O Evangelho Segundo o Espiritismo
9/12/2014
Allan Kardec, após descobrir, pelas
revelações dos Espíritos e pelos seus estudos sérios, a ciência e a filosofia
espíritas, percebeu que ambas, bem compreendidas e sentidas, levavam os homens
a uma moral que era a mesma de Jesus, nascendo então, a religião espírita, sem
hierarquia, sem ritos, sem dogmas, uma religião filosófica, “que funda os elos
da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção,
mas sobre bases mais sólidas : as mesmas leis da natureza.” (*)
Por isso, neste texto ele afirma que o
verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são a mesma coisa. “O espiritismo
não cria uma nova moral, mas facilita aos homens a compreensão e a prática da
moral do Cristo, ao dar uma fé sólida e esclarecida aos que duvidam ou
vacilam.”
“O espiritismo, bem compreendido, mas
sobretudo sentido, conduz,
forçosamente,” o espírita a ser um homem de bem, com as qualificações escritas
por Kardec, no item anterior, que estudamos nos dois meses passados.
Isso não significa que todos os
espíritas sejam como ele descreveu, pois entre a teoria e a prática há uma
longa distância a ser vencida.
Muitos que aceitam a ciência espírita,
a que demonstra a realidade do mundo espiritual, suas leis, seus habitantes,
seu relacionamento com os encarnados, não percebem seu contexto moral ou não os
aplicam a si mesmo.
Allan Kardec afirma que essa situação
acontece, não por falta de precisão da doutrina, visto que ela não tem
alegorias, símbolos, que possam dar margem a interpretações diversas. Ela é
clara, objetiva, pois, dirige-se, primeiro à inteligência, para atingir os
sentimentos, as emoções, o coração.
Para entendê-la, não há necessidade de
uma grande inteligência e conhecimentos, pois, vê-se homens de notória
inteligência e capacidade não a compreenderem, e crianças, jovens e pessoas de
pouca instrução, apreenderem seus princípios com facilidade.
Conclui Kardec que os homens que
aceitam as manifestações dos Espíritos, que são a parte material da ciência, exigindo, apenas, olhos
para serem observadas, mas não compreendem as consequências intelectuais e
morais das mesmas, que são a sua parte essencial, não têm ainda o grau de
sensibilidade, que ele denominou maturidade
do senso moral. Independente da idade e do grau de instrução atual, porque é
resultante do grau de evolução alcançado pelo Espírito em desenvolvimento,
sendo uma das conquistas feitas por ele. Quem ainda não a possui, está
desenvolvendo-a no processo evolutivo no qual está inserido.
Pessoas há nas quais o apego às coisas
materiais é muito forte, impedindo a visão do infinito.” Podem aceitar as manifestações espíritas, mas
se sentem tão bem nas sensações e prazeres materiais, que não se interessam por
nada que possa alterar seu viver atual. Deixa para participar das coisas
espirituais quando estiver mais velho ou após a morte: “Assim está tão bom”,
dizem.
Alguns chegam a participar de grupos
mediúnicos, considerando-se espíritas por isso, interessados no fenômeno e não
na filosofia e na moral. Segundo Kardec, são os espíritas imperfeitos, que
param no caminho ou se afastam dos companheiros, por não quererem trabalhar na
sua transformação espiritual ou por procurarem pessoas que pensam como eles,
que têm as mesmas fraquezas ou prevenções.
Já deram, porém, o primeiro passo na
aceitação da doutrina, o que lhes facilitará o segundo, na mesma ou em nova
existência, embora estejam atrasando a sua libertação do apego ao mundo
terreno.
O verdadeiro e sincero espírita
encontra-se num grau superior de adiantamento moral, se comparado ao dos
espíritas imperfeitos; valoriza mais os bens espirituais do que os materiais,
empregando bastante do seu tempo e capacidades no desenvolvimento, em si mesmo,
desses valores; tem uma boa percepção do futuro, e sensibiliza-se com os
princípios da doutrina. “Numa palavra:
foi tocado no coração e, por isso, a sua fé é inabalável. Um é como o músico
que se comove com os acordes, o outro, apenas ouve os sons. Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para
dominar suas más inclinações.”
Como vemos, para ser considerado um
verdadeiro espírita não há necessidade de haver completado sua auto-educação,
ou haver conseguido um elevado grau de desenvolvimento espiritual. Necessário,
sim, compreender os princípios doutrinários pelo estudo perseverante, porque
quanto mais os estuda, mais se aprofunda nesse entendimento, encontrando mais
facilidade na sua aplicação no dia-a-dia.
O espírita sincero esforça-se para
encurtar a distância entre a teoria e a prática, errando e corrigindo-se,
escorregando nas suas imperfeições, mas levantando cada vez mais depressa,
perseverando, assim, no caminho do aperfeiçoamento.
* Kardec, Allan : Revista Espírita,
dezembro de 1868, ed. Edicel 1966, pag.357, 2º §
Leda de Almeida Rezende Ebner
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