EVANGELHO ESSENCIAL 10.1
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
10 - BEM-AVENTURADOS
OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
Bem-aventurados os
que são misericordiosos, porque obterão misericórdia. (S.MATEUS, cap. V, v. 7.)
Se perdoares aos
homens as faltas que cometem contra ti, também o Pai celestial ti perdoará os
pecados; - mas, se não perdoares aos homens quando te ofendam, teu Pai
celestial também não te perdoará os pecados. (S.MATEUS, cap. VI, vv. 14 e 15.)
Se contra ti pecou
teu irmão, vá fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele; se te
atender, terás ganho o teu irmão.
- Então,
aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: "Senhor, quantas vezes perdoarei a
meu irmão, quando houver pecado contra mim?
Até sete vezes?"
- Respondeu-lhe Jesus: “Não te digo que perdoes até sete vezes, e sim até
setenta vezes sete vezes." (S. MATEUS, cap. XVIII, vv. 15, 21 e 22.)
Perdoai
para que Deus vos perdoe
A misericórdia é o
complemento da doçura, porque aquele que não for misericordioso não poderá ser
brando e pacífico.
* * *
Ela consiste no
esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor demonstram alma sem
elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada,
que está acima do mal que lhe quiseram fazer. Uma esta sempre ansiosa, de uma
irritabilidade desconfiada e amargurada; a outra é calma, cheia de mansidão e
caridade.
* * *
Infeliz daquele que
diz: eu nunca perdoarei. Esse, se não for condenado pelos homens, sê-lo-á por
Deus. Com que direito pedirá o perdão de suas próprias faltas, se ele mesmo não
perdoa as dos outros?
* * *
Jesus nos ensina que
a misericórdia não deve ter limites, quando diz que cada um perdoe ao seu
irmão, não sete vezes, mas setenta vezes sete .
* * *
Há duas maneiras bem
diferentes de perdoar: uma, grande, nobre, verdadeiramente generosa, sem
segunda intenção, que evita, com delicadeza, ferir o amor-próprio e a
suscetibilidade do adversário, mesmo quando a culpa foi inteiramente dele; a
outra é quando o ofendido, ou aquele que assim se julga, impõe ao outro
condições humilhantes e lhe faz sentir o peso de um perdão que irrita, em vez
de acalmar; se estende a mão ao ofensor, não o faz com benevolência, mas com
ostentação, a fim de poder dizer a todos: Olhem como sou generoso! Nessas
circunstâncias, é impossível uma reconciliação sincera de ambas as partes. Não
há aí generosidade; mas apenas uma forma de satisfazer ao orgulho.
* * *
Em todas as
divergências, aquele que se mostra mais conciliador, que demonstra mais
desinteresse, caridade e verdadeira grandeza de alma conquistará sempre a
simpatia das pessoas imparciais.
Reconciliação
com os adversários
Reconcilia-te o mais
depressa possível com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para
que ele não te entregue ao juiz, o juiz não te entregue ao ministro da justiça
e não sejas mandado para a prisão. - Digo-te, em verdade, que de lá não sairás,
enquanto não houveres pago o último ceitil. (S. MATEUS, cap. V, vv. 25 e 26.)
Na prática do perdão,
como na do bem, não há somente um efeito moral: há também um efeito material. A
morte não nos livra dos nossos inimigos; os Espíritos vingativos perseguem,
muitas vezes, com seu ódio, no além-túmulo, aqueles contra os quais guardam
rancor; O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao
seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos
seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da
maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade,
quais os de subjugação e possessão.
* * *
O obsediado e o
possesso são quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em
existência anterior, a que provavelmente deram motivo por sua conduta. Deus
permite a situação atual, para os punir do mal que praticaram, ou, se não o
fizeram, por haverem faltado com a indulgência e a caridade, não perdoando.
Importa, do ponto de vista da tranquilidade futura, que cada um corrija, quanto
antes, os males que tenha causado ao seu próximo, que perdoe aos seus inimigos,
para assim se extinguirem, antes da morte, todos os motivos de discórdia, toda
causa profunda de animosidade posterior.
* * *
Deus não consente que
aquele que perdoou sofra qualquer vingança.
* * *
Quando Jesus
recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário,
não é somente objetivando eliminar as discórdias no curso da nossa atual
existência; é para que elas não continuem nas existências futuras. Não sairás
da prisão, enquanto não houveres pago até o último centavo, isto é, enquanto
não houver satisfeito completamente a justiça de Deus.
* * *
O
sacrifício mais agradável a Deus
Se quando fores
apresentar tua oferenda no altar, te lembrares de que o teu irmão tem qualquer
coisa contra ti, - deixa o teu donativo junto ao altar e vai, antes de mais nada,
reconciliar-te com o teu irmão; depois, então, volta à oferecê-la. - (S.
MATEUS, cap. V, vv. 23 e 24.)
Jesus ensina que o
sacrifício mais agradável ao Senhor é o do próprio ressentimento; que, antes de
se apresentar para ser por Ele perdoado, precisa o homem haver perdoado e
reparado o mal que tenha feito a algum de seus irmãos. Só então a sua oferenda
será bem aceita, porque virá de um coração livre de todo e qualquer pensamento
mau.
* * *
O cristão
não oferece dons materiais, pois espiritualizou o sacrifício.
Com isso o
ensinamento ainda mais força ganha. Ele oferece sua alma a Deus e essa alma tem
de estar purificada. Entrando no templo do Senhor, deve deixar fora todo
sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão.
O argueiro
e a trave no olho
Por que vês um
argueiro no olho do teu irmão, quando não vês uma trave no teu olho? - Ou, como
é que dizes ao teu irmão: Deixa-me tirar um argueiro no seu olho, tu que tens
no teu uma trave? - Hipócritas, tirem primeiro a trave do seu olho e depois,
então, vejam como poderão tirar o argueiro do olho do seu irmão. (S. MATEUS,
cap. VII, vv. 3 a 5.)
Uma das insensatezes
da Humanidade consiste em ver o mal nos outros, antes de vermos o mal que está
em nós.
* * *
Para julgar-se a si
mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse
transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e
perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço?
Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a disfarçar, para si mesmo,
os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos.
* * *
Esta insensatez é
totalmente contrária à caridade, porque a verdadeira caridade é modesta,
simples e indulgente. Caridade orgulhosa é um contra-senso, visto que esses
dois sentimentos se neutralizam um ao outro.
* * *
Por isso mesmo,
porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas
virtudes. Ele se encontra na base e como razão de quase todas as más ações.
Essa a razão por que Jesus se dedicou tanto em combatê-lo como principal
obstáculo ao progresso.
* * *
Não
julgueis, para não serdes julgados. - Atire a primeira pedra aquele que estiver
sem pecado
Não julgues, a fim de
não seres julgados; - porque serás julgados conforme houveres julgado os
outros; empregar-se-á contigo a mesma medida de que te tenhas servido para com
os outros. (S. MATEUS, cap. VII, vv. 1 e 2.)
Então, os escribas e
os fariseus lhe trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e,
pondo-a de pé no meio do povo, - disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher acaba
de ser surpreendida em adultério; - Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as
adúlteras.
Qual sobre isso a tua
opinião?” - Diziam isto para o tentarem e terem de que o acusar. Jesus, porém,
abaixando-se, entrou a escrever na terra com o dedo. - Como continuassem a
interrogá-lo, ele se levantou e disse: “Aquele dentre vocês que estiver sem
pecado, atire a primeira pedra.” - Em seguida, abaixando-se de novo, continuou
a escrever no chão. - Quanto aos que o interrogavam, esses, ouvindo-o falar
daquele modo, se retiraram, um após outro, afastando-se primeiro os velhos.
Ficou Jesus a sós com a mulher, colocada no meio da praça. Então,
levantando-se, perguntou-lhe Jesus: “Mulher, onde estão os que te acusaram?
Ninguém te condenou?”
- Ela respondeu: “Não, Senhor.” Disse-lhe
Jesus: “Também eu não
te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar.” (S. JOÃO, cap. VIII, vv.
3 a 11.)
"Atire-lhe a
primeira pedra aquele que estiver sem pecado", disse Jesus.
Esse ensinamento faz
da indulgência um dever para nós, porque ninguém há que não necessite, para si
mesmo, de indulgência.
* * *
Ela nos ensina que
não devemos julgar com mais severidade os outros do que julgamos a nós mesmos,
nem condenar nos outros o que desculpamos em nós mesmos. Antes de reprovar a
alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.
* * *
A censura lançada à
conduta alheia pode ter dois motivos: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa
cujos atos se criticam. Não tem justificativa nunca este último propósito,
porque neste caso só há maledicência e maldade. O primeiro pode ser louvável e
constitui mesmo, em certas ocasiões, um dever porque um bem deverá daí
resultar, e vez que, a não ser assim, jamais na sociedade se combateria o mal.
* * *
A autoridade para
censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura.
* * *
A consciência íntima
recusa respeito e submissão voluntária àquele que, investido de um poder
qualquer, viola as leis e os princípios de cuja aplicação lhe cabe o encargo.
* * *
Aos olhos de Deus,
uma única autoridade legítima existe: a que se apoia no exemplo que dá do bem.
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
Perdão
das ofensas
Simeão –Bordéus,1862
Quantas vezes
perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-ei não sete vezes, mas setenta vezes sete
vezes. Perdoarás, contudo ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes
quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si
mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e
às injúrias; serás doce e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude; farás
o que desejas que o Pai Celestial por ti faça. Não está ele a te perdoar
frequentemente? Conta as vezes que o Seu perdão vem apagar as tuas faltas?
* * *
Perdoa, usa de
indulgência, seja caridoso, generoso, pródigo até do seu amor.
* * *
Perdoe aos teus
irmãos, como precisas que te perdoe. Se atos pessoalmente te prejudicaram, mais
um motivo tens para ser indulgente, porque o mérito do perdão é proporcional à
gravidade do mal. Nenhum merecimento teriam em relevar os erros dos teus
irmãos, desde que não passassem de simples arranhões.
* * *
Jamais se esqueça de
que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser uma
expressão vazia e inútil. Pois quem se diz espírita, seja-no de fato. Esqueça o
mal que te tenham feito e não pense senão numa coisa: no bem que podes fazer.
Aquele que entrou por esse caminho não tem que se afastar daí, ainda que por
pensamento, uma vez que é responsável por seus pensamentos, os quais todos Deus
conhece.
* * *
Faz que os
pensamentos sejam desprovidos de qualquer sentimento de rancor. Deus sabe o que
existe no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz daquele que pode
todas as noites adormecer dizendo: Nada tenho contra o meu próximo.
* * *
Paulo,
o Apóstolo –Lião, 1861
Perdoar aos inimigos
é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de
amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era antes. Perdoes a fim
de que Deus te perdoe, porque se fores duro, exigente, inflexível, se usares de
rigor até por uma ofensa leve, como queres que Deus esqueça de que cada dia
maior necessidade tens de perdão?
* * *
Infeliz daquele que
diz: "Nunca perdoarei", pois pronuncia a sua própria condenação.
* * *
Quem sabe se,
descendo ao fundo de si mesmo, não reconheça que fora o agressor? Quem sabe se,
nessa luta que começa por uma alfinetada e acaba por uma ruptura, não fora quem
atirou o primeiro golpe, se não lhe escapou alguma palavra injuriosa, se não
procedeu com toda a moderação necessária? Sem dúvida, o seu adversário andou
mal em se mostrar excessivamente suscetível; razão a mais para que sejas
indulgente e para não merecer ele a tua reprovação.
* * *
Admitamos que, em
dada circunstância, fostes realmente ofendido: quem dirá que não envenenastes
as coisas por meio de represálias e que não transformastes em disputa grave o
que houvera podido cair facilmente no esquecimento? Se dependia de ti impedir
as consequências do fato e não as impedistes és culpado.
* * *
Há duas maneiras bem
diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas
pessoas dizem a respeito de seu adversário:
"Eu lhe
perdoo", mas, interiormente, alegram-se com o mal que lhe acontece,
comentando que ele tem o que merece. Quantos não dizem:
"Perdoo" e
acrescentam. "mas não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em
toda a minha vida." Será esse o perdão, segundo o Evangelho? Não!
* * *
O perdão verdadeiro,
o perdão cristão é aquele que lança um véu sobre o passado; esse o único que te
será cobrado, visto que Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda o
fundo do coração e os mais secretos pensamentos. Ninguém se impõe a Deus por
meio de vãs palavras e de fingimentos.
* * *
O esquecimento
completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas; o rancor é sempre
sinal de baixeza e de inferioridade.
* * *
Não esqueças que o
verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras.
SEGUE próximo estudo 10.2
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