domingo, 1 de maio de 2016

EVANGELHO ESSENCIAL 9 #8 - BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO

EVANGELHO ESSENCIAL 9
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti

8 - BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO

Bem-aventurados os que têm puro o coração, porque verão a Deus.
(S. Mateus, cap. V, v. 8.)

Apresentaram a Jesus algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: “Deixem que venham a mim as criancinhas e não as impeçam, porque o reino dos céus é para os que lhes assemelham. –

Digo-lhes, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará.” - E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos. (S. MARCOS, cap. X, vv. 13 a 16.)

Simplicidade e pureza de coração

A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade.
Exclui toda ideia de egoísmo e de orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como símbolo dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade.
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Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo e assim era preciso que fosse, para lhe cativar a solicitude. Ela não poderia ter-lhe o mesmo devotamento, se, em vez da graça ingênua, deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as ideias de um adulto e, ainda menos, se viesse a conhecer o passado.
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Faz-se necessário que a atividade do princípio inteligente seja proporcional à fraqueza do corpo, que não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, como se verifica nos indivíduos grandemente precoces.
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Essa a razão por que, ao aproximar-se a encarnação, o Espírito entra em perturbação e perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, ficando, por certo tempo, numa espécie de sono, durante o qual todas as suas faculdades permanecem adormecidas.
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Sobre ele reage o passado. Renasce para uma vida maior, mais forte, moral e intelectualmente, sustentado e acompanhado pela intuição que conserva da experiência adquirida.
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A partir do nascimento, suas ideias tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem, pelo que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas às ideias que lhe formam o fundo do caráter. Durante o tempo em que seus instintos se conservam sonolentos, ele é mais maleável e mais acessível às impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que torna mais fácil a tarefa que incumbe aos pais.
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O Espírito veste temporariamente a túnica da inocência e, assim, Jesus está com a verdade, quando, sem prejuízo da anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da pureza e da simplicidade.
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Pecado por pensamentos. – Adultério

Aprendam que foi dito aos antigos: “Não cometerás adultério. Eu, porém, lhes digo que aquele que houver olhado uma mulher, com mau desejo para com ela, já em seu coração cometeu adultério com ela.” (S. Mateus, cap. V, vv.27 e 28.)

A palavra adultério deve ser entendida num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para referir-se ao mal, ao pecado, a todo e qualquer pensamento mau.
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A verdadeira pureza não está somente nos atos; está também no pensamento, porque aquele que tem puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer: ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza.
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À medida que avança na vida espiritual, a alma que enveredou pelo mau caminho se esclarece e despoja-se pouco a pouco de suas imperfeições, conforme a maior ou menor boa-vontade que demonstre, em virtude do seu livre-arbítrio.
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Todo pensamento mau resulta da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de purificar-se, mesmo esse mau pensamento se torna uma ocasião de adiantar-se, quando ela o repele com energia. É sinal de esforço por apagar uma imperfeição. Não cederá, quando se apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.
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Aquele que não tomou boas resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de oportunidade, é tão culpado quanto o seria se o cometesse.
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Naquele que nem sequer concebe a ideia do mal, já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia ocorre, mas que a repele, há progresso em vias de realizar-se; naquele que pensa no mal e nesse pensamento se satisfaz, o mal ainda existe na plenitude da sua força.

Num, o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é justo, leva em conta todas essas gradações na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.

Verdadeira pureza- Mãos não lavadas

Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. - O fariseu entrou então a dizer consigo mesmo: "Por que não lavou ele as mãos antes de jantar?” Disse-lhe o Senhor: "Vocês, fariseus, põem grandes cuidados em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior dos seus corações está cheio de roubos e de iniquidades.

Insensatos que são! aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?" (S. LUCAS, cap. XI. vv., 37 a 40.)

Como é muito mais fácil praticar atos exteriores do que se reformar moralmente, lavar as mãos do que corrigir o coração, iludem-se a si próprios os homens, tendo-se como quites para com Deus, por se conformarem com tais práticas, conservando-se como eram, visto lhes terem ensinado que Deus não exige mais do que isso.
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Verificou-se o mesmo com a doutrina moral do Cristo, que acabou por ser atirada para segundo plano, donde resulta que muitos cristãos, a exemplo dos antigos judeus, consideram mais garantida a salvação por meio das práticas exteriores, do que pela da moral.
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O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo.
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Nula é a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não impede que se cometam assassínios, adultérios, roubos, calúnias e o mal ao próximo, seja no que for. Semelhantes religiões fazem supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não fazem homens de bem.
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Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração.
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Escândalos. Se sua mão é motivo de escândalo, corte-a.

Se algum escandalizar a um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós que um asno faz girar e que o lançassem no fundo do mar. Infeliz do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas, infeliz do homem por quem o escândalo venha. Se a tua mão ou o teu pé ti é objeto de escândalo, corta-os e lança-os longe de ti; melhor será para ti que entres na vida tendo um só pé ou uma só mão, do que teres dois e seres lançados no fogo eterno. –

Se o teu olho é objeto de escândalo, arranca-o e lança-o longe de ti; melhor para ti será que entres na vida tendo um só olho, do que teres dois e seres lançado no fogo do inferno. (S. MATEUS, cap. XVIII, vv. 6 a 11; V, vv. 29 e 30.)

Escândalo se diz de toda ação que de modo ostensivo vá de encontro à moral ou às regras da sociedade. O escândalo não está na ação em si mesma, mas na repercussão que possa ter.
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Muitas pessoas se contentam com evitar o escândalo, porque este lhes faria sofrer o orgulho, lhes acarretaria perda de consideração por parte dos homens. Desde que as suas maldades fiquem ocultas e ignoradas, é quanto basta para que lhes conserve em repouso a consciência. São, no dizer de Jesus: “sepulcros branqueados por fora, mas cheios, por dentro, de podridões; vasos limpos no exterior e sujos no interior".
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No sentido evangélico, o significado da palavra escândalo é muito mais geral. É tudo o que resulta dos vícios e das imperfeições humanas, toda reação má de um indivíduo para outro, com ou sem repercussão. O escândalo, neste caso, é o resultado efetivo do mal moral.
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O mal é uma consequência da imperfeição dos homens e não que exista, para estes, a obrigação de praticá-lo.
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É necessário que o escândalo venha, porque, estando em expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo contato de seus vícios, cujas primeiras vítimas são eles próprios e cujos males acabam por compreender.
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Quando estiverem cansados de sofrer devido ao mal, procurarão remédio no bem. A reação desses vícios serve ao mesmo tempo, de castigo para uns e de provas para outros. É assim que do mal tira Deus o bem e que os próprios homens utilizam as coisas más ou desagradáveis para delas tirar ensinamentos.
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Mas, ao mesmo tempo que alguns mundos se adiantam, outros se formam, povoados de Espíritos primitivos e que, além disso, servem de morada, de exílio e de lugar de expiação a Espíritos imperfeitos, rebeldes, obstinados no mal, expulsos de mundos que se tornaram felizes.
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Mas, ai daquele por quem venha o escândalo, quer dizer que o mal sendo sempre o mal, aquele que a seu mau grado servir de instrumento à justiça divina, aquele cujos maus instintos foram utilizados, nem por isso deixou de praticar o mal e de merecer punição. Assim é, por exemplo, que um filho ingrato é uma punição ou uma prova para o pai que sofre com isso, porque esse pai talvez tenha sido também um mau filho que fez sofrer seu pai, mas o filho não terá desculpas por assim proceder e, por sua vez, poderá ser castigado tendo filhos rebeldes ou de qualquer outra maneira.
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Se vossa mão é causa de escândalo, cortai-a, significa que cada um deve destruir em si toda causa de escândalo, de mal; arrancar do coração todo sentimento impuro e toda tendência viciosa.
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Para o homem, mais vale ter cortada uma das mãos, antes que servir essa mão de instrumento para uma ação má;
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INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

Deixai que venham a mim as criancinhas

Espírito João Evangelista - Paris, 1863

Disse o Cristo: "Deixai que venham a mim as criancinhas." Profundas em sua simplicidade, essas palavras não continham um simples chamamento dirigido às crianças, mas também, o das almas que gravitam nas regiões inferiores, onde o infortúnio e a miséria desconhecem a esperança. Jesus chamava a si a infância intelectual da criatura adulta: os fracos, os escravizados e os viciosos. Ele nada podia ensinar à infância física, presa à matéria, submetida ao domínio dos instintos da infância.
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Bem-aventurados os que têm fechados os olhos

Espírito Vianney, Cura d´Ars –Paris, 1863

Nas suas aflições, voltem sempre para o céu o olhar e digam do fundo do coração: “Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste.”
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Quando uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, deve-se buscar a causa numa vida anterior. Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da justiça de Deus, que não aplica punições arbitrárias pois quer que a pena esteja sempre em correlação com a falta.
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A criatura é sempre punida por aquilo em que errou. Se alguém sofre o tormento da perda da vista, é que esta lhe foi causa de queda. Talvez tenha sido também causa de que outro perdesse a vista; de que alguém haja perdido a vista em consequência do excesso de trabalho que aquele lhe impôs, ou de maus-tratos, de falta de cuidados, etc. Nesse caso, passa ele pela pena de talião. É possível que ele próprio, tomado de arrependimento, haja escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras de Jesus: Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o.

COMENTÁRIO

BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO


Lembremo-nos da colocação do Livro dos Espíritos: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, quer dizer, sem conhecimento. Deu a cada um determinada missão com o fim de esclarecê-los e fazê-los alcançar, progressivamente a perfeição para o conhecimento da verdade e para aproximá-los Dele. A felicidade eterna e pura é para aqueles que alcançam essa perfeição.” Conhecendo Jesus em sua maneira de falar ao povo, com histórias e ditados que pudessem ser claros e de fácil memorização, tendo aí o ensino dos Espíritos, podemos concluir que ele falava afinal da pureza de Espírito, daquela para a qual todos fomos criados, e a representação maior desta na Terra é com efeito a criança, com o seu ar angelical. Fato aliás, que dá à criança o privilégio da ternura da mãe, que se ocupa de moldar o caráter e a personalidade do velho espírito então encarnado, que nesta sua fragilidade infantil se presta mais e melhor ao carinho e aos ensinamentos mais nobres de amor. O Espírito ao reencarnar, tem por Misericórdia de Deus em suas Leis Naturais, o esquecimento do passado e assim pode ir evoluindo e aprendendo novos ensinamentos, que mesmo sendo forte sua personalidade anterior, por esse período da infância retida, lhe favorece o aprendizado de fatos que não houvera ainda podido entender, principalmente pelo carinho e amor maternais. Em toda essa jornada até a idade adulta, o espírito vai criando em si os mecanismos de defesa de sua personalidade, e mesmo aquele que assim procede ainda não resiste aos maus pendores, mas se segura e evita cometê-los, já por isso progrediu. É simples, por exemplo, se estamos vivendo dias de muitas dificuldades financeiras, mesmo assim persistimos em uma conduta honesta e digna, passando privações ou sendo auxiliados nas necessidades básicas por irmãos generosos que a isto se dedicam. Ao resistirmos à ideia menos nobre do poder ter de qualquer maneira, ainda que seja ilícita ou desonesta, sem murmúrios à divindade, estamos efetuando um progresso considerável rumo à pureza e dignos de ouvir de Jesus :deixai vir a mim estes que são puros de pensamento como as crianças. Assim deve ser em todos os procedimentos de nossa atual encarnação, pois esta é uma oportunidade a nós propiciada por Deus a nosso pedido que escolhemos os gêneros de prova a que iríamos resistir, e Ele não nos dá mais do que podemos suportar. Portanto, temos exatamente o quinhão de que precisamos, só precisamos compreender, para poder alcançar um degrau superior na nossa caminhada pela escadaria do progresso Espiritual. Venham a nós todos os recursos do amor, da fraternidade, da tolerância, da sinceridade de propósitos para que nos tornemos quais crianças, puros de coração, desprendidos dos bens materiais, e mais afeitos aos recursos do Espírito.

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