Desde
o reino animal, os contatos sexuais constituem um veículo importante com que o
princípio inteligente trabalha os rudimentos dos sentimentos de afeto com
vistas a atingir patamares mais elevados de manifestação
LEONARDO MARMO
MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com
De São José dos Campos,
SP
O Espírito, como princípio inteligente, a
priori, não tem um sexo definido. Isto equivale a dizer que, apesar da
potencialidade sexual ser algo inerente a todos os Espíritos, não existe,
previamente, uma diferenciação de gênero, masculino ou feminino, no princípio
inteligente. Essa característica não
é uma exclusividade para o aspecto sexual do comportamento da criatura, pois o
mesmo ocorre em todas as demais áreas de atividade do ser, uma vez que o
Espírito não possui qualquer bagagem espiritual ou cultural no início da sua
trajetória de desenvolvimento anímico. Entretanto, isso não impede que ele
adquira um comportamento altamente polarizado na área genésica como função da
sucessão das experiências encarnatórias.
O Criador dotou as manifestações de
caráter sexual de altos níveis de sensação para que a reencarnação, e com ela a
perpetuação da espécie, pudesse ser sustentada através da produção contínua de novos
corpos materiais. De fato, este mecanismo estaria associado às Leis naturais de
reprodução e conservação, em concordância com “O Livro dos Espíritos”.
Ademais, desde o reino animal, os contatos sexuais constituem um veículo importante
para a constituição dos laços familiares, onde o princípio inteligente trabalha
os rudimentos dos sentimentos de afeto, visando, ao trabalhar as sensações, atingir
sentimentos e patamares mais elevados de manifestação espiritual.
De qualquer maneira, a intensidade do
instinto sexual constitui algo extremamente marcante no comportamento da
criatura, o que levou Freud a definir o ser humano como “um animal sexual”.
Realmente, herança das sensações animais aliada à ausência de ideais superiores
torna o ser humano escravo de suas manifestações fisiológicas.
Por isso, Joanna de Ângelis divide os
seres humanos em homens fisiológicos e homens
psicológicos. Os primeiros só teriam interesses
e atitudes visando satisfazer suas necessidades sensoriais, como comer, dormir
e manter relações sexuais. Os últimos não se restringiriam a essas
manifestações e, apresentando valores mais elevados, seriam portadores de
ideais superiores, ou seja, objetivos existenciais maiores nas áreas do trabalho,
da educação, da fraternidade, da religiosidade etc. Ademais, os homens
psicológicos desenvolveriam suas atividades fisiológicas com profundo respeito
a si mesmos, ao corpo físico de que são portadores e aos irmãos envolvidos nessas
manifestações, evitando excessos que podem acarretar processos cármicos de
difícil resolução.
Prostitutas e
homossexuais são,
dentro do contexto
da tradição
judaico-cristã,
tratados de
forma pouco
fraterna
Esse grande impacto comportamental oriundo
de nossas energias, tendências e experiências sexuais responde por vários
desequilíbrios da humanidade. O ser humano
sempre oscilou entre o completo desregramento
e a abrupta castração das energias sexuais. O desregramento seria uma conseqüência
de propostas materialistas que visam à obtenção do prazer sensorial até a
exaustão como principal forma de realização humana A castração, na maioria das vezes
com origem em tradições culturais alicerçadas em religiões machistas, seria
motivada pela consciência de culpa em manifestações afetivo-sexuais que
trazemos tanto de forma consciente como de maneira inconsciente, incluindo, aí,
bagagens de reencarnações anteriores. Essa consciência de culpa, em função de
vários desequilíbrios nessa área, levou os religiosos do passado a considerar, equivocadamente,
o sexo como algo extremamente pecaminoso e com funções exclusivamente ligadas à
procriação. Desta forma, o indivíduo que almejasse ser considerado “santo” e
“dirigente religioso” precisaria “por
decreto” abster-se de quaisquer manifestações
sexuais. Obviamente, não se pode alterar um comportamento tão marcante
simplesmente pela imposição de uma regra.
Essa mentalidade gerou profundos conflitos
afetivo-sexuais em inumeráveis religiosos, os quais continuam ocorrendo até os dias
atuais, gerando, nos casos mais drásticos, tristes acontecimentos como pedofilia,
abusos sexuais, entre outros.
Realmente, os traumas na área sexual
são tão intensos que os diversos tipos de preconceitos focados na questão
sexual são dos mais discriminatórios e cruéis de nossa sociedade. Prostitutas e
homossexuais são, sobretudo dentro do contexto da tradição judaico-cristã, tratados
de forma muito pouco fraterna até os dias de hoje. É
interessante e ao mesmo tempo triste constatar
que quando desejamos ofender alguma pessoa, normalmente acusamos os homens de
serem homossexuais ou maridos traídos e as mulheres de serem prostitutas.
Obviamente, as ofensas são mais
sentidas quando direcionadas a seres queridos como é o caso das mães, o que
motivou, infelizmente, a elaboração dos mais divulgados “palavrões” de nossa
sociedade.
Isso explica em parte a chocante constatação
de que a maioria dos homens de nossa sociedade é mais ofendida quando é acusada
de ser homossexual do que de ser assassino ou ladrão. Essa espécie de “ódio
sexual” decorre, no mínimo parcialmente, da nossa pouca elevação ao trabalhar
as bagagens instintivas que trazemos de nossa estada em etapas primitivas do
reino animal, onde a energia sexual era um ponto decisivo na formação dos grupos
e na determinação da hierarquia dos mesmos.
As tendências
sexuais em
níveis variados
constituem uma
característica
inerente ao
processo
reencarnatório
Neste contexto, vale registrar que a
tendência homossexual em si mesma não representa qualquer tipo de queda
espiritual, uma vez que o Espírito imortal percorre incontáveis reencarnações
podendo alternar o sexo dos corpos utilizados. Assim sendo, as tendências
sexuais em níveis variados constituem uma característica inerente ao processo reencarnatório.
De qualquer maneira, tal como ocorre com a heterossexualidade, a
homossexualidade requer muita vigilância para não ser “motivo de escândalos” ao
seu portador, tendo-se em vista o comportamento sexólatra generalizado em nossa
sociedade.
Como todo comportamento, o sexo é
antes de tudo uma atitude mental. Desta forma, a partir das contínuas
experiências reencarnatórias, o Espírito adquire hábitos sexuais que se tornam
marcas muito arraigadas em sua personalidade.
Desta forma, após trilhar incontáveis
experiências no reino animal, o Espírito chega à condição hominal com
condicionamentos profundos na área sexual, independentemente da vestimenta
física que carregue em uma reencarnação específica.
Logo, fatores como educação familiar
deficiente; ausência de elevado nível de educação religiosa para orientação
sexual sólida (que é fruto da orientação moral de uma forma geral) e isenta de
preconceitos; influência de amigos sem maiores recursos ético-morais, sobretudo
na área sexual (já que na adolescência, fase decisiva para a formação do
comportamento sexual do indivíduo, o jovem deseja ser aceito pelo grupo e
desenvolve uma gama de atividades, na maioria das vezes, vinculado a uma turma
de amigos); excessivo apelo sexual em todos os meios de comunicação; influência
de entidades espirituais infelizes, entre outros, favorece um tipo de
“sexualização” do comportamento de nossas crianças e jovens de maneira
extremamente precoce, em uma fase em que o indivíduo ainda está formando seus
valores pessoais na nova reencarnação.
Desta maneira, grande número de jovens
recém-saídos da infância já apresenta comportamento sexualmente ativo, muitas
vezes com alto grau de promiscuidade, antes mesmo de ter a mínima condição para
administrar suas próprias vidas.
Consequentemente, adolescentes e até
mesmo pré-adolescentes enfrentam a chamada “gravidez indesejada”, iniciando
processos reencarnatórios irresponsáveis que afetam
vários indivíduos. Isso quando
permitem que tais reencarnantes nasçam, o que, indiscutivelmente, já apresenta
significativo mérito, pois em vários casos, as jovens mães optam pela
lamentável alternativa do aborto.
Há Espíritos que
trazem marcas
profundas do sexo
oposto
em sua organização
psicológica
Por outro lado, vale adir que em nossa
sociedade, carente de valores morais, nós saímos de uma terrível homofobia para
um comportamento misto, onde determinados núcleos aceitam e até estimulam a
homossexualidade e outros centros continuam apresentando quase que um verdadeiro
ódio ao homossexual.
Ora, nosso corpo físico constitui uma
ferramenta fundamental à nossa encarnação e, como espíritas, sabemos que “o
acaso não existe”.
Desta forma, nós não podemos
acreditar que reencarnamos no sexo errado, assim como seria ilógico acreditar que
reencarnamos na família errada ou em uma situação sócio-econômica equivocada e
assim por diante. Desta forma, a atitude natural dos pais seria, obviamente, favorecer
a formação heterossexual das crianças e jovens, uma vez que o corpo que Deus
nos concedeu tem uma função específica atrelada ao sexo em questão. Obviamente,
há Espíritos que trazem marcas profundas do sexo oposto em sua organização
psicológica e são aqueles que, até certo ponto pertinentemente, afirmam que
“não escolheram sua orientação sexual, mas nasceram assim”. Por outro lado, em
muitas famílias, crianças e jovens com conflitos sexuais muito sutis, inclusive
explicáveis dentro do contexto dos conflitos naturais da idade, que seriam
perfeitamente contornáveis com o apoio familiar e a orientação espírita,
recebem um inadequado estímulo ao comportamento homossexual. Algumas vezes são,
inclusive, estimulados nessa escolha por psicólogos e educadores, em uma
atitude de conseqüências lastimáveis do ponto de vista espiritual. São aqueles
que muitas vezes sem nenhuma marca mais efetiva do sexo oposto “fazem a opção
homossexual”. Ora, a homossexualidade não deveria ser uma opção como a escolha
de um curso no vestibular ou de um modelo de carro na concessionária porque, em
princípio, a escolha natural deve ser aquela devida pela própria constituição física
do indivíduo.
Certamente, adversários espirituais podem
astutamente aproveitar desse descuido de pais e de educadores para acentuar
perturbações mínimas a ponto de engendrar profundas problemáticas sexuais. Os obsessores,
obviamente, aproveitam-se da fragilidade espiritual das futuras vítimas, para
forjar desequilíbrios que venham a desajustar o reencarnado, já no início da
sua jornada, o que pode comprometer toda
a reencarnação do indivíduo, que, em
princípio, poderia nem ser realmente um homossexual.
A obsessão sexual
tem nos
desequilíbrios
sexuais da própria
criatura a antena
psíquica
correspondente
Nesse ponto, o apoio espírita é fundamental
para que a criança e o jovem tenham a quem recorrer já que em muitos casos o
jovem não tem com quem conversar sobre o assunto, pois em sua família não teria
abertura para abordar o problema.
Nessa área, evangelizadores, dirigentes
de mocidade espírita e trabalhadores da casa espírita de uma forma geral têm
uma grande responsabilidade no que se refere ao auxílio fraterno a esses
irmãos.
Sobre a chamada “obsessão sexual”, podemos
citar o excelente livro de Manoel Philomeno de Miranda pela mediunidade de
Divaldo Pereira Franco, intitulado “Sexo e Obsessão”, bem como “Sexo
e Destino” (pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira), “No
Mundo Maior” (pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier) e outros da
lavra de André Luiz como valiosas fontes de informações concernentes a um
quadro de verdadeira “pandemia obsessiva” na área sexual que viceja em nossa
sociedade. Logicamente, como acontece com todo processo obsessivo, a obsessão
sexual tem nos desequilíbrios sexuais da própria criatura a antena psíquica
para captar mensagens afins a essas tendências.
Isto implica que esse quadro real de
influenciação de maneira nenhuma nos exime de nossas responsabilidades, pois tais
contatos estão alicerçados em nossos próprios desejos e fixações conscientes e
subliminares.
Se levarmos em consideração as informações
obtidas através dos médiuns mais confiáveis sobre reencarnações de
personalidades conhecidas, chegaremos à conclusão que a repetição de um mesmo
sexo é o fenômeno mais comum.
Emmanuel, Yvonne Pereira, Francisco de
Assis, Allan Kardec, Chopin, Joanna de Ângelis, Napoleão Bonaparte, entre
outros, teriam reencarnado em várias ocasiões em um mesmo sexo. O próprio Dr.
Hernani Guimarães Andrade, afirmando que “o sexo é uma das áreas do
comportamento humano que mais imprime caráter no ser humano”, chega a concluir que
a reencarnação é fator decisivo para a ocorrência do comportamento homossexual,
quando o indivíduo que psiquicamente construiu uma trajetória em um sexo se
reencarna no sexo oposto. Sendo o sexo uma atitude mental, uma sequência
reencarnatória significativa em um de fixações psicológicas difíceis de serem
modificadas somente através de uma única experiência reencarnatória, quando da
definição do sexo do novo corpo durante o planejamento reencarnatório.
O Assistente Silas
diz que a
inversão sexual
ocorreria em
casos de missão e
em casos
de expiação
Ora, a não ser em casos mais graves,
em que tal medida fosse, por motivo de força maior, algo realmente
imprescindível, as sucessivas e constantes inversões sexuais causariam profunda
perturbação espiritual. Se “Deus é amor”, “é a Inteligência Suprema...” e “não
dá fardos pesados a ombros frágeis”, não promoveria uma transição tão brusca
nessa área se isso não fosse, de fato, extremamente necessário.
De fato, o objetivo da reencarnação é
a educação do Espírito e essa é premissa básica de todo tipo de planejamento reencarnatório.
Obviamente, a escolha do sexo é um ponto capital nesse planejamento, pois afeta
diretamente os tipos de atividade assim como os laços de relacionamento que
serão desenvolvidos e/ou retomados.
Assim, a inversão sexual mais brusca
deve ocorrer somente quando seja estritamente necessária e/ ou quando não
causar maior trauma nos Espíritos em questão.
André Luiz elucida essa questão em “Ação
e Reação” ao relatar os esclarecimentos do Assistente Silas (capítulo 15),
que assevera que a inversão sexual ocorreria em casos de missão e em casos de
expiação, que sejam referentes especificamente a quedas na área sexual.
Dr. Hernani Guimarães Andrade em
estudos de reencarnação, poderíamos acrescentar os casos onde o Espírito não apresenta
um comportamento sexual tão polarizado em um dos sexos. Neste caso, a inversão
poderia causar um impacto muito menor, ou seja, muito menos conflitos e
traumas. Esse perfil psicológico seria, sob certo aspecto, semelhante à
inversão sexual motivada por grandes missões espirituais aqui na crosta, pois
seria, por diferentes motivos, mais facilmente administrável pelo próprio
reencarnante. Na missão, essa inversão não prejudicaria, e, pelo contrário, beneficiaria
o missionário, pois, fora de uma condição mais condizente com seu psiquismo, a
obra seria protegida de perigos desnecessários, sem perturbar o missionário em
função de sua evolução espiritual nessa área. Nos casos de ausência de maiores
marcas de caráter sexual, apesar de o Espírito não apresentar tamanha evolução,
ele se adaptaria com certa facilidade tanto a um polo sexual quanto ao outro.
Jesus oscilava com
perfeição e
harmonia entre as
qualidades
masculinas e
femininas,
conforme cada
situação
O fato de o sexo ser, antes de tudo, uma
atitude mental, explicaria, em concordância com elucidações do mentor André
Luiz em Evolução em Dois Mundos (pela mediunidade de Francisco Cândido
Xavier e Waldo Vieira), o fato de Espíritos de homossexuais poderem mudar suas
respectivas formas perispirituais com o passar do tempo, após a chegada ao mundo espiritual.
Entretanto, como existem diferentes vertentes de comportamento homossexual, é
plausível supor que tal processo seja mais comum nos chamados transexuais do
que em outros tipos de homossexuais, uma vez que os transexuais apresentariam, em
princípio, um quadro psicológico que corresponderia de maneira mais contundente
à inversão da forma sexual, isto é, a uma nova morfologia corporal.
De fato, o aprendizado referente às qualidades
do sexo oposto poderia, pelo menos, até certa extensão, ser apreendido sem a
necessidade absoluta de reencarnação no outro sexo. Tal propósito poderia ser
assimilado, mesmo que parcialmente, através de uma atitude evangélica e lúcida
de aproveitamento das oportunidades evolutivas tanto do ponto de vista
intelectual como sob a perspectiva moral. De fato, as necessidades atuais da
sociedade têm proporcionado e estimulado o aprendizado de uma gama de
atividades que tradicionalmente pertenciam ao chamado “sexo oposto”. Essa
realidade tem repercutido positivamente em uma relação de maior fraternidade e
menos preconceito entre homens e mulheres.
Joanna de Ângelis analisa em “Jesus
à luz da psicologia profunda” (pela mediunidade de Divaldo Pereira Franco) a
personalidade no nosso maior mestre, modelo e guia, Jesus de Nazaré. Nesta
obra, a mentora espiritual ressalta que Jesus oscilava com perfeição e harmonia
entre as qualidades masculinas e femininas, de acordo com cada situação, uma
vez que como Espírito puro, o Mestre já possuía em nível de excelência ambos os
grupos de qualidades. Ele não precisava ser fisicamente uma mulher para demonstrar
a ternura materna em sua mais elevada expressão, assim como exibia o
comportamento que tipifica o amor mais característico dos pais em outras
situações.
Portanto, que o exemplo de Jesus seja
uma constante em nossas vidas como meta a ser seguida, inclusive em relação ao
profundo respeito e amor que devemos ao sexo propriamente dito e a todos os
irmãos, independentemente de seus hábitos sexuais de quaisquer espécies.
O IMORTAL
JORNAL
DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
Diretor Responsável: Hugo
Gonçalves - Ano 57 - Nº 674 - Abril de
2010
PÁGINA 8
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