EVANGELHO ESSENCIAL 12
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
12 - AMAI
OS VOSSOS INIMIGOS
Aprendestes que foi
dito: “Amarás o teu próximo e odiaras os teus inimigos.” Eu, porém, te digo:
“Ama os teus inimigos; faça o bem aos que te odeiam e ora pelos que te
perseguem e caluniam, a fim de seres filho do teu Pai que está nos céus e que
faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e
os injustos. - Porque se só amares os que te amam, qual será a tua recompensa?
Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os teus irmãos saudardes,
que é o que com isso farás mais do que os outros? Não fazem outro tanto os
pagãos?” (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)
- “Digo-te que, se a
tua justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus, não
entrarás no reino dos céus.” (S. MATEUS, cap. V, v. 20.)
“Se somente amares os
que te amam, que mérito se reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida
também amam os que os amam? – Se o bem somente fizeres aos que te fazem-no, que
mérito se reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? - Se só emprestares
àqueles de quem possas esperar o mesmo favor, que mérito se reconhecerá, quando
as pessoas de má vida se ajudam mutuamente dessa maneira para auferir a mesma
vantagem? Pelo que te toca, ama os teus inimigos, faças bem a todos e auxilia
sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a tua recompensa e serás
filho do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. - Sejas
cheio de misericórdia, como cheio de misericórdia é o teu Deus.” (S. LUCAS,
cap. VI, vv. 32 a 36.)
Retribuir
o mal com o bem
Se o amor ao próximo
constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a sua aplicação máxima,
porque a posse dessa virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas
contra o egoísmo e o orgulho.
* * *
Não pretendeu Jesus
assim falando que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que
dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ninguém pode
depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode
ter para com ela demonstrações de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa
atitude.
Entre as pessoas que
desconfiam umas das outras, não pode haver os mesmos laços de simpatia que
existem entre as que compartilham das mesmas ideias. Enfim, ninguém pode
sentir, em estar com um inimigo, satisfação igual ao que sente na companhia de
um amigo.
* * *
Amar os inimigos não
é ter-lhes uma afeição forçada, por que o contato de um inimigo nos faz bater o
coração de modo muito diferente do seu bater ao contato de um amigo.
* * *
Amar os Inimigos é
não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem
pensamento oculto e sem condições, o mal que nos fazem; é não opor nenhum
obstáculo á reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é
experimentar alegria, em vez de tristeza, com o bem que lhes aconteça; é
socorrê-los, em caso de necessidade; é abster-se, quer por palavras, quer
por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes
sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede
preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos.
* * *
Pela destinação da
Terra, encontram-se homens maus e perversos; já que as maldades com que o homem
se defronta fazem parte das provas que deve suportar e o elevado ponto de vista
em que se coloca torna-lhe menos amargos os problemas da vida, quer venham dos
homens, quer das coisas.
* * *
O homem não se deve
queixar das provas, tampouco deve queixar-se dos que lhe servem de instrumento.
Se, em vez de se lamentar, agradece a Deus
experimentá-lo, deve também agradecer a mão que lhe dá oportunidade de
demonstrar a sua paciência e a sua resignação. Esta ideia o dispõe
naturalmente ao perdão. Sente que quanto mais generoso for, tanto mais se
engrandece aos seus próprios olhos e se põe fora do alcance dos dardos do seu
inimigo.
* * *
O homem que no mundo
ocupa elevada posição não se considera ofendido com os insultos daquele a quem
olha como seu inferior. O mesmo se dá com o que, no mundo moral, se eleva acima
da humanidade material. Este compreende que o ódio e o rancor o diminuiriam e o
rebaixariam. Para ser superior ao seu adversário, preciso é que tenha a alma
maior, mais nobre e generosa do que a desse último.
Os
inimigos desencarnados
A morte apenas livra
ao homem da presença material de seu inimigo, pois este o pode perseguir com o
seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra; assim, a vingança assassina
que se proponha realizar falha ao seu objetivo, visto que, ao contrário, tem
por efeito produzir maior irritação, capaz de prosseguir de uma existência a
outra.
* * *
A expressão: extinguir
o ódio com o sangue é radicalmente falsa, a verdade é que o sangue alimenta
o ódio, mesmo no além-túmulo.
* * *
Não há coração tão
perverso que, mesmo de má vontade, não se mostre sensível ao bom proceder.
Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo menos, todo motivo da vingança,
podendo-se até fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua morte.
* * *
Com um mau
procedimento, o homem irrita o seu inimigo, que então se constitui
instrumento da justiça de Deus para punir aquele que não perdoou.
* * *
Pode-se assim
encontrar inimigos entre os encarnados, bem como entre os desencarnados. Os
inimigos do mundo invisível manifestam sua maldade pelas obsessões e
subjugações a que tantas pessoas estão expostas e que representam um variedade
de provações, as quais, como as outras, concorrem para o adiantamento do ser
que, por isso, as deve receber com resignação e como consequência da natureza
inferior do globo terrestre. Se não existissem homens maus na Terra, não
haveriam Espíritos maus ao seu redor.
* * *
Antigamente,
sacrificavam-se vítimas sangrentas para apaziguar os deuses infernais, que não
eram senão os maus Espíritos. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que
são a mesma coisa. O Espiritismo demonstra que esses demônios mais não são do
que as almas dos homens perversos, que ainda se não despojaram dos instintos
materiais; que ninguém consegue pacificá-los, senão mediante o sacrifício do
ódio existente, isto é, por meio da caridade; que esta não tem por efeito,
unicamente, impedi-los de praticar o mal e sim, também o de os conduzir ao
caminho do bem e de contribuir para a salvação deles.
Se alguém te bater na
face direita, apresenta também a outra Aprendeste que foi dito: olho por olho e
dente por dente. - Eu, porém, te digo que não resistas ao mal que te queiram
fazer; que se alguém te bater na face direita, lhe apresente também a outra; -
e que se alguém quiser pleitear contra ti para te tomar a túnica, também lhes
entregues o manto; - e que se alguém te obrigar a caminhar mil passos com ele,
caminhes mais dois mil. - Dá àquele que te pedir e não rejeites aquele que te
queira tomar emprestado. (S. MATEUS, cap. V, vv. 38 a 42.)
Veio o Cristo e
disse: Retribui o mal com o bem. E disse ainda: "Não resistas ao mal que
lhes queiram fazer; se alguém lhes bater numa face, apresenta-lhe a outra.” Ao
orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porque ele não compreende que haja
mais coragem em suportar um insulto do que em realizar uma vingança, e não
compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente. Enunciando aquela
máxima, não pretendeu Jesus proibir toda defesa, mas condenar a vingança.
Disse, sob outra
forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com
humildade tudo o que tende a reduzir-lhe o orgulho; que maior glória lhe advém
de ser ferido do que ferir, de suportar pacientemente uma injustiça do que
praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que
arruinar os outros.
* * *
Somente a fé na vida
futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem
forças para suportar com paciência os golpes que lhes sejam desferidos nos
interesses e no amor-próprio.
Daí repetirmos
incessantemente: Lancem para o futuro o olhar; quanto mais se elevarem pelo
pensamento acima da vida material, tanto menos lhes magoarão as coisas da
Terra.
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
A vingança
Espírito Júlio
Oliver-Paris,1862
A vingança é um dos
últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os
homens. É, como o duelo, um dos últimos vestígios dos hábitos selvagens que
faziam a Humanidade sofrer no começo da era cristã, razão por que a vingança
constitui sinal certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos
Espíritos que ainda as inspirem.
* * *
Vingar-se é tão
contrário àquele ensinamento do Cristo: "Perdoa aos teus inimigos",
que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é
cristão.
* * *
O agressor não recua
diante da calúnia e suas traiçoeiras insinuações que são habilmente espalhadas
em todas as direções, vão crescendo pelo caminho. Em consequência, quando o
perseguido se apresenta nos lugares por onde passou o sopro envenenado do
perseguidor, espanta-se por encontrar rostos frios, em vez de fisionomias
amigas e benevolentes que anteriormente o acolhiam. Fica atônito quando mãos que
se estendiam, agora se recusam a apertar as suas. Enfim, sente-se arrasado, ao
verificar que os seus mais caros amigos e parentes se afastam e o evitam. O
covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que aquele que vai
direto a seu inimigo e o insulta de cara limpa.
* * *
O ódio
Fénelon
–Bórdeus, 1861
Penoso é o sacrifício
de amarem os que lhes ofendem e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é
que lhes torna superiores a eles. Se os odiassem, como lhes odeiam, não
valeriam mais do que eles. Embora a lei de amor mande amar indistintamente a
todos os nossos irmãos, ela não protege o coração contra os maus procedimentos;
esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa porque, durante a minha última existência
terrena experimentei essa tortura. Mas Deus existe e pune nesta vida e na outra
os que violam a lei de amor. Não esqueçam que o amor aproxima de Deus a
criatura e o ódio a distância dele.
O duelo
Adolfo, bispo de Argel. (Marmande, 1861.)
Arriscar a vida em
duelo para se vingar de uma ofensa é recuar diante das provações da vida, é
sempre um crime aos olhos de Deus; e, se não fossem como são, iludidos pelos
seus preconceitos, tal coisa seria ridícula e uma suprema loucura aos olhos dos
homens.
* * *
Há crime no homicídio
em duelo; a própria legislação o reconhece.
Ninguém tem o
direito, em caso algum, de atentar contra a vida de seu semelhante: é um crime
aos olhos de Deus, que lhes traçou a linha de conduta que tem de seguir. Nisso,
mais do que em qualquer outra circunstância, são juízes em causa própria.
Lembrem-se de que somente lhes serão perdoados conforme perdoares; pelo perdão
se aproximam da Divindade, pois a clemência é irmã do poder. Enquanto na Terra
correr uma gota de sangue humano, vertida pela mão dos homens, o verdadeiro
reino de Deus ainda aí não se terá implantado, reino de paz e de amor, que há
de afastar para sempre deste planeta a animosidade, a discórdia, a guerra.
Então, a palavra duelo somente existirá na linguagem humana como longínqua e
vaga recordação de um passado que se foi.
* * *
Um Espírito protetor.
(Bordéus, 1861.)
O duelo, para o
duelista hábil, é um assassinato praticado a sangue frio, com toda a ação planejada,
uma vez que ele está certo da eficácia do golpe que desfechará. Para o
adversário, quase certo de morrer em virtude de sua fraqueza e inabilidade, é
um suicídio cometido com a mais fria reflexão.
COMENTÁRIO
AMAI OS
VOSSOS INIMIGOS
Se o amor ao próximo
é o princípio da caridade, amar os inimigos é a sua aplicação sublime, porque
essa virtude constitui uma das maiores conquistas sobre o egoísmo e o orgulho.
Essa manifestação de amor não será a mesma que exprimimos a um ente que nos é
querido e fraterno, não estará revestida da mesma ternura que alimentamos
àqueles que os são mais solícitos e correspondem-nos de maneira carinhosa. Não poderemos
ter também a mesma confiança reservada a quem nos inspire reciprocamente o
ódio. Não pode ser uma relação falsa, pois nunca será da mesma forma que quando
estamos com um desses que nos tocam o íntimo de maneira mais serena. É mesmo
uma lei da física a atração e repulsão dos fluidos, sentimentos e afinidades.
Sabemos todos que de acordo sejam os pensamentos que emitimos, junto vão nossos
fluidos mais leves quando resultantes da simpatia, e mais pesados se
resultantes da antipatia. Podemos dizer de maneira simples e direta que o que
não devemos é alimentar o pensamento menos nobre em relação àqueles que nos
instigam o sentimento de repulsa. É não alimentarmos o sentimento de ódio,
rancor, e mesmo sentimento de vingança, assim como quando vemos um garoto da
vizinhança em uma moto e dizemos: “podia cair e quebrar a cara para aprender”,
esse é o tipo de pensamento e ação que Jesus nos incita a controlar, pode não nos
ser simpática a atitude do mesmo, mas não nos é dado julgar.
Precisamos aprender a
perdoar assim como gostaríamos de sê-lo quando cometemos alguma atitude menos
agradável ou ação que produza prejuízo a alguém, mas que por nossa esperteza
passa muitas vezes despercebida. Só por que aquele que queremos odiar não conseguiu
progresso moral, não quer dizer que sejamos mais perfeitos.
Essa é a ideia mais
aproximada da que Jesus nos disse amar ao nosso inimigo. Não alimentemos os
nossos sentimentos de ira, rancor e ódio, pois somos nós mesmos os mais
prejudicados. Essa atitude encerra mais um singelo, embora difícil
procedimento. Se não devemos odiar, não devemos também humilhar, sim precisamos
amar aos inimigos e mesmo ter condescendência em relação às suas atitudes, mas
não fazermos disso uma arma que o atinja na sua dignidade, demonstrando com
esta atitude o orgulho nosso, assim como detestamos no outro.
Devemos ser
indulgentes, mas não ferir o amor próprio daquele que consideramos ser nosso
inimigo. Entendendo por que muitas vezes o nosso irmão não tem a mínima
intenção de ser nosso inimigo, mas, nós com nossa maneira de pensar, assim o
avaliamos. Por isso precisamos ter em mente que não devemos criar barreiras à
nossa volta, não permitindo nenhuma possibilidade de reconciliação. O caminho
desta situação é resolvido muito coerentemente pelo entendimento que o próprio
Jesus nos deu de vida futura, e de ressarcimento de dívidas passadas, além é
claro do processo reencarnatório que nos suscita a ideia de podermos enfrentar
tais vicissitudes para que assim, e como é do nosso entendimento moderno, sem
estudo não há mérito e nem promoção da pessoa humana, nem intelectual, nem
materialmente falando. É evidente que muitos desses desentendimentos seriam inexistentes
se fossemos menos orgulhosos, pois o orgulho é que, na verdade, alimenta a
nossa fúria, mas notem que aquele que se sente inatingível, pela posição que
ocupa na sociedade, ou pela humildade de espírito de que é investido, não leva
tudo em consideração e nem se perturba com determinadas declarações de
animosidade alheia. “Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a
vida como uma viagem que tem um destino certo, não se incomoda com as asperezas
do caminho, não se deixa desviar nem por um instante da rota certa.”
Adolfo, Bispo de
Alger, Marmande, 1861.E.S.E.
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