quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Entre a Terra e o Céu_25_Reconciliação

Amaro não registrou o convite da companheira desencarnada, em forma de palavras ouvidas, mas recebeu-o, como silencioso apelo à vida mental.
Dirigiu-se a pequenina copa, pensando em Zulmira, com insopitável desejo de comunicar-lhe o estranho contentamento de que se via possuído.
Não seria justo envolver a esposa doente na onda de alegria em que se banhava?
Vimos que Odila tremeu um instante, ao lhe observar a súbita felicidade com a perspectiva de restauração do carinho para com a segunda mulher. Compreendi o esforço que a iniciativa lhe reclamava ao coração feminino e, mais uma vez, reconheci que a morte do corpo não exonera o Espírito da obrigação de renovar-se. No fundo, não podia sentir, de imediato, plena isenção de ciúme, entretanto, aceitava o ideal de sublimação que se lhe implantara no sentimento e não parecia disposta a perder a oportunidade de reajuste.
(...)
- Prossigamos firmes. Todo bem que fizeres a Zulmira redundará em favor de ti mesma. Não esmoreças. Ajuda-te. A vontade, à procura do bem, realiza milagres em nós mesmos. O sacrifício é o preço da verdadeira felicidade.
(...)
Enlaçada ao marido, impeliu-o docemente ao leito em que a pobre doente repousava.
A enferma, por certo, desde muito perdera o contacto com qualquer manifestação afetiva por parte do companheiro, e, assim, ao lhe ver o semblante carinhoso e feliz, exibiu larga nota de espanto.
- Zulmira! - perguntou ele, inclinando-se para o seu rosto ossudo e desconsolado – estás realmente melhor?
- Sim... Sim... - suspirou a interpelada, hesitante.
- Escuta! Hoje, amanheci pensando em nós, em nossa felicidade... Não julgas seja tempo de reagirmos contra o sofrimento que nos cerca? Preocupo-me por ti, acamada e abatida, desde a morte de Júlio...
Notei que o tórax de Amaro emanava largo fluxo de energia radiante, assim como um jato de raios de luz verde-prateada que envolveram o busto de Zulmira, despertando-lhe emotividade incoercível.
A desventurada senhora começou a chorar, dando-nos a impressão de que os fluidos arremessados sobre ela lhe lavavam o coração.
Clarêncio, calmo, informou:
- Como vemos, a sinceridade dispõe de recursos característicos. Emite forças que não deixam margens a enganos. O sentimento puro com que Amaro se dirige agora à esposa é fator decisivo para que ela se reerga e se cure.
O ferroviário, auxiliado por Odila, enxugou as lágrimas que corriam copiosas daqueles olhos macerados e tristes e continuou:
- Peço confies em mim! Afinal de contas, somos companheiros um do outro... Como poderei ser feliz sem teu concurso? Não nos casamos para chorar...
- Amaro! - exclamou a interlocutora agoniada, conservando ainda os últimos resíduos mentais do complexo de culpa em que se torturava - como te agradeço a alegria desta hora!
Entretanto, a imagem de Júlio não me sai da lembrança... Sinto que o remorso me persegue. Não fiz tudo o que eu devia para salvar o filhinho que me confiaste!...
- Esqueçamos o passado - asseverou o esposo, decidido -, todos pertencemos a Deus e acredito que a Divina Vontade vive conosco, em toda parte.
Indiscutivelmente Júlio nos faz muita falta, mas não podemos renunciar à vida que o Céu nos concedeu. É imprescindível lutar, procurando a vitória.
(...)
- Não olvides que pertencemos aos compromissos morais que assumimos
(...)
E, enquanto o esposo acomodava-se ao lado dela, vimos Odila, de fisionomia satisfeita, dirigir-se ao quarto da filha.
(...) Ela, porém, com inefável surpresa para nós, colocou a destra sobre a fronte da menina, solicitando-lhe a presença.
Findos alguns instantes, Evelina, em Espírito, voltou ao aposento em que seu corpo repousava.
Vendo a mãezinha, correu a abraçá-la.
Fundiram-se ambas num amplexo longo e comovedor, misturando-se as lágrimas.
(...)
- Evelina, ajuda-nos! Se não nos unirmos sob a luz da compreensão e do trabalho, nossa casa desaparecerá... Teu pai e eu não podemos dispensar-te o concurso.
Da saúde e da paz de
Zulmira depende a feliz continuação de nossa tarefa... Deus não nos reúne para a indiferença ou para o egoísmo e sim para o serviço salutar de uns pelos outros!...
- Mãezinha - explicou a jovem extática -, tenho orado, tenho pedido ao seu coração nos auxilie...
- Sim, Evelina, sei que em tua abnegação não te descuidas da prece.
Jesus terá recebido teus rogos... Achava-me surda, vitimada pelo ruído destruidor da minha própria incompreensão.
Sinto, porém, que minhalma desperta hoje... e vejo que nos compete algo fazer 0para restaurar o valor de teu pai e a alegria de nossa casa...
- Continuarei orando...
- Não olvides a prece, querida, mas a súplica que não age pode ser uma flor sem perfume.
Peçamos o socorro do Senhor, algo realizando para contribuir em seu apostolado divino...
Comecemos por refundir a confiança em tua nova mãe. Faze-te melhor para ela... Procura-a, desdobra-te no trabalho da preservação da tranquilidade doméstica, a fim de que Zulmira se veja segura de teu afeto e de teu entendimento filial... Uma rosa sobre a mesa, uma vassoura diligente, uma peça de roupa cuidadosamente guardada, uma escova no lugar que lhe compete, são serviços de Jesus, no santuário da família, com os quais devemos valorizar o pensamento religioso... Não te detenhas somente nas boas intenções. Movimenta-te no trabalho encorajador da harmonia. Sê o anjo do serviço em nossa casinha singela! Zulmira necessita de uma irmã e de uma filha!... Aproveita a oportunidade e faze o melhor!...
Evelina, com indefinível contentamento a iluminar-lhe o rosto, enlaçou a mãezinha com extrema ternura e beijou-a, muitas vezes.
Logo após, passando a obedecer à mensageira, retomou o corpo carnal e acordou deslumbrada.
Tão grande se lhe afigurava a própria ventura que detinha a impressão de estar descendo da esfera celestial.
A imagem de Odila, carinhosa e bela, ocupava-lhe agora, todo o espelho da mente.
(...)
Intensamente feliz, ergueu-se de um salto e vestiu-se.
Finda a higiene rápida, vimos Odila recolhê-la nos braços, conduzindo-a igualmente a Zulmira.
Induzida pela influência materna passou pela copa e chegou junto da madrasta, oferecendo-lhe pequena bandeja com a leve refeição da manhã.
Amaro e a companheira receberam-na, encantados.
- Meu Deus - disse a doente, sorrindo -, tenho a impressão de que um anjo penetrou nossa casa. Tudo hoje amanheceu contentamento e bom ânimo!...
Evelina alcançou o leito, reuniu os dois cônjuges num só abraço e falou jubilosa:
- Sonhei com a Mãezinha! Vi-a tão nítida, como se ainda estivesse conosco. Afirmou que necessitamos de amor e recomendou seja eu para Zulmira a filha que ela não tem!... Ah! Que felicidade!... Mamãe ouviu minhas preces!
O ferroviário anotou, satisfeito, a informação, guardando, porém, consigo mesmo as recordações da noite para não ferir as suscetibilidades da companheira, e Zulmira, a seu turno, embora lembrasse os repetidos pesadelos que atravessara, sentindo-se atormentada pelos ciúmes de Odila, abafou as próprias reminiscências, para aderir com toda a alma ao otimismo daquele abençoado momento de paz e renovação.
Fixando a madrasta, com embevecimento, a menina acrescentou:
- Quero ser melhor, mais diligente e mais amiga!... Papai, você e eu seremos doravante mais felizes.
A pobre senhora suspirou reconfortada e aduziu:
- Sem dúvida alguma, Odila deve ser o nosso gênio protetor... É muita alegria nesta manhã para que a nossa ventira seja simples sonho ou mera coincidência!
Aquele testemunho de gratidão, partido com a melhor espontaneidade da mulher considerada, até então, por inimiga, tocou as recônditas fibras da primeira esposa de Amaro que, incapaz de suportar a emoção, começou a chorar entre o reconhecimento e o regozijo.
Irmã Clara abraçou-a e falou, humilde:
- Chora, minha filha! Chora de júbilo! Em verdade, quando o amor sublime penetra em nosso coração, a luz do Senhor passa a reger os passos de nossa vida.

Questões para estudo:

1. Ao analisar o trecho "Notei que o tórax de Amaro emanava largo fluxo de energia radiante, assim como um jato de raios de luz verde-prateada que envolveram o busto de Zulmira, despertando-lhe emotividade incoercível.", cabe uma questão: qual a importância do controle de nossos sentimentos, uma vez que via de regra emitimos fluídos a nosso próximo ?

2. Julio deu uma mostra de como devemos perdoar nosso próximo ao comentar o sentimento de remorso de Zulmira. De que forma então devemos perdoar ?

3. Comente os trechos em que Odila se dirige a sua filha:

a) "Não olvides a prece, querida, mas a súplica que não age pode ser uma flor sem perfume.";

b) "Uma rosa sobre a mesa, uma vassoura diligente, uma peça de roupa cuidadosamente guardada, uma escova no lugar que lhe compete, são serviços de Jesus, no santuário da família, com os quais devemos valorizar o pensamento religioso..."

4. Qual a importância da reconciliação em nossas vidas?

Conclusão:

1. - Ao analisar o trecho "Notei que o tórax de Amaro emanava largo fluxo de energia radiante, assim como um jato de raios de luz verde-prateada que envolveram o busto de Zulmira, despertando-lhe emotividade  incoercível.",  cabe  uma questão: qual a importância do controle de nossos sentimentos, uma vez que, via de regra,  emitimos  fluídos  para  o nosso próximo?
Os nossos sentimentos, assim como os pensamentos, materializam-se e ganham o espaço através do fluido cósmico universal. Assim como o som é conduzido por esse fluido, da mesma forma o sentimento que emitimos também o é.
É uma força energética, que atua sobre o nosso próximo através de seu perispírito.  Como sabemos, o perispírito é composto de matéria extraído do fluido cósmico universal e, sendo constituído de matéria da mesma natureza que este, capta tudo o que por ele é conduzido, assimila e transmite ao espírito.
Dessa forma, a nossa responsabilidade pela qualidade da energia que transmitimos ao nosso próximo é grande e gera conseqüências em nós mesmos, por força da lei de ação e reação. Daí  a  importância  de  emitirmos  sempre  bons sentimentos, para que o retorno sobre nós seja igualmente saudável.

2. - Amaro deu uma mostra de como devemos perdoar nosso próximo, ao comentar o sentimento de remorso de Zulmira.
De que forma, então, devemos perdoar?
Ao ser indagado por Pedro se, quando um irmão pecar contra nós, devemos perdoar até sete vezes, Jesus respondeu-lhe que devemos perdoar não sete vezes, mas até setenta vezes sete. A lição que podemos tirar desse ensinamento é de que o Mestre recomendou que perdoássemos sempre, irrestrita e incondicionalmente.
Quando se perdoa ou se roga o perdão, aquele que assim age se libera de um elo malévolo que o liga ao desafeto, libertando-se da influência negativa. Toda a carga magnética provocada pelos sentimentos negativos fica agindo apenas sobre o que não quis ou não soube perdoar ou ser perdoado. Agindo conforme o ensinamento do Cristo, estaremos conscientes de que nos libertamos daquele laço fluídico deletério.

3. - Comente os trechos em que Odila se dirige à sua filha:

a) "Não olvides a prece, querida, mas a súplica que não age pode ser uma flor sem perfume.";
 "Que proveito há meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura  essa  fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e  não  lhes  derdes  as  coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?
Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma." (Tiago, 2.14-17)
Como diz a passagem evangélica, a fé sem obras é morta.  É importante que tenhamos fé.  Mas tão importante quanto a fé é a prática da caridade. No trecho citado, Odila recomenda à filha que ore pela ex-obsediada, mas que também não deixe de ser benevolente para com ela, que a auxilie, material e espiritualmente. Agora com sentimentos renovados, a ex-obsessora procura intuir a filha para o desejo do trabalho em socorro de Zulmira, favorecendo a harmonia doméstica que a auxiliará em sua recuperação física.

b) "Uma rosa sobre a mesa, uma vassoura diligente, uma peça de roupa cuidadosamente guardada, uma escova no lugar que lhe compete, são serviços de Jesus, no santuário da família, com os quais devemos valorizar o pensamento religioso..."
São exemplos de gestos simples, mas que traduzem a verdadeira caridade. Aproveitando-se da emancipação espiritual de Etelvina durante o sono do corpo físico, Odila a aconselha a trabalhar pela recuperação de Zulmira, mostrando-lhe que pequenas e singelas atitudes pode se tornar importantes em momentos como aquele que vivenciavam.                                

4. - Qual a importância da reconciliação em nossas vidas?
Quando se cria uma desavença ou uma situação de discórdia para com um irmão, independentemente de quem foi o causador, um elo fluídico é formado entre os espíritos envolvidos na relação conflituosa, que os prende,  um ao outro, numa permanente troca de energias negativas.  Enquanto não se reconciliam e alimentam a animosidade, essa troca de energias negativas perdura, repercutindo em ambos.
Hoje, a Ciência já comprova que o estado emocional ocasionado por circunstâncias como essas podem gerar um número grande de doenças, não apenas psicológicas, mas, até, no organismo físico, como tumores, doenças cardíacas, etc. Isto porque  o  nosso  corpo  físico  somatiza  o  desequilíbrio  espiritual  resultante  da  instabilidade emocional provocada pela desavença.
A questão da reconciliação é tão importante que Jesus a recomendou expressamente aos seus discípulos, conforme passagem do Sermão da Montanha narrada por Mateus:
"Se estiveres ao altar fazer a tua oferta e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta e vai conciliar-te primeiro com teu irmão. Depois, então, vem e faze a tua oferta. Reconcilia-te depressa com o teu adversário enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça e sejas lançado na prisão.



Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil."

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