terça-feira, 25 de agosto de 2015

NOSSO LAR 07-07 - 

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo - CVDEE
Sala de Estudos André Luiz

 Livro em estudo: Ação e reação
                                                                                                                 
Tema: Capítulo 7 - Conversação Preciosa

RESUMO DO CAPÍTULO

Facilitando-nos a tarefa, Druso apresentou-nos, mais intimamente, ao Ministro Sânzio, informando que estudávamos, em alguns problemas da Mansão, as leis de causalidade.
(...)

- A dor, sim, a dor... - murmurou, compadecido, como se perscrutasse transcendente questão nos escaninhos da própria alma.
(...)

- Estudo-a, igualmente, filhos meus.  Sou funcionário humilde dos abismos.  Trago comigo a penúria e a desolação de muitos.  Conheço irmãos nossos, portadores do estigma de padecimentos atrozes, que se encontram animalizados, há séculos, nos despenhadeiros infernais;  entretanto, cruzando as trevas densas, embora o enigma da dor me dilacere o coração, nunca surpreendi criatura alguma esquecida pela Divina Bondade.

Registrando-lhe a palavra amorosa e sábia, inexprimível sentimento me invadiu a alma toda.
(...)

Percebi-lhe a nobre intenção e busquei dominar-me.

- Grande benfeitor - exclamei comovido, buscando olvidar os meus próprios sentimentos - poderemos ouvi-lo de algum modo, acerca do "carma" ?

Sânzio retomou a posição que lhe era habitual, junto ao espelho cristalino, e obtemperou:

- Sim, o "carma", expressão vulgarizada entre os hindus, que em sânscrito quer dizer "ação", a rigor, designa "causa e efeito", de vez que toda ação ou movimento deriva de causa ou impulsos anteriores.  Para nós expressará a conta de cada um, englobando os créditos e os débitos que, em particular, nos digam respeito.  Por isso mesmo, há conta dessa natureza, não apenas catalogando e definindo individualidades, mas também povos e raças, estados e instituições.

O Ministro fez uma pausa, como quem dava a perceber que o assunto era complexo, e continuou:

- Para melhor entender o "carma", ou "conta do destino criada por nós mesmos", convém lembrar que o Governo da Vida possui igualmente o seu sistema de contabilidade, a se lhe expressar no mecanismo de justiça inalienável.  Se no círculo das atividades terrenas qualquer organização precisa estabelecer um regime de contas para basear as tarefas que lhe falem à responsabilidade, a Casa de Deus, que é todo o Universo, não viveria igualmente sem ordem.  A Administração Divina, por isso mesmo, dispõe de sábios departamentos para relacionar, conservar, comandar e engrandecer a Vida Cósmica, tudo pautando sob a magnanimidade do mais amplo amor e da mais criteriosa justiça.  Nas sublimadas regiões celestes de cada orbe entregues à inteligência e à razão, ao trabalho e ao progresso dos filhos de Deus, fulguram os gênios angélicos, encarregados do rendimento e da beleza, do aprimoramento e da ascensão da Obra Excelsa, com ministérios apropriados à concessão de  empréstimos e moratórias, créditos especiais e recursos extraordinários a todos os Espíritos encarnados ou desencarnados que os mereçam, em função dos serviços referentes ao Bem Eterno;  e nas regiões atormentadas como esta, varridas por sistemas de dor regenerativa, temos os poderes competentes para promover a cobrança e a fiscalização, o reajustamento e a recuperação de quantos se fazem devedores complicados ante a Divina Justiça, poderes que têm a função de purificar os caminhos evolutivos e circunscrever as manifestações do mal.  As religiões da Terra, por esse motivo, procederam acertadamente, localizando o Céu nas esferas superiores e situando o Inferno nas zonas inferiores, porquanto, nas primeiras, encontramos a crescente glorificação do Universo e, nas segundas, a purgação e a regeneração indispensáveis à vida, para que a vida se acrisole e se eleve ao fulgor dos cimos.

(...)
- Comove saber que sendo a Providência Divina a Magnanimidade Perfeita, sem limites gerando tesouros de amor para distribuí-los com abundância, em favor de todas as criaturas, é também a Eqüidade Vigilante, na direção e na aplicação dos bens universais.

- Efetivamente, não poderia ser de outro modo - ajuntou Sânzio, bondoso. - Em assuntos da lei de causa e efeito, é imperioso não olvidar que todos os valores da vida, desde as mais remotas constelações à mais mínima partícula subatômica, pertencem a Deus, cujos inabordáveis desígnios podem alterar e renovar, anular ou reconstruir tudo o que está feito.  Assim, pois, somos simples usufrutuários da Natureza que consubstancia os tesouros do Senhor, com responsabilidade em todos os nossos atos, desde que já possuamos algum discernimento.  O Espírito, seja onde for, encarnado ou desencarnado, na Terra ou noutros mundos, gasta, em verdade, o que lhe não pertence, recebendo por empréstimos do Eterno Pai os recursos de que se vale para efetuar a própria sublimação no conhecimento e na virtude.  Patrimônios materiais e riquezas da inteligência, processos e veículos de manifestação, tempo e forma, afeições e rótulos honoríficos de qualquer procedência são de propriedade do Todo-Misericordioso, que no-los concede a título precário, a fim de que venhamos a utilizá-los no aprimoramento de nós mesmos, marchando nas largas linhas da experiência, de modo a entrarmos na posse definitiva dos valores eternos, sintetizados no Amor e na Sabedoria com que, em futuro remoto, Lhe retrataremos a Glória Soberana.  Desde o elétron aos gigantes astronômicos da Tela Cósmica, tudo constitui reservas das energias de Deus, que usamos, em nosso proveito, por permissão dEle, de sorte a promovermos, com firmeza, nosso própria elevação a Sua Majestade Sublime.  Dessa maneira, é fácil perceber que, após conquistarmos a coroa da razão, de tudo se nos pedirá contas no momento oportuno, mesmo porque não há progresso sem justiça na aferição de valores.

Lembrei-me instintivamente da nossa errada conceituação de vida na Terra, quando nos achamos sempre dispostos a senhorear indebitamente os recursos do estágio humano, em terras e casas, títulos e favores, prerrogativas e afetos, arrastando, por toda a parte, as algemas do mais gritante egoísmo...
(...)

- Realmente, no mundo o homem inteligente deve estar farto de saber que todo conceito de propriedade exclusiva não passa de simples suposição.  Por empréstimo, sim, todos os valores da existência lhe são adjudicados pela Providência Divina, por determinado tempo, de vez que a morte funciona como juiz inexorável, transferindo os bens de certas mãos para outras e marcando com inequívoca exatidão o proveito que cada Espírito extrai das vantagens e concessões que lhe foram entregues pelos Agentes da Infinita Bondade.  Aí, vemos os princípios de causa e efeito, em toda a força de sua manifestação, porque, no uso ou no abuso das reservas da vida que representam a eterna Propriedade de Deus, cada alma cria na própria consciência os créditos e os débitos que lhe atrairão inelutavelmente as alegrias e as dores, as facilidades e os obstáculos do caminho.  Quanto mais amplitude em nossos conhecimentos, mais responsabilidade em nossas ações.  Através de nossos pensamentos, palavras e atos, que nos fluem, invariáveis, do coração, gastamos e transformamos constantemente as energias do Senhor, em nossa viagem evolutiva, nos setores da experiência, e, do quilate de nossas intenções e aplicações, nos sentimentos e práticas da marcha, a vida organiza, em nós mesmos, a nossa conta agradável ou desagradável ante as Leis do Destino.

Nesse ponto do valioso esclarecimento, Hilário inquiriu com humildade:

- Amado Instrutor, à face da gravidade de que a lição se reveste para nós, que devemos entender como sendo "bem" e "mal”?
(...)

- Evitemos o mergulho nos labirintos da Filosofia, não obstante o respeito que a Filosofia nos merece, porquanto não nos achamos num cenáculo simplesmente destinado à esgrima da palavra.  Busquemos, antes de tudo, simplificar. É fácil conhecer o bem quando o nosso coração se nutre de boa-vontade à frente da Lei.  O bem, meu amigo, é o progresso e a felicidade, a segurança e a justiça para todos os nossos semelhantes e para todas as criaturas de nossa estrada, aos quais devemos empenhar as conveniências de nosso exclusivismo, mas sem qualquer constrangimento por parte de ordenações puramente humanas, que nos colocariam em falsa posição no serviço, por atuarem de fora para dentro, gerando, muitas vezes em nosso cosmo interior, para nosso prejuízo, a indisciplina e a revolta.  O bem será desse modo, nossa decidida cooperação com a Lei, a favor de todos, ainda mesmo que isso nos custe a renunciação mais completa, visto não ignorarmos que, auxiliando a Lei do Senhor e agindo de conformidade com ela, seremos por ela ajudados e sustentados no campo dos valores imperecíveis.  E o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos, a expressar-se no egoísmo e na vaidade, na insensatez e no orgulho que nos assinalam a permanência nas linhas inferiores do espírito.

Finda breve pausa, o Ministro ajuntou:

- Possuímos em Nosso Senhor Jesus-Cristo o paradigma do Eterno Bem sobre a Terra.  Tendo dado tudo de si, em benefício dos outros, não hesitou em aceitar o supremo sacrifício no auxílio a todos, para que o bem de todos prevalecesse, ainda mesmo que a ele, em particular, se reservassem a incompreensão e o sofrimento, a flagelação e a morte.
(...)

- Generoso amigo, poderíamos ouví-lo, de alguma sorte, quanto aos sinais cármicos que trazemos em nós mesmos ?
(...)

- É muito difícil penetrar o sentido das Leis Divinas, com os recursos limitados da palavra humana.  Ainda assim, iniciemos o tentame, recorrendo a imagens tão simples quanto seja possível.  Apesar da impropriedade, comparemos a esfera humana ao reino vegetal.  Cada planta produz na época própria, segundo a espécie a que se ajusta, e cada alma estabelece para si mesma as circunstancias felizes ou infelizes em que se encontra, conforme as ações que pratica, através de seus sentimentos, idéias e decisões na peregrinação evolutiva.  A planta, de começo, jaz encerrada no embrião, e o destino, ao princípio de cada nova existência, está guardado na mente.  Com o tempo, a planta germina, desenvolve-se, floresce e frutifica e, também com o tempo, a alma desabrocha ao sol da eternidade, cresce em conhecimento e virtude, floresce em beleza e entendimento e frutifica em amor e sabedoria.  A planta, porém, é uma crisálida de consciência, que dorme largos milênios, rigidamente presa aos princípios da genética vulgar que lhe impõe os caracteres dos antepassados, e a alma humana é uma consciência formada, retratando em si as leis que governam  a vida e, por isso, já dispõe, até certo ponto, de faculdades com que influir na genética, modificando-lhe a estrutura, porque a consciência responsável herda sempre de si mesma, ajustada às consciências que lhe são afins. Nossa mente guarda consigo, em germe, os acontecimentos agradáveis ou desagradáveis que a surpreenderão amanhã, assim como a pevide minúscula encerra potencialmente a planta produtiva em que se transformará no futuro.

Nessa altura, Hilário perguntou, inquieto:

- Não teremos, nesse postulado, a consagração do determinismo de ordem absoluta ?  Se trazemos hoje, no campo mental, tudo aquilo que nos sucederá amanhã...
Sãnzio, contudo, esclareceu, complacente:

- Sim, nas esferas primárias da evolução, o determinismo pode ser considerado irresistível.  É o mineral obedecendo a leis invariáveis de coesão e o vegetal respondendo, fiel, aos princípios organogênicos, mas, na consciência humana, a razão e a vontade, o conhecimento e o discernimento entram em função nas forças do destino, conferindo ao Espírito as responsabilidades naturais que deve possuir sobre si mesmo.   Por isso, embora nos reconheçamos subordinados aos efeitos de nossas próprias ações, não podemos ignorar que o comportamento de cada um de nós, dentro desse determinismo relativo, decorrente de nossa própria conduta, pode significar liberação abreviada ou cativeiro maior, agravo ou melhoria em nossa condição de almas endividadas perante a Lei.

- Mas, ainda mesmo nas piores posições expiatórias - inquiri -. goza a consciência dos direitos inerentes ao livre arbítrio ?

- Como não ? - falou o Ministro, generoso - imaginemos um delinqüente monstruoso, segregado na penitenciária.  Acusado de vários crimes, permanece privado de toda e qualquer liberdade na enxovia comum.  Ainda assim, na hipótese de aproveitar o tempo no cárcere, para servir espontaneamente à ordem e ao bem-estar das autoridade e dos companheiros, acatando com humildade e respeito as disposições da lei que o corrige, atitude essa que resulta de seu livre arbítrio para ajudar ou desajudar a si mesmo, a breve tempo esse prisioneiro começa por atrair a simpatia daqueles que o cercam, avançando com segurança para a recuperação de si mesmo.

O raciocínio era claro, mas, não desejando perder o fio da lição simples e preciosa, indaguei:
- Venerável benfeitor, para nossa edificação, poderemos recolher mais amplas anotações sobre a melhor maneira de colaborar com a Lei Divina em nosso próprio favor ?  Dispomos de algum meio para escapar à justiça ?

Sânzio sorriu e observou:

- Da justiça ninguém fugirá, mesmo porque a nossa consciência, em acordando para a santidade da vida, aspira a resgatar dignamente todos os débitos de que se onerou perante a Bondade de Deus; entretanto, o Amor Infinito do Pai Celeste brilha em todos os processos de reajuste.  Assim é que se claudicamos nessa ou naquela experiência indispensável à conquista da luz que o Supremo Senhor nos reserva, é necessário nos adaptemos à justa recapitulação das experiência frustradas, utilizando os patrimônios do tempo.  Figuremos um homem acovardado diante da luta, perpetrando o suicídio aos quarenta anos de idade no corpo físico. Esse homem penetra no mundo espiritual sofrendo as conseqüências imediatas do gesto infeliz, gastando tempo mais ou menos longo, segundo as atenuantes e agravantes de sua deserção, para recompor as células do veículo perispirítico, e, logo que oportuno, quando torna a merecer o prêmio de um corpo carnal na Esfera Humana, dentre as provas que repetirá, naturalmente se inclui a extrema tentação ao suicídio na idade precisa em que abandonou a posição de trabalho que lhe cabia, porque as imagens destrutivas, que arquivou em sua mente, se desdobrarão, diante dele, através do fenômeno a que podemos chamar "circunstâncias reflexas", dando azo a recônditos desequilíbrios emocionais que o situarão, logicamente, em contato com as forças desequilibradas que se lhe ajustam ao temporário modo de ser.  Se esse homem não houver amealhado recursos educativos e renovadores em si mesmo, pela prática da fraternidade e do estudo, de modo a superar a crise inevitável, muito dificilmente escapará ao suicídio, de novo, porque as tentações, não obstante reforçadas por fora de nós, começam em nós e alimentam-se de nós mesmos.
(...)

- E como pode a criatura habilitar-se devidamente para resgatar o preço de sua libertação ?
(...)

- Como qualquer devedor que, de fato, se empenhe na solução de seus compromissos.  Decerto que o homem, sumamente endividado, precisa aceitar restrições no seu conforto para sanar seus débitos com as suas próprias economias.  Em razão disso, não pode viver à farta, mas sim com abstinência e suor, de modo a liberar-se tão depressa quanto possível.
(...)

- Voltemos ao símbolo da planta.  Imaginemos que uma semente de laranjeira caiu em terreno pobre e seco.  Segundo as leis que regem as atividades agrícolas, germinará ela sob constringentes obstáculos, transformando-se num arbusto mirrado, com lamentável produção no tempo devido.  Mas, se o lavrador lhe acode às necessidades e exigências, desde o início da luta, oferecendo-lhe adubo, água e defesa, tanto quanto ajudando-a com a poda salutar no momento oportuno, a laranjeira atenderá, brilhantemente, ao próprio destino... Semelhantes cuidados, no entanto, devem ser postos em ação, na hora justa, isto é, quando na Terra a alma, e tanto quanto possível deve começar essa restauração nos melhores tempos da jornada física...
(...)

- E quando a criatura não pode contar, na infância ou juventude, com preceptores afeiçoados ao bem, capazes de funcionar como lavradores diligentes, junto daqueles que recomeçam a luta humana?

- Sem dúvida - ponderou o Ministro - a meninice e a juventude são as épocas mais adequadas à construção da fortaleza moral com que a alma encarnada deve tecer gradativamente a coroa da vitória que lhe abe atingir.  Entretanto, é imperioso entender que, no Espírito consciente, a vontade simboliza o lavrador a que nos reportamos, e o adubo, a irrigação e a poda constituem o serviço incessante a que deve consagrar-se nossa vontade, na recomposição de nossos próprios destinos.  Em vista disso, todo minuto da vida é importante para renovar e redimir, aprimorar e purificar.  Compreendamos que a tempestade, como símbolo de crise, surgirá para todos, em determinado momento, contudo, quem puder dispor de abrigo certo, superar-lhe-á os perigos com desassombro e valor.
(...)

- Ação por ação, temos igualmente muito trabalho, depois da morte do corpo denso.  Assim como perpetramos faltas na carne para sofrer-lhes, muitas vezes, as conseqüências aqui, é natural que por nossas ações deploráveis, aqui, venhamos a padecer na carne ?
- Perfeitamente - confirmou Sânzio, bondoso -; nossas manifestações contrárias à Lei Divina, que é, invariavelmente, o Bem de Todos, são corrigidas em qualquer parte.  Há, por isso, expiações no Céu e na Terra.  Muitos desencarnados que se enleiam em desregramentos passionais até às raias do crime, mormente nos processos de obsessão, não obstante advertidos pela própria consciência e pelos avisos respeitáveis de instrutores benevolentes, criam para si mesmos pesadas e aflitivas contas com a vida, cujo resgate lhes reclama luta e sacrifício em tempo longo.  Aliás, com alusão ao assunto, é justo lembrar que o nosso esforço de auto-reajustamento na vida espiritual, antes da reencarnação, na maioria das circunstâncias ameniza-nos a posição, garantindo-nos uma infância e uma juventude repletas de esperança e tranqüilidade, para as recapitulações a se efetuarem na madureza, exceção feita, naturalmente, aos problemas de dura e imediata expiação, nos quais a alma é compelida a tolerar rijos padecimentos, muitas vezes desde o ventre materno, tanto quanto os desenganos e os achaque, as humilhações e as dores da velhice ou da longa enfermidade, antes do túmulo.  Essas dores, angústias e sofrimentos vários nos suavizam a ficha de Espíritos devedores, permitindo-nos abençoada trégua nos primeiros tempos da esfera espiritual, logo após a peregrinação pelo campo físico.

A maioria das pessoas encarnadas no mundo, ao atingirem a idade provecta, habitualmente se confiam, nas últimas fases da existência, à ponderação e à meditação, à serenidade e à doçura.  As mentes infantis, ainda mesmo na senectude das forças genuinamente materiais, continuam levianas e irresponsáveis, mas os corações amadurecidos no conhecimento se valem, por intuição natural, da velhice ou da dor para raciocinar com mais segurança, seja consagrando-se à fé nos templos religiosos, com o que asseguram a si próprios mais amplo equilíbrio íntimo, seja devotando-se à caridade, com o que esbatem na memória as recordações menos desejáveis, preparando, assim, com louvável acerto e admirável sabedoria, a irrevogável passagem para a Vida Maior.

Concluí, pelo olhar de Druso, que a nossa entrevista estava prestes a encerrar-se.  E, por isso, aventurei ainda uma indagação:

- Ministro amigo, compreendendo que há dívidas que, por sua natureza e extensão, exigem de nós várias existências ou romagens na carne terrestre para o respectivo resgate, como apreciá-las do ponto de vista da memória ?  Sinto, por exemplo, que tenho na retaguarda imensos débitos para ressarcir, dos quais não me lembro agora...

- Sim, sim... - explicou ele - a questão é de tempo.  À medida que nos demoramos aqui na organização perispirítica, no fiel cumprimento de nossas obrigações para com a Lei, mais se nos dilata o poder mnemônico.  Avançando em lucidez, abarcamos mais amplos domínios da memória.  Assim é que, depois de largos anos em serviço nas zonas espirituais da Terra, entramos espontaneamente na faixa de recordações menos felizes, identificando novas extensões de nosso "carma" ou de nossa "conta" e, embora sejamos reconhecidos à benevolência dos Instrutores e Amigos que nos perdoam o passado menos digno, jamais condescendemos com as nossas próprias fraquezas e, por isso, vemo-nos impelidos a solicitar das autoridades superiores novas reencarnações difíceis e proveitosas, que nos reeduquem ou nos aproximem da redenção necessária.  Compreenderam?

Sim, havíamos entendido.

Sânzio fitou o diretor da casa, como a dizer-lhe que o horário se esgotara, e Druso lembrou, com gentileza, que não devíamos reter o Instrutor atencioso e complacente.

Agradecemos com humildade as lições recebidas, enquanto o Ministro voltava à câmara brilhante, onde a neblina móvel passou, de novo, a adensar-se, apagando-lhe a figura venerável aos nossos olhos.

Em breves minutos, o ambiente retomou os característicos que lhe eram habituais e a palavra comovedora de Druso, em prece, encerrou a inolvidável reunião.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1) O que entende-se por "carma", segundo o Instrutor Sânzio ?

2) Porque o Mentor afirma que "as religiões da Terra estão certas localizando o Céu nas esferas superiores e situando o Inferno nas zonas inferiores" ?

3) Em vista dos esclarecimentos do Instrutor Sânzio, qual q relação entre conhecimento e responsabilidade ?

4) Comente a resposta do Mentor sobre "que devemos entender como sendo "bem" e "mal".

5) Como podemos entender a resposta do Mentor sobre a questão dos "sinais cármicos que trazemos em nós mesmos"?

6) Comente e explique a seguinte assertiva: ..."a alma humana é uma consciência formada, retratando em si as leis que governam a vida e, por isso, já dispõe, até certo ponto, de faculdades com que influir na genética, modificando-lhe a estrutura, porque a consciência responsável herda sempre de si mesma, ajustada às consciências que lhe são afins."
Pode o espírito influir na genética ?


QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO :

1)  O que se entende por "carma", segundo o Instrutor Sânzio?

R - Segundo a explicação do Instrutor Sânzio, "carma" é um termo de origem sânscrita, que significa "ação", "causa e efeito", representando o resultado de ação anterior. De acordo com suas palavras, é uma espécie de "conta do destino criada por nós mesmos", refletindo os créditos e os débitos que resultam de nossos impulsos. Abrangendo não apenas a nossa vida individual como também a existência de povos, raças, estados e instituições. "O Governo da Vida possui igualmente o seu sistema de contabilidade, a se lhe expressar no mecanismo de justiça inalienável. Se no círculo das atividades terrenas qualquer organização precisa estabelecer um regime de contas para basear as tarefas que lhe falem à responsabilidade, a Casa de Deus, que é todo o Universo, não viveria igualmente sem ordem.  A Administração Divina, por isso mesmo, dispõe de sábios departamentos para relacionar, conservar, comandar e engrandecer a Vida Cósmica, tudo pautando sob a magnanimidade do mais amplo amor e da mais criteriosa justiça. ..", completa o Instrutor.

2) Por que o Mentor afirma que "as religiões da Terra estão certas localizando o Céu nas esferas superiores e situando o Inferno nas zonas inferiores"?
   
R - O Instrutor Sânzio quis demonstrar que as religiões estão certas ao separarem as regiões onde habitam os seres angélicos, espíritos já depurados, com responsabilidade maior perante a obra do Criador, das regiões de tormentos, onde a dor e o sofrimento são constantes e que são povoadas por espíritos ainda endividados perante a Lei. Embora saibamos se tratarem de alegorias, o Céu e o Inferno ensinados pelas religiões retratam dois estados distintos do mundo espiritual. Designam por "céu"
as esferas superiores, habitação dos espíritos sublimados, encontramos a crescente glorificação do Universo e por "inferno" as zonas inferiores destinada à purgação e a regeneração indispensáveis à vida.

3) Em vista dos esclarecimentos do Instrutor Sânzio, qual a relação entre conhecimento e responsabilidade?
   
R - Conforme consta no item 621, de O Livro dos Espíritos, consciência é o local onde habitam as leis de Deus.

A consciência, pois, existe no homem desde os primórdios dos tempos e em todos os seus estágios evolutivos; acompanhando sempre desde as faixas primitivas, onde se manifesta como lampejos de discernimento impulsionando o homem à conquistas elevadas, até alcançar o estágio de plenitude, onde comanda o direcionamento da existência.

Vinícius, no livro Em Torno do Mestre(p.94), compara a consciência a um espelho :

“Assim como o espelho reflete o nosso exterior, a consciência reflete o nosso interior. Vemos através dela a imagem perfeita de nossa alma, como no espelho a imagem real de nosso rosto. O espelho dá conta de nossa fisionomia, de nosso semblante, de nossa forma.

    A consciência nos revela o espírito, o caráter, os sentimentos mais íntimos e recônditos.  Ambos - espelho e consciência - se prestam ao mesmo fim: compor as linhas da harmonia, reparar os senões, corrigir, embelezar - o espelho, ao corpo, a consciência, ao espírito. Ambos tem a mesma função: refletir com justiça, pondo, diante de nosso próprio critério, o aspecto, a figura exata do nosso físico e do nosso moral, a forma externa e a interna de nosso ser."

    Joanna de Ângelis, em Momentos de Consciência, diz que "a consciência é o arbitro interno, que se encarrega de estabelecer as diretrizes de segurança para a vida."

    Responsabilidade é atributo conferido àquele que responde por seus próprios atos e por atos de terceiros e se reveste de caráter moral quando defende valores éticos que pertencem à vida.

    A consciência se alia à responsabilidade quando há o amadurecimento adquirido pelas vivências, experiências e compreensão das necessidades; é o colocar em prática o que aprendemos, aliando o aprendizado ao amor, a fim de buscar uma permanente transformação moral; a qual é ininterrupta, não se circunscrevendo ao âmbito de uma existência apenas, mas se dilatando para muito mais além, alcançando, pois, as inúmeras vidas sucessivas, que todos teremos que trilhar.

4) Comente a resposta do Mentor sobre "que devemos entender como sendo "bem" e "mal".

R - "A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau de responsabilidade."
(O Livro dos Espíritos)

    O Instrutor Sânzio nos esclarece que:

“O Bem é o progresso e a felicidade, a segurança e a justiça para todos os nossos semelhantes e para todas as criaturas de nossa estrada.

    O mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos, a expressar-se no egoísmo e na vaidade, na insensatez e no orgulho que nos assinalam a permanência nas linhas inferiores do espírito."

    Assim, podemos entender que só existe o bem! Os Espíritos, quando em suas fases primárias da evolução, passam pelo caminho da ignorância, constituindo temporariamente o mal. É tudo uma questão de posicionamento de idéias. Quando na ignorância, o Espírito obra o mal; quando no entendimento, o bem. As leis que regem as ações, tanto numa área como na outra, são as mesmas.

    No entanto, a ação da ignorância e a movimentação do mal é limitada e controlada pelo Bem, a única realidade. Mas, a ignorância encontra largo acesso em nós, por causa do atraso evolutivo em que ainda nos posicionamos, pelas próprias disposições cármicas, e pelo próprio comportamento atual em face do livre arbítrio.

5) Como podemos entender a resposta do Mentor sobre a questão dos "sinais cármicos que trazemos em nós  mesmos"?

R - Cada um de nós é o artífice de sua própria felicidade ou infelicidade e, sempre, sempre com responsabilidade pessoal.

     O Evangelho, nos orienta que _a cada um será dado segundo as suas obras_ e que nossa felicidade, neste mundo ou no outro, depende da conquista da virtude e da prática do Bem, ou seja, do exercício de nosso livre arbítrio para o aperfeiçoamento do Espírito; onde, sem dúvida, a responsabilidade pessoal pelas conquistas ou derrotas com suas consequências é princípio fundamental perante a lei de causa e efeito.

    Assim, cada um é herdeiro de si mesmo,  trazendo impresso nas diversas encarnações as experiências -  sejam estas experiências agradáveis ou desagradáveis, facilitadoras ou limitadoras  - mas, com certeza necessárias para o reequilibrio e reparação do Espírito no seu percurso rumo à perfeição como consequência natural das escolhas anteriormente feitas; o que resultaria em podermos traduzir que nestas escolhas gravamos em nós mesmos os "sinais cármicos"que iremos levar conosco no processo evolutivo.

6) Comente e explique a seguinte assertiva: ..."a alma humana é uma consciência formada, retratando em si as  leis que governam a vida e, por isso, já dispõe, até certo ponto, de faculdades com que influir na genética, modificando-lhe a estrutura, porque a consciência responsável herda sempre de si mesma, ajustada às consciências que lhe são afins."  Pode o espírito influir na genética ?

R - O código genético é a demarcação da história do próprio espírito em sua nova roupagem física. É o projeto para ser realizado. Desta forma, a consciência espiritual atrai para si os elementos que devam fazer parte do seu "carma", ou sejam, as aptidões, habilidades ou reminiscências e ainda as probabilidades, que dependerão das ações do ser, na nova encarnação, de modo a fazer surgir ou não tais alterações.

    Esse mesmo mecanismo pode ser direcionado pelos espíritos responsáveis pelos processos reencarnatórios.

    "referindo-nos a problema de existência física, sem alusão aos  problemas  espirituais das tarefas, missões ou provas necessárias de certos  espíritos  na reencarnação, as autoridades de nossa esfera de luta dispõem de suficiente poder para intervir na lei biogenética, dentro de certos  limites,  ajustando-lhe as disposições, a caminho de objetivos especiais."

Sugestão de leituras sobre alguns assuntos do capítulo estudado:

A) Sobre Genética:

*Missionários da Luz e Entre a Terra e o Céu - psicografia de FCX , ditado por André Luiz

* entrevista virtual do Eurípedes Kühl: Genética e Espiritismo(podem fazer download em www.cvdee.org.br  - recursos - entrevistas publicadas)

*ALQUIMIA DA MENTE - HERMINIO C.MIRANDA

*ATUALIDADE DE ALLAN KARDEC (O PERISPÍRITO)RUBENS P.MEIRA

*AUTODESCOBRIMENTO UMA BUSCA INTERIOR - DIVALDO PEREIRA FRANCO

*BUSCA DO CAMPO ESPIRITUAL PELA CIÊNCIA - JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

*CORRELAÇÕES ESPÍRITO-MATÉRIA - JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

*ENFOQUES CIENTÍFICOS NA DOUTRINA ESPÍRITA - JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

*ESPÍRITO, PERISPÍRITO E ALMA - HERNANI GUIMARAES ANDRADE

*FORÇAS SEXUAIS DA ALMA - JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

* GENÉTICA E ESPIRITISMO - EURÍPEDES KÜHL

* O CONSOLADOR - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
* O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC - QUESTAO:692

B) Consciência:

* A AGONIA DAS RELIGIÕES - JOSÉ HERCULANO PIRES

*A CONSTITUIÇÃO DIVINA - RICHARD SIMONETTI

*A PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS -CAMILLE FLAMMARION

*A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA - YVONNE A.PEREIRA

*ALQUIMIA DA MENTE - HERMINIO C.MIRANDA

*AUTODESCOBRIMENTO UMA BUSCA INTERIOR - DIVALDO PEREIRA FRANCO

*BUSCA DO CAMPO ESPIRITUAL PELA CIÊNCIA - JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

*CAMINHO VERDADE E VIDA - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

*CORRELAÇÕES ESPÍRITO-MATÉRIA  -JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

*ENERGÉTICA DO PSIQUISMO - JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

* ENFOQUES CIENTÍFICOS NA DOUTRINA ESPÍRITA - JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

* ESPÍRITO, PERISPÍRITO E ALMA - HERNANI GUIMARAES ANDRADE

*EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS  -F.C.XAVIER/WALDO VIEIRA

*FONTE VIVA - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

*GRILHÕES PARTIDOS - DIVALDO PEREIRA FRANCO

*MISSIONÁRIOS DA LUZ - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

*NO INVISIVEL - LEON DENIS

*NO MUNDO MAIOR - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

*O LIVRO DOS ESPÍRITOS  -ALLAN KARDEC QUESTAO:598-621-835

*O PROBLEMA DO SER DO DESTINO E DA DOR -LEON DENIS

*REVISTA ESPÍRITA 1860 ALLAN KARDEC

*REVISTA ESPÍRITA 1867 ALLAN KARDEC


C) Responsabilidade:

* A REENCARNAÇÃO NA BÍBLIA - HERMINIO C.MIRANDA

* AUTODESCOBRIMENTO UMA BUSCA INTERIOR -DIVALDO PEREIRA FRANCO

*CAMINHO VERDADE E VIDA - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

*CELEIRO DE BENÇÃOS - DIVALDO PEREIRA FRANCO

*DEPOIS DA MORTE - LEON DENIS

*DRAMAS DA OBSESSÃO - YVONNE A.PEREIRA

*ENFOQUES CIENTÍFICOS NA DOUTRINA ESPÍRITA -JORGE ANDRÉA DOS SANTOS

*ESPIRITISMO E CRIMINOLOGIA - DEOLINDO AMORIM

*EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS - F.C.XAVIER / WALDO VIEIRA

*O PROBLEMA DO SER DO DESTINO E DA DOR - LEON DENIS

*OS MENSAGEIROS - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

* Mecanismos da Mediunidade -Francisco Cândido Xavier

* REVISTA ESPÍRITA 1858 - ALLAN KARDEC


Equipe André Luiz CVDEE
Sala André Luiz
Coordenação: eqpal@cvdee.org.br



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