13 = XXII COMEERJ
Pólo IV Cafarnaum
8º CRE Nova Friburgo
O LIVRO DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO III
DA LEI DO TRABALHO
1. Necessidade do trabalho. 2. Limite do trabalho. Repouso.
Necessidade do trabalho
674. A necessidade do trabalho é lei da Natureza?
O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos.
675. Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais?
Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.
676. Por que o trabalho se impõe ao homem?
Por ser uma conseqüência da sua natureza corpórea. É expiação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade. Ao extremamente fraco de corpo outorgou Deus a inteligência, em compensação. Mas é sempre um trabalho.
677. Por que provê a Natureza, por si mesma, a todas as necessidades dos animais?
Tudo em a Natureza trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o trabalho deles, de acordo com a inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da própria conservação. Daí vem que do trabalho não lhes resulta progresso, ao passo que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais se cifra no cuidarem da própria conservação, refiro-me ao objetivo com que trabalham.
Entretanto, provendo às suas necessidades materiais, eles se constituem, inconscientemente, executores dos desígnios do Criador e, assim, o trabalho que executam também concorre para a realização do objetivo final da
Natureza, se bem quase nunca lhe descubrais o resultado imediato.
678. Em os mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham submetidos à mesma necessidade de trabalhar?
A natureza do trabalho está em relação com a natureza das necessidades. Quanto menos materiais são estas, menos material é o trabalho. Mas, não deduzais daí que o homem se conserve inativo e inútil. A ociosidade seria um suplício, em vez de ser um benefício.
679. Achar-se-á isento da lei do trabalho o homem que possua bens suficientes para lhe assegurarem a existência?
Do trabalho material, talvez; não, porém, da obrigação de tornar-se útil, conforme aos meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que também é trabalho. Aquele a quem Deus facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem a existência não está, é certo, constrangido a alimentar-se com o suor do seu rosto, mas tanto maior lhe é a obrigação de ser útil aos seus semelhantes, quanto mais ocasiões de praticar o bem lhe proporciona o adiantamento que lhe foi feito.
680. Não há homens que se encontram impossibilitados de trabalhar no que quer que seja e cuja existência é, portanto, inútil?
Deus é justo e, pois, só condena aquele que voluntariamente tomou inútil a sua existência, porquanto esse vive a expensas do trabalho dos outros. Ele quer que cada um seja útil, de acordo com as suas faculdades. (643)
681. A lei da Natureza impõe aos filhos a obrigação de trabalharem para seus pais?
Certamente, do mesmo modo que os pais têm que trabalhar para seus filhos. Foi por isso que Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural. Foi para que, por essa afeição reciproca, os membros de uma família se sentissem impelidos a ajudarem-se mutuamente, o que, aliás, com muita freqüência se esquece na vossa sociedade atual. (205) Limite do trabalho. Repouso
682. Sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, o repouso não é também uma lei da Natureza?
Sem dúvida. O repouso serve para a reparação das forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a fim de que se eleve acima da matéria.
683. Qual o limite do trabalho?
O das forças. Em suma, a esse respeito Deus deixa inteiramente livre o homem.
684. Que se deve pensar dos que abusam de sua autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho?
Isso é uma das piores ações. Todo aquele que tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus. (273)
685. Tem o homem o direito de repousar na velhice?
Sim, que a nada é obrigado, senão de acordo com as suas forças. a) Mas, que há de fazer o velho que precisa trabalhar para viver e não pode?
O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. É a lei de caridade. Não basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Mas, esse equilíbrio, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos
os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem?
Quando essa arte for conhecida. compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis.
A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.
CAPÍTULO IV
DA LEI DE REPRODUÇÃO
1. População do globo. 2. Sucessão e aperfeiçoamento das raças.
3. Obstáculos à reprodução. 4. Casamento e celibato. 5. Poligamia.
População do Globo
686. É lei da Natureza a reprodução dos seres vivos?
Evidentemente. Sem a reprodução, o mundo corporal pereceria.
687. Indo sempre a população na progressão crescente que vemos, chegará tempo em que seja excessiva na Terra?
Não, Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio.
Ele coisa alguma inútil faz. O homem, que apenas vê um canto do quadro da Natureza, não pode julgar da harmonia do conjunto.
Sucessão e aperfeiçoamento das raças
688. Há, neste momento, raças humanas que evidentemente decrescem. Virá momento em que terão desaparecido da Terra?
Assim acontecerá, de fato. É que outras lhes terão tomado o lugar, como outras um dia tomarão o da vossa.
689. Os homens atuais formam uma criação nova, ou são descendentes aperfeiçoados dos seres primitivos?
São os mesmos Espíritos que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim, a atual raça humana, que, pelo seu crescimento, tende a invadir toda a Terra e a substituir as raças que se extinguem, terá sua fase de decrescimento e de desaparição.
Substituí-la-ão outras raças mais aperfeiçoadas, que descenderão da atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.
690. Do porto de vista físico, são de criação especial os corpos da raça atual, ou procedem dos corpos primitivos, mediante reprodução?
A origem das raças se perde na noite dos tempos. Mas, como pertencem todas à grande família humana, qualquer que tenha sido o tronco de cada uma, elas puderam aliar-se entre si e produzir tipos novos.
691. Qual, do ponto de vista físico, o caráter distintivo e dominante das raças primitivas?
Desenvolvimento da força bruta, à custa da força intelectual. Agora, dá-se o contrário: o homem faz mais pela inteligência do que pela força do corpo. Todavia, faz cem vezes mais, porque soube tirar proveito das forças da
Natureza, o que não conseguem os animais.
692. Será contrário à lei da Natureza o aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela Ciência?
Seria mais conforme a essa lei deixar que as coisas seguissem seu curso normal?
Tudo se deve fazer para chegar à perfeição e o próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir seus fins. Sendo a perfeição a meta para que tende a Natureza, favorecer essa perfeição é corresponder às vistas de Deus. a) Mas, geralmente, os esforços que o homem emprega para conseguir a melhoria das raças nascem de um sentimento pessoal e não objetivam senão o acréscimo de seus gozos. Isto não lhe diminui o mérito? Que importa seja nulo o seu merecimento, desde que o progresso se realize? Cabe-lhe tornar meritório, pela intenção, o seu trabalho. Demais, mediante esse trabalho, ele exercita e desenvolve a inteligência e sob este aspecto é que maior proveito tira.
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