Programa 1 # Tomo I # Modulo II # Roteiro 7 # Maria Mae De Jesus..5
MARIA MAE DE JESUS
4) O anjo Gabriel aparece a Maria
Lucas 1:26/40
Esta passagem é bem conhecida de todos nós, mas por vezes não sabemos as suas implicações no contexto histórico e cultural em que Maria viveu. A mulher israelita era fortemente discriminada pala Lei de Moisés. Não podia herdar as terras do seu marido em caso deste falecer, e no Templo de Jerusalém, não podia ir além do Pátio das Mulheres. Não sabemos qual a preparação teológica de Maria, mas ainda hoje, nalgumas Sinagogas judaicas, a preparação dada aos meninos é diferente da que está disponível às suas irmãs.
Segundo nos informa Joaquim Jeremias, as mulheres das principais famílias de Jerusalém, no tempo de Jesus, muito raramente saíam de casa de seus pais. Só depois de casadas é que tinham autorização para sair à rua e mesmo assim, vinham com a cara tapada e tentavam passar despercebidas. No entanto, a mulher dos meios rurais, por necessidade de ajudar os seus familiares nos trabalhos agrícolas, tinha muito mais liberdade para sair de casa.
A intenção deste estudo é investigar a verdadeira Maria das origens, pelo que temos de mencionar alguns aspectos da vida das mulheres nesse contexto histórico e cultural em que o domínio romano impusera a liberdade de religião, acabando com o monopólio do judaísmo. Mas ainda predominava a religião judaica e o Templo de Jerusalém continuava como o principal centro religioso, político e econômico.
Maria era uma jovem como muitas outras em Israel, trabalhadora e obediente aos seus pais. Estava noiva ou casada (já falamos nisso), com um carpinteiro, que era profissão prestigiada, acima do nível médio do povo de Israel. Tudo indicava que seria um bom casamento.
Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo. (vr.28)
A primeira reação de Maria, quando o anjo Gabriel lha pareceu, foi certamente de espanto e algum receio, que foi notado pelo anjo que lhe disse:... Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. (vr.30)
Certamente que Maria já tinha ouvido, na Sinagoga da Nazaré, muitas descrições de aparecimentos de anjos, mas isso já não acontecia há muitos séculos, e mesmo antigamente, os anjos apareciam aos profetas, aos patriarcas, aos reis de Israel e muito raramente a uma mulher.
O pior deve ter sido o que vem nos versículos seguintes. Conceber um filho por meios sobrenaturais, que seria o próprio Filho de Deus.
Nós temos a reação de meditar no assunto sob o ponto de vista da teologia, mas o pensamento inicial de Maria, foi certamente bem diferente, mais humano, pois ela viveu essa realidade.
Maria conhecia as Escrituras do seu tempo, o Velho Testamento. Certamente que deve ter pensado o que seria dela, se seu marido ou seus pais, quando a vissem grávida, não acreditassem no aparecimento do anjo Gabriel. Realmente, esta seria a hipótese mais provável.
Qual seria a nossa reação, se alguma jovem das nossas igrejas aparecesse grávida dizendo que um anjo lhe dissera que era Jesus que voltava por seu intermédio?!
Temos de tentar compreender a verdadeira Maria, no seu contexto cultural veterotestamentário. Convido a ler o que dizia o Velho Testamento em Deuteronômio 22:22/29. Assim, atendendo ao estado civil de Maria, que era considerada como casada, a pena de morte seria o seu destino mais provável.
5) Viagem ao encontro de Zacarias e Isabel
Segundo Lucas 1:39/45 Maria, que estava em Nazaré, foi até uma cidade na região montanhosa de Judá. Não se sabe que cidade era essa, embora muitos estudiosos indiquem Ain Karim como a cidade mais provável, a 6 quilômetros a ocidente de Jerusalém.
Muitas vezes esta informação nos passa despercebida, ou pensamos que a casa de Isabel seria nas proximidades da sua, pelo que convido os leitores a olhar para o mapa de Israel. Isto é uma viagem de mais de 80 quilômetros em linha reta. Mas não era possível uma viagem em linha reta, não só devido ao acidentado do terreno, como pela necessidade de atravessar a Samaria. Geralmente os samaritanos atacavam os que passavam pelo seu território, principalmente quem fosse para Jerusalém.
Assim, pelo que vemos a partir do versículo 39, Maria seria no gênero de mulher dos meios rurais, inteligente e com muita iniciativa. É impensável que fizesse sozinha essa perigosa viagem à casa da sua familiar Isabel. Certamente que se integrou nalgum grupo de peregrinos a caminho de Jerusalém até atingir a tal região montanhosa onde vivia Isabel, numa época em que até para os homens era perigoso viajar sem ser integrado num grupo que se pudesse defender dos assaltantes. Geralmente caminhavam para nascente para depois seguir para sul, ao longo das margens do Rio Jordão. Assim os 80 quilômetros em linha reta ficariam em cerca de 120 a 150 quilômetros. Era mais ou menos a distância da Marinha Grande a Lisboa, só que em vez da hora e meia que demoramos pela auto-estrada, ou quase duas horas de autocarro expresso (ônibus), eles deveriam demorar alguns dias numa perigosa e cansativa viagem, alguns a pé, e outros montados em animais.
Só este pormenor, já nos mostra a grande iniciativa, coragem e resistência de Maria, certamente jovem habituada aos violentos trabalhos do campo que dificilmente posso identificar com a figura delicada de muitas imagens do catolicismo, fruto da piedade dos artistas.
Lucas não nos diz qual o motivo de Maria efetuar apressadamente esta longa e cansativa viagem a casa da sua parente Isabel. Será que Isabel, sendo mais velha, era a confidente ou conselheira de Maria? Certamente que, depois do aparecimento do anjo Gabriel, Maria sentia necessidade de contar a alguém de sua inteira confiança. Será que procurou em Isabel, o apoio que não encontrou em seus pais e temia não encontrar em seu marido? É muito natural que alguns dias depois, Maria ficasse com dúvidas sobre essa aparição tão estranha do anjo Gabriel. Será que sonhou? Ou foi mesmo realidade? Seria necessário confirmar essa visão. Talvez Maria tenha pedido ajuda ao Senhor para lhe confirmar essa visão.
É bem conhecido o encontro de Maria com Isabel e a revelação do Senhor a Isabel, segundo parece por esta descrição, antes mesmo de Maria contar que um anjo lhe tinha aparecido. Era a confirmação da aparição do anjo Gabriel, de que Maria tanto necessitava.
É depois de ouvir as palavras de Isabel que Maria pronuncia o que ficou registrado em Lucas 1:46/56, palavras que a tradição designa por Magnificat.
6) Reação de José quando soube que Maria estava grávida
Mateus 1:18/25
Afinal, parece que os receios de Maria se confirmaram.
José tencionava casar com Maria, certamente para levar a vida sexual normal de todos os que se casam e nada nos indica que não fosse essa a intenção da própria Maria depois de cumprir a sua promessa de gerar o seu primogênito Jesus, sendo a porta de entrada do Cristo, do próprio Filho de Deus no nosso mundo. Essa atitude estava em perfeita sintonia com o contexto veterotestamentário, em que a mulher era tanto mais respeitada quanto mais filhos tivesse, principalmente se fossem meninos. Temos muitos exemplos bíblicos de mulheres que se sentiam infelizes por serem estéreis, nomeadamente a própria Isabel, familiar de Maria.
Perante a Lei veterotestamentária, José tinha o direito de reaver o que tivesse pago ao pai de Maria, e esta seria levada aos Juízes da porta da cidade de Nazaré, que lhe aplicariam o que está estabelecido em Deuteronômio 22:23/24. Era portanto a pena de morte por lapidação para Maria.
Penso que Mateus, ao escrever o seu evangelho, foi muito moderado ao limitar-se a dizer que José ...como era justo..., não quis levantar escândalo e tencionava simplesmente abandonar Maria e esquecer o problema. Para os primeiros leitores do evangelho de Mateus, bem integrados na cultura judaica, não era necessário dizer mais nada, pois todos sabiam perfeitamente da gravidade do suposto adultério nessa cultura. Mas na nossa cultura, vinte séculos mais tarde, já nem todos conhecem estes pormenores.
Assim, foi necessária a intervenção dum anjo que falou a José, pois certamente que só o testemunho da própria Maria não seria aceite.
José aceitou o testemunho do anjo. Penso que pouco se tem falado de José, nas igrejas evangélicas e mesmo entre os católicos, que tanto falam de Maria, pouco se fala de José. Mas, se Maria foi escolhida, José também foi escolhido por Deus, pois a sua reação não é a dum homem vulgar se atendermos ao contexto cultural em que eles viviam.
EDGARD ARMOD
VIVÊNCIA ESPÍRITA
EDGARD ARMOD
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