Jáder Sampaio
Considerando o milagre como sendo o
sobrenatural, isto é, aquilo que vai além da natureza, o que contraria as leis
naturais, o Espiritismo se coloca contra a existência deles.
Se entendermos, porém, que os milagres são
fenômenos pouco comuns, que ainda não foram devidamente estudados e explicados,
mas que se situam no plano dos fenômenos naturais ou culturais, o parecer da
doutrina espírita é oposto ao anterior.
Já não há mais como conceber o religioso do
século XX tentando sensibilizar a divindade com severas constrições, ou com “negociatas
celestes" solicitando que modifique a ordem universal que ela mesma
estabeleceu e venha a seu socorro de forma mágica e definitiva.
Deus seria, então, uma marionete voluntariosa
dos desejos humanos agindo a favor dos interesses de uns e, muitas vezes,
contra os interesses de outros. Suscetível aos homens, estaria reduzido à condição
humana.
Somos obrigados, entretanto, a reconhecer que
muitos fenômenos vem desafiando os sistemas científicos de nosso tempo. A capacidade
de prever o futuro de Edgar Cayce, as cirurgias mediúnicas do Dr. Fritz, a
capacidade musical do deficiente mental Sibelius, a pintura mediúnica de
Gaspareto, as materializações e desmaterializações de Florence Cook, os
“poltergeist” e as casas assombradas no Rio Grande do Sul, a mediunidade
poliglota de Therese Newmann, os exercícios de levitação de Carlos Mirabelli e
dos Lamas Tibetanos e muitas outras coisas tanto incomuns quanto reais, mas
que, estamos certos, perfeitamente compreensíveis.
Todos estes fenômenos são passíveis de
investigação e estamos seguros que alguns deles remetem o homem à sua dimensão espiritual.
Cabe aos religiosos não empurrarem a Deus as
causas daquilo que desconhecem, proclamando milagroso ou sobrenatural, ou simplesmente
virando as costas para o que lhes é desconhecido.
Esta percepção mais ampla do ser humano
certamente influenciará na criação de novas formas de relacionamento entre as pessoas,
e as transformações histórico-sociais que estão acontecendo.
Publicado
no Diário de Montes Claros de 26 de Janeiro de 1991.
Nenhum comentário:
Postar um comentário