EVANGELHO ESSENCIAL 10.2
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
10 - BEM-AVENTURADOS
OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
A
Indulgência
José,
Espírito Protetor –Bordéus,1863
A indulgência não vê
os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. Ao
contrário, oculta-os, a fim de que se não tornem conhecidos senão dele
unicamente, e, se a malevolência os descobre, tem sempre pronta uma desculpa
para eles, desculpa aceitável, séria, não das que, com aparência de atenuar a
falta, mais a destacam de modo maldoso.
* * *
A indulgência jamais
se interessa com os maus atos dos outros, a menos que seja para prestar um
serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto
possível. Não faz observações ofensivas, não tem nos lábios censuras; apenas
conselhos e, as mais das vezes, velados.
* * *
Quando críticas, que
conclusões se devem tirar das tuas palavras? A de que não fazes o que reprovas,
visto que estas a censurar; que vales mais do que o culpado.
* * *
Homens! quando será
que julgarão os seus próprios corações, os seus próprios pensamentos, os seus
próprios atos, sem se ocuparem com o que fazem seus irmãos? Quando só terão
olhares severos sobre si mesmos? Sejam severos para consigo mesmos, indulgentes
para com os outros.
* * *
Lembra-te dAquele que
julga em última instância, que vê os pensamentos íntimos de cada coração e que,
por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censuras, ou condena o que
relevas, porque conhece o motivo de todos os atos.
* * *
Sejam indulgentes,
meus amigos, porque a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor
desanima, afasta e irrita.
* * *
João,
Bispo de Bórdeus, 1862
Sejam indulgentes com
as faltas alheias, quaisquer que elas sejam; julguem com severidade apenas as
suas próprias ações e o Senhor usará de indulgência para consigo, do mesmo modo
como houverem usado para com os outros.
* * *
Sustentem os fortes:
encorajem-nos a prosseguirem no bem.
Fortaleçam os fracos,
mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor arrependimento;
* * *
Que é o que pedes ao
Senhor, quando imploras para si o perdão? Será unicamente o esquecimento das
suas ofensas? esquecimento que lhes deixaria no nada, porque, se Deus se
limitasse a esquecer as suas faltas, Ele não puniria, é certo, mas tampouco
recompensaria.
* * *
A recompensa não pode
constituir prêmio do bem que não foi feito, nem, ainda menos, do mal que se
haja praticado, embora esse mal fosse esquecido. Pedindo-lhe que perdoe os seus
desvios, o que pedes a Deus é o favor de sua graça, para não reincidires neles,
é a força de que necessitas para entrares num novo caminho, o da submissão e do
amor, nas quais poderias juntar ao arrependimento a reparação do erro.
* * *
Dufetre,
Bispo de Nevers- Bordéus
Sejam severos
consigo, indulgentes para as fraquezas dos outros. É esta uma prática da santa
caridade, que bem poucas pessoas observam.
Todos vocês tem más
tendências a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tem um
fardo mais ou menos pesado a livrar-se, para poderem subir ao topo da montanha
do progresso.
* * *
Por que hão de
mostrar-se observadores tão exigentes com relação ao próximo e tão cegos com
relação a si mesmos?
* * *
Todo homem bastante
orgulhoso para se julgar superior, em virtude e mérito, aos seus irmãos
encarnados é insensato e culpado: Deus o castigará no dia da Sua justiça.
* * *
O verdadeiro caráter
da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um apenas
superficialmente os defeitos dos outros e esforçar-se por fazer que prevaleça o
que há nele de bom e virtuoso, porque, embora o coração humano seja um abismo
de corrupção, sempre há, em alguns de seus recantos mais ocultos, o gérmen de
bons sentimentos, centelha viva da essência espiritual.
* * *
É permitido
repreender os outros, notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de
outrem?
Espírito
São Luís –Paris, 1860
Se considerarmos que
ninguém é perfeito, significa que ninguém tem o direito de repreender o seu próximo?
Cada um deve
trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja proteção lhes foi
confiada. Mas, por isso mesmo, deves fazê-lo com moderação, com um objetivo
útil, e não, como as mais das vezes, pelo prazer de desacreditar. Neste último
caso, a repreensão é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda
seja cumprido com todo o cuidado possível. A demais, a censura que alguém faça
a outro deve ao mesmo tempo dirigi-la a si próprio, procurando saber se não a merecemos
também.
* * *
Será repreensível
observar-se as imperfeições dos outros, quando disso nenhum proveito possa
resultar para eles, mesmo que não sejam divulgadas?
Tudo depende da
intenção. Certamente, a ninguém é proibido ver o mal quando ele existe. Fora
mesmo inconveniente ver em toda a parte só o bem. Semelhante ilusão
prejudicaria o progresso. O erro está no fazer-se que a observação resulte em
prejuízo do próximo, desacreditando-o, sem necessidade perante a opinião
pública. Igualmente repreensível seria fazê-lo alguém apenas para dar expansão
a um sentimento de malevolência e à alegria de verificar o defeito dos outros.
Dá-se inteiramente o contrário quando, lançando sobre o mal um véu para que o
público não o veja, aquele que note os defeitos do próximo o faça em seu
proveito pessoal, tirando uma lição, isto é, para estudar e evitar fazer o que
reprova nos outros.
* * *
Haverão casos em que
pode ser útil revelar o mal dos outros?
Se as imperfeições de
uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá em divulgá-la. Se,
porém, podem acarretar prejuízo aos outros, deve-se atender de preferência ao
interesse da maioria do que o interesse de um só.
* * *
Segundo as
circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode se constituir um
dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas ou
enganados. Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos
inconvenientes.
COMENTÁRIO
BEM-AVENTURADOS
OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
O sentido de sermos
misericordiosos é o de perdoarmos as ofensas de nossos inimigos para estarmos
em paz com nossa consciência. O perdão é próprio da virtude de sermos brandos e
pacíficos. Lamennais, através a Sra Didier, escreveu na Revista Espírita em
agosto de 1962, à pág.251: “Como poder encontrar em si a força para perdoar? A sublimidade
do perdão é a morte do Cristo no Gólgota.” Pode parecer que estejamos
filosofando, mas se nós gostamos de ser perdoados de nossas faltas, como então
não querermos perdoar? É preciso que tenhamos um proceder único e coerente, se
queremos atingir a brandura e a paciência e dela fazermos jus à reciprocidade
de tratamento; como poderemos entender isto sem o perdão? Sim pode ser difícil
perdoarmos, mas se quisermos atingir um grau evolutivo maior e uma elevada
moral, faz-se necessário aprendermos a perdoar, para podermos nos declarar
primeiro brandos e depois cristãos, ou recomeçarmos a nossa vida para mudar
desde o princípio que nos foi dado optar pelo bem ou pelo mal, segundo nossas
próprias inclinações.
Aquele que não sabe
perdoar não é digno de ostentar o nome de Cristão, porque Jesus nos deu, como
vemos na dissertação de Lamennais, exemplo maior. E Ele, segundo o dizer dos
Espíritos, é nosso paradigma para progredir. É mais que evidente que se não
formos condenados pelo homem aqui na Terra, seremos no mundo espiritual por
nossa infração às Leis Naturais Divinas, que as temos inscritas em nossa
consciência quanto Espíritos Imortais, e ademais, os que forem prejudicados por
nós aqui na Terra estarão nos observando, se forem imperfeitos como nós, para
quando nós estivermos presos a corpo material nos obsedar. É claro que devemos
respeitar as leis da sociedade onde estamos, vez que foram criadas por nós mesmos,
pois é a medida com que julgamos, daí por que as devemos fazer brandas, justas
e na medida estrita da necessidade, acima de tudo fazendo com que aquele que
burlou possa compreender e educar-se. Precisamos outrossim ao criar as leis da
Terra, fazermos de forma que antes de esperar utilizá-las, eduquemos os nossos
irmãos, para que sejam preparados a não fazer nada que desrespeite a Lei.
Preciso é sejam também criados mecanismos de oportunidades iguais para todos em
relação ao trabalho digno. Que a educação seja facilitada, que os homens sejam
compreendidos pelo conhecimento, pela razão, e não pela ditadura intelectual, econômica,
fria e extremamente dogmática e ortodoxa, em benefício de poucos que ostentam o
poder. Cada de nós pode fazer algo, veja o exemplo de algumas iniciativas
solidárias e voluntárias particulares que conseguem. É fácil dizer que é
impossível, o difícil é aceitar em nós a dureza da falta de perdão.
10.2 final
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