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NASCIMENTO E INFANCIA DE JESUS
Edgard Armond
O REDENTOR CAPITULO 4 CONTROVÉRSIAS DOUTRINÁRIAS
Dentre as várias controvérsias existentes sobre assuntos evangélicos, duas, pelo menos, devido a sua importância, devemos apresentar neste livro: a que se refere à concepção de Jesus e a da natureza do corpo que utilizou quando encarnado.
A CONCEPÇÃO
A respeito do nascimento de Jesus julgamos haver duas alternativas: aceitar a concepção sobrenatural, como consta do Evangelho de Mateus e de Lucas, ou admitir o nascimento natural, como querem várias correntes espiritualistas e materialistas.
Conquanto os evangelistas citados narrem um nascimento sobrenatural, o Evangelho em si mesmo, estudado no conjunto dos seus autores, oferece elementos sérios para se optar pelo nascimento natural.
A primeira das duas versões consta, como dissemos, de Mateus; e de Lucas, mas não consta de João e de Marcos (também sinótico) sendo isso deveras estranhável porque fato de tamanha importância ou significação espiritual certamente que não ficaria esquecido deles, com a agravante de que Lucas não foi contemporâneo dos acontecimentos, pois viveu vários anos após a morte de Jesus e escreveu, mais que tudo, pelo que ouviu dizer por terceiros.
É verdade que a seu tempo ainda viviam Tiago em Jerusalém e João em Éfeso, ótimos informantes, mas deles não recebia coisa diferente daquilo que eles mesmos informaram a outros, verbalmente ou por escrito, isto é, nenhuma referência ao nascimento sobrenatural.
Por outro lado, o erudito padre Jerônimo (Padre e doutor da Igreja Latina (347 a 419 ou 420 d.C), encarregado pelo papa Damaso l, em fíns do século IV, de selecionar e codificar os Evangelhos existentes na época, adotados por várias correntes sectárias diferentes e divergentes, em número de 44, ao proceder ao seu importante trabalho, teria todo empenho em prestigiar a versão de Jesus-Deus, membro da Trindade Católica Romana, dando ainda maior ênfase à versão sobrenatural o que, aliás, não fez.
Se, além de Mateus e de Lucas, outros documentos houvessem, provindos de apóstolos ou discípulos, com referência a esse nascimento sobrenatural, é evidente que tais informações seriam mantidas na codificação denominada Vulgata Latina, que até hoje faz fé em toda a cristandade, mas tal não aconteceu.
Como o nosso objetivo não é discutir o assunto, citaremos unicamente o que disse João 4:3, em sua Primeira Epístola Universal: "todo Espírito que não confessa que Jesus Cristo veio na carne, não é de Deus". Isto parece concludente.
Nas demais epístolas de Pedro e Judas, da mesma forma, nada encontramos que confirme o nascimento sobrenatural.
Pode-se, pois, concluir ou, pelo menos, aceitar o nascimento natural, na concordância tácita dos cinco apóstolos: Pedro, João, Tiago, Judas e Marcos.
O CORPO DE JESUS
À primeira vista pode parecer que, aceita esta versão do nascimento natural, qualquer outra consideração seria ociosa mas, em respeito às argumentações dos que crêem em contrário (e são muitos), examinaremos também este assunto e os fatores que intervem na sua conceituação.
Sempre se julga desinteressante debater temas desta espécie, não só por faltarem elementos sérios de comprovação, caso em que os argumentos não sairiam do campo das opiniões pessoais, de valor sempre muito relativo, como, também, porque a versão adotada pelos contestadores em nada modificaria os fatos, tanto na sua origem, como na sua natureza e conseqüências.
A controvérsia, assim como outras muitas existentes, vem de longe, desde os tempos do cristianismo primitivo, tendo tido, mesmo, um ponto alto no reinado do imperador Juliano cognominado "O Apóstata"-- quando proliferavam seitas divergentes.
Juliano - chefe do império romano do Oriente, educado na religião católica romana e dela tendo abjurado convocou, no ano de 364, em Constantinopla, sede do império, os representantes de todas essas seitas divergentes cristãs; mandou fechá-los em um grande recinto e deulhes prazo de alguns dias para acertarem suas divergências doutrinárias, que causavam agitação e tumulto entre o povo.
Ao fim do prazo marcado, compareceu ao recinto para ouvir as conclusões finais, verificando, porém, que não houvera entendimento algum entre os disputantes, dentre os quais os mais intransigentes eram os docetistas, surgidos no século II, que não reconheciam Jesus segundo a carne e afirmavam que Ele possuíra somente um corpo aparente.
Essa opinião foi defendida também por Marcion, Atanásio, o Grande, São João Crisóstomo, Clemente de Alexandria e outros luminares entre os antigos padres cristãos.
O próprio Paulo de Tarso, em sua Epístola aos Romanos 8:3, diz: "que Deus enviou Seu Filho em semelhança de carne". Paulo era dotado de muita cultura e viveu ainda perto do tempo de Jesus e teria elementos para afirmar essa verdade.
Essa controvérsia permaneceu em toda a Idade Média. Atingiu os dias da codificação da Doutrina dos Espíritos, com Roustaing, e permaneceu até hoje entre escritores e pregadores espíritas encarnados e desencarnados que, na ausência de documentação probante, limitam-se, como dissemos atrás, a formular suas próprias e mais ou menos respeitáveis opiniões pessoais.
Por isso limitamo-nos unicamente a abordar o assunto, como numa simples troca de idéias e simples cooperação, perguntando:
P -- Existe nos Evangelhos alguma coisa que prove ter sido fluídico o corpo físico de Jesus?
R -- Não. O que existe são alguns fatos ou palavras que poderão alimentar tal suposição.
P -- Existe alguma prova de que Seu corpo físico era de carne, igual ao ele outras pessoas comuns?
R - Sim, em termos, existe. Se não o fosse eomo poderia Ele ter carregado nas costas, por vias urbanas estreitas e mal calçadas. irregulares e íngremes, a pesada cruz de madeira, sob cujo peso caiu várias vezes? Só se fosse por efeitos fenomênicos, o que seria uma incrível simulação da verdade.
Nasceu, cresceu, viveu junto a Seus Pais e parentes; conviveu com inúmeras pessoas; enfrentou multidões; sofreu a carga vibratória, incrivelmente pesada, de milhares de necessitados e doentes; alimentou-se muitas vezes em companhia de seus discípulos e seguidores; foi pregado na cruz e ali desencarnou à vista de muitos.
P - Mas como, sendo de carne comum, poderia desmaterializar-se, como fez várias vezes e de forma tão natural e perfeita, como consta dos Evangelhos?
R - Porque tinha um corpo de carne, sem dúvida, porém de consistência diferente, de densidade muito menor, de matéria mais pura, de vibração muito mais alta, adequada a conter um Espírito de Sua elevada hierarquia; corpo, a seu turno, gerado por um vaso físico devidamente preparado e selecionado anteriormente ao nascimento, de vibração e pureza que comportasse Sua permanência em nosso plano grosseiro e impuro.
Desta forma as desmaterializações e outros fenômenos narrados pelos evangelistas se tornariam explicáveis em todos os sentidos. E mesmo que assim não fosse, Jesus, pela sua alta posição de Governador Espiritual do nosso planeta, possuía poderes para agir em todas as circunstâncias julgadas justas.
P - Mas como pôde Ele conviver com seus discípulos, durante 40 dias, após Sua morte na cruz?
R - Porque depois da morte, agora sim, estava utilizando um corpo fluídico, numa densidade que permitiu manifestar-se de forma objetiva e tangível no nosso plano.
Concluindo podemos, pois, dizer que Jesus possuía um corpo físico especial de carne, perfeito, delicado e puro, de vibração superior ao comum dos homens, enquanto viveu encarnado; e manifestou-se em corpo fluídico, suficientemente condensado, após a crucificação e morte física.
SEGUE
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