EVANGELHO ESSENCIAL 13
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
13 - NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Tenhas
cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas,
pois, do contrário, não receberas recompensa de teu Pai que está nos céus. - Assim,
quando deres esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e
nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-te, em verdade, que eles já receberam
sua recompensa. - Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a
tua mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e teu Pai, que vê o
que se passa em segredo, lhe recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)
Tendo
Jesus descido do monte, grande multidão o seguiu. – Ao mesmo tempo, um leproso
veio ao seu encontro e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás
curar-me. - Jesus, estendendo a mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no
mesmo instante desapareceu a lepra. - Disse-lhe então Jesus: abstém-te de falar
disto a quem quer que seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom
prescrito por Moisés, a fim de que lhes sirva de prova. (S. MATEUS, cap. VIII,
vv. 1 a 4.)
Fazer o bem sem ostentação
Em
fazer o bem sem ostentação há grande mérito; ainda mais meritório é ocultar a
mão que dá; constitui marca incontestável de grande superioridade moral,
porque, para encarar as coisas de uma maneira mais alta do que o faz a pessoa
comum, necessário se torna abstrair da vida presente e identificar-se com a
vida futura; numa palavra, colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à
satisfação que o aplauso dos homens proporciona e pensar na aprovação de Deus.
*
* *
Aquele
que prefere a aprovação dos homens ao de Deus, prova que mais fé deposita
nestes do que na Divindade e que mais valor dá à vida presente do que à futura.
Se diz o contrário, age como se não cresse no que diz.
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Quantos
há que só dão na esperança de que aquele que recebe irá bradar por toda parte o
benefício recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que,
entretanto, às ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus
declarou: "Os que fazem o bem ostensivamente já receberam sua
recompensa." Com efeito, aquele que procura a sua própria glorificação na
Terra, pelo bem que pratica, já pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; só
lhe resta receber a punição do seu orgulho.
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Não
saber a mão esquerda o que dá a mão direita é um ensinamento que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta.
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Se
existe a modéstia real, também há a falsa modéstia, a simulação da modéstia. Há
pessoas que escondem a mão, tendo, porém, o cuidado de deixar perceber o que
fazem.
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A
beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade
material, é caridade moral, visto que respeita os sentimentos do beneficiado,
faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio seja ferido e protegendo
assim sua dignidade de ser humano, porque aceitar um serviço é coisa bem
diferente de receber uma esmola.
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* *
Converter
em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que recebe, e, em
humilhar ao outro, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade é
delicada e habilidosa em disfarçar o benefício, no evitar até as simples
aparências capazes de ferir, porque toda contrariedade moral aumenta o
sofrimento que se origina da necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e
afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo
que a caridade orgulhosa o humilha. A verdadeira generosidade adquire toda a
sublimidade, quando o benfeitor, invertendo os papéis, encontra meios de
figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço.
Os infortúnios ocultos
Nas
grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se campanhas nobres e
generosas, no sentido de reparar os desastres.
Mas,
a par desses desastres gerais, há milhares de tragédias particulares, que
passam despercebidos: os dos que jazem sobre um leito de dor pobre e miserável
sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira
generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.
*
* *
O óbolo da viúva
Estando
Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava
ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. - Nisso,
veio também uma pobre que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez
centavos cada uma. - Chamando então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos
digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas
dádivas no gazofilácio; - por isso que todos os outros deram do que lhes sobra,
ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu
sustento. (SÃO MARCOS, cap. XII, vv. 41 a 44. - S. LUCAS, cap. XXI. vv. 1 a 4.)
Muitas
pessoas lamentam não poder fazer todo o bem que desejariam, por falta de recursos
suficientes, e desejam possuir riquezas, dizem, para lhes dar boa aplicação.
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Não
haverá quem, desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por
fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo algumas satisfações mais, por
usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, para a dar aos pobres o resto?
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* *
O
ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu
trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos,
os recursos de que faltam para realizar seus generosos propósitos. Haveria
nisso o sacrifício que mais agrada ao Senhor.
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* *
Infelizmente,
a maioria vive a sonhar com os meios de mais facilmente se enriquecer de súbito
e sem trabalho, correndo atrás de sonhos e ilusões, como as descobertas de
tesouros, de uma favorável oportunidade incerta e casual, do recebimento de
inesperadas heranças, etc.
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* *
Aqueles
cuja intenção está isenta de qualquer interesse pessoal, devem consolar-se da
impossibilidade em que se veem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se
de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na
balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma.
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* *
Aliás,
será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo,
desde que se não tenha dinheiro?
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Todo
aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará
de realizar o seu desejo. Procure-as e elas apareceram de repente; se não for
de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas
faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, dar uma consolação, diminuir
um sofrimento físico ou moral, tomar uma providência útil. Não dispõem todos, à
falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo
isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da
viúva.
Convidar
os pobres e os estropiados. Dar sem esperar retribuição Disse também àquele que
o convidara: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides nem os teus
amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos que
forem ricos, para que em seguida não te convidem a seu turno e assim retribuam
o que de te receberam. - Quando derdes um festim, convides para ele os pobres,
os estropiados, os coxos e os cegos. - E serás feliz por não terem eles meios
de te retribuir, pois isso será retribuído na ressurreição dos justos. Um dos
que se achavam à mesa, ouvindo essas palavras, disse-lhe: Feliz do que comer do
pão no reino de Deus! (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 12 a 15.)
Convidem
para os seus banquetes ou festas os pobres, pois saibam que eles nada lhes
podem retribuir. Por Festins ou banquetes deve-se entender, não a
refeição propriamente dita, mas a participação na abundância de que desfrutam.
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INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
A caridade material e a caridade moral
Irmã
Rosália-Paris,1860
"Amemo-nos
uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos que eles nos fizessem."
Toda a religião, toda a moral se encontram nestes dois ensinamentos.
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* *
Se
fossem seguidos aqui na Terra, todos seriam felizes e perfeitos: não mais
haveria ódios, nem conflitos. Não haveria mais pobreza, porque, do supérfluo da
mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam
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* *
Amem
o seu próximo; amem-no como a si mesmos, pois já sabem, agora, que, repelindo
um infeliz, estarão, talvez, afastando de si um irmão, um pai, um amigo seu de
outrora. Se assim for, de que desespero não se sentirão presos, ao reconhecê-lo
no mundo dos Espíritos!
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* *
Desejo
que compreendam bem o que seja a caridade moral, a qual todos podem
praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a mais
difícil de se pôr em prática.
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* *
A
caridade moral consiste em se tolerarem umas às outras as criaturas e é o que
menos fazem nesse mundo inferior, onde se encontram, por agora, encarnados.
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* *
Grande
mérito há em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele.
É uma forma de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra debochada
escapa de uma boca habituada a ironizar; não ver o sorriso de desprezo com que
lhes recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem superior, quando
na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo. Constitui
merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porque não
dar atenção ao mau proceder dos outros é caridade moral.
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* *
Um Espírito protetor(Lião,1860)
De
mil maneiras se faz a caridade. Podemos fazê-la por pensamentos, por palavras e
por ações. Por pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que desencarnaram
sem se encontrarem sequer em condições de ver a luz. Uma prece feita de coração
os alivia. Por palavras, dando aos seus companheiros de todos os dias alguns
bons conselhos, dizendo aos que o desespero, as privações azedaram o ânimo e
levaram a blasfemar do nome do Altíssimo: "Eu era como são; sofria, sentia-me
infeliz, mas acreditei no Espiritismo e, vejam, agora sou feliz."
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Dirão
outros dentre vocês: "somos tão numerosos na Terra, que Deus não nos pode
ver a todos." Escutem bem isto, meus amigos: Quando estão no alto da
montanha, não abrangem com o olhar os bilhões de grãos de areia que a cobrem?
Pois bem: do mesmo modo lhes vê Deus.
Ele
lhes deixa usar de seu livre-arbítrio, como vocês deixam que esses grãos de
areia se movam ao sabor do vento que os dispersa. A diferença é que Deus, em
sua misericórdia infinita, lhes pôs no fundo do coração uma sentinela
vigilante, que se chama consciência. Escutem-na, que somente bons
conselhos ela lhes dará. As vezes, conseguem entorpecê-la, opondo-lhe o
espírito do mal. Ela, então, se cala. Mas, fiquem certos de que a pobre
rejeitada se fará ouvir, logo que lhe deixarem aperceber-se da sombra do
remorso. Ouçam-na, interroguem-na e com frequência, se encontrarão consolados
com o conselho que dela houverem recebido.
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A beneficência
Adolfo,
Bispo de Argel (Bordéus, 1861)
A
beneficência dar-lhes-á nesse mundo os mais puros e suaves prazeres, as
alegrias do coração, que nem o remorso, nem a indiferença perturbam.
*
* *
Se
pudessem ter por única ocupação tornar felizes os outros! Quais as festas
mundanas que poderiam comparar às que celebram quando, como representantes da
Divindade, levam a alegria a essas famílias que da vida apenas conhecem as
dificuldades e as amarguras, quando veem nelas os semblantes descorados
brilharem subitamente de esperança, porque, desprovidos de pão, os infelizes
ouviam seus filhinhos, ignorantes de que viver é sofrer, gritando
repetidamente, a chorar, estas palavras que, como agudo punhal, lhes enterravam
nos corações maternos: "Estou com fome!..."
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* *
Compreendam
as obrigações que tem para com os seus irmãos! Vão ao encontro do infortúnio;
vão em socorro, sobretudo, das misérias ocultas, por serem as mais dolorosas!
Vão, meus bem-amados, e tenham em mente estas palavras do Salvador:
"Quando vestirdes a um destes pequeninos, lembrai-vos de que é a mim que o
fazeis!"
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* *
Caridade!
sublime palavra que sintetiza todas as virtudes, és tu que hás de conduzir os
povos à felicidade.
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* *
É
na caridade que devem procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o
remédio para as aflições da vida. Quando estiverem a ponto de acusar a Deus,
lancem um olhar para baixo de si; vejam que misérias a aliviar, de pobres
crianças sem família, de velhos sem qualquer mão amiga que os ampare e lhes
feche os olhos quando a morte chegar! Quanto bem a fazer! não se queixem; ao
contrário, agradeçam a Deus e distribuam sem limites, à vontade, a sua
simpatia, o seu amor, o seu dinheiro por todos os que, deserdados dos bens
desse mundo, enfraquecem na dor e na solidão! Colherão nesse mundo bem doces
alegrias e, mais tarde... só Deus o sabe!
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* *
S. Vicente de Paulo (Paris, 1858)
Sejam
bons e caridosos: essa é a chave dos céus, chave que tens em suas mãos. Toda a
eterna felicidade esta contida neste ensinamento: "Amai-vos uns aos
outros."
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* *
A
alma só pode elevar-se às altas regiões espirituais pela dedicação ao próximo;
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* *
Somente
nos encantos da caridade, encontra a alma felicidade e consolação. Sejam bons,
amparem os seus irmãos, deixem de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprido
esse dever, abrir-se-lhes-á o caminho da felicidade eterna.
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* *
Não
lhes disse Jesus tudo o que concerne às virtudes da caridade e do amor? Por que
desprezar os seus ensinamentos divinos? Por que fechar os ouvidos às suas
divinas palavras, o coração a todas as suas bondosas recomendações? Quisera eu
que dispensassem mais interesse, mais fé às leituras evangélicas. Desprezam
esse livro, consideram-no repositório de palavras vazias, uma carta fechada; deixam
no esquecimento esse código admirável. Seus males provêm todos do abandono
voluntário a que dedicam a esse resumo das leis divinas. Leiam-lhe as páginas
cintilantes do devotamento de Jesus, e meditai-as.
*
* *
A
caridade é a virtude fundamental sobre que há de sustentar todo o edifício das
virtudes terrenas. Sem ela não existem as outras. Sem a caridade não há esperar
um futuro melhor, não há interesse moral que nos guie; sem a caridade não há
fé, pois a fé não é mais do que pura luminosidade que torna brilhante uma alma
caridosa.
*
* *
Cáritas, martirizada em Roma. (Lião, 1861.)
Várias
maneiras há de fazer-se a caridade, que muitos dentre vocês confundem com a
esmola. Diferença grande vai de uma para outra. A esmola ,algumas vezes é útil,
porque dá alívio aos pobres; mas é quase sempre humilhante, tanto para o que a
dá, como para o que a recebe.
*
* *
A
caridade liga o benfeitor ao beneficiado e se disfarça de tantos modos!
Pode-se
ser caridoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns indulgentes para
com os outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando não ferir o
amor-próprio de ninguém.
*
* *
Vocês,
espíritas, podem sê-lo na sua maneira de proceder para com os que não pensam
como vocês, levando os menos esclarecidos a crer, mas sem os chocar, sem
investir contra as suas convicções e sim, atraindo-os amavelmente às nossas
reuniões, onde poderão ouvir-nos e onde saberemos descobrir nos seus corações a
brecha para neles penetrarmos. Eis aí um dos aspectos da caridade.
*
* *
Vejo,
várias vezes, cada semana, uma reunião de senhoras, havendo-as de todas as
idades. Para nós são todas irmãs. Que fazem? Trabalham depressa, muito
depressa; têm ágeis os dedos. Vejam como trazem alegres os rostos e como lhes
batem em uníssono os corações. Mas, com que fim trabalham? É que veem
aproximar-se o inverno que será rude para os lares pobres. Tende paciência,
pobres mulheres. Deus inspirou a outras mais aquinhoadas ; elas se reuniram e
estão confeccionando roupinhas; depois, um destes dias, quando a terra se achar
coberta de neve e vocês se lamentarem dizendo: "Deus não é justo'', que é
o que lhes sai dos lábios sempre que sofrem, verão surgir a filha de uma dessas
boas trabalhadoras que se constituíram obreiras dos pobres, pois que é para
vocês que elas trabalham assim, e os seus lamentos se mudarão em bênçãos, dado
que no coração dos infelizes o amor acompanha de bem perto o ódio.
*
* *
Um Espírito Protetor- Lião, 1861
Meus
caros amigos, todos os dias ouço dizerem: "Sou pobre, não posso fazer a
caridade", e todos os dias vejo que faltam com a indulgência aos seus
semelhantes. Nada lhes perdoam e se arvoram em juízes muitas vezes severos, sem
quererem saber se ficariam satisfeitos que do mesmo modo procedessem consigo.
Não é também caridade a indulgência?
Vocês,
que apenas podem fazer a caridade praticando a indulgência, façam-na assim, mas
façam-na sem limitações.
*
* *
João – Bordéus, 1861
Trabalhem,
minhas filhas, e que o produto de suas obras se destine a socorrer os seus
irmãos em Deus. Os pobres são seus filhos bem-amados; trabalhar para eles é
glorificá-Lo. Sejam-lhes a providência que diz: "Aos pássaros do céu dá
Deus o alimento." Mudem-se o ouro e a prata que se tecem nas suas mãos em
roupas e alimentos para os que não os têm. Façam isto e abençoado será o seu
trabalho.
*
* *
Todos
vocês podem dar, qualquer que seja a classe social a que pertençam, de alguma
coisa dispõem que podem dividir. Seja o que for que Deus lhes haja dado, uma
parte do que ele lhes deu devem àquele que carece do necessário, porque, em seu
lugar, muito gostariam que outro dividisse consigo. Os seus tesouros da Terra
serão um pouco menores; contudo, os seus tesouros do céu ficarão acrescidos. Lá
colherão pelo cêntuplo o que houverem semeado em benefícios neste mundo.
*
* *
A piedade
Miguel- Bordéus, 1862
A
piedade é a virtude que mais lhes aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que
lhes conduz a Deus.
*
* *
A
piedade bem sentida é amor; amor é devotamento; devotamento é o esquecimento de
si mesmo e esse esquecimento, essa abnegação em favor dos desgraçados, é a
virtude por excelência, a que em toda a sua vida praticou o divino Messias e
ensinou na sua doutrina tão santa e sublime.
*
* *
A
piedade é o sentimento mais apropriado a fazer que progridam, dominando em si
mesmo o egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe a sua alma à humildade, à
beneficência e ao amor do próximo. Piedade que lhes comove profundamente à
vista dos sofrimentos de seus irmãos, que lhes impele a estender a mão para
socorrê-los e lhes arranca lágrimas de simpatia.
*
* *
Nunca
abafem nos seus corações essas emoções celestes; não procedam como esses
egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos, porque o espetáculo de suas
misérias lhes perturbaria por instantes a existência alegre. Temam
conservarem-se indiferentes, quando puderem ser úteis.
*
* *
Grande
é a compensação, quando chegares a dar coragem e esperança a um irmão infeliz
que se emociona ao aperto de uma mão amiga e cujo olhar, úmido, por vezes, de
emoção e de reconhecimento, para vocês se dirige docemente, antes de se fixar
no Céu em agradecimento por lhe ter enviado um consolador, um amparo.
*
* *
A
piedade é o melancólico, nas celestes precursor da caridade, primeira das
virtudes que a tem por irmã e cujos benefícios ela prepara e enobrece.
*
* *
Os órfãos
Um Espírito Familiar – Paris, 1860
Meus
irmãos, amem os órfãos. Se soubessem quanto é triste ser só e abandonado,
sobretudo na infância!
*
* *
Deus
permite que haja órfãos, para encorajar-nos a servir-lhes de pais.
Que
divina caridade amparar uma pobre criaturinha abandonada, evitar que sofra fome
e frio, dirigir-lhe a alma, a fim de que não desgarre para o vício! Agrada a
Deus quem estende a mão a uma criança abandonada, porque compreende e pratica a
sua lei. Lembrem-se também que muitas vezes a criança que socorrem lhes foi
querida noutra encarnação, caso em que, se pudessem lembrar-se, já não estariam
praticando a caridade, mas cumprindo um dever.
*
* *
Juntem
delicadamente ao benefício que fizerem o mais precioso de todos os benefícios:
o de uma boa palavra, de um carinho, de um sorriso amistoso.
*
* *
Benefícios pagos com a ingratidão
Guia Protetor- Sens,1862
Que
se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em pagamento de benefícios que
fizeram, deixam de praticar o bem para não encontrar com os ingratos? Nesses,
há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber
demonstrações de reconhecimento é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito
desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho, porque os
que assim procedem se envaidecem na humildade com que o beneficiado vem depor
aos a seus pés o testemunho do reconhecimento. Aquele que procura, na Terra,
recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu. Deus terá em apreço aquele
que não a busca no mundo.
*
* *
Procurem
sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerem o bem
não lhes agradecerão. Fiquem certos de que, se aquele a quem prestem um serviço
o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado
lhes houvesse pago.
*
* *
Se
Deus permite por vezes sejam pagos com a ingratidão, é para experimentar a sua
perseverança em praticar o bem.
*
* *
Se
conhecessem todos os laços que prendem a sua vida atual às suas existências
anteriores; se pudessem apanhar num golpe de vista a imensidade das relações
que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo,
admirariam muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que lhes concede
reviver para chegarem a ele.
*
* *
Beneficência exclusiva
S. Luís –Paris, 1860
É
correta a beneficência, quando praticada exclusivamente entre pessoas da mesma
opinião, da mesma crença, ou do mesmo partido?
Não,
porque precisamente o espírito de seita e de partido é que precisa ser
eliminado, visto que são irmãos todos os homens. O verdadeiro cristão vê
somente irmãos em seus semelhantes e não procura saber, antes de socorrer o
necessitado, qual a sua crença, ou a sua opinião, seja sobre o que for.
*
* *
Obedeceria
o cristão ao preceito de Jesus Cristo, segundo o qual devemos amar os nossos
inimigos, se rejeitasse o infeliz, por professar uma crença diferente da sua?
Socorra-o sem lhe pedir contas à consciência, pois, se for um inimigo da
religião, esse será o meio de conseguir que ele a ame; repelindo-o, faria que a
odiasse.
COMENTÁRIO
NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
“Porque,
para ver as coisas de mais alto que o comum, é necessário fazer abstração da
vida presente e identificar-se com a vida futura.” Allan Kardec. A caridade no
seu sentido mais íntimo significa darmos, àquele que está temporariamente numa
situação menos privilegiada, tudo o que nós mesmos esperamos quando estamos em idêntica
posição. E quando o fizermos da mesma maneira que não queremos sejamos notados
em posição adversa pelos outros, aquele a quem nos propomos atender também de
igual maneira sente vergonha.
Dar
é mais fácil e mais cômodo do que ter que receber, é claro que aí vai também um
alerta para aqueles que acham que só é caridade o fornecimento do material mínimo
de subsistência material, isto não é verdade, pois a caridade é também dar
atenção, auxiliar no preparo dos vários documentos que um irmão necessita para
trabalhar, e inclusive apresentá-lo e torná-lo apto ao mercado de trabalho.
Faz-se necessário também lhe oferecer amparo com as suas necessidades como
cuidar da sua família, em situação de necessidade, assim como nós mesmos às
vezes solicitamos aos nossos amigos, e mesmo oferecemos de bom grado aos nossos
irmãos mais próximos. Criando assim um sentimento de dignidade aos irmãos que
por estarem em dificuldades, sentem-se incapazes de gerarem com recursos
próprios o tal atendimento, seja pelo fato dos amigos mais próximos terem se afastado
devido à penúria, seja pelo fato de não os terem no lugar onde estão. Então a
caridade começa a tomar rumos mais edificantes do que só atendimento material
que também é necessário, mas não essencial.
Lembremo-nos
que um pensamento, uma prece, também podem ajudar, além da palavra atenciosa e
atitudes diretas. Devemos levar em conta o fato de que a nossa vida atual não é
a única nem a primeira, e nem será a última, portanto, devemos nos preparar
para a vida futura, onde certamente ficaremos surpresos quando ali encontrarmos
um desses nossos amigos, e qual não será nosso espanto, em sabermos estarem em
situação evolutiva maior que nós mesmos aos quais estaremos subordinados. É a
maior justiça de Deus, daí a necessidade de estarmos em situações as mais
variadas possíveis para nosso aprendizado e evolução, a qual muitas vezes a
desconhecemos aqui na Terra, e tomarmos ciência no mundo espiritual. É verdade
que pela sensibilidade se pode saber indícios dessas situações, mas para isso é
necessário ser humilde e estar sempre alerta ao nosso íntimo. Então seguindo
Jesus devemos fazer o bem sem nenhuma ostentação porque tudo o que fizermos com
demonstração para o mundo, aqui mesmo estaremos sendo recompensados, e muitas
vezes no mundo espiritual, vermos com decepção que fomos infantis. Precisamos
ir muito além daquilo que enxergamos, dos infortúnios que saltam à vista,
precisamos ir onde a necessidade, sem forças para sair ao mundo espera uma alma
caridosa que delas se lembre e traga-lhes o amparo, muitas vezes um bom banho
que há dias não tomam. Precisamos descobrir onde há necessidade, não estarmos
só atentos para aquelas que todo mundo vê e socorre, quantos de nossos irmãos
não estão numa cama abandonados à própria sorte. Aqui vale lembrar, você deu um
sorriso à sua esposa, marido, filho ou irmão hoje? É também uma ternura que faz
de nós mais humanos e sensíveis. “O sublime da caridade será cada um procurar
no seu próprio trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de
sua capacidade, os recursos que lhe faltam para realizar suas intenções
generosas. Nisso estaria o sacrifício mais agradável ao Senhor.” Allan Kardec.
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