Entre a Terra e o Céu_26_Mãe e filho
TRECHOS DO CAPÍTULO
"A alegria plena coroara o trio doméstico.
Mostrando a expectativa de uma colegial preocupada em receber aprovação dos mentores, Odila ergueu os olhos lacrimosos para Irmã Clara, perguntando:
- Terei agido corretamente?
Lia-se-lhe no rosto a necessidade de uma frase estimulante.
A venerável amiga conchegou-a de encontro ao coração.
- Venceste valorosa - disse terna -; compreendeste o santo dever do amor. Abençoarás para sempre este maravilhoso dia de renúncia e doação de ti mesma.
"Sim - elucidou Clara, de modo significativo - perdeste peso espiritual, habilitando-te à elevação de nível. Nossas paixões inferiores imantam-nos à Terra, como o visco prende o pássaro a distância das alturas...
E, afagando-a, acentuou bondosa:
- Vamos! Deste agora o amor puro e, por isso, o amor puro não te faltará. De ora em diante, serás aqui bem-aventurada mensageira, de vez que o teu coração permanecerá em serviço dos anjos guardiões de nossos destinos, que velam por nós abnegadamente, esperando-nos na Vida Mais Alta. Cedendo o carinho de teu companheiro à outra mulher, de cuja colaboração necessita ele para redimir-se, conquistaste nele novo patrimônio de afetividade, e, aproximando a filhinha daquela a quem devemos querer como irmã, adquiriste o merecimento indispensável para recuperar o filhinho, cujo futuro poderás orientar... Hoje mesmo, estarás ao lado de teu Júlio...
"Nas vizinhanças do sítio para o qual nos dirigíamos, inalava o ar tonificante a longos haustos, deslumbrando-se na visão da Natureza saturada de perfumes e adornada de flores.
Extasiou-se na contemplação das centenas de pequeninos, que brincava festivamente. Muito pálida, de atenção presa à multidão ao infantil, na procura ansiosa do filho, achava-se mentalmente muito distanciada de nosso grupo. Por isso mesmo, deixava-se conduzir qual se fora um autômato.
"Atraída pelo grande berço que se levantava à nossa vista, Odila precipitou-se sobre o menino enfermo, bradando, alarmada:
- Meu filho! Júlio! Meu filho!...
Indubitavelmente, a Sabedoria Universal colocou imperscrutáveis segredos no carinho materno. Algo de milagroso e divino existe nos laços que unem mães filhos que, por enquanto, não podemos aprender.
A criança doente transformou-se, de súbito.
Indefinível expressão de felicidade coibiu-lhe o semblante.
- Mãe! Mãe! ... - gritou, respondendo.
E alongou os braços, agarrando-se-lhe ao busto.
Em lágrimas, Odila retirou-o instintivamente do leito, beijando-o enternecida.
"Aflige-me encontrá-lo assim - alegou a genitora preocupada, indicando o pequeno enfermo -, não posso atinar com a razão dei uma úlcera tão grande, sem o corpo de carne... não tenho bases para entender de uma só vez tudo quanto vejo, mesmo porque também eu andava louca, incapaz de raciocinar...
. . .
- Sim - ponderou o Ministro, cauteloso -, nossa irmã, como é natural, encontrará pela frente variados problemas ligados ao caminho de elevação que lhe é próprio. Achamo-nos todos infinitamente longe do Céu que fantasiávamos na Terra e cada qual de nós detém consigo deficiências que será preciso superar. O passado reflete-se no presente.
"Procurarei compreender - disse Odila mais segura de si -, sou mãe e não posso desvencilhar-me da obrigação de amparar meu filhinho. Dispensar-lhe-hei todos os cuidados imprescindíveis ao seu bem-estar. Sinto que a felicidade pode ser conquistada no mundo a que fomos trazidos pela renovação... Trabalharei quanto estiver ao meu alcance para ver Júlio integralmente refeito. Hoje, nossos ideais me banham o coração. É imperioso esforçar-me. Todos os que amamos virão ter conosco, mais cedo ou mais tarde... Esperanças diferentes me animam o espírito. Amanhã, no porvir talvez próximo, terei meus familiares aqui, de novo, e não posso olvidar a necessidade de algo fazer para conseguir o abrigo de que necessitamos...
Passeou o olhar vago e cismarento pelo recinto como se estivesse contemplando remotos horizontes e concluiu:
- Um lar... A felicidade restaurada... A bênção do reencontro...
Por largo tempo, o comentário edificante brilhou na sala, aquecendo a chama da amizade e da confiança em nossos corações.
"Porque não esclarecer Odila, com respeito ao pretérito de Júlio? Seria aconselhável deixá-la entregue a informações deficientes, quando lhe conhecíamos extensamente os enigmas da organização familiar? Por que não lhe explanar francamente o impositivo da reencarnação do menino?
. . .
- À primeira vista, seria efetivamente esse o caminho a seguir, entretanto as recordações do pretérito não devem ser totalmente despertadas, para que ansiedades inúteis não nos dilacerem o presente. A verdade para a alma é como o pão para o corpo que não pode exorbitar da quota necessária a cada dia. Toda precipitação gera desastres. Além do mais, não nos cabe a vaidade de qualquer antecipação a providências que serão agradáveis e construtivas ao amor de nossa irmã. Sentindo-se ainda plenamente integrada no carinho materno, ela própria assumirá a responsabilidade do trabalho alusivo à reencarnação do pequeno. Advogando ela mesma essa medida e destinando-se a criança ao seu antigo lar, encontrará no assunto abençoada serviço de fraternidade, ao mesmo tempo que se reconhecerá mais responsável. Se motivássemos as decisões, Odila observar-se-ia anulada em sua capacidade de agir, ao passo que, confiando a ela as deliberações que o caso reclama, adquirirá novo interesse para auxiliar Zulmira, de vez que a segunda esposa de amaro substiui-la-á na condição de mãe, oferecendo novo corpo ao filhinho...
- A vida é uma escola e cada criatura, dentro dela, deve dar a própria lição. Esperemos agora alguns dias. Interessada em socorrer o filhinho doente, a própria Odila virá até nós, lembrando para ele a felicidade da volta à Terra."
QUESTÕES PARA ESTUDO
1.- O presente capítulo aborda o tema "amor materno". Vamos estudá-lo:
a) O amor materno é uma virtude ou uma manifestação do instinto?
b) Com que objetivo Deus dotou o homem (aqui, no sentido genérico da palavra) do amor materno?
c) Os animais também são dotados do amor materno? Se positivo, qual a diferença para com o homem?
d) Vimos, no caso em estudo, o exemplo de um amor materno que sobreviveu a todos os acontecimentos que envolveram os personagens envolvidos. Porém, sabemos que nem sempre assim acontece. Há mães que odeiam os filhos. Como analisarmos essa situação, à luz do Espiritismo?
2.- Como explicar o fato de Odila não se lembrar das razões que levaram o filho Júlio ao estado em que se encontrava, apesar de ter participado dos acontecimentos que o causaram?
Conclusão:
Depois de harmonizar-se com Amaro e sua nova família, Odila, agora, vai ao encontro do filho Júlio, que se encontrava em recuperação num abrigo assistencial do plano espiritual. André Luiz relata o encontro de ambos e nos propicia algumas reflexões a cerca do amor maternal
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1.- O presente capítulo aborda o tema "amor materno". Vamos estudá-lo:
a) O amor materno é uma virtude ou uma manifestação do instinto?
Ensinam-nos os Espíritos que o amor materno tanto é uma virtude, quanto um instinto. A sua porção instintiva se manifesta nos cuidados da mãe para atender as necessidades materiais do filho, tais como prover à alimentação, higiene, proteção contra os perigos externos, etc. Por outro lado, constitui-se, também, uma virtude, pois persiste pela vida inteira, mesmo após o filho não mais necessitar daqueles cuidados. Chega, mesmo, a sobreviver à morte, subsistindo até no além-túmulo.
b) Com que objetivo Deus dotou o homem (aqui, no sentido genérico da palavra) do amor materno?
Deus dotou o ser humano do amor materno visando à conservação dos filhos. Quando chega de retorno à carne, o espírito vem com a ausência momentânea da sua auto-determinação, carente de todo o tipo de cuidado. Está, pois, maleável aos ensinamentos dos pais, flexível às orientações que objetivam livrá-lo das imperfeições trazidas de passagens pretéritas, fazendo-o um homem de bem. O amor dos pais é o fator que os motiva a darem cumprimento à sua missão. Funciona como um combustível. Estamos vendo como, graças a esse amor, Otila operou sua auto--transformação, reformando seus sentimentos, motivada pelo desejo de rever o filho que se encontrava no plano espiritual e ajudá-lo a superar o sofrimento por que passava.
c) Os animais também são dotados do amor materno? Se positivo, qual a diferença para com o homem?
Os animais, assim como os seres humanos, também são dotados do amor materno. No entanto, como ensinam os Espíritos, por terem vida material e não vida moral, esse amor é reflexo unicamente da vida material, ou seja, limita-se às necessidades materiais do ser. Quando a cria cresce, atingindo uma idade em que não mais necessita desses cuidados, cessa o amor materno. No homem, ao contrário, esse amor é mais profundo, por força de sua vida moral e subsiste para sempre, desde que sincero.
d) Vimos, no caso em estudo, o exemplo de um amor materno que sobreviveu a todos os acontecimentos que envolveram os personagens envolvidos. Porém, sabemos que nem sempre assim acontece. Há mães que odeiam os filhos. Como analisarmos essa situação, à luz do Espiritismo?
A maternidade é uma missão que a mãe assume de se esforçar por encaminhar os filhos para o bem. Na hipótese de ter ocorrido desafeição no passado, como no caso que estamos estudando, a reencarnação é o instrumento para remediar os sentimentos negativos de outrora. Para isso é que Deus dota a mãe do amor maternal, mesmo quando está recebendo um desafeto de outra encarnação, fato que não se lembrará, por força do fenômeno do esquecimento.
Quando, entretanto, no lugar deste amor, a mãe se deixa dominar pelo sentimento de ódio, esse fato pode representar uma prova para o filho ou uma expiação, por ter exercido equivocadamente a paternidade ou a maternidade em outra existência. De toda sorte, haverá, sempre, responsabilidade por parte da mãe, que não ficará impune por essa violação das leis da Natureza.
2.- Como explicar o fato de Odila não se lembrar das razões que levaram o filho Júlio ao estado em que se encontrava, apesar de ter participado dos acontecimentos que o causaram?
Quando retorna ao plano espiritual, o espírito não readquire de imediato a recordação de suas experiências passadas.
O tempo que levará para retomar essa recordação e a sua extensão vai depender do nível evolutivo do espírito. Odila, como estamos vendo, não progredira. Até pouco tempo, ainda nutria sentimento de ódio e desejo de vingança contra Zulmira, obsediando-a, a ponto de torná-la enferma. Embora despojada da matéria, ainda não se desprendera suficientemente das sensações e sentimentos que possuía enquanto encarnada, o que lhe dificultava ter um maior acesso às suas vidas passadas.
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