EVANGELHO ESSENCIAL 9
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
9 -
BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS
Bem-aventurados os
que são brandos, porque possuirão a Terra.
(S.MATEUS, cap. V, v.
4.)
Bem-aventurados os
pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. (Id., v.9.)
Sabes que foi dito
aos antigos: Não matarás e quem quer que mate merecerá condenação pelo juízo. -
Eu, porém, te digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão
merecerá ser condenado no juízo; que aquele que disser a seu irmão: Raca,
merecerá ser
condenado pelo conselho; e que aquele que lhe disser:
És louco,
merecerá ser
condenado ao fogo do inferno. (Id., vv. 21 e 22.)
Injúrias e Violências
Jesus faz da doçura,
da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena a
violência, a cólera e até toda expressão descortês que alguém possa usar para
com seus semelhantes.
* * *
Por que uma simples
palavra pode ser tão grave que mereça severa reprovação? É que toda palavra
ofensiva exprime um sentimento contrário à lei do amor e da caridade que deve
estabelecer as relações entre os homens e manter entre eles a concórdia e a
união; é que constitui um golpe desferido na benevolência recíproca e na
fraternidade que alimenta o ódio e a animosidade; é que, depois da humildade
para com Deus, a caridade para com o próximo é a lei primeira de todo cristão.
* * *
Enquanto aguarda os
bens do Céu, tem o homem necessidade dos da Terra para viver. Apenas o que
Jesus lhe recomenda é que não dê aos bens da Terra mais importância do que aos
do Céu.
* * *
Até agora os bens da
Terra são tomados pelos violentos, em prejuízo dos que são brandos e pacíficos;
que a estes falta muitas vezes o necessário, ao passo que outros têm o
supérfluo ou em excesso.
* * *
Quando a lei de amor
e de caridade for a lei da humanidade, não haverá mais egoísmo; o fraco e o
pacífico não serão mais explorados, nem esmagados pelo forte e pelo violento.
Tal a condição da Terra, quando, de acordo com a lei do progresso e a promessa
de Jesus, se houver transformado em um mundo feliz, pelo afastamento dos maus.
* * *
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
A afabilidade e a
doçura
Espírito Lázaro
–Paris, 1861
O mundo está cheio de
pessoas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são doces,
desde que nada as machuque, mas que mordem à menor contrariedade; cuja
língua, dourada quando falam pela frente, se transforma em dardo venenoso
quando estão por detrás.
* * *
A essa classe
pertencem os homens benignos fora de casa, mas que são tiranos domésticos, fazem
que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do seu orgulho e do
autoritarismo, como para compensar o constrangimento que fora de casa se
submetem. Não ousando agir autoritariamente com os estranhos, que os colocariam
no seu lugar, querem pelo menos ser temidos pelos que não podem resistir-lhes.
* * *
Não basta que os
lábios falem leite e mel, pois se o coração nada tem com isso só há hipocrisia.
Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas , jamais se desmente: é o
mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse sabe que se, pelas
aparências, consegue enganar os homens, a Deus ninguém engana.
A paciência
Um Espírito Amigo-
Havre, 1862
Sejam pacientes. A
paciência também é uma caridade e deves praticar a lei de caridade ensinada pelo
Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a
mais fácil de todas. Outra há muito mais difícil e muito mais meritória: a de
perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos dos
nossos sofrimentos e para nos submeterem à prova a paciência.
* * *
A vida é difícil, mas
se olharmos para os deveres que nos são impostos, nas consolações e
compensações que, por outro lado, recebemos, haveremos de reconhecer que são as
bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece mais leve quando
olhamos para o alto do que quando se curva o rosto para a terra.
* * *
Coragem! O Cristo é o
modelo. Mais sofreu ele do que qualquer um de vocês e nada tinha de que ser
acusado, enquanto que vocês tem de expiar o passado e de se fortalecer para o
futuro. Sejam pacientes, sejam cristãos. Essa palavra resume tudo.
Obediência
e resignação
Espírito Lázaro –
Paris, 1863
A doutrina de Jesus
ensina sempre a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura
e muito ativas, embora os homens erradamente as confundam com a negação do
sentimento e da vontade.
* * *
A obediência é o
consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porque carregam o fardo das
provações que a revolta insensata não suporta.
* * *
Cada época é marcada
com a característica da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A
virtude de sua geração é a atividade intelectual; seu vicio é a indiferença
moral.
* * *
A cólera
Um Espírito Protetor
–Bordéus, 1863
O orgulho lhes leva a
julgar-se mais do que são; a não aceitar uma comparação que lhes possa
rebaixar; a se considerarem tão acima dos seus irmãos, quer em espírito, quer
em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo lhes
irrita e aborrece. E o que acontece então? - Entregam-se à cólera.
* * *
Procurem a origem
desses acessos de loucura passageira que lhes igualam aos brutos, fazendo
perder o sangue-frio e a razão; procurem e quase sempre encontrarão como base o
orgulho ferido.
* * *
Até mesmo a
impaciência, causadas pelas contrariedades muitas vezes infantis, decorre da
importância atribuída á sua personalidade, diante da qual entende que todos se
devem curvar-se.
* * *
Em seu entusiasmo
delirante, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos
inanimados, quebrando-os porque não lhe obedecem. Ah! se nesses momentos
pudesse ele observar-se a sangue frio, ou teria medo de si próprio, ou se
reconheceria ridículo! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros.
* * *
Se pensasse que a
cólera nada resolve, que lhe altera a saúde e compromete sua própria vida,
reconheceria ser ele mesmo a sua primeira vítima.
* * *
A cólera não exclui
certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar a
fazer-se muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se por
dominá-la.
* * *
Espírito Hahnemann –
Paris, 1863
Segundo a ideia muito
falsa de que não é possível alterar a sua própria natureza, o homem se julga
dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se alegra
voluntariamente, ou que exigiriam muita perseverança para serem eliminados.
* * *
É assim que o
indivíduo inclinado a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu
temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu
temperamento, acusando a Deus pelos seus próprios defeitos.
* * *
O corpo não dá
impulsos de cólera àquele que não os tem, do mesmo modo que não dá os outros
vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são próprios da natureza do
Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade?
* * *
o homem só permanece
vicioso porque quer permanecer vicioso; mas aquele
que deseja corrigir-se sempre o pode fazer.
COMENTÁRIO
BEM-AVENTURADOS
OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS
Se estudarmos a vida
de Jó iremos nos convencer da misericórdia e complacência de Deus. Jesus, nos
convida a sermos brandos e pacíficos, pois que possuiremos a Terra. A
afabilidade, a doçura, a paciência, a obediência e a resignação são as virtudes
que nos cabe cultivar. Evidente que nos é difícil praticar tais virtudes quanto
mais cultivá-las em definitivo. Mas é o que nós exigimos dos nossos irmãos de
jornada para conosco e infeliz daquele que não se dispuser a nos oferecer tal
tratamento. É comum, em nosso meio, alguns irmãos se dirigirem ao próximo e
mesmo ao seu mais próximo, seus familiares, dizendo: você é indelicado,
mal-educado, eu irei falar com seu superior, ou familiar mais influente e pedir
mais respeito ,se não somos atendidos como queremos. Jesus, amor por
excelência, deu-nos o exemplo prático de como deveríamos tratar nosso
semelhante para alcançarmos o tratamento que gostaríamos para nós. Vemos no
capítulo em estudo que Jesus nos dá a regra direitinho. Será possuidor da Terra
aquele que for brando e pacífico, ou seja, será morador da Terra, pois com suas
virtudes irá merecer o respeito e a deferência aos homens de bem na Terra. Não
essa posse obsessiva de poder, de ter, mas aquela em que compartilhamos dos
benefícios de seu produto, da fraternidade ao nosso próximo mais necessitado, e
da observância da amorosidade para com aqueles menos favorecidos. E mesmo pela
inobservância daquele para com sua posição, deixar o nosso orgulho de lado e
sermos complacentes, assim como Deus é para conosco, dando-nos a oportunidade
de sermos exemplos àqueles que sofrem, e termos mais brandura e paciência, pois
se somos mais aquinhoados é porque quis Deus fossemos seus contemplados para
espalhar da sua Misericórdia e complacência entre aqueles que ainda não
aprenderam a observar-Lhe isto. Somos responsáveis pela riqueza que nos foi
dada para sermos desprendidos, e compartilharmos entre os que necessitam, não
de forma protecionista e gerando dependências, mas da forma como Deus ensinou a
Jó, dando oportunidades de trabalho e remissão compreensiva de tudo que Ele nos
dispõe. Devemos respeito a todos indistintamente, pois estamos de passagem pela
Terra em oportunidade disposta a nós para evoluirmos e prestarmos testemunho da
nossa compreensão e tolerância amorosa efetiva. Diz Jesus em suma, a ninguém é
lícito julgar o próximo, ou fazer prevalecer seu conhecimento, e nem mesmo seus
títulos, pois no mundo Espiritual não nos é dado ostentar nenhum destes. E
mesmo o menor dos servidores aqui na Terra, poderá ser um espírito muito mais
culto e evoluído do que nós em razão da nossa limitada capacidade de medir
aqui. Lembremo-nos que somos todos irmãos em Deus, pois fomos criados por Ele
para juntos conquistarmos os conhecimentos e evolução moral que nos capacite
galgar um novo degrau na escala evolutiva, rumo à perfeição.
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