conta as provas morais que seriam em vosso favor? Não serieis o primeiro a invocá-las? A fazer valer sua preponderância sobre os efeitos puramente materiais que podem iludir? A provar que os sentidos podem enganar os mais clarividentes? Se, pois, admitis que as provas morais devem pesar na balança de um julgamento, não serieis consequente convosco mesmo anegando-lhes o valor quando se trata de fazer uma opinião sobre as coisas que, pela sua natureza, escapam à materialidade.

O quede mais livre, de mais independente, de menos apreensível por sua própria essência, do que o pensamento? E, no entanto, eis uma escola que pretende emancipá-lo acorrentando-o à matéria; que avanço, em nome da razão, que o pensamento circunscrito sobre as coisas terrestres é mais livre do que aquele que se lança no infinito, e quer ver além do horizonte material! Tanto valeria dizer que o prisioneiro que não pode dar senão alguns passos em seu cárcere é mais livre do que aquele que corta os campos. Se, crer nas coisas do mundo espiritual que é infinito, é não ser livre, vós o sois cem vezes menos, vos que vos circunscreveis no limite estreito do tangível, que dizeis ao pensamento: Tu não sairás do círculo que te traçamos, e se t u dele sais não és mais o pensamento sadio, mas a loucura, a tolice, o disparate, porque só a nós pertence discernir o falso do verdadeiro.

A isto o espiritualismo responde: Nós formamos a imensa maioria dos homens da qual sois apenas a milionésima parte; com que direito vos atribuís o monopólio da razão? Quereis, dizeis, emancipar nossas ideias em nos impondo as vossas? Mas não nos ensinais nada; sabemos o que sabeis; cremos sem restrição em tudo o que credes: na matéria e no valor das provas tangíveis, e mais do que vós: em alguma coisa fora da matéria; numa força inteligente superior à Humanidade; em causas inapreciáveis pelos sentidos, mas perceptíveis pelo pensamento; na perpetuidade da vida espiritual que limitais à duração da vida do corpo. Nossas ideias são, pois, infinitamente mais amplas do que as vossas; ao passo que circunscreveis vosso ponto de vista, o nosso abarca os horizontes sem limites. Como aquele que concentra seu pensamento sobre uma ordem determinada de fatos, que coloca assim um ponto de parada aos seus movimentos intelectuais, às suas investigações, talvez pretender emancipar aquele que se move sem entraves, e cujo pensamento sonda as profundezas do infinito? Restringir o campo de exploração do pensamento é restringir a sua liberdade, e é o que fazeis.

Quereis, dissestes ainda, arrancar o mundo do jugo das crenças dogmáticas; fazei pelo menos uma distinção entre estas crenças? Não, porque confundis na mesma reprovação tudo o que não é do domínio exclusivo da ciência, tudo o que não se vê pelos olhos do corpo, em uma palavra, tudo o que é de essência espiritual, por consequência Deus, a alma e a vida futura. Mas se toda crença espiritual é um entrave à liberdade de pensar, ocorre o mesmo com toda crença material; aquele que crê que uma coisa é vermelha, porque a vê vermelha, não é livre para crê-la verde. Desde que o pensamento é detido por uma convicção qualquer, ele não é mais livre; para ser consequente com a vossa teoria, a liberdade absoluta consistiria em nada crer do todo, mesmo na sua própria existência, porque isto seria ainda uma restrição; mas então em que se tornaria o pensamento?

Considerado deste ponto de vista, o livre pensamento seria um contra-senso. Ele deve se entender num sentido mais amplo e mais verdadeiro; quer dizer, do uso livre que se faz da faculdade de pensar, e não na sua aplicação em uma ordem qualquer de ideias. Ele consiste, não em crer numa coisa antes do que numa outra, nem em excluir tal ou tal crença, mas na liberdade absoluta de escolha das crenças. É, pois, abusivamente que alguns dele fazem a aplicação exclusiva às ideias anti-espiritualistas. Toda ideia racional, que não é nem imposta, nem encadeada cegamente à de outrem, mas que é voluntariamente adotada em virtude do julgamento pessoal, é um pensamento livre, quer seja religioso, político ou filosófico.

O livre pensamento, na sua acepção mais ampla, significa: livre exame, liberdade de consciência, fé raciocinada; ele simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; ele não quer mais escravos do pensamento do que escravos do corpo, porque o que caracteriza o livre pensador é que ele pensa por si mesmo e não pelos outros, em outras palavras, que sua opinião lhe pertence particularmente. Pode, pois, haver livres pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre pensamento eleva a dignidade do homem; dele faz um ser ativo, inteligente, em lugar de uma máquina de crer.

No sentido exclusivo que alguns lhe dão, em lugar de emancipar o espírito, ele restringe a sua atividade, faz dele escravo da matéria, os fanáticos da incredulidade fazem, num sentido, o que os fanáticos da fé cega fazem num outro; quando estes dizem: Para ser segundo Deus é preciso crer em tudo o que nós cremos; fora de nossa fé não há salvação, os outros dizem: Para ser segundo a razão, é preciso pensar como nós, não crer senão no que cremos; fora dos limites que traçamos à crença, não há nem liberdade nem bom senso, doutrina que se formula por este paradoxo: Vosso espírito não é livre senão com a condição de não crer naquilo que quer, o que vem a dizer a um indivíduo: Tu és o mais livre de todos os homens, com a condição de não ir mais longe do que o fim da corda à qual vos prendemos.

Seguramente não contestamos aos incrédulos o direito de não crer em nada senão na matéria, mas convir-se-á que há singulares contradições em sua pretensão de se atribuir o monopólio da liberdade de pensar.

Dissemos que pela qualidade de livre pensador certas pessoas procuram atenuar o que a incredulidade absoluta tem de repulsivo para a opinião das massas; suponhamos, com efeito, que um jornal se intitule abertamente: o Athée, o Incrédula ou o Matérialiste, pode-se julgar da impressão que esse título faria sobre o público; mas que abrigue estas mesmas doutrinas sob a capa do livre pensador, a esta bandeira se diz: É a bandeira da emancipação moral; deve ser o da liberdade de consciência e sobretudo da tolerância; vejamos. Vê-se que não é preciso sempre reportá-lo à etiqueta.

Estar-se-ia em erro, de resto, assustando-se além da medida das consequências de certas doutrinas; elas podem momentaneamente seduzir alguns indivíduos, mas jamais seduzirão as massas que lhe são opostas pelo instinto e pela necessidade. É útil que todos os sistemas se mostrem à luz, para que cada um possa deles julgar o forte e o fraco, e, em virtude do direito de livre exame, possa adotá-los ou rejeitá-los com conhecimento de causa. Quando as utopias forem vistas em ação, e que terão provado sua impotência, elas cairão para não mais se levantar. Por seu próprio exagero, elas movimentam a sociedade e preparam a renovação. Está ainda aí um sinal dos tempos.

O Espiritismo é, como alguns o pensam, uma nova fé cega substituindo a uma outra fé cega; de outro modo dito, uma nova escravidão do pensamento sob uma nova forma? Para crê-lo é preciso ignorar-lhe os primeiros elementos.

Com efeito, coloca como princípio que antes de crer é preciso compreender; ora, para compreender é preciso fazer uso de seu julgamento; eis porque ele procura se dar conta de tudo antes de nada admitir, em saber o porquê e o como de cada coisa; também os Espíritas são mais suscetíveis do que os outros com relação aos fenômenos que saem do círculo das observações habituais. Ele não repousa sobre nenhuma teoria preconcebida e hipotética, mas sobre a experiência e a observação dos fatos; em lugar de dizer: "Crede primeiro, e compreendais em seguida, se o puderdes," ele diz:

"Compreendei primeiro e crereis em seguida se o quiserdes." Ele não se impõe a ninguém; diz a todos: "Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente se isto vos convém." Assim falando, ele se candidata e corta as chances da concorrência. Se muitos vão a ele, é que os satisfaz muito, mas ninguém o aceita de olhos fechados. Àqueles que não o aceitam, ele diz: "Sois livres, e não vos quero; tudo o que vos peço, é de deixar-me a minha liberdade, como vos deixo a vossa. Se procurais me afastar, pelo medo de que vos suplante, é que não estais muito seguros de vós."

O Espiritismo não procurando afastar nenhum dos concorrentes na liça aberta às ideias que devem prevalecer no mundo regenerado, e nas condições do verdadeiro livre pensamento; não admitindo nenhuma teoria que não esteja fundada sobre a observação, ele está, ao mesmo tempo nas do mais rigoroso positivismo; tem, enfim, sobre seus adversários de duas opiniões contrárias extremas, a vantagem da tolerância.

Nota. Algumas pessoas nos censuraram pelas explicações teóricas que, desde o princípio, procuramos dar dos fenômenos espíritas. Essas explicações, baseadas sobre uma observação atenta, remontando dos efeitos à causa, provavam, de uma parte, que queríamos nos dar conta e não crer nelas cegamente; de outra, que queríamos fazer do Espiritismo uma ciência de raciocínio e não de credulidade. Por essas explicações que o tempo desenvolveu, mas que consagrou em princípio, porque nenhuma foi contraditada pela experiência, os Espíritas acreditaram porque compreenderam, e não é duvidoso que é a isto que se deve atribuir o crescimento rápido do número dos adeptos sérios.

É a essas explicações que o Espiritismo deve por ter saído do domínio do maravilhoso e de estar ligado às ciências positivas; por elas demonstrou aos incrédulos que isto não é uma obra de imaginação; sem elas estaríamos ainda para compreender os fenômenos que surgem a cada dia. Era urgente colocar, desde o princípio, o Espiritismo sobre o seu verdadeiro terreno. A teoria fundada sobre a experiência foi o freio que impediu a credulidade supersticiosa, tanto quanto a malevolência, de fazê-lo desviar de seu caminho. Porque aqueles que nos censuram por termos tomado a iniciativa, não a tomaram eles mesmos?

ESTUDO EVANGÉLICO 47 - LIVRO PALAVRAS DE VIDA ETERNA - TEMA: DINHEIRO E ATITUDE




Livro: Palavras de Vida Eterna

Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

- ESTUDO 47




DINHEIRO E ATITUDE

"Porque a paixão do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. - Paulo. (I Timóteo, 6:10).

A compreensão parcial de determinados trechos evangélicos tem levado a muitos equívocos. Uma dessas situações relaciona-se à posse, à riqueza como obstáculo à conquista dos valores eternos. Por exemplo, quando Jesus respondendo ao moço rico lhe disse que seria preciso vender tudo o que tinha para segui-Lo, e concluiu que "é mais fácil um camelo passar no fundo da agulha do que um rico entrar no reino de Deus", muitos interpretam que o Mestre menospreza a prosperidade e condena aquele que possui a riqueza. Jesus, com tal ensinamento, "jamais quis menosprezar a prosperidade, que é um bem da vida" 3, e nem condenar o rico; pretendeu com isso advertir-nos quanto ao apego excessivo dos bens materiais, do supérfluo porque desavisados, invigilantes, habituamo-nos ao abuso.

Em o Evangelho Segundo o Espiritismo2 Allan Kardec esclarece que "se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação alguma, idéia esta que repugna a razão". Na seqüência reflete que a riqueza, naturalmente, é um poderoso "excitante do orgulho, da vaidade, da vida sensual" isto é, gera tentações e exerce grande fascínio levando o incauto, em função da concupiscência que lhe é própria, a situações infelizes.

O dinheiro em si é neutro, é a aplicação que se lhe dá que o transforma em veículo do Bem ou do Mal, de elevação ou de queda, alterando-lhe a finalidade. Provendo educação, trabalho, remédio, alimento, etc., enobrece quem o possui e quando usado com egoísmo, apenas em benefício próprio, na posse sem aplicação no bem comum, encarcera o homem levando-o à infelicidade. 

           O apóstolo Paulo reconhecendo que o dinheiro em poder de criaturas que ainda estagiam no egoísmo, na avareza, na usura, na insensibilidade é porta aberta à queda orienta Timóteo.
 

Emmanuel, no texto em estudo, atualizando o ensinamento apostólico, considera que, embora o dinheiro seja bênção da vida, seu uso indevido deforma o coração daquele que o segrega no vício; faz-se verdugo implacável do avarento; transforma a inteligência perversa em arma destruidora; vinga-se daquele que o extorque e o recolhe, instalando enfermidade e cegueira, mas é instrumento libertador quando aplicado no campo do progresso e da bondade.

Conclui que1: "não é a moeda que envilece o homem, mas sim o homem que a envilece pelo desvario das paixões que o dominam".

"A riqueza é um bem para ser administrado em benefício geral e não para uns privilegiados. Aquele que retém a riqueza em seus cofres, sem dar-lhe utilidade é avarento, e o que a manipula apenas em seu benefício é exclusivista, egoísta, ambicioso; na verdade esse já recebeu a recompensa que queria4".


Bibliografia:


1. Xavier, Francisco Cândido. "Palavras de Vida Eterna: Dinheiro e Atitude". Ditado pelo Espírito Emmanuel. CEC. 17a ed. Uberaba, MG. 1992.

2. Kardec, Allan. "O Evangelho Segundo o Espiritismo: Capítulo XVI - Salvação dos Ricos".IDE. 59a ed. Araras, SP. 1986.

3. Peralva, Martins. "Estudando o Evangelho: Riqueza". FEB. 15a ed. Rio de Janeiro, RJ. 1987.

4. Palhano Jr., L. "A Carta de Tiago: Os Ricos; Riquezas". Editora FRÁTER. Niterói, RJ. 1992.


Iracema Linhares Giorgini
Junho / 2005


I TIMÓTEO 6
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.


Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto (SP)