domingo, 27 de setembro de 2015

Céu inferno_046_2ª parte cap. III - Espíritos em Condições Medianas - Sra. Anna Belleville

TEXTO PARA ESTUDO

Jovem mulher morta aos trinta e cinco anos, depois de uma longa e cruel doença. Viva, espiritual, dotada de uma rara inteligência, de uma grande retidão de julgamento e de eminentes qualidades morais, esposa e mãe de família devotada, tinha uma força de caráter pouco comum e um Espírito fecundo em recursos,que não a pegava desprovida nas circunstâncias mais críticas da vida. Sem rancos para com aqueles dos quais ela tinha o mais a se lamentar, estava sempre pronta a lhes prestar serviço quando possível. Intimamente ligada com ela há muitos anos, seguimos todas as fases de sua existência e todas as peripécias de seu fim.
Um acidente provocou a terrível doença que deveria levá-la e que a reteve três anos no leito, que suportou, até o último momento com uma coragem heróica, onde sua alegria não a abandonou. Ela acreditava na alma e na vida futura, mas se preocupava muito pouco com isso; todos os seus pensamentos se dirigiam para a vida presente à qual se agarrava, sem temer a morte e sem procurar os gozos materiais, pois sua vida era muito simples e passava, sem dificuldade, daquilo que não podia se proporcionar; tinha o gosto do bem e do belo. Queria viver, menos por ela que por seus filhos, aos quais sentia que era necessária; foi por isso que se agarrou à vida. Conhecia o Espiritismo sem o ter estudado; interessava-se por ele e não chegou a fixar os seus pensamentos no futuro; era-lhe uma idéia verdadeira, mas que não deixava nenhuma impressão profunda em seu espírito. O que ela fazia de bem era o resultado de um movimento natural e não inspirado pelo pensamento de uma recompensa ou penas futuras.
Já há muito tempo seu estado era crítico e se esperava vê-la partir; ela própria não se iludia. Um dia que seu marido não estava, sentiu-se desfalecer e compreendeu que tinha chegado sua hora; sua visão se turvava, a perturbação a invadia e ela experimentava as angústias da separação. Mas custava-lhe morrer antes da volta do marido. Fazendo um grande esforço, disse pra si mesma: "Não quero morrer!". Sentiu a vida renascer e recobrou o uso das suas faculdades. Quando seu marido voltou, lhe disse: "Eu ia morrer, mas quis esperar que você estivesse por perto, porque tenho ainda muito o que lhe dizer". A luta entre a vida e a morte se prolongou por três meses, que foram longos e dolorosos.
Evocação, no dia seguinte à sua morte - Meus amigos, obrigada por se ocuparem de mim; de resto, foram para mim como pais. Fiquem felizes, pois sou feliz. Tranqüilizem meu marido e velem por meus filhos. Fui para junto deles logo em seguida.
P. Parece que a sua perturbação não foi muito longa, pois nos responde com lucidez.
R. Sofri tanto, e sabem que sofri com resignação. Minha prova terminou. Dizem que estou completamente desligada, não; mas não sofro mais, o que é um alívio para mim. Estou bem radicalmente curada, mas tenho necessidade de que me ajudem com a prece, para vir, em seguida, trabalhar com vocês.
P. Qual a causa de seus longos sofrimentos?
R. Um passado terrível.
P. Pode dizer qual foi?
R. Deixe-me esquecer um pouco, eu paguei muito caro.
Um mês depois de sua morte - P. Agora que deve estar mais completamente desligada e que está melhor, ficamos muito felizes em ter uma conversa mais explícita. Pode nos dizer qual a causa da sua longa agonia?
R. Obrigada pela lembrança e pelas boas preces. Elas me são salutares e contribuíram para o meu desligamento. Ainda tenho necessidade de ser sustentada; continuem orando por mim. Vocês compreendem a prece. Não são fórmulas banais que dizem, como tantos outros que não se dão conta do efeito que produz uma boa prece.
Sofri muito, mas meus sofrimentos são largamente contados e me é permitido estar junto de meus queridos filhos, que deixei com amargura.
Eu mesma prolonguei meus sofrimentos; o meu ardente desejo de viver para meus filhos fazia com que me aferrasse à materia e obstinava-me e não queria abandonar esse corpo com o qual era necessário romper e que, para mim, era o instrumento de tantas torturas. Essa é a verdadeira causa da minha agonia. Minha doença, os sofrimentos que passei: expiação do passado, uma dívida a mais a pagar.
Se eu os tivesse escutado, amigos, que mudança seria a minha vida. Teria abrandado meus últimos instantes, e quanto essa separação seria mais fácil se me entregasse com confiança à bondade de Deus. Mas, em lugar de considerar o futuro que me esperava, não via senão o presente que ia deixar.
Quando retornar à Terra, serei espírita. Que ciência! Assisto às suas reuniões e às instruções que lhes são dadas. Se pudesse compreender quando estava na Terra, meus sofrimentos seriam bem menores. Hoje compreendo a bondade de Deus e sua justiça mas não sou avançada para não mais me ocupar com as coisas da vida. Meus filhos a ela me prendem, não mais para mimá-los, mas para velar sobre eles, e tratar que sigam a rota que o Espiritismo traça neste momento. Ainda tenho graves preocupações: uma, porque  o futuro de meus filhos dela depende.
P. Pode nos dar alguma explicação sobre o passado?
R. Estou pronta. Desconheci o sofrimento; vi minha mãe sofrer sem ter piedade dela; tratei-a de doente imaginária. Nunca tendo-a visto acamada, supunha que ela não sofria, e ria de seus sofrimentos. Eis como Deus pune.
Seis meses depois de sua morte - P. Agora que o tempo passou, quer descrever sua situação e ocupação no mundo dos Espíritos?
R. Durante minha vida terrestre eu era uma boa pessoa mas, antes de tudo, gostava do meu bem-estar; compassiva por natureza, não fui capaz de um sacrifício penoso para aliviar um infotúnio. Hoje, tudo mudou: sou eu, mas o eu de antes mudou. Eu adquiri: vejo que não há classes nem condições outras que o mérito pessoal no mundo dos invisíveis, onde um pobre caridoso e bom está acima do rico orgulhoso que o humilhava sob a sua esmola. Velo sobre a classe dos aflitos pelos tormentos de família, a perda de pais ou de fortuna; tenho por missão consolá-los e encorajá-los, e sou feliz por fazer isso.
                                                                 ANNA
Uma importante questão que ressalta dos fatos acima é:
Uma pessoa pode, por um esforço de sua vontade, retardar o momento da separação da alma e do corpo?
Resposta do Espírito de São Luis - Esta questão poderia dar lugar a falsas conseqüências. Certamente um Espírito encarnado pode, em certas condições, prolongar a existência corpórea para terminar instruções indispensáveis, ou que crê como tais; isso lhe pode ser permitido, como no caso que aqui se trata, e disso há muitos exemplos. Esse prolongamento da vida não poderia, em todos os casos, ser senão de curta duração, porque não pode ser dado ao homem intervir na ordem das leis da Natureza, nem de provocar um retorno real à vida, quando esta chega a seu fim. Não é senão uma suspensão condicional da pena momentânea. Mas, da possibilidade do fato, não será preciso concluir que possa ser geral, nem crer que depende de cada um prolongar a sua existência. Como prova para o Espírito, ou no interesse de uma missão a rematar, os órgãos usados podem receber um suplemente de fluido vital que lhes permita acrescentar alguns instantes à manifestação material do pensamento; os casos parecidos são exceções e não a regra. Não é necessário ver nesse fato uma derrogação de Deus à imutabilidade de suas leis, mas uma conseqüência do livre-arbítrio da alma humana que tem consciência da missão da qual está encarregada e quer comprir o que não pôde acabar. Algumas vezes, isso pode ser também uma espécie de punição infligida ao Espírito que duvida do futuro, a de lhe conceder um prolongamento da vitalidade, da qual sofre necessariamente.
                                                             SÃO LUIS
Pode-se, também, se admirar da rapidez do desligamento desse Espírito, tendo em vista seu apego à vida corpórea; mas é necessário considerar que esse apego não tinha nada de sensual, nem de material; tinha mesmo o seu lado moral, uma vez que era motivado pelo interesse de seus filhos de tenra idade. Era um Espírito avançado em inteligência e moralidade: um grau a mais e estaria entre os Espíritos muito felizes. Ali não tinha, nos laços perispirituais, a tenacidade que resulta  da identificação com a matéria; pode-se dizer que a vida, enfrequecida por uma longa enfermidade, não tinha mais que alguns fios; foram esses fios que queriam impedir de se romperem. Todavia, foi punida pela sua resistência pelo prolongamento de seus sofrimentos que diziam respeito à natureza da doença, e não à dificuldade do desligamento; por isso, depois da libertação, a perturbação foi de curta duração.
Um fato também importante, visto nesta evocação, é a mudança que ocorre gradualmente nas idéias do Espírito, e do qual se pode seguir o progresso; neste, se traduz, não por melhores sentimentos, mas por uma apreciação mais sadia das coisas. O progresso da alma na vida espiritual é um fato constatado pela experiência; a vida corporal é a que põe em prática esse progresso; é a prova de suas resoluções, o cadinho onde se depura.
Desde o instante em que a alma progride, depois da morte, sua sorte não pode estar fixada, porque a fixação definitiva da sorte é a negação do progresso. As duas coisas não podem existir simultaneamente, resta aquela que tem a sanção dos fatos e da razão.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1. Por que, mesmo não sendo um Espírito em condição feliz, a Sra. Anna teve uma perturbação curta?

2. Qual foi o benefício da prece neste caso? Como as preces foram feitas?

3. Por que, mesmo sendo um Espírito muito bom, a Sra. Anna não figura entre os Espíritos felizes?

4. Qual a sua situação e que ocupação tem no mundo espiritual?

5. Pode uma pessoa, por vontade própria, retardar o momento do desenlace?

CONCLUSÃO

1. Por que, mesmo não sendo um Espírito em condição feliz, a Sra. Anna teve uma perturbação curta?

Porque sofrera com resignação. A sua prova havia terminado e ela não sofre mais. Está agora totalmente curada, mas ainda necessitada de ajuda através da prece.

2. Qual foi o benefício da prece neste caso? Como as preces foram feitas?

O benefício da prece, neste caso, foi o de sustentá-la. Essas preces, para surtirem efeito, foram feitas de modo sincero, com o coração puro, e não como fórmulas banais, que não têm serventia.

3. Por que, mesmo sendo um Espírito muito bom, a Sra. Anna não figura entre os Espíritos felizes?

Mesmo compreendendo a bondade e a justiça de Deus, ainda não é muito avançada para não mais se ocupar das coisas da vida. Seus filhos a ela lhe prendem ainda, não mais para mimá-los, mas para velar sobre eles, e tratar para que sigam a rota do Espiritismo. Ainda possui grandes preocupações, sendo que uma delas é o futuro de seus filhos.

4. Qual a sua situação e que ocupação tem no mundo espiritual?

Durante a vida terrestre, era uma pessoa boa, mas que também gostava do seu bem-estar. Era compassiva por natureza, mas não capaz de um sacrifício penoso para alivir um infortúnio. Hoje, ela continua ela mesma, mas com algumas modificações. Percebeu que não existem classes nem condições outras que o mérito pessoal no mundo dos invisíveis, onde um pobre caridoso e bom está acima do rico orgulhoso que o humilhava sob a sua esmola.

Hoje, sua ocupação no mundo espiritual é velar sobre a classe dos aflitos pelos tormentos de família, a perda dos pais ou de fortuna. Tem por missão consolá-los e encorajá-los.

5. Pode uma pessoa, por vontade própria, retardar o momento do desenlace?


Segundo o Espírito São Luis, um Espírito encarnado pode, em certas ocasiões, prolongar a existência corpórea para terminar instruções indispensáveis ou que acredite que sejam. Isso pode lhe ser permitido, como no caso de Anna Belleville. Esse prolongamento da vida não poderia, em todos os casos, ser senão de curta duração, porque não pode ser dado ao homem intervir na ordem das leis da Natureza, nem de provocar um retorno real à vida, quando esta chega ao fim. É uma suspensão condicional da pena momentânea. Como prova para o Espírito, ou no interesse de arrematar uma missão, os órgãos usados podem receber um suplemente de fluido vital que lhes permita acrescentar alguns instantes à manifestação material do pensamento. Não é necessário ver, nesse fato, uma derrogação de Deus à imutabilidade de suas leis, mas uma conseqüência do livre arbítro da alma humana que, no último instante, tem consciência da missão da qual está encarregada, e quer cumprir o que não pôde acabar. Algumas vezes, isso pode ser também uma espécie de punição infligida ao Espírito que duvida do futuro, a de lhe conceder um prolongamento de vitalidade, da qual sofre necessariamente.

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