NOSSO LAR 07-09 -
CAPÍTULO 9 _ A HISTÓRIA DE SILAS
Na noite imediata, acompanhando o Assistente, eu e Hilário achavamo-nos de novo na residência de Luís.
Os irmãos de Antônio Olìmpio receberam-nos de bom grado.
Em larga copa da fazenda, reunia-se a família a dois agregados, em repasto ligeiro.
(...)
A fisionomia do dono da casa era quase a mesma da véspera, não obstante a diferença que a máscara física lhe impunha.
Enquanto Adélia acariciava a as crianças, entontecidas de sono, o marido comentava o noticiário radiofônico, destacando tópicos alarmantes que assinalara nos setores da economia. E, falando para os amigos assombrados, salientou as dificuldades públicas, relacionou misérias imaginárias, criticou os políticos e os administradores e referiu-se às pragas do café e da mandioca, detendo-se, particularmente, sobre as epizootias.
Por fim, não satisfeito em enunciar as calamidades da Terra, falou, inconseqüentemente, quanto à suposta ira do Céu, afirmando crer que o fim do mundo estava próximo e clamando contra o egoísmo dos ricos, que agravava o infortúnio dos pobres.
Silenciosos todos, ouviam-lhe a palavra, quando Leonel, mais confiado, dirigiu-se ao Assistente, observando:
- Estão vendo? Este homem _ e apontou Luís, cujo verbo dominava a pequenina assembléia familiar _ é o derrotismo em pessoa. Enxerga tudo em termos de cinza e lama, ajuíza com firmeza sobre os desastres sociais e conhece as zonas mais tristes da indigência coletiva; entretanto, não sabe desfazer-se de um só centavo dos milhões que retém a favor dos que sobrem nudez e fome...
E, depois de um sorriso irônico:
- acreditam, acaso, possa ele continuar merecendo a felicidade da permanência num corpo carnal?
Silas contemplou as personagens da cena doméstica, mostrando imensa piedade no semblante amigo, e considerou:
- Leonel, todas as suas observações apresentam lógica e verdade, à primeira vista.
Superficialmente, Luís é um exemplar consumado de pessimismo e de usura. Todavia, no fundo, ele é um doente necessitado de compaixão. Há moléstias da alma que arruínam a mente por tempo indeterminado. Quem seria ele, amparado por influências outras? Espiritualmente abafado entre as visões da fortuna terrestre com que lhe assediamos o pensamento, o infeliz perdeu o contato com os livros nobres e com as nobres companhias. Tem a socorrê-lo apenas a religião domingueira dos crentes que se julgam exonerados de qualquer obrigação para com a fé, contanto que participem do ofício de adoração a Deus, no fim de cada semana. Quem poderia prever-lhe as mudanças benéficas, desde que pudesse receber outro tipo de assistência?
Clarindo e Leonel registraram-lhe as ponderações como se se vissem apunhalados no âmago, tal a expressão de revolta que lhes assomou ao olhar coruscante.
- No entanto, ele e o pai são nossos devedores... Roubaram-nos, assassinaram-nos...- exclamou Leonel com a inflexão da criança voluntariosa e inteligente que se vê contrariada em seus caprichos.
- E que desejam vocês que eles façam? _ acrescentou o Assistente, sem se perturbar.
- Hão de pagar!...pagar!...- -bramiu Clarindo, cerrando os punhos.
Silas sorriu e obtemperou:
- Sim, pagar é o verbo próprio... Contudo, como pode o devedor resgatar-se, quando o credor lhe subtrai todas a possibilidades de solver os débitos? Que a nós mesmos cabe sanar os males que som autores, não padece qualquer dúvida... Entretanto, se nos compete retificar hoje uma estrada que ontem desorganizamos, como proceder se os decepam agora as mãos? O próprio Cristo aconselhou: -_ajudai aos vossos inimigos* Muitas vezes, penso que semelhante afirmativa, corretamente interpretada, quer assim dizer:- - ajudai aos vossos inimigos para que possam pagas as dívidas em que se emaranharam, restaurando o equilíbrio da vida, no qual tanto ele quantos sereis beneficiados pela paz.
Vias-se que o Assistente, com a simpatia conquistada na véspera e com a argumentação despretensiosa e límpida, lograra inequívoca superioridade moral sobre o ânimo dos obsessores de sentimento enrijecido. Ainda assim, Leonel perguntou a medo:
_ que considerações são essas? Será você algum padre disfarçado? Intentará, porventura, a nossa modificação?
- Engana-se, meu amigo _ informou o Assistente - ; se algo procuro, em, nossa comunhão fraterna, é minha própria renovação.
(...)
E Silas começou em voz pausada:
- Tanto quanto posso abranger com a minha memória a presente, lembro-me de que , em minha última viagem pelos domínios da carne, desde a meninice, me entreguei à paixão pelo dinheiro, o que hoje me confere a certeza de que, por muitas e muitas vezes, fui usurário terrível entre os homens da Terra.
Hoje, por informações de instrutores abnegados, que, como de outras ocasiões, renasci na derradeira existência, num lar bafejado por grande fortuna, a fim de sofrer a tentação do ouro farto e vencê-la, a golpes de vontade firme, na lavoura incessante do amor fraterno, caindo, porém, lamentavelmente, por minha infelicidade. Era eu filho único de um homem probo que herdara dos avoengos consideráveis bens. Meu pai era um advogado correto que, por excesso de conforto, não se dedicava aos misteres da profissão, mas, profundamente estudioso, vivias rodeado de livros raros, entre obrigações sociais, que, de alguma sorte, lhe subtraíam a personalidade às cogitações da fé. Minha mãe, porém, era católica romana, de pensamento fervoroso e digno, e, embora sem descer conosco a qualquer disputa na esfera devocional, tentava incutir-nos o dever da beneficência.
Recordo-me.., com tardio arrependimento, dos reiterados convites que nos dirigia, bondosa, para que lhe palmilhássemos as tarefas de caridade cristã, convites esse que meu pai e eu recusávamos, sem discrepância, encastelados em nossa irreverência enfatuada e risonha. Minha genitora cedo percebeu que meu pobre espírito trazia consigo o azinhavre da usura e, reconhecendo que lhe seria extremamente difícil colaborar na renovação íntima de meu pai, homem já feito e desde a infância habituado à dominação financeira, concentrava em mim seus propósitos de elevação. Para isso, buscou estimular-me ao gosto pelos estudos de medicina, alegando que, ao lado dos sofrimentos humano, poderia eu encontrar as melhores oportunidades de auxílio ao próximo, tornando-me agradável a Deus, ainda mesmo que não me fosse possível entesourar os recursos da fé. Intimamente eu escarnecia das sagradas esperanças de quem em era a criatura mais cara ao espírito; contudo9, sem poder resistir-lhe ao cerco afetivo, consagrei-me à carreira médica, muito mais interessando em explorar os enfermos ricos, cujos agravos do corpo, indiscutivelmente, me facultariam amplas vantagens materiais.
Entretanto, em vésperas da vitória estudantil esperada, minha mãe, relativamente moça, despediu-se da experiência física, vitimada por um acidente de angina. Nossa dor foi enorme. Recebi meu diploma de medicina, qual se me fora ele detestável recordação, e, não obstante os estímulos da bondade paterna, não cheguei a ingressar na prática da profissão conquistada, recolhi-me à intimidade doméstica, de que me ausentava tão-somente para as estações de entretenimento e repouso. Então mais que nunca chafurdado na sovinice, porquanto acompanhei o inventário de minha mãe, com vigilância tão rigorosa que as minhas estranhas atitudes chegaram a surpreender meu próprio pai, egoísta e displicente, mas nunca avarento quanto eu. Compreendi que a fortuna herdada em situava, para meu infortúnio moral, a cavaleiro de qualquer necessidade da vida física, por largos anos, desde que não me confiasse à dissipação... Ainda assim, quando vi meu genitor inclinado às segundas núpcias, quase aos sessenta de idade, fiz quanto pude, indiretamente, para dissuadi-lo, afastando de tal intento.
Ele, todavia, era um homem resoluto nas decisões e desposou Aída, uma jovem da minha idade, que mal se avizinhava dos trinta anos... Recebi a madrasta como intrusa em nosso campo doméstico, e, tomando-a por aventureira comum, à caça de fortuna fácil, jurei vingar-me. Apesar das carinhosas requisições do casal e não obstante o tratamento gentil que a pobre moça em dispensava, exibia sempre um pretexto para fugir-lhe às convivência. O novo matrimônio, no entanto, passou a exigir do esposo mais dilatados sacrifícios no mundo social de que Aída não pretendia afastar-se, e foi assim que, ao término de alguns meses, meu genitor era obrigado a procurar o socorro medico, recolhendo-se, então, a necessário repouso. Acompanhava-lhe a decadência orgânica, tomado de vivas apreensões. Não era a saúde paterna que me feria a imaginação, mas sim a extensa reserva financeira de nossa casa. Na hipótese do súbito falecimento do homem que me trouxera à existência, de modo algum em resignaria a partilhar a herança com a mulher que, aos meus olhos, indevidamente ocupava o espaço de minha mãe.
O Assistente fez longa pausa, enquanto lhe fixávamos o semblante melancólico.
De mim mesmo, atônito, diante do que me era dado ouvir, indagava, no íntimo se tudo aquilo de fato se passara... fora Silas realmente o homem a quem se reportava ou compunha ele aquela história para alterar o ânimo dos perseguidores?
Contudo, não me foi possível desfechar qualquer interrogação, porquanto o nosso amigo, com que desejoso de castigar-se com a dolorosa confissão,.
Prosseguiu, pormenorizando:
- Passei a arquitetar planos ditosos, quanto à melhor maneira de alijar Aída de qualquer possibilidade de ingresso futuro ao nosso patrimônio, sem melindrar meu pai doente... E nos projetos criminosos que me visitavam a cabeça, a própria morte da madrasta comparecia como solução. Entretanto, com suprimi-la sem causar maior sofrimento ao enfermo que eu desejava conservar?... Não seria aconselhável desmoralizá-la, antes de tudo, aos olhos dele, para que não padecesse qualquer saudade da mulher, condenada por mim às desvalia? Tramava no silêncio e na sombra, quando a ocasião esperada veio ao meu encontro... Convidado a comparecer com a esposa numa festividade pública, meu pai chamou-me e insistiu par que eu acompanhasse Aída, representando-lhe a autoridade... Pela primeira vez, acedi com prazer...
Pretendia conhecer-lhe agora, de mais perto, as afeições... Funestos propósitos nasciam-me no crânio... Desse modo,. Durante alegre âgape, tomei contato com Armando, primo de minha madrasta e que a cortejara em solteira.
Aramando era um rapaz pouco mais velho que eu, perdulário e fanfarrão, que dividia o tempo entre mulheres e taças espumantes, a quem contrariamente aos
meus hábitos, ofereci premeditada comunhão afetiva... Tanto quanto possível, dominando moralmente o ânimo de meu pai, desde então, o associei ao nosso campo doméstico, favorecendo-lhe o mais amplo retorno à intimidade com a criatura de quem se havia enamorado, anos antes. A praia, o teatro, o cinema, bem como passeios de variados matizes, eram agora os pontos costumeiros de nossa presença, nos quais intencionalmente eu atirava os dois primos nos braços um do outro... Aída não me percebeu a manobra e, embora resistisse, por mais de um ano, à galantearia do companheiro, acabou por ceder à constante ofensiva dele... Fingi desconhecer-lhes as relações até que eu pudesse conduzir meu pai ao testemunho direto dos acontecimentos..
Inventava jogos e distrações para reter o sedutor em nossa casa...
Captei-lhe a confiança absoluta, de modo a usá-lo como peça importante em meu criminoso ardil e, certa noite, em que , cauteloso, aparentei completa ausência de nosso templo familiar sabendo os amantes segregados em determinado aposento contíguo ao meu, procurei meu pai em sua dependência de enfermo e, mascarando-me com intensa dignidade ofendida, chamei-o a brios, numa exposição sintética dos fatos... Lívido e trêmulo, o doente exigiu provas e nada mais fiz que conduzi-lo, cambaleante, até a porta do quanto, cujo fecho eu próprio deixara enfraquecido... Bastou um empurrão mais forte e meu genitor, desolado, encontrou o flagrante que eu desejava... Armando, cínico, não obstante o desapontamento, afastou-se, lépido, ciente de que não poderia esperar qualquer golpe grave de um sexagenário abatido... Minha madrasta, porém, profundamente ferida em seu amor próprio, dirigiu ao velho esposo acusações humilhantes, procurando os seus aposentos particulares, numa explosão de amargura. Completando a obra terrível a que me devotar, mostrei-me mais carinhoso para com o enfermo, intimamente aniquilado... Duas semanas arrastaram-se pesadas para a nossa equipe familiar... Enquanto Aída ocupava o leito, assistida por dois médicos de nossa confiança, que nem de longe no conheciam a tragédia oculta, afagava meu pai com lamentações e
sugestões indiretas para que os bens de nossa casa fossem, na maioria, guardados em meu nome, á que o segundo matrimônio não poderia desfazer-se, perante as autoridades legais. Prosseguia em minha faina delituosa, quando minha madrasta a pareceu morta... Os clínicos de nossa amizade positivaram um envenenamento fulminante e , constrangido, notificam a meu pai tratar-se de um suicídio, decerto motivado pela insofreável neurastenia de que a doente se via objeto. Meu genitor estava mais sombrio nos aparatosos funerais, contudo, em meus destruidores propósitos, regozijei-me... Agora, sim... a fortuna total de nossa casa passaria a pertencer-me...Minha satânica alegria, porém, durou muito pouco... Desde a morte da Segunda mulher, meu pai acamou-se para não mais se erguer... Debalde, médicos e padres amigos procuraram oferecer-lhe melhoras e consolações... Ao fim de dois meses, meu pai, que nunca mais sorriu, entrou em dolorosa agonia, na qual, através de confidência entrecortada de lágrimas, me confessou haver envenenado Aída, administrando-lhe violento tóxico no calmante habitual.
Isso, no entanto _ assegurava-me vencido - , impunha-lhe também a morte, de vez que não conseguia perdoar a si mesmo,. Passando a carregar consigo um fardo de remorso constante e intolerável... Pela primeira vez, minha consciência doeu, fundo. O apego aos bens da carne arrasava-me a vida... o velho querido morreu nos meus braços, crendo que o meus soluços de arrependimento fossem pranto de amor. Deixando-lhe o corpo fatigado na terra fria, tornei a nossa casa solarenga, sentindo-me o mais infortunado dos seres... o ouro integral do mundo não me garantiria agora o mais leve consolo. Achava-me sozinho e... Infinitamente desgraçado, todos os recantos e pertences de nossa habitação falavam-me de crime e remorso... Muitas vezes, a sombra noturna pareceu-me povoada de fantasmas horripilantes a escarnecerem de minha dor, e, em meio da malta de insensíveis demônios, a investirem contra mim, tinha a idéias de escutar a voz inconfundível de meu pai, calmado para minhalma: - _meu filho! Recua enquanto é tempo. _ (...) em pavorosa crise moral, demandei à Europa, em longa viagem de recreio (...)
Regressei ao Brasil, mas não tive coragem de retomar a intimidade com nossa casa. Amparado pela afeição de velho amigo de meu pai, aceite-lhe o acolhimento(...) Embalado pelo carinho familiar daquele amigo, deixei que longos meses passassem, tentado imerecida fuga mental...até que, numa noite inolvidável para mim, na qual minha gastralgia se transformara num azorrague de dor, tomei de um frasco de arsênico na adega de meu anfitrião, acreditando usar o bicarbonato de sódio que ali deixara na véspera, e o veneno expulsou-me do corpo, impondo-me sofrimentos terríveis... Qual acontecera à minha madrasta, que desencarnara em padecimentos atrozes, eu também passei pela morte em condições análogas... E os amigos que me asilavam no templo doméstico, desconhecendo o equívoco de que eu fora vítima, admitiram, sem qualquer sombra de dúvida, que eu buscara no suicídio a extinção das penas morais que me castigavam a alma de _moço rico e entediado da vida, segundo a versão a que deram curso.
- Isso, porém, não bastou par ressarcir minhas tremendas culpas...
Dementado, depois do sepulcro, atravessei meses cruéis de terror e desequilíbrio, entre os quadros vivos a se me exteriorizarem da mente algemada às criações de si própria, até que fui socorrido por amigos de meu pai, que se achava igualmente a caminho da sua recuperação, e, unindo-me a ele, passeia a empenar todas as minhas energias na preparação do futuro...
Transcorridos alguns instantes de pesado silêncio, concluiu:
- Como vêem, a fascinação pelo ouro foi o motivo de minha perda, tenho necessidade de grande esforço n bem e de fé vigorosa par anão cair outra vez, por quanto lé indispensável me consagre a nova experiência entre os homens...
Leonel e Clarindo não se achavam mais surpreendidos que eu e Hilário, habituados a encontrar, em Silas, um admirável companheiro, aparentemente sem aflição e sem problemas.
Foi Leonel quem rompeu a pausa, perguntando ao Assistente que emudecera, qual se fora subjugado pela força das próprias reminiscências:
- Voltará, então, para a carne, assim tão breve?
- Oh! Quem me dera a ventura de regressar tão apressadamente quanto possível!... _ suspirou o chefe de nossa expedição, algo ansioso. - O devedor está inelutavelmente ligado ao interesse dos credores... Assim, antes de tudo, é imprescindível venha a encontrar minha madrasta, no vasto país de sombra em que nos achamos, para encetar a difícil tarefa de minha libertação moral.
- Como assim? _ perguntei, emocionado.
- Sim, meu amigo _ falou Silas, abraçando-me -, meu caso não aproveita simplesmente a Clarindo e Leonel, que procuram a justiça pelas próprias mãos, o que, muitas vezes, apenas significa violência e crueldade, mas também a Hilário e a você que estudam presentemente a lei do carma, ou seja, da ação e reação... Aqui somos impelidos a recordar novamente a lição d Senhor: _ajudai aos vossos inimigos, porque, sem que eu mesmo auxilie a mulher em cujo coração criei uma importante adversária de minha paz, não posso receber-lhe o auxílio fraterno, sem o qual não reconquistarei minha serenidade.. vali-me da fraqueza de Aída para arrojá-la ao despenhadeiro da perturbação, fazendo-a mais frágil do que já era em si mesma... Agora, eu e meu pai, que lhe complicamos o caminho, somos naturalmente constrangidos a buscá-la, soerguê-la, ampará-la e restituir-lhe o equilíbrio relativo na terra, para que venhamos a solver, pelo menos em parte, a nossa imensa dívida... (...) meu pai e eu, assistidos por minha mãe, hoje nossa benfeitora nas esferas Mais Altas, estamos associados no mesmo empreendimento _ nossa própria regeneração moral, em busca do levantamento de Aída -, sem o que não conseguiremos desintegrar o visco envenenado do remorso que nos aprisiona o campo mental nas faixas inferiores da vida terrestre. É assim que nos cabe reencontrá-la, a benefício de nós mesmos... Tão logo a Divina Misericórdia nos permita semelhante felicidade, meu genitor, envolvido no amor e na renúncia de minha mãe que, com ele, retornará às lides da carne, vestir-se-à de nova expressão corpórea no plano das formas físicas e, ambos, na mocidade terrena, retomando os laços humanos do casamento, recolher-nos-ão por filhos abençoados... Aída e eu seremos irmãos na teias consangüíneas... Consoante nossas aspirações que o Céu protegerá, à face da Magnanimidade Divina, serei novamente médico no futuro, ao preço de imenso esforço, para consagrar-me à beneficência, nela recuperando minhas valiosas oportunidade perdidas...
Minha madrasta, que por certo, vivera sofrendo deplorável intoxicação da alma, nos tenebrosos abismos, será socorrida em momento oportuno, não obstante o tempo longo de assistência que nos reclamará neste plano, em necessário refazimento, sem dúvida renascerá e franzino corpo físico, junto de nós, de maneira a sanar as difíceis psicoses que lhe marcarão a existência na carne, sob a forma de estranhas enfermidades mentais...Ser-lhe-ei, assim, não apenas o irmão do lar, mas também o enfermeiro e o amigo, o companheiro e o médico, pagando em sacrifício e boa-vontade, afeto e carinho, o equilíbrio e a felicidade que lhe furtei...(...)
Compreendemos que Silas auxiliava Clarindo e Leonel, identificando-os como irmãos de luta e aprendizado, no que , indiscutivelmente, ampliaria os próprios méritos.(...)
QUESTÕES:
1) COMENTAR SOBRE A MÁXIMA: "AJUDAI AOS VOSSOS INIMIGOS".
2) FAÇA UM PARALELO, RESPECTIVAMENTE, ENTRE AS AÇÕES E AS REAÇÕES COMENTADAS NO CAPÍTULO. EM ESPECIAL SOBRE A HISTÓRIA DE SILAS.
3) O QUE DIZER DA MORTE CORPÓREA DE SILAS SER MUITO PARECIDA COM A DA
MADRASTA?
4) SILAS COMETEU GRANDES ERROS EM SUA EXISTÊNCIA PASSADA,NO ENTANTO, OCUPA UM CARGO DE RESPONSABILIDADE DENTRO DA MANSÃO. O QUÊ ISSO SIGNIFICA?
5) EXPLIQUE PORQUE AÍDA NÃO RENASCERÁ EM UM CORPO SADIO.
6) PODERÍAMOS AFIRMAR, PELO RELATO, QUE SILAS SOFRIA SÉRIO PROCESSO OBSESSIVO?
Conclusão:
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1) Comentar sobre a máxima: "ajudai aos vossos inimigos".
R - "Ajudai aos vossos inimigos" é um desdobramento da máxima deixada por Jesus: "Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam...". Os obsessores a quem o assistente Silas se dirigia tinham o coração, endurecido, cheio de ódio e de desejo de vingança. Falar em amor, naquele momento, resultaria inútil e frustraria a tentativa de operar uma mudança em seus sentimentos. Habilmente, Silas falou em "ajudar os inimigos", tocando diretamente no desejo dos obsessores de cobrarem do obsediado. Como explicou Silas, esta máxima deveria ser entendida como uma ação no sentido de ajudar os inimigos para que eles possam pagar as dívidas, restaurando o equilíbrio da vida e beneficiando ambas as partes com a paz.
2) Faça um paralelo, respectivamente, entre as ações e as reações comentadas no capítulo, em especial sobre a história de Silas.
R - A história de Silas nos dá um exemplo bastante significativo da atuação da lei de ação e reação. Em sua última existência terrena, Silas foi o causador do drama que culminou no homicídio praticado por seu pai, eliminando a esposa da vida física, via envenenamento e desencarnando em seguida, após terrível sofrimento que não conseguiu suportar, condenado por sua consciência e acicatado pelo remorso. Silas, por sua vez, também não conseguiu desembaraçar-se da condenação que lhe impunha a consciência, padecendo sob o martírio de tardio arrependimento. Num resultado lógico da incidência da lei de ação e reação, que, neste caso, incidiu naquela mesma encarnação, veio a falecer do mesmo modo que a madrasta, através do envenenamento involuntário de que foi vítima. A madrasta, por sua vez, também não era inocente, até porque não existe vítimas inocentes. Trazia em si as marcas da traição ao marido, que deu ensejo à reação deste, envenenando-a. A atuação da lei de causa e efeito é conduzida por um magnetismo automático, que ainda não estamos capacitados para compreender em toda a sua inteireza, mas que, por ser determinação divina, não deixa de se fazer valer. Com seu procedimento, Silas causou um desequilíbrio na vida cósmica, que deve se pautar pelo amor e pela justiça. Não admitindo desequilíbrio no Cosmo, a Natureza reagiu, recompondo o equilíbrio por meio do dispositivo mecânico da lei de ação e reação.
3) O que dizer da morte corpórea de Silas ser muito parecida com a da madrasta?
R - Como dissemos acima, a morte de Silas por envenenamento, de modo idêntico ao que pereceu a vítima de sua trama, foi resultado do mecanismo da lei de ação e reação por ele acionado, ao executar o plano levado a efeito para se apoderar sozinho dos bens deixados pelo pai. Ensinam os Espíritos, que cada um é punido naquilo em que errou e Silas recebeu a reação de seu ato criminoso.
4) Silas cometeu grandes erros em sua existência passada. No entanto, ocupa um cargo de responsabilidade dentro da Mansão. O que isso significa?
R - Certamente, Silas não chegou a este posto por acaso nem sem merecimento. Se ocupa o cargo de assistente naquela casa de recuperação, é porque progrediu na erraticidade. Conscientizou-se dos equívocos cometidos em sua última passagem terrena e manifestou sincero arrependimento, demonstrando o desejo de transformação. Buscou, assim, o seu melhoramento, merecendo dos dirigentes espirituais a oportunidade de iniciar o processo de recuperação ainda no mundo espiritual, através do trabalho em favor dos sofredores que eram recebidos naquela Instituição.
5) Explique por que Aída não renascerá em um corpo sadio.
R - Ao contrário de Silas, Aída não iniciara o seu processo de transformação. Encontrava-se psiquicamente ligada às regiões das trevas, conforme relato de Silas, adquirindo psicoses que lesionaram seu perispírito e que se refletirão mais tarde no novo corpo em que retornará à carne, em forma de estranhas enfermidades mentais. Como parte da reparação do erro do passado, Silas renascerá num corpo sadio, na qualidade de seu irmão consangüíneo, no mesmo lar, a quem servirá como enfermeiro, médico, companheiro e amigo, auxiliando-a a também resgatar o débito contraído.
6) Poderíamos afirmar, pelo relato, que Silas sofria sério processo obsessivo?
R - Não podemos concluir do relato de Silas que ele tivesse agido sob a influência de algum espírito obsessor. Conforme ele conta ao iniciar o relato de sua história, encontrava-se seduzido pelo dinheiro e governado pela paixão da posse e pelo apego aos bens materiais. Eram, portanto, imperfeições geradas por ele próprio, provavelmente trazidas de outras passagens, sem a interferência de espírito obsessor. Para acumular fortuna, enveredou pelo crime, utilizando o livre-arbítrio de que todos somos dotados. Porém, é claro que, quando escolhemos percorrer este caminho, estamos nos sintonizando e, em conseqüência, atraindo para nossa companhia espíritos de baixo nível evolutivo, que igualmente nutrem paixões de natureza inferior e que irão potencializar as nossas imperfeições. A influência desses espíritos, explorando os nossos vícios e imperfeições, sem dúvida, irá dificultar a nossa mudança, pois tudo farão para permaneçamos no erro com o qual têm afinidade e dos quais se utilizam para satisfazer seus desejos de vingança.
QUESTÕES COMPLEMENTARES
a) A lei de ação e reação é "inevitável". De uma forma semelhante iremos vivenciar fatos e situações pelas quais fizemos outrem o fazer, incluindo aqui também a situação narrada de morte semelhante?
R - Sem dúvida, o dispositivo da lei de ação e reação é inevitável, pois ela atua mecanicamente como uma forma de restabelecer o equilíbrio que deve reinar no Cosmo e que foi quebrado pela ação do espírito contrariando as Leis Naturais. A morte da mesma maneira com que se provocou a de outro foi ensinada por Jesus, quando advertiu Pedro, que reagira à sua prisão puxando a espada e ferindo um dos servos do sumo sacerdote que o prendia: "embainha a tua espada, porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão."
b) Os erros e equívocos passados podem ser utilizados para nossa própria evolução? o exemplo de Silas é algo assim: ele cometeu erros, deles tomou consciência, o que gerou o arrependimento e o conseqüente trabalho em busca de seu melhoramento. e seu próprio erro foi colocado a serviço da "recuperação"dos obsessores de Luis.
R - O erro pode servir como um instrumento para o despertamento do espírito. A consciência, onde encontram-se escritas as Leis de Deus, é quem nos aponta o erro, bastando que estejamos dispostos a aceitar o seu julgamento, fazendo daí o ponto de partida para o arrependimento, a expiação e a reparação que nos recolocará no caminho da evolução.
c) Quando Silas comenta sobre sobre os planos de futura reencarnação, podemos inserir aí a questão da escolha das provas?
R - Vemos pelo relato de Silas que a sua reencarnação dar-se-á obedecendo a uma programação previamente elaborada, na qual está previsto o seu retorno ao mesmo lar das personagens que participaram do drama do passado. Silas, como vimos, evoluiu na erraticidade e, assim, credenciou-se, com o mérito adquirido pelo trabalho, a escolher as provas às quais se submeterá no retorno ao mundo físico.
d) Fiquei pensando aqui: Silas teve o mesmo motivo de desencarne que Aída, então qual o motivo dos diferentes projetos para a reencarnação: onde Silas nascerá são e Aída com problemas de saúde? Não seria natural que ambos tivessem o mesmo problema de saúde, já que as "mortes" foram semelhantes?
R - Respondido na questão número 5 acima.
e) nesta questão ainda fiquei refletindo sobre o que podemos chamar ou inferir das conseqüências de mortes por homicídios cometidos por terceiros ou por nós mesmos (suicídio) sobre nosso perispírito?
R - As reações em nosso perispírito são provocadas por nossas ações, pelos nossos sentimentos e pelos nossos pensamentos. A morte por homicídio não nos causa lesão perispiritual, posto que quem causou um desequilíbrio à Lei foi o homicida. Aquele que padece por homicídio, ao contrário, está purgando seu perispírito dos gravames que nele imprimiu por equívocos do passado. É o reequilíbrio da Lei. Na hipótese de suicídio é diferente. O suicida, este sim, grava em seu perispírito as matrizes da grave violação praticada contra as Leis Naturais, ao se furtar de passar pela prova ou expiação da vida física. No futuro, em próxima reencarnação, sofrerá no corpo físico os reflexos do perispírito danificado pelo ato do suicídio
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