segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

DA INFLUÊNCIA DO BEM

DA INFLUÊNCIA DO BEM

O Poder do Bem
 
          Armando Pires efetuava os últimos arranjos no carro, para conduzir seu amigo Jorge Bretas à estância de repouso que distava quarenta quilômetros.
          Nesse justo momento, o diálogo entre eles, em torno da lei de causa e efeito, se detinha em curioso ápice.
           Mas você não acredita mesmo que a justiça possa ser modificada pela misericórdia?
           Não.
           Acaso não admite que o destino, assim como é reparável a toda hora, é suscetível de ser renovado todos os dias?
           Não.
           Não crê que as ações do amor desfazem as cadeias do ódio?
           Não.
           Você não aceita a possibilidade de transformar os problemas de alguém que chora, dando a esse alguém uma parcela de alegria ou de esperança?
           Não.
           Não reconhece você que se um irmão em prova é intimado pelas leis do Universo ao sofrimento, para ressarcir as faltas que haja cometido em outras existências, nós, igualmente, somos levados a conhecer-lhe a dor, pelas mesmas Leis Divinas, de maneira a prestar-lhe o auxílio possível, em resgate das nossas?
           Não.
           Não tem você por certo o princípio de que o bem dissolve o mal, assim como o reequilíbrio extingue a perturbação? Não concorda que um ato nobre redundará sempre na justiça, em favor de quem o pratica?
           Não.
           Por quê?
           Porque a justiça deve ser a justiça e cada qual de nós pagará pelos próprios erros.
           Céus! Mas você não aceita a ideia de que migalhas de amor são capazes de funcionar em lugar da dor, ante os Foros Celestes, assim como as pequenas prestações, na base da equidade e da diligência, podem evitar que uma dívida venha a ser cobrada pela força de um tribunal?
           Não.
          Em seguida, os dois se aboletaram no automóvel e o carro chispou.
          Tarde chuvosa, cinzenta...
          Alguns quilômetros, para além da arrancada, um buraco no asfalto, sobre alta rampa, e forte sacudidela agitou os viajores.
          Bretas lembrou assustado:
           Lance perigoso! Convém parar... Tapemos o buraco ou coloquemos aqui algum sinal de alarme, pelo menos alguns ramos de arvoredo que advirtam quem passe...
           Nada disso! - protestou Armando, decidido - a obrigação é da turma de conserva... Os outros motoristas que se danem. Não somos empregados de ninguém.
          Atingido o local de destino, Bretas recolheu-se ao hotel, agradecendo o obséquio, e Armando regressou pelo mesmo caminho.
          Entretanto, justamente no ponto da rodovia onde o amigo desejara auxiliar outros motoristas com socorro oportuno, Pires, em grande velocidade, dentro da noite, encontrou a cova profundamente alargada pelo aguaceiro e o carro capotou, de modo espetacular, projetando-se barranco abaixo...
          Depois do acidente, em companhia de alguns amigos, fui visitá-lo num hospital de emergência... Achamo-lo de rosto enfaixado, sob a atenciosa assistência de abnegado ortopedista, que lhe engessava a perna esquerda em frangalhos.
          Pires não falava, mas pensava. E pensava exatamente nos delicados meandros da lei de causa e efeito, chegando à conclusão de que o mal não precisa ser resgatado pelo mal, onde o bem chega antes...
 
Irmão X/Francisco Cândido Xavier

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