O LIVRO DOS MÉDIUNS -
Estudo 45
(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)
Por
ALLAN KARDEC
Contém
o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de
manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento
da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática
do Espiritismo.
SEGUNDA PARTE
DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS
CAPITULO VIII LABORATÓRIO DO MUNDO INVISÍVEL
*VESTUÁRIO
DOS ESPÍRITOS - FORMAÇÃO ESPONTÂNEA DE OBJETOS TANGÍVEIS - MODIFICAÇÃO DAS
PROPRIEDADES DA MATÉRIA - AÇÃO MAGNÉTICA CURADOR*
*Itens 126 a 131*
Os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas,
envoltos em panos flutuantes ou mesmo com os trajes que usavam quando
encarnados. O uso de panos flutuantes parece costume geral no mundo dos
Espíritos. Mas, onde irão eles buscar vestuários semelhantes em tudo aos que
usavam em vida, com todos os acessórios que os completavam? É evidente que não
levaram esses objetos com eles, pois que ainda se encontram conosco. De onde
provêm, então, os que eles usam no outro mundo? Esta questão deu sempre muito
que pensar. Para muitas pessoas, porém, era simples motivo de curiosidade. A
ocorrência, todavia, confirmava uma questão de princípio, de grande
importância, porquanto sua solução fez entrever uma lei geral, que também
encontra aplicação no nosso mundo corpóreo. Múltiplos fatos a vieram complicar
e demonstrar a insuficiência das teorias com que tentaram explicá-la.
Essas questões fizerem parte das reflexões de Allan
Kardec. Pensava que se poderia compreender a existência do traje como, de
alguma maneira, fazendo parte do indivíduo; o mesmo, porém, não se dava com os
objetos acessórios, qual, por exemplo, a tabaqueira do visitante da senhora
doente, citada no item 116 de O Livro dos Médiuns. Relembremos que ali não se
tratava de um desencarnado, mas de um encarnado, e que tal senhor, quando se
apresentou pessoalmente, trazia na mão uma tabaqueira semelhante em tudo à da
sua aparição. Onde encontrara a tabaqueira que tinha consigo, quando sentado
junto ao leito da doente? Poderíamos citar grande número de casos em que
Espíritos, de mortos ou de vivos, apareceram com diversos objetos, tais como
bengalas, armas, cachimbos, lanternas, livros, etc.
A Allan Kardec apresentou-se então uma idéia: a de
que os corpos inertes poderiam possuir correspondentes etéreos no mundo
invisível, que a matéria condensada, que forma os objetos, poderia ter uma
parte quintessenciada, que nos escapa aos sentidos. Não era destituída de
verdade esta teoria, mas se mostrava impotente para explicar todos os fatos.
Havia um, sobretudo, que parecia desafiar todas as interpretações. Até então,
se tratava apenas de imagens ou aparências, e vimos que perispírito pode
adquirir as propriedades da matéria e tornar-se tangível, mas essa
tangibilidade é apenas momentânea e o corpo sólido se desvanece como sombra.
Trata-se de um fenômeno extraordinário, porém, o que o ultrapassa é a produção
de matéria sólida persistente, conforme o provam numerosos fatos autênticos, notadamente
o da escrita direta, fenômeno esse que analisado levou à solução do caso da
tabaqueira.
Assim explicou o Codificador: A escrita direta ou
pneumatografia é a que se produz espontaneamente, sem o concurso das mãos do
médium nem do lápis. Basta tomar uma folha de papel em branco, o que se pode
fazer com todas as precauções necessárias para se prevenir de qualquer fraude,
dobrá-la e depositá-la em qualquer parte, numa gaveta, ou simplesmente sobre um
móvel. Se houver condições, dentro de algum tempo, aparecerão traçados no papel
letras ou sinais diversos, palavras, frases e até comunicações, na maioria das
vezes com uma substância escura, semelhante à grafite, de outras com lápis
vermelho, tinta comum e mesmo tinta de impressão.
Eis o fato em sua simplicidade e cuja reprodução,
embora pouco comum, não é tão rara, pois há pessoas que a obtêm com grande
facilidade. Se ao papel se juntasse um lápis, poderíamos supor que o Espírito
se servira deste para escrever, mas, desde que o papel é deixado inteiramente
só, é evidente que a escrita foi produzida por uma matéria nele depositada. De
onde tirou o Espírito essa matéria? Essa a questão a cuja solução fomos levados
pela tabaqueira a que há pouco nos referíamos.
Allan Kardec, então, apresenta a questão ao Espírito
São Luís, que apresenta a solução, mediante as respostas seguintes (as notas
são de Allan Kardec):
1ª Citamos um caso de aparição do Espírito de uma
pessoa viva. Esse Espírito tinha uma tabaqueira da qual tomava pitadas.
Experimentava ele a sensação que experimenta um indivíduo que faz o mesmo?
— Não.
2ª A tabaqueira tinha a mesma forma da que ele
usava habitualmente e que se estava em sua casa. O que era essa tabaqueira nas
mãos desse homem?
— Uma aparência. Era para ser notada,
como foi e para que não tomassem como alucinação devida ao estado de saúde da
vidente. O Espírito queria que a senhora acreditasse na realidade da sua
presença e tomou todas as aparências da realidade.
3ª Disseste que era uma aparência, mas uma
aparência nada tem de real, é como uma ilusão de ótica. Desejamos saber se
aquela tabaqueira era uma imagem irreal ou se havia nela algo de material?
— Certamente. E com a ajuda desse princípio
material que o Espírito aparenta vestir-se com roupas semelhantes aos que usava
quando vivo.
*NOTA*. É evidente que a palavra aparência deve ser
entendida no sentido de aspecto, imitação. A tabaqueira real não estava com o
Espírito. A que ele segurava era apenas a sua representação. Era, pois, com
relação ao original, uma simples aparência, embora formada de um princípio
material. A experiência ensina que nem sempre se deve dar significação literal
às expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as de acordo com as nossas
idéias, expomo-nos a grandes equívocos. Daí a necessidade de aprofundar-se o
sentido de suas palavras, todas as vezes que apresentem a menor ambigüidade. É
esta uma recomendação que os próprios Espíritos constantemente fazem. Sem a
explicação que provocamos, o termo aparência, sempre repetido nos casos
semelhantes, poderia ser falsamente interpretado.
4ª Seria um desdobramento da matéria inerte?
Haveria no mundo invisível uma matéria essencial que revestiria as formas dos
objetos que vemos? Numa palavra, esses objetos teriam o seu duplo etéreo no
mundo invisível, como os homens são ali representados pelos Espíritos?
— Não é assim que acontece. O Espírito dispõe,
sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da vossa atmosfera, de
um poder que estais longe de suspeitar. Pode, pois, concentrar esses elementos
pela sua vontade e dar-lhes a forma aparente que convenha às suas intenções.
*NOTA*. Esta pergunta, como se pode ver, era a
tradução do nosso pensamento, isto é, da idéia que formávamos da natureza de
tais objetos. Se as respostas fossem, como pretendem alguns, o reflexo do
pensamento do interpelante, teríamos obtido a confirmação da nossa teoria, em
vez de teoria contrária.
5ª Formulo novamente a questão, de modo categórico,
a fim de evitar todo e qualquer equívoco: As roupas dos Espíritos são alguma
coisa?
— Parece-me que a resposta precedente resolve a
questão. Não sabes que o próprio perispírito é alguma coisa?
6ª Resulta desta explicação que os Espíritos
submetem a matéria etérea às transformações que desejam, e que, por exemplo, no
caso da tabaqueira o Espírito não a encontrou feita, mas ele mesmo a produziu,
quando dela necessitou por um ato da sua vontade e da mesma maneira a desfez. É
isso mesmo que se dá com todos os outros objetos, como as roupas, as joias,
etc?
— Mas, é evidente.
7ª Essa tabaqueira foi vista pela senhora como se
fosse real. O Espírito poderia torná-la tangível para ela?
— Poderia.
8ª Se fosse o caso, a senhora poderia pegá-la,
acreditando ter nas mãos uma tabaqueira real?
— Sim.
9ª Se a abrisse, encontraria tabaco e, se o tomasse
espirraria?
— Sem dúvida.
10ª Pode então o Espírito dar a um objeto, não só a
forma, mas também suas propriedades especiais?
— Se
o quiser. Baseado neste princípio foi que respondi afirmativamente às perguntas
anteriores. Tereis provas da poderosa ação que os Espíritos exercem sobre a
matéria, ação que estais longe de supor, como eu disse há pouco.
11ª Suponhamos, então, que quisesse fazer uma
substância venenosa. Se uma pessoa a ingerisse, ficaria envenenada?
— O Espírito poderia fazê-la, mas não a faria
porque isso não lhe é permitido.
12ª Poderia fazer uma substância salutar e própria
para curar uma enfermidade, e isso já aconteceu?
— Sim, muitas vezes.
13ª Então, poderia também fazer uma substância
alimentar? Suponhamos que tenha feito uma fruta, uma iguaria qualquer: se
alguém pudesse comer a fruta ou a iguaria, ficaria saciado?
— Ficaria, sim. Mas, não procures tanto para achar
o que é tão fácil de compreender. Um raio de sol basta para tornar perceptíveis
aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço
onde viveis. Não sabes que o ar contém vapores de água? Condensa-os e os farás
voltar ao estado normal. Priva-as de calor e eis que essas moléculas
impalpáveis e invisíveis se tornarão um corpo sólido e bem sólido, e, assim,
muitas outras substâncias de que os químicos tirarão maravilhas ainda mais
espantosas. Simplesmente, o Espírito dispõe de instrumentos mais perfeitos do
que os vossos: a vontade e a permissão de Deus.
*NOTA*. A questão da saciedade é aqui muito
importante. Como pode produzir a saciedade uma substância cuja existência e
propriedades são meramente temporárias e, de certo modo, convencionais? O que
se dá é que essa substância, pelo seu contato com o estômago, produz a sensação
da saciedade, mas não a saciedade que resulta da plenitude.
Desde que uma substância dessa natureza pode atuar
sobre a economia orgânica e modificar um estado mórbido, também pode,
perfeitamente, atuar sobre o estômago e produzir a impressão da saciedade.
Rogamos, todavia, aos senhores farmacêuticos e donos de restaurante que não se
encham de zelos, nem creiam que os Espíritos lhes venham fazer concorrência.
Esses casos são raros, excepcionais e nunca dependem da vontade de alguém, pois
do contrário todos se alimentariam e curariam de maneira muito vantajosa.
14ª Os objetos que a vontade do Espírito tornou
tangíveis poderiam permanecer nesse estado e ser usados?
— Isso poderia acontecer, mas isso não se faz
porque é contrário às leis.
15ª Todos os Espíritos têm no mesmo grau o poder de
produzir objetos tangíveis?
— É fora de dúvida que quanto mais elevado é o
Espírito, tanto mais facilmente o consegue, mas isso também depende das
circunstâncias: Os Espíritos inferiores podem ter esse poder.
16ª Os Espíritos têm sempre consciência da maneira
pela qual produz as suas roupas ou os objetos que torna aparentes?
— Não. Muitas vezes ajuda a formá-los por uma ação
instintiva, que ele mesmo não compreende, se não estiver suficientemente
esclarecido para isso.
17ª Se o Espírito pode extrair do elemento
universal os materiais para essas produções, dando a essas coisas uma realidade
temporária, com suas propriedades, pode também tirar o necessário para
escrever, o que nos daria a explicação do fenômeno da escrita direta?
— Afinal, chegaste onde queria.
*NOTA*. Era, com efeito, aí que queríamos chegar
com todas as nossas questões preliminares. A resposta prova que o Espírito lera
o nosso pensamento.
18ª Se a matéria de que o Espírito se serve não tem
persistência, como os traços da escrita-direta não desaparecem?
— Não tires conclusões das palavras. Para começar,
eu não disse: jamais. Tratava-se de objeto material volumoso, Nesse caso, são
os sinais escritos que é útil conservar e se conservam. O que eu quis dizer é
que os objetos assim compostos pelo Espírito não poderiam tornar-se de uso,
porque na realidade não possuem a mesma densidade material dos vossos corpos
sólidos.
Concluindo, então, pode-se resumir a teoria acima
em: o Espírito atua sobre a matéria; da matéria cósmica universal tira os
elementos de que necessite para formar, como queira, objetos com a aparência
dos diversos corpos existentes na Terra. Pode igualmente, pela ação da sua
vontade, operar sobre a matéria elementar uma transformação íntima, que lhe dê
certas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que
muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se
aperceber. Os objetos que o Espírito forma, têm existência temporária,
subordinada à sua vontade, ou a uma necessidade que ele experimenta; pode
fazê-los e desfazê-los livremente. Em certos casos, esses objetos, aos olhos de
pessoas encarnadas, podem apresentar todas as aparências da realidade, isto é,
tornarem-se momentaneamente visíveis e até mesmo tangíveis. *Trata-se de formação e não de criação*, pois o Espírito não
pode tirar nada do nada.
Os Espíritos confirmam a existência de uma matéria
elementar única que dá origem a todos os corpos da natureza. As suas
transformações determinam as diversas propriedades dos corpos. É assim que uma
substância salutar pode tornar-se venenosa por uma simples modificação, como a
Química nos dá inúmeros exemplos. Mesmo sem alterar as proporções, muitas vezes
é suficiente uma simples modificação na forma de agregação molecular para mudar
as propriedades, por exemplo, transformando um corpo opaco em transparente, e
vice-versa. *Desde que o Espírito, através de sua vontade, pode agir tão
decisivamente sobre a matéria elementar, compreende-se que possa formar substâncias
e até mesmo modificar suas propriedades, usando a própria vontade como reativo*. Assim se explica a
formação de objetos como resultado da ação dos Espíritos, pelo pensamento e
vontade, sobre os fluidos, matéria cósmica universal, dando-lhes a aparência
dos diversos corpos da Terra. É essa explicação que Allan Kardec estende à
modificação das propriedades da água pela vontade, à faculdade de curar pelo
contato e pela imposição das mãos, que algumas pessoas possuem num grau
elevado.
*BIBLIOGRAFIA:*
KARDEC, Allan - O
Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap VIII - 2ª
Parte
Tereza Cristina D'Alessandro
Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto (SP)
Ribeirão Preto (SP)
https://chat.whatsapp.com/BBdBqQYDWX063IQsvumtvWVer
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