O LIVRO DOS MÉDIUNS -
Estudo 50
(Guia dos Médiuns e
dos Doutrinadores)
Por
ALLAN KARDEC
Contém o ensino
especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os
meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade,
as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.
SEGUNDA
PARTE
DAS
MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS
*CAPITULO
XII ESCRITA DIRETA*
*Item 146 a
151*
*Escrita
direta*
Pneumatografia - (Do
grego - pneuma - ar, sopro, vento, espírito, e graphô, escrevo.) - Escrita
direta dos Espíritos, sem o auxílio da mão de um médium.
*A
pneumatografia* é a escrita
produzida diretamente pelo Espírito, sem nenhum intermediário. Difere da *psicografia*, por ser esta a transmissão do
pensamento do Espírito, mediante a escrita feita com a mão do médium.
O fenômeno da escrita direta é,
indiscutivelmente, um dos mais extraordinários do Espiritismo. Mas, por mais
estranho que pareça, constitui hoje fato averiguado e incontestável. Se a
teoria é necessária para a compreensão dos fenômenos espíritas em geral, talvez
mais necessária ainda se faz neste caso que, sem contestação, é um dos mais
estranhos que se possam apresentar, porém que deixa de parecer sobrenatural,
desde que se lhe compreenda o princípio.
Da primeira vez que
este fenômeno se produziu, o sentimento dominante foi de desconfiança e, a
ideia de trapaça ocorreu logo, porque já se conhece a ação das tintas chamadas
simpáticas, cujos traços, a princípio completamente invisíveis, aparecem depois
de algum tempo. Era possível, pois, um abuso de credulidade e não se pode mesmo
afirmar que isso jamais tenha acontecido.
Entretanto, do fato
de se poder imitar uma coisa, fora absurdo concluir-se pela sua inexistência.
Uma vez que a possibilidade de escrever sem intermediário representa um dos
atributos do Espírito; uma vez que os Espíritos sempre existiram desde todos os
tempos e que desde todos os tempos se hão produzindo os diversos fenômenos que
conhecemos, o da escrita direta igualmente há de ter ocorrido na antiguidade,
tanto quanto nos dias atuais. A Idade Média, tão fecunda em prodígios ocultos,
mas que eram abafados por meio das fogueiras, também conheceu necessariamente a
escrita direta.
Todavia, quaisquer
que tenham sido os resultados obtidos em diversas épocas, só depois de
vulgarizadas as manifestações espíritas foi que se tomou a sério a questão da
escrita direta. Ao que parece, o primeiro a torná-la conhecida, no século
XVIII, em Paris, foi o barão de Guldenstubbe, que publicou sobre o assunto uma
obra muito interessante, com grande número de "fac-símiles" das
escritas que obteve (1). O fenômeno já era conhecido na América havia algum
tempo. A posição social do Sr. Guldenstubbe, sua independência, a consideração
que desfrutava no alto mundo afastam incontestavelmente qualquer suspeita de
fraude voluntária, pois nenhum motivo interesseiro poderia movê-lo. Poder-se-ia
admitir a sua própria ilusão, mas a isso responde decisivamente um fato: a
obtenção do mesmo fenômeno por outras pessoas que se cercaram de todas as
precauções necessárias para evitar qualquer trapaça ou motivo de engano.
A escrita direta é
obtida, como a maioria das manifestações espíritas não espontâneas, pelo
recolhimento, a prece e a evocação. Muitas vezes foi obtida nas igrejas, sobre os
túmulos, junto a estátuas e imagens de personagens evocadas. Mas é evidente que
o local só influi por favorecer o recolhimento e a maior concentração mental,
pois está provado que é obtida igualmente sem esses acessórios e nos lugares
mais comuns, como sobre um simples móvel caseiro, desde que se esteja nas
condições morais exigidas e se disponha da necessária faculdade mediúnica.
Achava-se a princípio que era necessário colocar um lápis com o papel. O fato,
então, poderia ser mais facilmente explicado. Sabe-se que os Espíritos movem e
deslocam objetos, que pegam e atiram à distância, podendo assim pegar o lápis e
escrever.
Desde que o fazem por
intermédio da mão dos médiuns ou de uma prancheta, poderiam também fazê-lo de
maneira direta. Mas logo se verificou que a presença do lápis era
desnecessária, que bastava um simples pedaço de papel, dobrado ou não, para em
breves minutos aparecerem as letras. Com isso o fenômeno mudou completamente de
aspecto e lançou outra ordem de ideias. As letras são escritas com uma certa
substância e, desde que não se forneceu ao Espírito nenhuma substância, ele a
teve de produzir, de compô-la por si mesmo. De onde a tirou? Esse é o problema.
No cap. VIII, n.os 127 e 128, do livro que estudamos, encontraremos a teoria
completa desse fenômeno. O Espírito não se serve de substâncias e instrumentos
nossos. Ele mesmo os produz, tirando os seus materiais do elemento primitivo
universal, que são submetidos, por sua vontade, às modificações necessárias
para atingir o efeito desejado. Assim, tanto pode produzir a grafita do lápis
vermelho, a tinta de impressão tipográfica ou a tinta comum de escrever, como a
do lápis preto e até mesmo caracteres tipográficos suficientemente duros para
deixarem no papel o rebaixo da impressão.
Descreve Allan Kardec
a experiência ocorrida com a filha de um conhecido, menina de 12a 13 anos, que
obteve páginas inteiras escritas com uma substância semelhante ao pastel e
relembra a análise feita sobre o fenômeno da tabaueira, relatado no cap. VII,
n.° 116, em que se estudou uma das leis mais importantes do Espiritismo, cujo
conhecimento pode esclarecer diversos mistérios do mundo invisível. Ë assim que
de um fato aparentemente vulgar pode sair a luz. Basta observar com atenção e
não se limitar a ver os efeitos sem procurar as causas. Se a nossa fé se firma
dia a dia é porque compreendemos; a compreensão das causas tem ainda outro
resultado, que é o de estabelecer uma linha divisória entre a verdade e a
superstição.
Se considerarmos a
escrita direta quanto às vantagens que pode oferecer, diremos que até o
presente a sua principal utilidade consiste na constatação material de um fato
importante: a intervenção de um poder oculto que encontra nesse processo um
novo meio de se manifestar. Mas as comunicações assim obtidas são raramente de
alguma extensão. Em geral são espontâneas e se limitam a palavras, sentenças,
frequentemente sinais ininteligíveis. São obtidas em todas as línguas: em
grego, em latim, em siríaco, em caracteres hieroglíficos, etc., mas ainda não serviram
às conversações contínuas e rápidas que a psicografia permite.
*Pneumatofonia* - (Do grego - pneuma - e - phoné, som ou voz.) - Voz dos
Espíritos; comunicação oral dos Espíritos, sem o concurso da voz humana.
Os Espíritos podem
igualmente fazer se ouçam gritos de toda espécie e sons vocais que imitam a voz
humana, assim ao nosso lado, como nos ares. A este fenômeno é que damos o nome
de pneumatofonia. Pelo que sabemos da natureza dos Espíritos, podemos supor
que, dentre eles, alguns, de ordem inferior, se iludem e julgam falar como
quando vivos.
Devemos, entretanto,
preservar-nos de tomar por vozes ocultas todos os sons que não tenham causa
conhecida, ou simples zumbidos, e, sobretudo, de dar o menor crédito à crença
vulgar de que, quando o ouvido nos zune, é que nalguma parte estão falando de
nós. Aliás, nenhuma significação têm esses zunidos, cuja causa é puramente
fisiológica, ao passo que os *sons pneumatofônicos
exprimem pensamentos* e nisso está o que nos faz reconhecer que são
devidos a uma causa inteligente e não acidental.
*Pode-se
estabelecer, como princípio, que os efeitos notoriamente inteligentes são os
únicos capazes de atestar a intervenção dos Espíritos.* Quanto aos outros, há pelo menos cem probabilidades
contra uma de serem oriundos de causas fortuitas.
Acontece
frequentemente ouvirmos, de modo distinto, quando nos achamos meio adormecidos,
palavras, nomes, às vezes frases inteiras, ditas com tal intensidade que nos
despertam, espantados. Se bem em alguns casos possa haver ai, na realidade, uma
manifestação, esse fenômeno nada de bastante positivo apresenta, para que
também possa ser atribuído a uma causa análoga à que estudamos
desenvolvidamente na teoria da alucinação. Demais, nenhuma sequência tem o que
de tal maneira se escuta. O mesmo, no entanto, não acontece, quando se está
inteiramente acordado, porque, então, se é um Espírito que se faz ouvir, quase
sempre se podem trocar ideias com ele e travar uma conversação regular.
Os sons espíritas, os
pneumatofônicos se produzem de duas maneiras distintas:
* " às vezes, é
uma voz interior que repercute no nosso foro íntimo, nada tendo, porém, de
material as palavras, conquanto sejam claramente perceptíveis;
* " outras
vezes, são exteriores e nitidamente articuladas, como se proviessem de uma
pessoa que nos estivesse ao lado.
De um modo, ou de
outro, o fenômeno da pneumatofonia é quase sempre espontâneo e só muito
raramente pode ser provocado.
*Bibliografia:*
KARDEC, Allan - O
Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap XII - 2ª Parte
*Tereza Cristina D'Alessandro*
Centro
Espírita Batuira
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