09 esboço de o livro dos médiuns
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Allan Kardec - O Livros dos Médiuns - Parte Segunda - Manifestações Espíritas - cap. 5 - Manifestações
Físicas Espontâneas - Fenômenos de Transporte
QUAL A MELHOR GARANTIA PARA PREVENÇÃO DE FRAUDES?
Manifestações Visuais
103 Dissemos que a aparição tem algo de vaporoso; em certos casos, pode-se compará-la à imagem refletida num espelho translúcido, que, apesar de sua nitidez, permite que sejam vistos os objetos que estão por detrás dele. Geralmente é assim que os médiuns videntes as distinguem; eles as vêem ir, vir, entrar num aposento ou sair dele, circular entre a multidão de vivos e, pelo menos para os Espíritos comuns, tomar parte ativa de tudo o que está acontecendo à volta deles, interessando-se por tudo e escutando o que se diz. Muitas vezes são vistos se aproximando de uma pessoa, soprando-lhe ideias, influenciando-as, consolando-as, se forem bons, ou zombando dela, se forem maus, mostrando-se tristes ou contentes com os resultados que obtêm, ou seja, eles são o espelho do mundo corporal. Assim é o mundo oculto que está ao nosso redor, no meio do qual vivemos sem dele desconfiar, como vivemos, sem desconfiar, no meio de milhares de seres do mundo microscópico.
O microscópio nos revelou o mundo dos seres infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos; o Espiritismo, pelos médiuns videntes, revelou-nos o mundo dos Espíritos, que, da mesma forma, é uma das forças ativas da natureza. Com a ajuda dos médiuns videntes, pudemos estudar o mundo invisível, conhecer seus costumes, assim como um povo de cegos poderia estudar o mundo visível valendo-se de algumas pessoas dotadas da visão (Veja o capítulo 14, Médiuns, item no 5, Médiuns videntes).
104 O Espírito que quer ou pode fazer-se visível apresenta às vezes uma forma muito nítida, com todas as aparências do corpo, a ponto de produzir uma ilusão completa e fazer acreditar que temos diante de nós um ser corporal. Em alguns casos, e em especiais circunstâncias, a tangibilidade pode tornar-se real, ou seja, podemos tocar a aparição, apalpá-la, sentir a mesma resistência, o mesmo calor de um corpo vivo, o que não a impede de desaparecer com a rapidez de um relâmpago. Não é só por meio dos olhos que, nesse caso, constatamos sua presença, mas também pelo toque. Se pudéssemos atribuí-la a uma ilusão ou até mesmo a um efeito de fascinação, a dúvida não mais existiria porque se tornaria possível segurá-la, apalpá-la, no mesmo instante em que ela nos toca e abraça. As aparições tangíveis são raras; porém, as que têm acontecido nesses últimos tempos por intermédio de alguns médiuns poderosos e que possuem toda a autenticidade de testemunhos irrecusáveis provam e explicam o que a história conta em relação a pessoas que apareceram depois de sua morte com todas as aparências da realidade. Enfim, como já dissemos, por mais extraordinários que sejam esses fenômenos, tudo o que têm de maravilhoso desaparece quando se conhece a maneira como se produzem e se compreende que, longe de serem uma anulação das leis da natureza, não passam de uma aplicação dessas leis.
105 Por sua natureza e no seu estado normal, o perispírito é invisível, sendo isso comum a uma infinidade de fluidos que sabemos existir, mas que, apesar disso, jamais vimos. Ele também pode, da mesma maneira que certos fluidos, sofrer modificações que o tornam perceptível à visão, seja por uma espécie de condensação ou por uma mudança na disposição molecular; então nos aparece sob forma vaporosa. A condensação (não devemos tomar essa palavra ao pé da letra; nós a empregamos pela falta de outra e a título de comparação), dizemos, pode ser de tal modo que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível, mas que pode instantaneamente recuperar seu estado etéreo e invisível. Podemos entender o processo como no vapor, que passa da invisibilidade a um estado brumoso, de neblina, depois líquido, depois sólido e vice-versa. Esses diferentes estados do perispírito são resultantes da vontade do Espírito, e não de uma causa física exterior, como ocorre com os gases. Quando o Espírito nos aparece, é porque provocou no seu perispírito o estado necessário para torná-lo visível; mas para isso só a sua vontade não basta, porque a modificação do perispírito se dá pela combinação do seu fluido com o do próprio médium; porém, essa combinação nem sempre é possível, o que explica por que a visibilidade dos Espíritos não é geral. Assim, não basta que o Espírito queira tornar-se visível; também não basta que uma pessoa queira vê-lo: é preciso que os dois fluidos possam se combinar, que exista entre eles uma espécie de afinidade; é preciso também que a emissão do fluido da pessoa seja abundante o suficiente para operar a transformação do perispírito, e provavelmente haja outras condições que desconhecemos; é preciso, ainda, que o Espírito tenha a permissão de se tornar visível a tal pessoa, o que nem sempre lhe é concedido ou apenas o é em algumas circunstâncias, por motivos que não temos condições de avaliar.
106 Uma outra propriedade do perispírito, ligada à sua natureza etérea, é a penetrabilidade. Nenhuma matéria lhe é obstáculo: atravessa todas elas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Nada pode impedir a presença dos Espíritos; eles podem visitar um prisioneiro no calabouço tão facilmente quanto um homem no meio de um campo.
107 As aparições que ocorrem quando se está desperto não são incomuns, muito menos novidades; existem há muito tempo; a história as registra em grande número; porém, não precisamos recuar tanto, porque nos dias atuais são muito frequentes, e muitas pessoas que as viram classificaram-nas, a princípio, de alucinações. Elas são bastante frequentes, especificamente no caso da morte de pessoas ausentes, que vêm visitar seus parentes ou amigos. Muitas vezes, as aparições parecem não ter um objetivo determinado; pode-se dizer que os Espíritos que aparecem assim são atraídos pela simpatia. Se cada um questionar suas lembranças, será constatado que há poucas pessoas que não conhecem alguns fatos desse gênero, cuja autenticidade não poderia ser colocada em dúvida.
108 Acrescentaremos às considerações anteriores o exame de alguns efeitos de ótica que deram lugar ao que se quis chamar de sistema dos Espíritos glóbulos.
A aparência do ar nem sempre é de limpidez absoluta, e há ocasiões em que as correntes de moléculas aeriformes e sua agitação produzida pelo calor são perfeitamente visíveis num feixe de luz. Algumas pessoas consideraram isso uma aglomeração de Espíritos se agitando no espaço; essa opinião em si só é suficiente para ser descartada. Mas há uma outra espécie de ilusão, não menos estranha, contra a qual é bom estar precavido.
O humor aquoso4 do olho possui pontos dificilmente perceptíveis que perderam parte de sua transparência. Esses pontos são como áreas opacas suspensas no humor aquoso do globo ocular, que as movimenta. Elas se projetam na imagem visual e a distância, pelo efeito da ampliação e da refração, com a aparência de pequenos discos que variam de um a dez milímetros de diâmetro e parecem flutuar na atmosfera. Vimos pessoas tomarem esses discos por Espíritos que as seguiam e as acompanhavam por toda parte e, em seu entusiasmo, tomarem por figuras as nuanças de irisação*, o que é tão irracional quanto ver uma figura na Lua. Bastaria que essas pessoas se observassem para voltar ao terreno da realidade.
Esses discos ou medalhões, dizem elas, não apenas as acompanham, mas seguem todos os seus movimentos: vão para a direita, para a esquerda, para o alto, para baixo ou param, de acordo com o movimento da cabeça. Isso não tem nada de surpreendente; uma vez que são projetados pelo globo ocular, devem por isso acompanhar todos os movimentos dos olhos. Se fossem Espíritos, seria preciso convir que eles estariam condicionados a um papel bastante mecânico para seres inteligentes e livres; papel bastante enfadonho até mesmo para Espíritos inferiores e, com razão maior, incompatível com a ideia que fazemos dos Espíritos superiores. Alguns, é verdade, tomam por maus Espíritos as manchas negras ou as moscas amauróticas5. Os discos, do mesmo modo que as manchas negras, fazem um movimento ondulatório dentro de um certo ângulo, e o que aumenta a ilusão é que não seguem bruscamente os movimentos da linha visual.
A razão é bem simples. Os pontos opacos do humor aquoso, causa do fenômeno, estão, como já dissemos, em suspensão, e sempre têm tendência para descer; quando sobem, é porque são levados pelo movimento dos olhos de baixo para cima; mas, quando atingem uma certa altura, se fixarmos os olhos, vemos os discos descerem por si mesmos e depois pararem. Por causa da sua extrema mobilidade, basta um movimento imperceptível do olho para fazê-los mudar de direção e rapidamente percorrer toda a amplitude do arco no espaço em que se produz a imagem. Enquanto não for provado que uma imagem possui movimento próprio, espontâneo e inteligente, devemos ver nisso apenas um simples fenômeno ótico ou fisiológico.
O mesmo acontece com as faíscas que se produzem algumas vezes em feixes mais ou menos compactos, pela contração do músculo do olho, e que são provavelmente resultantes da eletricidade fosforescente da íris, uma vez que estão limitadas à circunferência do disco desse órgão.
Essas ilusões são resultantes de uma observação incompleta. Todo aquele que estudar seriamente a natureza dos Espíritos, por todos os meios que a ciência prática oferece, compreenderá tudo o que elas têm de infantil. Assim como combatemos as teorias duvidosas com que atacam as manifestações espíritas quando são baseadas na ignorância dos fatos, devemos do mesmo modo procurar destruir as ideias falsas que mostram mais entusiasmo do que reflexão e que, por isso mesmo, causam mais mal do que bem aos incrédulos, já tão dispostos a destacar sempre o lado ridículo.
109 O perispírito, como se vê, é o princípio de todas as manifestações; ao se revelar, proporcionou a chave para uma multidão de fenômenos; permitiu que a ciência espírita desse um grande passo, que trilhasse um caminho novo, eliminando toda ideia do maravilhoso. Encontramos, graças aos próprios Espíritos, porque observai que foram eles mesmos que nos colocaram nesse caminho, a explicação da ação do Espírito sobre a matéria, do movimento dos corpos inertes, dos ruídos e das aparições. Deram-nos também a explicação de outros fenômenos diversos, que nos resta examinar antes de passarmos ao estudo das comunicações propriamente ditas. Poderemos compreendê-las melhor se conhecermos mais as causas básicas. Se compreendermos bem essas causas, poderemos facilmente as aplicar aos diversos fatos que surgirem.
110 Estamos bem longe de considerar a teoria que apresentamos como absoluta e como a última palavra; ela será sem dúvida completada ou retificada mais tarde por novos estudos; mas, por mais incompleta ou imperfeita que esteja hoje, sempre pode auxiliar a compreender os fatos, por meios que não têm nada de sobrenatural; se é uma hipótese, não há como lhe recusar o mérito da racionalidade e da probabilidade, e pelo menos vale tanto quanto todas as explicações que os negadores dão querendo provar que tudo não passa de ilusão, fantasmagoria e subterfúgio nos fenômenos espíritas.
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