A Fé Ativa construindo uma Nova Era 24
Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa
Fé, Esperanças e Consolações
(Leon Denis, in “Depois da Morte” –
5ª parte – cap. XLIV)
A fé é a confiança
da criatura em seus destinos, é o sentimento que a eleva à infinita Potestade,
é a certeza de estar no caminho que vai ter à verdade. A fé cega é como farol
cujo vermelho clarão não pode traspassar o nevoeiro; a fé esclarecida é foco
elétrico que ilumina com brilhante luz a estrada a percorrer.
Ninguém adquire
essa fé sem ter passado pelas tribulações da dúvida, sem ter padecido as
angústias que embaraçam o caminho dos investigadores. Muitos param em
esmorecida indecisão e flutuam longo tempo entre opostas correntezas. Feliz
quem crê, sabe, vê e caminha firme. A fé então é profunda, inabalável, e
habilita-o a superar os maiores obstáculos. Foi neste sentido que se disse que
a fé transporta montanhas, pois, como tais, podem ser consideradas as
dificuldades que os inovadores encontram no seu caminho, ou seja, as paixões, a
ignorância, os preconceitos e o interesse material.
Geralmente se
considera a fé como mera crença em certos dogmas religiosos, aceitos sem exame.
Mas a verdadeira fé está na convicção que nos anima e nos arrebata para os
ideais elevados. Há a fé em si próprio, em uma obra material qualquer, a fé
política, a fé na pátria. Para o artista, para o pensador, a fé é o sentimento
do ideal, é a visão do sublime fanal aceso pela mão divina nos alcantis
eternos, a fim de guiar a Humanidade ao Bem e à Verdade.
É cega a fé religiosa
que anula a razão e se submete ao juízo dos outros, que aceita um corpo de
doutrina verdadeiro ou falso, e dele se torna totalmente cativa. Na sua
Impaciência e nos seus excessos, a fé cega recorre facilmente à perfídia, à
subjugação, conduzindo ao fanatismo. Ainda sob este aspecto, é a fé um poderoso
incentivo, pois tem ensinado os homens a se humilharem e a sofrerem. Pervertida
pelo espírito de domínio, tem sido a causa de muitos crimes, mas, em suas
consequências funestas, também deixa transparecer suas grandes vantagens.
Ora, se a fé cega
pôde produzir tais efeitos, que não realizará a fé esclarecida pela razão, a fé
que julga, discerne e compreende? Certos teólogos exortam-nos a desprezar a
razão, a renegá-la, a rebatê-la. Deveremos por isso repudiá-la, mesmo quando
ela nos mostra o bem e o belo? Esses teólogos alegam os erros em que a razão
caiu e parecem, lamentavelmente, esquecer que foi a razão que descobriu esses
erros e ajudou-nos a corrigi-los.
A razão é uma
faculdade superior, destinada a esclarecer-nos sobre todas as coisas. Como
todas as outras faculdades, desenvolve-se e engrandece pelo exercício. A razão
humana é um reflexo da Razão eterna. É Deus em nós, disse São Paulo.
Desconhecer-lhe o valor e a utilidade é menosprezar a natureza humana, é
ultrajar a própria Divindade.
Querer substituir
a razão pela fé é ignorar que ambas são solidárias e inseparáveis, que se
consolidam e vivificam uma à outra. A união de ambas abre ao pensamento um
campo mais vasto: harmoniza as nossas faculdades e traz-nos a paz interna.
A fé é mãe dos
nobres sentimentos e dos grandes feitos. O homem profundamente firme e convicto
é Imperturbável diante do perigo, do mesmo modo que nas tribulações. Superior
às lisonjas, às seduções, às ameaças, ao bramir das paixões, ele ouve uma voz
ressoar nas profundezas da sua consciência, instigando-o à luta, encorajando-o
nos momentos perigosos.
Para produzir tais
resultados, necessita a fé repousar na base sólida que lhe oferecem o livre
exame e a liberdade de pensamento. Em vez de dogmas e mistérios, cumpre-lhe
reconhecer tão-somente princípios decorrentes da observação direta, do estudo
das leis naturais. Tal é o caráter da fé espírita.
A filosofia dos
Espíritos vem oferecer-nos uma fé racional e, por isso mesmo, robusta, O conhecimento
do mundo invisível, a confiança numa lei superior de justiça e progresso
imprime a essa fé um duplo caráter de calma e segurança.
Efetivamente, que
poderemos temer, quando sabemos que a alma é imortal e quando, após os cuidados
e consumições da vida, além da noite sombria em que tudo parece afundar-se,
vemos despontar a suave claridade dos dias infindáveis?
Essencializados da
ideia de que esta vida não é mais que um instante no conjunto da existência
integral, suportaremos, com paciência, os males inevitáveis que ela engendra. A
perspectiva dos tempos que se nos abrem dar-nos-á o poder de dominar as
mesquinharias presentes e de nos colocarmos acima dos vaivéns da fortuna.
Assim, sentir-nos-emos mais livres e mais bem armados para a luta.
O espírita conhece
e compreende a causa de seus males; sabe que todo sofrimento é legítimo e
aceita-o sem murmurar; sabe que a morte nada aniquila, que os nossos
sentimentos perduram na vida de além-túmulo e que todos os que se amaram na
Terra tornam a encontrar-se, libertos de todas as misérias, longe desta lutuosa
morada; conhece que só há separação para os maus. Dessas crenças resultam-lhe
consolações que os indiferentes e os cépticos ignoram.
Se, de uma
extremidade a outra do mundo, todas as almas comungassem nessa fé poderosa,
assistiríamos à maior transformação moral que a História jamais registrou.
Mas essa fé,
poucos ainda a possuem, O Espírito de Verdade tem falado à Terra, mas
insignificante número o tem ouvido atentamente. Entre os filhos dos homens, não
são os poderosos os que o escutam, e, sim, os humildes, os pequenos, os
deserdados, todos os que têm sede de esperança. Os grandes e os afortunados têm
rejeitado os seus ensinos, como há dezenove séculos repeliram o próprio Cristo.
Os membros do clero e as associações sábias coligaram-se contra esse
“desmancha-prazeres”, que vinha comprometer os interesses, o repouso e
derruir-lhes as afirmações.
Poucos homens têm
a coragem de se desdizerem e de confessarem que se enganaram. O orgulho
escraviza-os totalmente! Preferem combater toda a vida esta verdade ameaçadora
que vai arrasar suas obras efêmeras. Outros, muito secretamente, reconhecem a
beleza, a magnitude desta doutrina, mas se atemorizam ante suas exigências
morais. Agarrados aos prazeres, almejando viver a seu gosto, Indiferentes à
existência futura, afastam de seus pensamentos tudo quanto poderia induzi-los a
repudiar hábitos que, embora reconheçam como perniciosos, não deixam de ser
afagados. Que amargas decepções irão colher por causa dessas loucas evasivas!
A nossa sociedade,
absorvida completamente pelas especulações, pouco se preocupa com o ensino
moral.
Inúmeras opiniões
contraditórias chocam-se; no meio desse confuso turbilhão da vida, o homem
poucas vezes se detém para refletir.
Mas todo ânimo
sincero, que procura a fé e a verdade, há de encontrá-la na revelação nova. Um
influxo celeste estender-se-á sobre ele a fim de guiá-lo para esse sol
nascente, que um dia Iluminará a Humanidade Inteira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário