segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Entre a Terra e o Céu_37_Reajuste

"Quando os amigos se afastaram, Clarêncio cercou Zulmira de cuidados especiais, aplicando-lhe passes de reconforto.
A injeção de sangue renovador lhe fizera grande bem.
Pouco a pouco, acomodaram-se-lhe os centros de força.
Desde a desencarnação do filhinho, a pobre criatura não desfrutava tão acentuado repouso quanto naquela hora.
Nosso instrutor recomendou a Odila preparasse o pequeno Júlio para o reencontro com a mãezinha.
Zulmira vê-lo-ia, buscando energias novas.
E, enquanto nossa irmã se distanciava para o desempenho da missão que lhe fora cometida, o orientador falou otimista:
_ Um sonho reconfortante é uma benção de saúde e alegria para os nossos irmãos encarnados.
Íamos responder, mas a doente, à semelhança das pessoas na hipnose profunda, levantou-se em Espírito, contemplando-nos, surpresa.
O olhar dela, admiravelmente lúcido, falava-nos de sua ansiedade maternal.
Clarêncio afagou-a, como se o fizesse à uma filha, rogando-lhe calma e fé.
Desdobrava-se a preleção carinhosa, quando partimos.
Amparada em nossos braços, Zulmira volitou sem perceber.
Observei que o espetáculo magnificente da natureza não lhe feria a atenção. Introvertida, apenas a imagem da criancinha morta lhe ocupava a tela mental.
O Lar da Benção mostrava-se maravilhoso.
Flores de rara beleza coloriam a estrada e embalsamavam-na de suave perfume.
Aqui e ali, doces melodias vibravam no ar.
A glória fulgurante do céu induzia-nos à oração de reverência e louvor ao Pai Celestial, mas a pobre mulher que seguia conosco parecia insensível à excelsitude do ambiente, à face da tortura interior de que se via possuída, obrigando-me a reconhecer, mais uma vez, que o paraíso da alma, em verdade, reside onde se lhe situa o amor.
Reparei que para a devoção afetuosa de Zulmira não importava o rumo. Qualquer indagação, perante aquela ternura atormentada, resultaria inútil.
Creio que, se, ao invés da refulgente luz do Lar da Benção, apenas víssemos trevas, para aquele espírito agoniado de mãe o quadro seria de verdadeiro paraíso, desde que pudesse reter nos braços o filhinho inesquecível.
Quem poderá definir com exatidão os indevassáveis segredos que Deus colocou nos corações que amam?
Quando penetramos o berçário, onde o menino repousava, sob a abnegada vigilância de Odila e Blandina, a sofredora mãezinha tentou arrojar-se sobre a criança sonolenta, sendo delicadamente advertida por nosso orientador, que a sustentou, paternal, asseverando:
_Zulmira, não perturbes o pequenino se o amas.
_É meu filho! - bradou, semi-desvairada.
_Não ignoramos que Júlio se asilou na Terra em teu regaço e, por isso, fomos teus companheiros na presente viagem para que amenizes a tua dor. Entretanto, não admitas que o egoísmo te ensombre a alma!...Certamente, o carinho materno é um tesouro inapreciável, contudo, não devemos olvidar que todos somos filhos de Deus, nosso Eterno Pai! Acalma-te! Pede ao Senhor os recursos necessários para que o teu devotamento seja um auxílio positivo ao pequenino necessitado!...
Tocada por essas palavras, Zulmira desfez-se em pranto.
[...]
De espírito assim transformado, via em Odila não mais a rival, mas a benfeitora que, sem dúvida, lhe seguira de perto a transfiguração.
Enlaçou-se a ela, em pranto silencioso, qual se lhe fora filha a ocultar-se nos braços maternais.
[...]
Há momentos na vida em que somos castigados pela fome de fé e Antonina era uma fonte irradiante de otimismo e firmeza moral.
Evelina e Lisbela retiraram-se para o interior da casa, atentas à limpeza doméstica e as duas amigas passaram a mais íntimo entendimento.
A colaboração de Antonina fora realmente providencial, porque, ao deixarmos o domicílio do ferroviário, reparamos que Zulmira, de alma restaurada, ao toque de novas esperanças, mostrva no rosto a tranquilidade segura de abençoada convalescença."

Questões para estudo e diálogo virtual

1 - No presente capítulo, podemos perceber o desequilíbrio de Zulmira com relação à desencarnação de seu filho.
a) Que consequências esse desequilíbrio, manifesto em forma de apego exagerado, desespero, ou outras manifestações pode ter para o desencarnado?
b) E para o encarnado que assim se posiciona?

2 - Vemos também o remorso que Zulmira trazia dentro de si com relação à Odila.
a) Quais as consequências do remorso?
b) Como nos livrarmos desse sentimento?

3 - O presente capítulo ainda nos apresenta a necessidade e a beleza do reajustamento.
a) Porque temos a necessidade de nos reajustarmos com aqueles que consideramos inimigos?
b) Qual a maneira mais segura de realizarmos esse reajustamento?

4 - "Há momentos na vida em que somos castigados pela fome de fé...".
a) Como interpretar a frase acima exposta?
b) O que é realmente a fé?
c) Como fazer para ampliarmos ou adquirirmos fé? Existem recursos auxiliares para isso?

Conclusão:

1 - No presente capítulo, podemos perceber o desequilíbrio de Zulmira com relação à desencarnação de seu filho.

a) Que conseqüências esse desequilíbrio, manifesto em forma de apego exagerado, desespero ou outras manifestações pode ter para o desencarnado?
O nosso pensamento e a nossa vontade têm um grande poder de ação, que alcança muito além das esferas do mundo material. Do mesmo modo que a prece que fazemos chega ao desencarnado como um refrigério, fazendo-o experimentar um alívio ante eventuais sofrimentos, o nosso desequilíbrio, expresso em forma de apego excessivo ou de desespero também chega ao mundo espiritual e vai atingir aquele em quem pensamos. Essas vibrações negativas podem causar ao desencarnado, se este ainda não estiver em situação de equilíbrio, como era o caso do filho de Zulmira, um maior desequilíbrio, agravando-lhe o sofrimento.

b) E para o encarnado que assim se posiciona?
O encarnado que age dessa forma tem agravada a dor pela separação temporária do ente querido, desequilibrando-se, espiritualmente, também. A Doutrina Espírita nos dá a real compreensão do significado dessa separação, demonstrando o seu caráter temporário e nos possibilitando uma consolação fundada na certeza da vida futura.

2 - Vemos também o remorso que Zulmira trazia dentro de si com relação à Odila.

a) Quais as conseqüências do remorso?
O remorso é um estágio intermediário entre o reconhecimento da culpa e o arrependimento, onde o desejo de reparação não se encontra ainda consolidado. A conseqüência do remorso para o espírito é negativa, pois o leva à paralisação. O espírito fica preso ao erro por um sentimento de culpa que o impede de perceber o caminho para a  retomada  evolutiva.
Não se encontrando, não vê perspectiva alguma e se mantém num padrão vibratório de baixa elevação. Essa situação, geralmente, leva-o à enfermidade, inicialmente psíquica, somatizando depois em seu corpo físico, como estamos vendo ter acontecido com Zulmira.

b) Como nos livrarmos desse sentimento?
Evoluindo para o arrependimento eficaz, conforme ensinam os Espíritos nas questões 990 e seguintes do Livro dos Espíritos. O arrependimento é o passo decisivo que permite ao espírito retomar sua evolução. A partir do momento em que sua consciência o condena e lhe mostra o erro, se o espírito se arrepende e começa  o  processo  de  reparação, retoma o seu progresso. É o reconhecimento da culpa e traz consigo um desejo de reparação, de mudança  de  rumos.
Para nos livrarmos dos males que o sentimento de remorso pode nos causar, portanto, é necessário que reconheçamos a culpa, nos arrependamos e reparemos o erro. Não importa o momento, que, no entanto, dever ser o mais breve possível. Pode ser, inclusive, no plano espiritual, como vimos acontece com Odila, que, desencarnada, arrependeu-se da prática obsessiva sobre Zulmira e iniciou a reparação do erro, auxiliando-a em sua recuperação.

3 - O presente capítulo ainda nos apresenta a necessidade e a beleza do reajustamento.

a) Por que temos a necessidade de nos reajustarmos com aqueles que consideramos inimigos?
Porque, com essa prática, rompemos os laços fluídicos que nos prende, ocasionando uma contínua troca de energias negativas. Hoje, a Ciência já comprova o que o Espiritismo constatou há muito tempo: que o estado psíquico, ocasionado por circunstâncias emocionais como essas geram um desequilíbrio espiritual que pode se tornar no fato gerador de um número grande de doenças, psíquicas ou físicas.
Jesus deixou bem clara a importância de nos reajustarmos com nossos eventuais desafetos nesta passagem constante no Evangelho de Mateus, aqui já citada em outros estudos.
"Se vieres ao altar fazer a tua oferta e aí te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta e vai conciliar-te primeiro com teu irmão. Depois, então, vem e faze a tua oferta. Reconcilia-te depressa com o teu adversário enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça e sejas lançado na prisão.
Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil."

b) Qual a maneira mais segura de realizarmos esse reajustamento?
A maneira mais segura, senão a única, é a prática do perdão. Quando somos  o  ofendido,  perdoando  o  ofensor, compreendendo que é um irmão de caminhada que está passando pelo mesmo processo evolutivo que nós e, assim, sujeito aos mesmos erros e acertos. Quando somos os ofensores, buscando o perdão daquele que prejudicamos.
Perdoando ou rogando o perdão, estaremos fazendo a nossa parte para que a situação de desafeição seja levada para o mundo espiritual.
O perdão liberta e não nos deixa tornar escravos do desejo de vingança e do  ressentimento,  sentimentos  que  nos envenenam, pelos fluidos deletérios que liberam. O Espiritismo nos ensina que o perdão é um ato que somente traz benefícios a quem o pratica. Aquele que perdoa ou que roga o perdão libera-se de um vínculo prejudicial e de toda  a sua energia negativa.

4 - "Há momentos na vida em que somos castigados pela fome de fé...".

a) Como interpretar a frase acima exposta?
Somos seres lucigênitos, como diz Joanna de Ângelis e, como tal, centelhas divinas. Todos trazemos Deus dentro de nós, tenhamos ou não consciência desse fato. A fé, portanto, é um sentimento que existe, ainda que em estado latente dentro de todos. Muitas vezes, as vicissitudes da vida material podem nos levar a momentos de descrença, em que a fé nos falta. No entanto, como necessitamos dela como do ar que respiramos, sentimos, mesmo  inconscientemente, a sua falta, circunstância que André Luiz denominou, figurativamente, de "fome de fé". E por isso somos castigados.

b) O que é realmente a fé?
A fé é um sentimento poderoso, dotado de ação magnética que atua sobre o fluido cósmico universal, modificando-o e impulsionando-o, conforme a vontade e a força em que se manifesta. Aquele que a tem com sinceridade pode, pela sua força, modificar situações adversas, tidas pelos antigos como prodígios, como, por exemplo, a cura de doenças. Jesus, em mais de uma passagem evangélica, ensinou a importância da fé, quando afirmou aos que obtinham a cura: "Tua fé te curou".

c) Como fazer para ampliarmos ou adquirirmos fé? Existem recursos auxiliares para isso?
Allan Kardec nos ensina que só é inabalável a fé que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade. Portanto, para adquirirmos a verdadeira fé é preciso que nos instruamos, que  conheçamos  a  verdade.

Somente a fé que se assenta nestes princípios é racional e nada tem a temer quanto ao futuro. A fé aceita cegamente, sem distinção entre o falso e o verdadeiro, além de levar ao fanatismo religioso, cedo ou tarde, desmorona, trazendo a desilusão e a descrença. O recurso maior para fortalecer a nossa fé é a prece sincera, a rogação sem proselitismos, a prece que vem do coração.

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