EVANGELHO ESSENCIAL 9
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
8 - BEM-AVENTURADOS
OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
Bem-aventurados os
que têm puro o coração, porque verão a Deus.
(S. Mateus, cap. V,
v. 8.)
Apresentaram a Jesus
algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos
afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso,
zangou-se e lhes disse: “Deixem que venham a mim as criancinhas e não as impeçam,
porque o reino dos céus é para os que lhes assemelham. –
Digo-lhes, em
verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não
entrará.” - E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos. (S.
MARCOS, cap. X, vv. 13 a 16.)
Simplicidade
e pureza de coração
A pureza do coração é
inseparável da simplicidade e da humildade.
Exclui toda ideia de
egoísmo e de orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como símbolo dessa
pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade.
* * *
Para uma mãe, seu
filho é sempre um anjo e assim era preciso que fosse, para lhe cativar a
solicitude. Ela não poderia ter-lhe o mesmo devotamento, se, em vez da graça
ingênua, deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as ideias
de um adulto e, ainda menos, se viesse a conhecer o passado.
* * *
Faz-se necessário que
a atividade do princípio inteligente seja proporcional à fraqueza do corpo, que
não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, como se verifica
nos indivíduos grandemente precoces.
* * *
Essa a razão por que,
ao aproximar-se a encarnação, o Espírito entra em perturbação e perde pouco a
pouco a consciência de si mesmo, ficando, por certo tempo, numa espécie de
sono, durante o qual todas as suas faculdades permanecem adormecidas.
* * *
Sobre ele reage o
passado. Renasce para uma vida maior, mais forte, moral e intelectualmente,
sustentado e acompanhado pela intuição que conserva da experiência adquirida.
* * *
A partir do
nascimento, suas ideias tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se
desenvolvem, pelo que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o
Espírito é verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas às ideias
que lhe formam o fundo do caráter. Durante o tempo em que seus instintos se
conservam sonolentos, ele é mais maleável e mais acessível às impressões
capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que torna mais fácil
a tarefa que incumbe aos pais.
* * *
O Espírito veste
temporariamente a túnica da inocência e, assim, Jesus está com a verdade,
quando, sem prejuízo da anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da
pureza e da simplicidade.
* * *
Pecado por
pensamentos. – Adultério
Aprendam que foi dito
aos antigos: “Não cometerás adultério. Eu, porém, lhes digo que aquele que
houver olhado uma mulher, com mau desejo para com ela, já em seu coração
cometeu adultério com ela.” (S. Mateus, cap. V, vv.27 e 28.)
A palavra adultério
deve ser entendida num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou
por extensão, para referir-se ao mal, ao pecado, a todo e qualquer pensamento
mau.
* * *
A verdadeira pureza
não está somente nos atos; está também no pensamento, porque aquele que tem
puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer: ele
condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza.
* * *
À medida que avança
na vida espiritual, a alma que enveredou pelo mau caminho se esclarece e
despoja-se pouco a pouco de suas imperfeições, conforme a maior ou menor
boa-vontade que demonstre, em virtude do seu livre-arbítrio.
* * *
Todo pensamento mau
resulta da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de
purificar-se, mesmo esse mau pensamento se torna uma ocasião de adiantar-se,
quando ela o repele com energia. É sinal de esforço por apagar uma imperfeição.
Não cederá, quando se apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois
que haja resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.
* * *
Aquele que não tomou
boas resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a
efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de oportunidade, é tão
culpado quanto o seria se o cometesse.
* * *
Naquele que nem
sequer concebe a ideia do mal, já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia
ocorre, mas que a repele, há progresso em vias de realizar-se; naquele que
pensa no mal e nesse pensamento se satisfaz, o mal ainda existe na plenitude da
sua força.
Num, o trabalho está
feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é justo, leva em conta todas
essas gradações na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.
Verdadeira pureza-
Mãos não lavadas
Enquanto ele falava,
um fariseu lhe pediu que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à
mesa. - O fariseu entrou então a dizer consigo mesmo: "Por que não lavou
ele as mãos antes de jantar?” Disse-lhe o Senhor: "Vocês, fariseus, põem
grandes cuidados em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior
dos seus corações está cheio de roubos e de iniquidades.
Insensatos que são!
aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?" (S. LUCAS,
cap. XI. vv., 37 a 40.)
Como é muito mais
fácil praticar atos exteriores do que se reformar moralmente, lavar as mãos
do que corrigir o coração, iludem-se a si próprios os homens, tendo-se como
quites para com Deus, por se conformarem com tais práticas, conservando-se como
eram, visto lhes terem ensinado que Deus não exige mais do que isso.
* * *
Verificou-se o mesmo
com a doutrina moral do Cristo, que acabou por ser atirada para segundo plano,
donde resulta que muitos cristãos, a exemplo dos antigos judeus, consideram
mais garantida a salvação por meio das práticas exteriores, do que pela da
moral.
* * *
O objetivo da
religião é conduzir a Deus o homem. Este não chega a Deus senão quando se torna
perfeito. Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu
objetivo.
* * *
Nula é a crença na
eficácia dos sinais exteriores, se não impede que se cometam assassínios,
adultérios, roubos, calúnias e o mal ao próximo, seja no que for. Semelhantes
religiões fazem supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não fazem homens de bem.
* * *
Não basta se tenham
as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração.
* * *
Escândalos. Se sua
mão é motivo de escândalo, corte-a.
Se algum escandalizar
a um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço
uma dessas mós que um asno faz girar e que o lançassem no fundo do mar. Infeliz
do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos;
mas, infeliz do homem por quem o escândalo venha. Se a tua mão ou o teu pé ti é
objeto de escândalo, corta-os e lança-os longe de ti; melhor será para ti que
entres na vida tendo um só pé ou uma só mão, do que teres dois e seres lançados
no fogo eterno. –
Se o teu olho é
objeto de escândalo, arranca-o e lança-o longe de ti; melhor para ti será que
entres na vida tendo um só olho, do que teres dois e seres lançado no fogo do
inferno. (S. MATEUS, cap. XVIII, vv. 6 a 11; V, vv. 29 e 30.)
Escândalo se diz de toda ação que de modo ostensivo vá de encontro
à moral ou às regras da sociedade. O escândalo não está na ação em si mesma,
mas na repercussão que possa ter.
* * *
Muitas pessoas se
contentam com evitar o escândalo, porque este lhes faria sofrer o orgulho, lhes
acarretaria perda de consideração por parte dos homens. Desde que as suas
maldades fiquem ocultas e ignoradas, é quanto basta para que lhes conserve em
repouso a consciência. São, no dizer de Jesus: “sepulcros branqueados por fora,
mas cheios, por dentro, de podridões; vasos limpos no exterior e sujos no
interior".
* * *
No sentido
evangélico, o significado da palavra escândalo é muito mais geral. É tudo o que
resulta dos vícios e das imperfeições humanas, toda reação má de um indivíduo
para outro, com ou sem repercussão. O escândalo, neste caso, é o resultado
efetivo do mal moral.
* * *
O mal é uma consequência
da imperfeição dos homens e não que exista, para estes, a obrigação de
praticá-lo.
* * *
É necessário que o
escândalo venha, porque, estando em
expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo contato de seus vícios, cujas
primeiras vítimas são eles próprios e cujos males acabam por compreender.
* * *
Quando estiverem
cansados de sofrer devido ao mal, procurarão remédio no bem. A reação desses
vícios serve ao mesmo tempo, de castigo para uns e de provas para outros. É
assim que do mal tira Deus o bem e que os próprios homens utilizam as coisas
más ou desagradáveis para delas tirar ensinamentos.
* * *
Mas, ao mesmo tempo
que alguns mundos se adiantam, outros se formam, povoados de Espíritos
primitivos e que, além disso, servem de morada, de exílio e de lugar de
expiação a Espíritos imperfeitos, rebeldes, obstinados no mal, expulsos de
mundos que se tornaram felizes.
* * *
Mas, ai daquele por
quem venha o escândalo, quer dizer que o mal
sendo sempre o mal, aquele que a seu mau grado servir de instrumento à justiça
divina, aquele cujos maus instintos foram utilizados, nem por isso deixou de
praticar o mal e de merecer punição. Assim é, por exemplo, que um filho ingrato
é uma punição ou uma prova para o pai que sofre com isso, porque esse pai
talvez tenha sido também um mau filho que fez sofrer seu pai, mas o filho não
terá desculpas por assim proceder e, por sua vez, poderá ser castigado tendo
filhos rebeldes ou de qualquer outra maneira.
* * *
Se vossa mão é causa
de escândalo, cortai-a, significa que cada um
deve destruir em si toda causa de escândalo, de mal; arrancar do coração todo
sentimento impuro e toda tendência viciosa.
* * *
Para o homem, mais
vale ter cortada uma das mãos, antes que servir essa mão de instrumento para
uma ação má;
* * *
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
Deixai que
venham a mim as criancinhas
Espírito João
Evangelista - Paris, 1863
Disse o Cristo:
"Deixai que venham a mim as criancinhas." Profundas em sua
simplicidade, essas palavras não continham um simples chamamento dirigido às
crianças, mas também, o das almas que gravitam nas regiões inferiores, onde o
infortúnio e a miséria desconhecem a esperança. Jesus chamava a si a infância
intelectual da criatura adulta: os fracos, os escravizados e os viciosos. Ele
nada podia ensinar à infância física, presa à matéria, submetida ao domínio dos
instintos da infância.
* * *
Bem-aventurados
os que têm fechados os olhos
Espírito Vianney,
Cura d´Ars –Paris, 1863
Nas suas aflições,
voltem sempre para o céu o olhar e digam do fundo do coração: “Meu Pai,
cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a
minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu
seio, com a brancura que possuía quando a criaste.”
* * *
Quando uma aflição não
é consequência dos atos da vida presente, deve-se buscar a causa numa vida
anterior. Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do
que efeito da justiça de Deus, que não aplica punições arbitrárias pois quer
que a pena esteja sempre em correlação com a falta.
* * *
A criatura é sempre
punida por aquilo em que errou. Se alguém sofre o tormento da perda da vista, é
que esta lhe foi causa de queda. Talvez tenha sido também causa de que outro
perdesse a vista; de que alguém haja perdido a vista em consequência do excesso
de trabalho que aquele lhe impôs, ou de maus-tratos, de falta de cuidados, etc.
Nesse caso, passa ele pela pena de talião. É possível que ele próprio, tomado
de arrependimento, haja escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras
de Jesus: Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o.
COMENTÁRIO
BEM-AVENTURADOS
OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
Lembremo-nos da
colocação do Livro dos Espíritos: “Deus criou todos os Espíritos simples e
ignorantes, quer dizer, sem conhecimento. Deu a cada um determinada missão com
o fim de esclarecê-los e fazê-los alcançar, progressivamente a perfeição para o
conhecimento da verdade e para aproximá-los Dele. A felicidade eterna e pura é
para aqueles que alcançam essa perfeição.” Conhecendo Jesus em sua maneira de
falar ao povo, com histórias e ditados que pudessem ser claros e de fácil memorização,
tendo aí o ensino dos Espíritos, podemos concluir que ele falava afinal da
pureza de Espírito, daquela para a qual todos fomos criados, e a representação
maior desta na Terra é com efeito a criança, com o seu ar angelical. Fato
aliás, que dá à criança o privilégio da ternura da mãe, que se ocupa de moldar
o caráter e a personalidade do velho espírito então encarnado, que nesta sua
fragilidade infantil se presta mais e melhor ao carinho e aos ensinamentos mais
nobres de amor. O Espírito ao reencarnar, tem por Misericórdia de Deus em suas Leis
Naturais, o esquecimento do passado e assim pode ir evoluindo e aprendendo
novos ensinamentos, que mesmo sendo forte sua personalidade anterior, por esse
período da infância retida, lhe favorece o aprendizado de fatos que não houvera
ainda podido entender, principalmente pelo carinho e amor maternais. Em toda
essa jornada até a idade adulta, o espírito vai criando em si os mecanismos de defesa
de sua personalidade, e mesmo aquele que assim procede ainda não resiste aos
maus pendores, mas se segura e evita cometê-los, já por isso progrediu. É
simples, por exemplo, se estamos vivendo dias de muitas dificuldades financeiras,
mesmo assim persistimos em uma conduta honesta e digna, passando privações ou
sendo auxiliados nas necessidades básicas por irmãos generosos que a isto se
dedicam. Ao resistirmos à ideia menos nobre do poder ter de qualquer maneira, ainda
que seja ilícita ou desonesta, sem murmúrios à divindade, estamos efetuando um
progresso considerável rumo à pureza e dignos de ouvir de Jesus :deixai vir a
mim estes que são puros de pensamento como as crianças. Assim deve ser em todos
os procedimentos de nossa atual encarnação, pois esta é uma oportunidade a nós
propiciada por Deus a nosso pedido que escolhemos os gêneros de prova a que
iríamos resistir, e Ele não nos dá mais do que podemos suportar. Portanto, temos
exatamente o quinhão de que precisamos, só precisamos compreender, para poder
alcançar um degrau superior na nossa caminhada pela escadaria do progresso
Espiritual. Venham a nós todos os recursos do amor, da fraternidade, da tolerância,
da sinceridade de propósitos para que nos tornemos quais crianças, puros de
coração, desprendidos dos bens materiais, e mais afeitos aos recursos do Espírito.
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