sábado, 7 de fevereiro de 2015

HÁ MILAGRES?

Jáder Sampaio


Considerando o milagre como sendo o sobrenatural, isto é, aquilo que vai além da natureza, o que contraria as leis naturais, o Espiritismo se coloca contra a existência deles.
Se entendermos, porém, que os milagres são fenômenos pouco comuns, que ainda não foram devidamente estudados e explicados, mas que se situam no plano dos fenômenos naturais ou culturais, o parecer da doutrina espírita é oposto ao anterior.
Já não há mais como conceber o religioso do século XX tentando sensibilizar a divindade com severas constrições, ou com “negociatas celestes" solicitando que modifique a ordem universal que ela mesma estabeleceu e venha a seu socorro de forma mágica e definitiva.
Deus seria, então, uma marionete voluntariosa dos desejos humanos agindo a favor dos interesses de uns e, muitas vezes, contra os interesses de outros. Suscetível aos homens, estaria reduzido à condição humana.
Somos obrigados, entretanto, a reconhecer que muitos fenômenos vem desafiando os sistemas científicos de nosso tempo. A capacidade de prever o futuro de Edgar Cayce, as cirurgias mediúnicas do Dr. Fritz, a capacidade musical do deficiente mental Sibelius, a pintura mediúnica de Gaspareto, as materializações e desmaterializações de Florence Cook, os “poltergeist” e as casas assombradas no Rio Grande do Sul, a mediunidade poliglota de Therese Newmann, os exercícios de levitação de Carlos Mirabelli e dos Lamas Tibetanos e muitas outras coisas tanto incomuns quanto reais, mas que, estamos certos, perfeitamente compreensíveis.
Todos estes fenômenos são passíveis de investigação e estamos seguros que alguns deles remetem o homem à sua dimensão espiritual.
Cabe aos religiosos não empurrarem a Deus as causas daquilo que desconhecem, proclamando milagroso ou sobrenatural, ou simplesmente virando as costas para o que lhes é desconhecido.
Esta percepção mais ampla do ser humano certamente influenciará na criação de novas formas de relacionamento entre as pessoas, e as transformações histórico-sociais que estão acontecendo.


Publicado no Diário de Montes Claros de 26 de Janeiro de 1991.

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