quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Céu inferno_055_2ª parte cap. IV - Espíritos Sofredores - François Riquier


TEXTO PARA ESTUDO


Era um velho celibatário, avarento e muito popular, falecido em C..., em 1857, legando aos parentes colaterais considerável fortuna. Em tempo fora locador de uma inquilina, que mais tarde o esquecera completamente, ignorando até se ainda, ou não, vivia. Em 1862, uma filha desta senhora, sujeita a crises de catalepsia seguidas de espontâneo sono magnético e também bom médium escrevente, viu, num desses sonos, o Sr. Riquier, o qual, assegurava, pretendia dirigir-se à sua mãe.

Passados alguns dias, uma vez que se manifestara espontaneamente confirmando aquele intuito, entretiveram com ele a seguinte conversação:

- P. Que pretendeis de nós?

- R. O dinheiro do qual se apossaram, os miseráveis, a fim de o repartirem!

Venderam fazendas, casas, tudo para se locupletarem! Desbarataram meus bens como se não mais me pertencessem. Fazei que se me faça justiça, já que a mim me não ouvem, e não quero presenciar infâmias tais. Dizem que eu era usurário, e guardaram-me o cobre. Por que não mo querem restituir? Acharão que foi mal ganho?

- P. Mas vós estais morto, meu caro senhor, e não tendes mais necessidade alguma de dinheiro. Implorai a Deus para vos conceder uma nova existência de pobreza a fim de expiardes a usura desta última.

- R. Não, eu não poderei viver na pobreza. Preciso do meu dinheiro, sem o qual não posso viver. Demais, não preciso de outra existência, porque vivo estou atualmente.

- P. (Foi-lhe feita a seguinte pergunta no intuito de chamá-lo à realidade.) Sofreis?

- R. Oh! sim. Sofro piores torturas que as da mais cruel enfermidade, pois é minha alma quem as padece. Tendo sempre em mente a iniquidade de uma vida que foi para muitos motivo de escândalos, tenho a consciência de ser um miserável indigno de piedade, mas o meu sofrimento é tão grande que mister se faz me auxiliem a sair desta situação deplorável.

- P. Oraremos por vós.
- R. Obrigado! Orai para que eu esqueça os meus bens terrenos, sem o que não poderei arrepender-me.

Adeus e obrigado.

François Riquier, Rue de la Charité nº 14.

É curioso ver-se este Espírito indicar a moradia como se estivesse vivo.

A senhora deu-se pressa em verificá-la e ficou muito surpreendida por ver que era justamente a última casa que Riquier habitara. Eis como, após cinco anos, ainda ele não se considerava morto, antes experimentava a ansiedade, bem cruel para um usurário, de ver os bens partilhados pelos herdeiros. A evocação, provocada indubitavelmente por qualquer Espírito bom, teve por fim fazer-lhe compreender o seu estado e predispô-lo ao arrependimento.

QUESTÕES PARA ESTUDO E DEBATE

1. Por que, mesmo tendo consciência de seu sofrimento, esse espírito não se dá conta de que está morto e seus bens materiais de nada lhe servirão?

2. Como você avaliaria a surpresa do médium ao constatar que o espírito indicou seu endereço quando identificou-se?

3.Como você interpreta a posse de bens materiais?

4.Por que a alguns é dado fortuna material e a outros somente a luta para sobreviver?

CONCLUSÃO

1.Como acontece com as pessoas ainda muito apegadas às coisas materiais, principalmente neste caso, ele se acreditava ainda vivo sem compreender seu real estado e se achava injustiçado porque seus descendentes se apossaram de sua fortuna. Sofria muito com isso, embora tivesse consciência da necessidade de desapegar-se dos bens terrenos e sabia que não podia fazê-lo sem ajuda.

2. A surpresa do médium foi devido ao fato de constatar o quanto o espírito de Riquier estava ainda ligado a sua última encarnação, pois o endereço que deu foi o de sua última morada na Terra.

3. Os bens materiais são "empréstimos" que Deus nos confia para que possamos aprender a maneira correta de administrar a riqueza, ou seja, repartir com o próximo o que temos e/ou usar essa riqueza para tornar menos dura a vida de quem está na miséria. Nada nos pertence, estamos apenas em usufruto expiatório/provacional dos bens terrenos.


4. Tanto a fortuna como a miséria configuram provas a que o espírito necessita passar e ambas podem ser em decorrência das ações deste espírito em vidas anteriores. Isso, no entanto, não impede que a pessoa lute para melhorar sua vida material ou que procure meios de tornar a vida dos mais pobres mais amena.

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