quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Entre a Terra e o Céu_28_Retorno

“Preocupados com o caso de Júlio, no dia imediato indagamos do orientador sobre a planificação do serviço reencarnatório, ao que Clarêncio informou, conciso:
_ O problema é doloroso, mas é simples. Trata-se tão somente de ligeira prova necessária. Júlio sofrerá o aflitivo desejo de permanecer na Terra, com o empréstimo do corpo físico a prazo longo, entretanto, suicida que foi, com duas tentativas de auto-aniquilamento, por duas vezes deverá experimentar a frustração para valorizar com mais segurança a benção da vida terrestre. Depois de estagiar por muitos anos nas regiões inferiores de nosso plano, confiando-se inutilmente à revolta e à inércia, já passou pelo afogamento e agora enfrentará a intoxicação. Tudo isso é lastimável, no entanto...
E mostrando significativa expressão fisionômica, ajuntou:
_ Quem aprenderá sem a cooperação do sofrimento?
_ Penso, contudo, no martírio dos pais... - considerou Hilário, hesitante.
_ Meus amigos - falou o ministro, generoso-, a justiça é inalienável. Não podemos iludí-la. Com o desequilíbrio emocional de Amaro e Zulmira, no pretérito, Júlio arrojou-se a escuro despenhadeiro de compromissos morais e, na atualidade, reabilitar-se com a cooperação deles. Ontem, o casal, por esquecê-lo, inclinou-o à queda, hoje, por amá-lo garantir-lhe-á o soerguimento.
[...]
O Ministro, com a paciência admirável de todos os dias, tomou a palavra e esclareceu:
_ A reencarnação no caso de Júlio não reclama de nossa esfera cuidados especiais. É uma descida experimental ao campo da matéria densa, com interesse tão somente para ele mesmo e para os familiares que o cercam. Todavia, se a existência do filho de Amaro estivesse destinada, no momento, a influenciar a comunidade, se ele fosse detentor de méritos indiscutíveis, com responsabilidades justas nos caminhos alheios, o problema seria efetivamente outro. Forças de ordem superior seriam fatalmente mobilizadas para a interferência nos cromossomos, garantindo-se o embrião do veículo físico de maneira adequada à missão que lhe coubesse...
_ E se o reencarnante fosse um homem de larga intelectualidade? - inquiriu Hilário, estudioso.
_ Merecer-nos-ia cautelosa atenção na estrutura cerebral, para que não lhe faltasse um instrumento à altura de seus deveres na materialização do pensamento.
_ E se fosse um médico, um grande cirurgião por exemplo? - perguntei por minha vez.
_ Receberia assistência aprimorada na formação do sistema nervoso, assegurando-se-lhe pleno domínio das emoções.
Porque não mais indagássemos especificamente, o instrutor continuou:
_ Contudo, em milhares de renascimentos, na Terra, os princípios embriogênicos funcionam, automáticos, cada dia. A lei de causa e efeito executa-se sem necessidade de fiscalização da nossa parte. Na reencarnação, basta o magnetismo dos pais, aliado ao forte desejo daquele que regressa ao campo das formas físicas. De retorno ao corpo físico, estamos invariavelmente animaods de um propósito firme...seja o anseio de alijar a dor que nos atormenta, a aspiração de conquistas espirituais que nos facilitem o acesso à Vida Superior, o voto de recapitular serviços mal feitos ou o ideal de realizar grandes tarefas de amor entre aqueles a quem nos afeiçoamos no mundo. De modo geral, a maioria das almas que reencarnam satisfazem a fome inquietante de recomeço. Quem não atendeu com exatidão ao trabalho que a vida lhe delegou, depressa se rende ao impositivo de repetição da experiência e o ressurgimento na vida física aparece por benção salvadora. Milhões de destinos se reestruturam dessa forma, qual se refaz uma grande floresta. A sementeira cresce, estimulada pelo magnetismo do solo; a existência corpórea germina de novo, incentivada pelo magnetismo da carne...
Ante a pausa ligeira do Ministro, Hilário perguntou, respeitoso:
_ O seio maternal, desse modo...
Nosso mentor completou-lhe a definição, respondendo:
_ É um vaso anímico de elevado poder magnético ou um molde vivo destinado à fundição e refundição das formas, ao sopro criador da Bondade Divina, que, em toda a parte, nos oferece recursos ao desenvolvimento par a Sabedoria e para o Amor. Esse vaso atrai a alma sequiosa de renascimento e que lhe é afim, reproduzindo-lhe o corpo denso, no tempo e no espaço, como a terra engole a semente para doar-lhe nova germinação, consoante os princípios que encerra."

Questões para estudo e diálogo virtual

1 - "Quem aprenderá sem a cooperação do sofrimento?"
Dessa frase do ministro Clarêncio, vamos discutir:
a) Qual a função do sofrimento?
b) O que vem realmente a ser sofrimento?
c) Será o sofrimento a única maneira de aprendermos e evoluirmos?

2 - Comente esta frase: "Contudo, em milhares de renascimentos, na Terra, os princípios embriogênicos funcionam, automáticos, cada dia. A lei de causa e efeito executa-se sem necessidade de fiscalização da nossa parte."

3 - O que nós podemos concluir sobre a nossa responsabilidade perante aquilo que permitimos, através de nosso descaso, esquecimento ou negligência, aconteça aos outros?

4 - Qual a visão de maternidade que podemos ter com os ensinos desse capítulo?

5 - O que aprendemos mais sobre os preparativos da reencarnação?

Conclusão:

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1 - "Quem aprenderá sem a cooperação do sofrimento?". Dessa frase do ministro Clarêncio, vamos discutir:

a) Qual a função do sofrimento?
Este é um tema bastante extenso, que dá margem a muitas reflexões.  Resumidamente, podemos dizer que o sofrimento, no momento evolutivo em que nos encontramos, ainda faz parte das nossas necessidades. A dor, seja ela física ou moral, como fonte geradora do sofrimento, é uma lei de equilíbrio e educação para o espírito.  É claro que não é fácil aceitar essa realidade. Léon Denis afirma que "é muito difícil fazer entender aos homens  que  o  sofrimento é bom. Cada qual quereria refazer e embelezar a vida à sua vontade, adorná-la com todos os deleites, sem  pensar que não há bem sem dor, ascensão sem suores e esforços." (in "O Problema do Ser, do Destino e da Dor).
O sofrimento tem, portanto, a função de impulsionar o espírito para o progresso moral, ao despertar os sentidos nobres que se encontram adormecidos dentro de si. Como o orgulho e o egoísmo ainda se encontram  fortemente  enraizados nos espíritos que compõem a humanidade terrena, o sofrimento é necessário para torná-los mais brandos, para fazê-los melhor compreender os valores morais. Os que não sofrem mal compreendem a realidade da nossa existência, presos que ficam aos deleites que a vida na matéria pode proporcionar. A dor causadora do sofrimento funciona como um aviso da Natureza de que precisamos corrigir nossos rumos, preservarmo-nos dos excessos. Sem ela, o espírito ficaria inerte, ignorando, passivamente, a força moral que carrega consigo.

b) O que vem realmente a ser sofrimento?
O sofrimento é a sensação causada no espírito pela dor física ou moral, necessária à evolução do ser. Na maior parte das vezes, é resultado de violações das leis naturais por parte do espírito. É a conseqüência natural da lei de  ação e reação, que atua não só sobre a matéria mas, também, na vida espiritual.

c) Será o sofrimento a única maneira de aprendermos e evoluirmos?
Como foi falado durante o estudo, respondendo à indagação de Kardec a respeito, os Espíritos disseram não ser indispensável à evolução do ser passar por provações para atingir a perfeição. Pode o espírito, desde o seu ingresso na senda evolutiva, escolher um caminho que o exima de muitas provas, que evite muitas das aflições possíveis.
Usando seu livre-arbítrio, o próprio espírito é que irá traçar o seu futuro. Vivenciando as Leis Naturais que o Cristo veio não só nos ensinar como igualmente exemplificar, podemos nos poupar de muitos sofrimentos.

2 - Comente esta frase: "Contudo, em milhares de renascimentos, na Terra, os princípios  embriogênicos  funcionam, automáticos, cada dia. A lei de causa e efeito executa-se sem necessidade de fiscalização da nossa parte."
As leis e forças que regem o Universo foram instituídas pelo Criador e,  como  tal  são  sábias,  justas  e  soberanas.
Provindas da autoridade suprema que dirige o Cosmo, não podem ser contrariadas. São auto-aplicáveis. Funcionam impulsionadas por um magnetismo que ainda não estamos evoluídos o suficiente para compreender inteiramente. Os princípios embriogênicos a que se refere Clarêncio são aqueles que regem a formação e desenvolvimento do embrião que se constituirá no novo corpo físico do reencarnante. O magnetismo que faz com que as leis naturais se cumpram se encarrega de fazer incidir a lei de causa e efeito, que é uma delas, inclusive quanto aos pais, que atrairão o espírito com quem precisam se reajustar. O embrião se formará em obediência a esses princípios, sem que se faça necessária a intervenção das autoridades espirituais.
Há, no entanto, casos especiais em que o reencarnante, para cumprir determinada missão, necessita vir com certas características particulares. Os espíritos construtores, especializados no trabalho de preparação de futuros corpos físicos, nessas hipóteses, atuam nos cromossomos que formarão o embrião do novo corpo,  objetivando  um  veículo físico adequado à missão que ao reencarnante caberá se desincumbir.

3 - O que nós podemos concluir sobre a nossa responsabilidade perante aquilo que permitimos, através de nosso descaso, esquecimento ou negligência, aconteça aos outros?
"A cada um será dado segundo as suas obras", ensinou Jesus. Por isso, recomendou: "tudo que quiserdes que os outros vos façam, fazei também a eles". A lei de causa e efeito, como frisou o Ministro Clarêncio, executa-se por si mesma. Quando fazemos algum mal ao próximo, causamos um desequilíbrio no Universo, cuja lei é de amor.
Esse desequilíbrio precisa ser reparado, restabelecendo-se a situação anterior.  O veículo que nos impelirá à reparação é a lei da ação e reação. Sofreremos, inevitavelmente, o mesmo mal que ocasionamos.  Não se trata de punição, nem de vindita. Mas de um mecanismo de equilíbrio e educação do espírito.

4 - Qual a visão de maternidade que podemos ter com os ensinos desse capítulo?
O capítulo nos mostra o caráter missionário da maternidade. Ao assumir o compromisso da maternidade, a mãe se responsabiliza por desincumbir-se de um dever que, certamente, vai trazer conseqüências para o seu futuro. O filho é colocado sob a tutela dos pais para que estes os dirijam na senda do bem. Para isso, nos primeiros anos da nova existência, o corpo físico tem uma organização ainda débil e delicada, que propicia ao espírito receber as impressões que os pais lhe impõem. Vemos que Zulmira até então não devotava a Júlio um sentimento de amor puro. Contudo, consciente da necessidade dos reajustes que possibilitariam a ambos a retomada do progresso espiritual, aceitou a missão de mãe, passando a dedicar-lhe todo o apreço e cuidado.

5 - O que aprendemos mais sobre os preparativos da reencarnação?
Como vimos no capítulo anterior, os preparativos para o retorno do espírito ao plano da matéria estão condicionados ao seu merecimento, às conquistas que acumulou no passado. Alguns são merecedores da intercessão de espíritos afins, mais adiantados, que atuam junto aos benfeitores visando  obter  cuidados  especiais  na  preparação  do  ato reencarnatório. Outros, que  constituem  a  maioria,  segundo  afirmou  Clarêncio,  reencarnam sob  a  ação  de  um automatismo magnético, impulsionados pelo desejo de se refazerem  dos  gravames  sofridos  em  existências  mal aproveitadas. Estes são atraídos para o ato reencarnatório sem maiores cuidados, aos pais com os quais precisam se reajustarem, A reencarnação se processa, nesses casos, unicamente sob a égide das leis biológicas.
Júlio, embora um espírito ainda em débito com a lei e que retornaria à carne em processo redentor de reajuste, já contava com algum merecimento, o que motivou os benfeitores a prepararem o seu regresso num lar harmonioso. Os futuros pais também receberam um tratamento preparatório adequado,  sendo  conscientizados  dos  benefícios  que aquela reencarnação traria a todos. Não se trata, portanto, da reencarnação de um espírito  elevado,  que  venha  em missão relevante para a coletividade. Mas de um espírito de evolução mediana, que já amealhou créditos, assim como os demais com quem estará envolvido no ambiente familiar.

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