O Evangelho Segundo o Espiritismo
7/10/2014
“Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos,
fazei bem ao que vos tem ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para
serdes filhos de vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre
bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos.
Porque se vós não amais senão os que
vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos o mesmo? E se
vós saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem
também assim os gentios? Sede vós, pois, perfeitos, como também vosso Pai
celestial é perfeito.” (Mateus, V : 44 a 48)
Nessas frases, Jesus conclama os
cristãos, os homens que aceitam a sobrevivência do Espírito, e os que buscam
viver segundo os valores espirituais, a agirem coerentemente com esses
princípios. Ele se dirigia aos seus discípulos presentes e futuros, mas também
a todos que, mesmo sem aceitá-lo como o enviado de Deus para guiar a evolução
da humanidade procuram viver sem fazer mal aos outros, esforçando-se no bem.
Fácil é amar quem nos ama, conviver
com quem comunga os mesmos interesses, com quem pensa e vive mais ou menos como
nós. “Amor com amor se paga” já diziam os antigos.
Todavia, Jesus vai além. Manda que
amemos os nossos inimigos, nossos adversários, os que nos odeiam e caluniam
para sermos filhos de Deus.
Mas, não somos todos filhos de Deus?
Sim, todos nós o somos, mas não agimos como filhos de Deus, que “faz nascer o
seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos”, dando a todos
os seus filhos, a mesma origem, o mesmo potencial intelectual e moral, as
mesmas oportunidades de desenvolvimento, a mesma destinação.
Jesus, que é o modelo de perfeição
para a humanidade, demonstrou por suas palavras e por seu viver, em toda a sua
vida, como deve agir um filho de um Pai perfeito.
Deus é a perfeição absoluta e
infinita, não faz distinção entre os seus filhos. Criou-os a todos simples e
ignorantes, deu-lhes a responsabilidade de realizarem seu desenvolvimento, a
fim de tornarem-se perfeitos, como Ele o é.
Isso não significa que os homens
possam, um dia, tornarem-se também tão perfeitos como Ele. A razão nos diz que
isso seria impossível.
Nessa frase, pois, quis Jesus demonstrar
que todos os homens podem aperfeiçoar-se , nas possibilidades do seu imenso
potencial, apresentando Deus como A Perfeição Absoluta. Se assim não fora, ele
não teria dito: “Sede perfeitos” e não teria vindo como modelo a ser seguido.
Se ainda hoje, muitos e muitos homens
não aceitam essa característica evolutiva para o ser espiritual, podemos
imaginar como foi difícil para Jesus tocar nesse assunto, naquela época, donde
a necessidade de expressar-se da forma que melhor fixasse seus ensinos, como sempre
o fez.
A finalidade da evolução espiritual é,
como foi escrito acima, desenvolver todo o potencial divino existente em cada
ser, tornando-se de um ser simples e ignorante, um ser sábio e bom, perfeito e
feliz.
Para isso, tem o Espírito de desenvolver-se
em inteligência e em moralidade. A primeira dando-lhe a capacidade de
descobrir, de raciocinar, de conhecer, de aprender, de criar, e a segunda, no
desenvolvimento das qualificações morais, levando esse ser à sensibilidade para
o bom, para o belo, direcionando as qualificações intelectuais no seu viver,
tornando-se um ser moral, isto é, aquele que só faz o bem, não causando
sofrimentos a si e a outros.
Para isso, tem o livre-arbítrio para
fazer as suas escolhas, com a consequente responsabilidade dos efeitos das
mesmas, reencarna em mundos materiais, tantas vezes quantas forem necessárias
para esse desenvolvimento, até atingir a perfeição relativa às suas capacidades
e possibilidades, tornando-se, então, sábio, bom e feliz.
Então, não basta desenvolver-se
intelectualmente. Necessário também, o desenvolvimento moral.
Ambos evidenciando aos homens a sua
imperfeição, a sua responsabilidade no progresso material e espiritual dessa
humanidade, a começar do progresso de cada um, continuando no esforço da melhoria
em conjunto.
Assim, o espiritismo, veio esclarecer
à humanidade, mais desenvolvida intelectualmente, mais experiente, os motivos
racionais da necessidade do esforço do homem na vivência das leis morais
divinas, sem as quais, os homens jamais viverão em paz e felizes.
Em que consiste essa perfeição
possível à humanidade terrena?
Não basta amar os que nos amam, fazer
bem aos que nos fazem bem. É preciso muito mais: “Amai os vossos inimigos,
fazei bem ao que vos tem ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam.”
Afirma Kardec que, por essa frase,
Jesus mostra que a “essência da perfeição é a caridade, na sua mais ampla
acepção, porque ela implica a prática de todas as outras virtudes.”
Caridade é o amor em ação, é ver em
qualquer pessoa um filho de Deus, um irmão em processo de desenvolvimento,
sujeito a enganos, erros e omissões, mas, perfectível, enviando-lhe sempre
vibrações de harmonia e paz, e fazendo por ele o que lhe for possível.
Allan Kardec argumenta que os
resultados de todos os vícios e mesmo dos mais simples defeitos, alteram o
sentimento de caridade, porque todos nascem do egoísmo e do orgulho, que são a
sua negação. Tudo que exalta a pessoa, colocando-a em primeiro lugar, no centro
e acima dos outros, enfraquece ou impede os princípios da verdadeira caridade,
que são: a benevolência (boa vontade para com), a indulgência (disposição para
perdoar), a abnegação (renúncia e sacrifício em favor de) e o devotamento
(dedicação a).
Ser caridoso é agir, esquecendo-se de
si, na boa vontade para com todos, com paciência e atenção, dispondo-se a
desculpar e perdoar todas as faltas e erros alheios, renunciando e
sacrificando-se em favor de outros e devotando-se ao bem de outros, de forma
consciente, com prazer.
Enquanto a isso não chegarmos, seremos
homens imperfeitos, Espíritos em desenvolvimento. Por isso Kardec diz que “o
amor ao próximo, estendido até o amor dos inimigos, não podendo aliar-se com
nenhum defeito contrário à caridade, é sempre por isso mesmo, o indício de uma
superioridade moral maior ou menor.” E conclui afirmando que “o grau de
perfeição está na razão direta da extensão do amor ao próximo.”
Compreendendo esse raciocínio,
percebemos o quanto estamos distante da perfeição que podemos atingir, o quanto
precisamos estar atentos a tudo que sentimos, pensamos e agimos, para
continuarmos nossa caminhada evolutiva, que, temos de reconhecer, já avançou um
bom tanto, se pensarmos no homem primitivo e rude que já fomos.
Hoje já estamos interessados em usar
nossa inteligência no entendimento dos ensinos de Jesus, porque só
compreendendo-os com a razão e com a sensibilidade espiritual, podemos,
conscientemente, esforçarmo-nos em praticá-los, no dia-a-dia, errando cada vez
menos e acertando cada vez mais.
E Kardec termina lembrando que Jesus,
depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que ela tem de
mais sublime, lhes disse: “Sede, pois, perfeitos, como também vosso Pai
celestial é perfeito.”
Leda de Almeida Rezende Ebner
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