(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores) Contém
o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de
manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento
da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática
do Espiritismo.
SEGUNDA PARTE
DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS
CAPITULO III
MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES
Estudo 24: itens 65 a 71
Referindo-se estudo do capítulo anterior (*estudo 23*), afirma Allan Kardec que nada certamente revela
a intervenção de uma potência oculta e os efeitos analisados poderiam ser
perfeitamente explicados pela ação de uma corrente magnética, ou elétrica, ou,
ainda, pela ação de um fluido qualquer. Tal foi, precisamente, a primeira
solução dada a tais fenômenos e que, com razão, podia passar por muito lógica.
Teria, não há dúvida, prevalecido, se outros fatos não viessem demonstrar a sua
insuficiência. Estes fatos são as provas de inteligência que eles deram. Ora, *como todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente,* tornou-se evidente que, mesmo admitindo-se a
ação da eletricidade ou de qualquer outro fluido, havia a presença de outra
causa. Qual seria? Qual era essa inteligência? Foi o que o prosseguimento das
observações revelou.
Para
que uma manifestação seja inteligente, não precisa ser convincente, espiritual
ou sábia. *Basta ser um ato livre e voluntário, exprimindo uma intenção ou
correspondendo a um pensamento.* Quando se vê um papagaio de papel agitar-se,
sabemos que obedece ao impulso do vento; mas se reconhecemos nos seus
movimentos sinais intencionais, se gira para a direita ou para a esquerda,
rápida ou lentamente, obedecendo ordens, tem-se de admitir, não que o papagaio
tenha inteligência, mas que obedece a uma inteligência. Foi o que aconteceu com
a mesa.
Viu-se,
então, a mesa mover-se, levantar-se, dar pancadas, sob a influência de um ou de
muitos médiuns. O primeiro efeito inteligente que se observou foi precisamente
o de obediência às ordens dadas. Assim é que, sem mudar de lugar, a mesa se
erguia sobre os pés que lhes eram indicados. Depois, ao abaixar-se, dava um
determinado número de pancadas respondendo a uma pergunta. De outras vezes, sem
o contato de ninguém, passeava sozinha pelo aposento, avançando para a direita
ou esquerda, para frente ou para trás, executando movimentos diversos que os
assistentes ordenavam. É claro que foram afastadas as suspeitas de fraude,
aceitando-se a perfeita lealdade dos assistentes.
Por
meio de pancadas e, sobretudo, por meio dos estalidos, os quais foram tratados
no estudo anterior (número 23), obteve-se efeitos ainda mais inteligentes. Era,
como bem se compreende, um vasto campo a ser explorado. Raciocinou-se que, se naquilo
havia uma inteligência oculta, forçosamente lhe seria possível responder a
perguntas e ela de fato respondeu, por um sim, por um não, dando o número de
pancadas convencionado. Por serem muito insignificantes essas respostas, surgiu
a idéia de fazer-se que a mesa indicasse as letras do alfabeto e compusesse
assim palavras e frases.
Estes
fatos, repetidos à vontade por milhares de pessoas e em todos os países, não
podiam deixar dúvida sobre a natureza inteligente das manifestações. Foi então
que apareceu um novo sistema, segundo o qual essa inteligência seria a do
médium, do interrogante, ou mesmo dos assistentes. A dificuldade estava em
explicar como semelhante
inteligência podia refletir-se na mesa e se expressar por pancadas.
Averiguado que estas não eram dadas pelo médium, deduziu-se que, então, o eram
pelo pensamento. Mas, o pensamento a dar pancadas constituía fenômeno ainda
mais prodigioso do que todos os que haviam sido observados.
A
experiência não tardou a demonstrar que essa opinião era inadmissível. Com
efeito, as respostas se mostravam muito freqüentemente em completa oposição ao
pensamento dos assistentes, fora do alcance intelectual do médium e até mesmo
em idiomas ignorados por ele ou relatando fatos desconhecidos de todos. São tão
numerosos os exemplos, que é quase impossível alguém haver se ocupado de
comunicações espíritas, sem os ter muitas vezes testemunhado.
Allan
Kardec apresentou o seguinte caso relatado por uma testemunha: Num navio da
marinha imperial francesa, nos mares da China, toda a equipagem, desde os
marinheiros até o comando, ocupava-se das mesas falantes. Resolveram evocar o
Espírito de um tenente do mesmo navio, que morrera havia dois anos. Ele
atendeu, e depois de várias comunicações que espantaram a todos, disse o seguinte,
por meio de pancadas: "Peço-vos insistentemente que paguem ao capitão a
soma de (indicou a quantia), que lhe devo e que lamento não ter podido
pagar-lhe antes de morrer." Ninguém sabia do fato. O próprio capitão
esquecera essa dívida, aliás, mínima. Mas, procurando nas suas contas,
encontrou um registro da dívida do tenente, na importância indicada.
Perguntou-se: do pensamento de quem essa indicação podia ter sido refletida?
Ao
traduzir O Livro dos Médiuns,
Herculano Pires recorda que o problema do inconsciente deu margem no passado e
continua a dá-la ainda hoje, a numerosas hipóteses fantásticas sobre a
possibilidade de serem telepáticas essas transmissões. Mas, os fatos são mais
complicados do que o citado acima e essas hipóteses não abrangem a todos. As
pesquisas parapsicológicas, longe de beneficiarem essas hipóteses fantásticas,
vêm confirmando progressivamente a explicação espírita.
Apesar
do aperfeiçoamento da arte de comunicação pelo sistema alfabético de pancadas,
o meio continuava muito moroso. Algumas, entretanto, trouxeram interessantes
revelações sobre o Mundo dos Espíritos. Desse meio surgiram outros e assim se
chegou ao de comunicações escritas.
As
primeiras comunicações desse gênero foram obtidas adaptando-se um lápis ao pé
de uma mesa leve, colocada sobre uma folha de papel. Movimentada pela
influência de um médium, a mesa começou traçando alguns caracteres, depois
escreveu palavras e frases. Simplificou-se gradualmente o processo, pelo
emprego de mesinhas do tamanho de uma mão, construídas expressamente para isso;
em seguida, pelo emprego de cestinha, de caixas de papelão e por fim de simples
pranchetas.
A
escrita era tão fluente, rápida e fácil como a manual, mas reconheceu-se mais
tarde que todos esses objetos serviam apenas de apêndices da mão, verdadeiros
porta-lápis que podiam ser dispensados. De fato, a própria mão do médium,
impulsionada de maneira involuntária, escrevia sob a influência do espírito sem
o concurso da vontade ou do pensamento daquele. Desde então, as comunicações entre
os dois planos não têm mais dificuldades do que a correspondência habitual
entre os encarnados.
Concluindo,
compreendemos que esse desenvolvimento gradual do processo da psicografia
representa um dos episódios mais significativos da Ciência Espírita, mostrando
a naturalidade do fenômeno. A prancheta, como se vê, não é mais do que uma
miniatura da mesa girante, conservando-se assim, a forma do instrumento
primitivo através da evolução para a escrita manual. O aparecimento da cesta e
da caixa de papelão assinala o momento de transição dos meios materiais para o
meio psíquico.
BIBLIOGRAFIA
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap. II - 2ª Parte
KARDEC, Allan - Obras Póstumas: 2.ed. São Paulo:
LAKE, 1997 - Pág. 217 a 222
WANTUIL, Zeus - As Mesas Girantes e o Espiritismo: Rio: FEB, 1959
Tereza Cristina
D'Alessandro
Julho / 2003
Centro Espírita Batuira
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