quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Céu inferno_067_2ª parte cap. VI - Criminosos Arrependidos - Verger

ESTUDO

(Assassino do arcebispo de Paris)

A 3 de janeiro de 1857, Mons. Sibour, arcebispo de Paris, ao sair da Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, foi mortalmente ferido por um jovem padre chamado Verger. O criminoso foi condenado à morte e executado a 30 de janeiro. Até o último instante não manifestou qualquer sentimento de pesar, de arrependimento, ou de sensibilidade.

Evocado no mesmo dia da execução, deu as seguintes respostas:

1. Evocação.

- R. Ainda estou preso ao corpo.

2. - Então a vossa alma não está inteiramente liberta?

- R. Não... Tenho medo... Não sei... Esperai que torne a mim. Não estou morto, não é assim?

3. - Arrependei-vos do que fizestes?

- R. Fiz mal em matar, mas a isso fui levado pelo meu caráter, que não podia tolerar humilhações... Evocar-me-eis de outra vez.

4. - Por que vos retirais?

- R. Se o visse, muito me atemorizaria, pelo receio de que me fizesse outro tanto.

5. - Mas nada tendes a temer, uma vez que a vossa alma está separada do corpo. Renunciai a qualquer inquietação, que não é razoável agora.

- R. Que quereis? Acaso sois senhor das vossas impressões? Quanto a mim, não sei onde estou... Estou doido.

6. Esforçai-vos por ser calmo.

- R. Não posso, porque estou louco... Esperai, que vou invocar toda a minha lucidez.

7. - Se orásseis, talvez pudésseis concentrar os vossos pensamentos...

- R. Intimido-me... Não me atrevo a orar.

8. - Orai, que grande é a misericórdia de Deus! Oraremos convosco.

- R. Sim; eu sempre acreditei na infinita misericórdia de Deus.

9. - Compreendeis melhor, agora, a vossa situação?

- R. Ela é tão extraordinária que ainda não posso apreendê-la.

10. - Vedes a vossa vítima?

- R. Parece-me ouvir uma voz semelhante à sua, dizendo-me: Não mais te quero..." Será, talvez, um efeito da imaginação!... Estou doido, vo-lo asseguro, pois que vejo meu corpo de um lado e a cabeça de outro... afigurando-se-me, porém, que vivo no Espaço, entre a Terra e o que denominais céu.. . Sinto como o frio de uma faca prestes a decepar-me o pescoço, mas isso será talvez o terror da morte... Também me parece ver uma multidão de Espíritos a rodear-me, olhando-me compadecidos... E falam-me, mas não os compreendo.

11. - Entretanto, entre esses Espíritos há talvez um cuja presença vos humilha por causa do vosso crime.

- R. Dir-vos-ei que há apenas um que me apavora - o daquele a quem matei.

12. - Lembrai-vos das anteriores existências?

- R. Não; estou indeciso, acreditando sonhar... Ainda uma vez, preciso tornar a mim.

13. - (Três dias depois.) - Reconhecei-vos melhor agora?

- R. Já sei que não mais pertenço a esse mundo, e não o deploro. Pesa-me o que fiz, porém meu Espírito está mais livre. Sei a mais que há uma série de encarnações que nos dão conhecimentos úteis, a fim de nos tornarmos tão perfeitos quanto possível à criatura humana.

14. - Sois punido pelo crime que cometestes?

- R. Sim; lamento o que fiz e isso faz-me sofrer.

15. - Qual a vossa punição?

- R. Sou punido porque tenho consciência da minha falta, e para ela peço perdão a Deus; sou punido porque reconheço a minha descrença nesse Deus, sabendo agora que não devemos abreviar os dias de vida de nossos irmãos; sou punido pelo remorso de haver adiado o meu progresso, enveredando por caminho errado, sem ouvir o grito da própria consciência que me dizia não ser pelo assassínio que alcançaria o meu desiderato. Deixei-me dominar pela inveja e pelo orgulho; enganei-me e arrependo-me, pois o homem deve esforçar-se sempre por dominar as más paixões - o que aliás não fiz.

16. - Qual a vossa sensação quando vos evocamos?

- R. De prazer e de temor, por isso que não sou mau.

17. - Em que consiste tal prazer e tal temor?

- R. Prazer de conversar com os homens e poder em parte reparar as minhas faltas, confessando-as; e temor, que não posso definir - um quê de vergonha por ter sido um assassino.

18. - Desejais reencarnar na Terra?

- R. Até o peço e desejo achar-me constantemente exposto ao assassínio, provando-lhe o temor.

Mons. Sibour, sendo evocado, disse que perdoava ao seu assassino e orava para o seu retorno ao bem. Acrescentou que, embora presente, não se mostrou a ele para não aumentar o seu sofrimento; o medo de vê-lo, que era um sinal de remorso, já era um castigo.

P. O homem que comete um assassinato sabe, em escolhendo a sua existência, que se tornaria assassino?

– R. Não; sabe que, escolhendo uma vida de luta, há chance, para ele, de matar um de seus semelhantes; mas ignora se o fará, porque, quase sempre, teve luta nele.

A situação de Verger, no momento de sua morte, é a de quase todos aqueles que perecem de morte violenta. A separação da alma não se operando de maneira brusca, estão como aturdidos e não sabem se estão mortos ou vivos. A visão do arcebispo foi-lhe poupada, porque não era necessária para nele excitar o remorso, ao passo que outros, ao contrário, são incessantemente perseguidos pelos olhares de suas vítimas.

À enormidade de seu crime, Verger acrescentara não estar arrependido antes de morrer; estava, pois, em todas as condições exigidas para incorrer na condenação eterna. Entretanto, apenas deixou a Terra e o arrependimento penetrou-lhe a alma; ele repudiou o seu passado e pediu sinceramente para repará-lo. Não foi o excesso de sofrimento que o empurrou, uma vez que não teve tempo para sofrer; foi, pois, somente o grito de sua consciência, que não escutou durante sua vida, e que escuta agora. Por que, pois, isso não lhe foi levado em conta? Por que há algumas horas de distância, o que o salvaria do inferno, não o poderia mais? Por que Deus, que foi misericordioso antes da morte, seria sem piedade algumas horas mais tarde?

Poder-se-ia admirar da rapidez da mudança que se opera, algumas vezes, nas idéias de um criminoso endurecido até o último momento, e naquele que a passagem para a outra vida basta para fazê-lo compreender a iniqüidade de sua conduta. Esse efeito está longe de ser geral, sem isso não haveria maus Espíritos; o arrependimento, frequentemente, é mais tardio, e daí a pena se prolonga em conseqüência.

A obstinação no mal, durante a vida, é, por vezes, uma conseqüência do orgulho que se recusa dobrar e confessar os seus erros; depois o homem está sob a influência da matéria que lança um véu sobre as suas percepções espirituais, e fascina-o. Esse véu tombado, uma luz súbita o aclara, e ele se encontra como desiludido. O pronto retorno a melhores sentimentos é sempre o indício de um certo progresso moral cumprido, que não pede senão uma circunstância favorável para se revelar, ao passo que aquele que persiste no mal mais ou menos por muito tempo depois da morte, incontestavelmente, é um Espírito mais atrasado, em quem o instinto material abafa o germe do bem, e a quem são necessárias novas provas para se melhorar.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1) Qual a necessidade da reencarnação?

2) De que modo Verger foi punido pelo seu ato?

3) Qual a atitude de Mons. Sibour para com Verger?

4) O homem que comete um crime como o assassinato, sabe que será um assassino ao escolher a sua próxima existência terrena?

CONCLUSÃO

1) As nossas encarnações sucessivas nos dão conhecimentos úteis para nos tornarmos perfeitos tanto quanto a criatura o possa.

2) É punido porque reconhece a falta e dela pede perdão a Deus; é punido pela consciência de sua falta de fé em Deus e porque agora sabe que não devemos cortar os dias de nossos irmãos; é punido pelo remorso de ter retardado o seu adiantamento, fazendo falso caminho, e não tendo escutado o grito de sua consciência, que lhe dizia que não era matando que chegaria ao seu objetivo; mas, se deixou dominar pelo orgulho e ciúme; se enganou e disso se arrepende, porque o homem deve sempre fazer esforços para dominar as suas más paixões, e Verger não o fez.

3) Mons. Sibour, ao ser evocado, disse que perdoava ao seu assassino e orava para o seu retorno ao bem. Acrescentou que, embora presente, não se mostrou a ele para não aumentar o seu sofrimento; o medo de vê-lo, que era um sinal de remorso, já era um castigo.


4) Não; sabe que, escolhendo uma vida de luta, há chance, para ele, de matar um de seus semelhantes; mas ignora se o fará, porque, quase sempre, teve luta nele.

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