Céu inferno_063_2ª parte cap. V - Suicidas - Luís e a pespontadeira de
botinas
RESUMO PARA ESTUDO
Havia sete para oito meses que Luís G..., oficial sapateiro, namorava
uma jovem, Victorine R..., com a qual em breve deveria casar-se, já tendo mesmo
corrido os proclamas do casamento.
Neste pé as coisas, consideravam-se quase definitivamente ligados e, como
medida econômica, diariamente vinha o sapateiro almoçar e jantar em casa da
noiva.
Um dia, ao jantar, sobreveio uma controvérsia a propósito de qualquer
futilidade, e, obstinando-se os dois nas opiniões, foram as coisas ao ponto de
Luís abandonar a mesa, protestando não mais voltar.
Apesar disso, no dia seguinte veio pedir perdão. (...) Nem protestos,
nem lágrimas, nem desesperos puderam demovê-la. Muitos dias ainda se passaram,
esperando Luís que a sua amada fosse mais razoável, até que resolveu fazer uma
última tentativa: - Chegando a casa da moça, bateu de modo a ser reconhecido,
mas a porta permaneceu fechada, recusaram abrir-lha.
(...) O desgraçado moço enterrara uma faca na região do coração, e o
ferro ficara-lhe cravado na ferida.
(Sociedade Espírita de Paris, agosto de 1858)
1. - Ao Espírito S. Luís. - A moça, causadora involuntária do suicídio,
tem responsabilidade?
R. Sim, porque o não amava.
2. - Então para prevenir a desgraça deveria desposá-lo a despeito da
repugnância que lhe causava?
R. Ela procurava uma ocasião de descartar-se, e assim fez em começo da
ligação o que viria a fazer mais tarde.
3. - Neste caso, a sua responsabilidade decorre de haver alimentado
sentimentos dos quais não participava e que deram em resultado o suicídio do
moço?
R. Sim, exatamente.
4. - Mas então essa responsabilidade deve ser proporcional à falta, e
não tão grande como se consciente e voluntariamente houvesse provocado o
suicídio...
R. É evidente.
5. - E o suicídio de Luís tem desculpa pelo desvario que lhe acarretou
a obstinação de Victorine? - R. Sim, pois o suicídio oriundo do amor é menos
criminoso aos olhos de Deus, do que o suicídio de quem procura libertar-se da
vida por motivos de covardia.
Ao Espírito Luís G..., evocado mais tarde, foram feitas as seguintes
perguntas:
1. - Que julgais da ação que praticastes?
R. Victorine era uma ingrata, e eu fiz mal em suicidar-me por sua
causa, pois ela não o merecia.
2. - Então não vos amava?
R. Não. A princípio iludia-se, mas a desavença que tivemos abriu-lhe os
olhos, e ela até se deu por feliz achando um pretexto para se desembaraçar de
mim.
3. - E o vosso amor por ela era sincero?
R. Paixão somente, creia; pois se o amor fosse puro eu me teria poupado
de lhe causar um desgosto.
4. - E se acaso ela adivinhasse a vossa intenção persistiria na sua
recusa?
R. Não sei, penso mesmo que não, porque ela não é má. Mas, ainda assim,
não seria feliz, e melhor foi para ela que as coisas se passassem de tal forma.
5. - Batendo-lhe à porta, tínheis já a ideia de vos matar, caso se
desse a recusa?
R. Não, em tal não pensava, porque também não contava com a sua
obstinação. Foi somente à vista desta que perdi a razão.
6. - Parece que não deplorais o suicídio senão pelo fato de Victorine o
não merecer... E realmente o vosso único pesar?
R. Neste momento, sim; estou ainda perturbado, afigura-se-me estar
ainda à porta, conquanto também experimente outra sensação que não posso
definir.
7. - Chegareis a compreendê-la mais tarde?
R. Sim, quando estiver livre desta perturbação. Fiz mal, deveria
resignar-me... Fui fraco e sofro as consequências da minha fraqueza. A paixão
cega o homem a ponto de praticar loucuras, e infelizmente ele só o compreende
bastante tarde.
8. - Dizeis que tendes um desgosto... qual é?
R. Fiz mal em abreviar a vida. Não deveria fazê-lo. Era preferível tudo
suportar a morrer antes do tempo. Sou portanto infeliz; sofro, e é sempre ela
que me faz sofrer, a ingrata. Parece-me estar sempre à sua porta, mas... não
falemos nem pensemos mais nisso, que me incomoda muito. Adeus.
Nota - Por isso se vê ainda uma nova confirmação da justiça que preside
à distribuição das penas, conforme o grau de responsabilidade dos culpados É à
moça, neste caso, que cabe a maior responsabilidade, por haver entretido em
Luís, por brincadeira, um amor que não sentia. Quanto ao moço, este já é de
sobejo punido pelo sofrimento que lhe perdura, mas a sua pena é leve, porquanto
apenas cedeu a um movimento irrefletido em momento de exaltação, que não à fria
premeditação dos suicidas que buscam subtrair-se às provações da vida.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1. Por que a moça é mais culpada do que o suicida?
2. Quais as atenuantes nesse caso em particular?
3. Como você entende a justiça Divina na aplicação das penas?
Conclusão:
1. Porque foi em função da ação leviana dela em relação a este espírito
que provocou a reação do suicídio. ´
2. Foi uma atitude tomada sem premeditação em um momento de grande dor,
onde o espírito não pensou no seu ato e nas consequências dele, tendo sido
arrebatado, assim, pelo sentimento do momento.
3. A pena é conforme a falta, por isso, nenhuma punição (leia-se consequência
de nossos atos negativos) é igual porque não há faltas iguais, embora de mesma
natureza.
Sempre haverá atenuantes e/ou agravantes dependendo da razão da ação,
do grau evolutivo do espírito e das suas intenções.
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