09 esboço de o livro dos médiuns 23
Allan Kardec - O Livros dos Médiuns - Parte Segunda - Manifestações Espíritas - cap. 7 - Bicorporeidade e Transfiguração
SANTO ANTÔNIO APARECE EM PÁDUA PARA INOCENTAR SEU PAI ENQUANTO ESTAVA NA ESPANHA
COMO EXPLICAR ESTE FENÔMENO?
Laboratório do Mundo Invisível
Laboratório do Mundo Invisível
126 Já dissemos que os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas, envoltos em panos ou com as roupas que usavam quando vivos. Os panos parecem ser um costume geral no mundo dos Espíritos; mas pergunta-se: onde eles vão buscar as roupas semelhantes àquelas que usavam quando estavam vivos, com todos os acessórios? É bem evidente que não os levaram com eles, uma vez que os objetos que usavam ainda estão sob nossos olhos; de onde provêm então os que usam no outro mundo? Essa questão intriga há muito tempo, embora para muitas pessoas seja uma simples questão de curiosidade; ela confirma, entretanto, uma questão de princípio de grande importância, porque sua resolução nos colocou no caminho de uma lei geral que encontra igualmente aplicação no nosso mundo corpóreo. Havia diversos fatos complicadores que demonstravam a insuficiência das teorias com que tentaram explicá-la.
Poderíamos até certo ponto compreender a existência da roupa, considerá-la como algo que fizesse, de alguma forma, parte do indivíduo; o mesmo, porém, não acontece com os objetos acessórios, como por exemplo a tabaqueira do visitante da senhora doente, de quem falamos na questão no 116. Lembremos em relação àquele fato de que não se tratava de um morto, e sim de um vivo, e que, quando o homem apareceu em pessoa, tinha uma tabaqueira exatamente igual à que usava. Onde seu Espírito havia encontrado a que tinha consigo quando estava aos pés da cama da doente? Poderíamos citar um grande número de casos em que Espíritos de mortos ou de vivos apareceram com diversos objetos, como bengalas, armas, lanternas, livros etc.
Ocorreu-nos então uma ideia: os corpos inertes poderiam ter seus semelhantes etéreos no mundo invisível; a matéria condensada que forma os objetos poderia ter uma parte quintessenciada além dos nossos sentidos.
Essa teoria não era totalmente inverossímil, impossível, mas era insuficiente para explicar todos os fatos. Entre eles há um, especialmente, que parecia destinado a frustrar todas as interpretações. Até então não se tratava senão de imagens ou aparências; já vimos que o perispírito pode adquirir as propriedades da matéria e tornar-se tangível, mas uma tangibilidade apenas momentânea, com o corpo sólido em seguida desaparecendo como uma sombra. Isso já é um fenômeno extraordinário, mas o que é ainda mais extraordinário é ver se produzir matéria sólida persistente, como provam numerosos fatos autênticos e notadamente o da escrita direta, do qual falaremos detalhadamente num capítulo especial. Todavia, como esse fenômeno se liga intimamente ao assunto que tratamos nesse momento, constituindo uma de suas aplicações mais evidentes, trataremos dele a seguir, antecipando a ordem na qual deveria vir.
127 A escrita direta ou pneumatografia se produz espontaneamente, sem a ajuda da mão do médium nem do lápis. Basta pegar uma folha de papel em branco, o que deve ser feito com todas as precauções necessárias para certificar-se de que não há nenhuma fraude, dobrá-la e colocá-la em qualquer lugar, numa gaveta ou simplesmente sob um móvel; no caso, se houver as devidas condições, depois de um certo tempo aparecerão traçados no papel, sinais diversos, palavras, frases e até mesmo discursos, na maioria das vezes escritos com uma substância acinzentada, parecida com chumbo, com lápis vermelho, com tinta comum e até mesmo com tinta de imprimir. Eis o fato em toda sua simplicidade e cuja reprodução, embora pouco comum, não é muito rara, pois há pessoas que conseguem fazê-lo com muita facilidade. Se fosse colocado um lápis junto com o papel, poderíamos acreditar que o Espírito se serviu dele para escrever; mas, a partir do momento em que o papel estava completamente sozinho, é evidente que a escrita se formou por uma matéria depositada sobre ele; de onde o Espírito tirou essa matéria? Essa é a questão. A tabaqueira, a que há pouco nos referíamos, levou-nos à solução do problema.
128 Foi o Espírito de São Luís quem nos deu a solução nas respostas
seguintes:
1. Citamos um caso de aparição do Espírito de uma pessoa viva. O Espírito tinha uma tabaqueira e a aspirava.
Ele sentia a mesma sensação que se experimenta quando fazemos o mesmo?
Não.
2. Aquela tabaqueira tinha a forma da que habitualmente ele usava e que estava guardada em sua casa. O que era essa tabaqueira nas mãos do Espírito?
Uma aparência; isso aconteceu para que a circunstância fosse notada, como realmente foi, e para que a aparição não fosse tomada como uma alucinação decorrente do estado de saúde da vidente. O Espírito queria que a senhora acreditasse na realidade de sua presença e, para isso, tomou todas as aparências da realidade.
3. Dizeis que foi uma aparência; mas uma aparência não tem nada de real, é como uma ilusão de ótica; gostaríamos de saber se a tabaqueira não passava de uma imagem sem realidade ou se havia nela algo de material.
Certamente era uma aparência; é com a ajuda desse princípio material que o perispírito toma a aparência das roupas semelhantes àquelas que o Espírito usava quando encarnado.
É evidente que é preciso entender aqui a palavra aparência no sentido de aspecto, imitação. A tabaqueira real não estava lá; a que o Espírito tinha não passava de uma representação; era uma aparência comparada à original, embora formada de um princípio material.
A experiência nos ensina que nem sempre se pode tomar ao pé da letra certas expressões empregadas pelos Espíritos; ao interpretá-las de acordo com nossas ideias, nós nos expomos a grandes equívocos; é por essa razão que é preciso aprofundar o sentido de suas palavras todas as vezes que apresentam a menor ambiguidade, duplicidade; é uma recomendação que os próprios Espíritos nos fazem constantemente. Sem a explicação que provocamos, a palavra aparência, constantemente utilizada em casos semelhantes, poderia dar lugar a uma falsa interpretação.
4. A matéria inerte poderia se desdobrar? Haveria no mundo invisível uma matéria essencial capaz de tomar a forma dos objetos que vemos? Em uma palavra, os objetos teriam seu duplo etéreo no mundo invisível, assim como os homens são nele representados pelos Espíritos?
As coisas não são bem assim; o Espírito tem, sobre os elementos materiais espalhados por todo o espaço, em vossa atmosfera, um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode, de acordo com sua vontade, concentrar esses elementos e lhes dar a forma aparente que quiser.
Essa pergunta, como se pode ver, era a tradução do nosso pensamento, ou seja, da ideia que tínhamos formado sobre a natureza desses objetos: a existência de semelhantes etéreos no mundo invisível. Se as respostas dos Espíritos fossem, conforme alguns pretendem, o reflexo do que as pessoas pensam, teríamos obtido a confirmação de nossa teoria, e não, como vemos, uma teoria contrária.
5. Faço de novo a pergunta de uma maneira categórica, a fim de evitar qualquer equívoco: As roupas com as quais os Espíritos se cobrem são alguma coisa?
Parece-me que minha resposta anterior resolve a questão. Não sabeis que o próprio perispírito é alguma coisa?
6. Dessa explicação resulta que os Espíritos fazem com que a matéria etérea sofra transformações de acordo com sua vontade. Assim, em relação à tabaqueira, por exemplo, o Espírito não a encontrou completamente feita; ele mesmo a fez no momento que tinha necessidade dela, por um ato de sua vontade, podendo desfazê-la; o mesmo pode acontecer com todos os outros objetos, como vestimentas, jóias etc.?
Evidentemente que sim.
7. A tabaqueira ficou visível para aquela senhora a ponto de lhe causar uma ilusão. O Espírito poderia tê-la tornado tangível para ela?
Sim, poderia.
8. A senhora poderia tê-la colocado nas mãos, certa de ter uma tabaqueira verdadeira?
Sim.
9. Se ela a abrisse, provavelmente teria encontrado rapé; se o tivesse aspirado, teria espirrado?
Sim.
10. O Espírito pode, então, dar não apenas a forma, mas também propriedades especiais ao objeto?
Se o quiser, sim; foi apenas em virtude desse princípio que respondi afirmativamente às perguntas anteriores.
Tereis provas da ação poderosa que o Espírito exerce sobre a matéria e da qual estais longe de suspeitar, como já vos disse.
11. Suponhamos, então, que o Espírito quisesse fazer uma substância venenosa; se uma pessoa a tomasse, ficaria envenenada?
Poder fazê-la, poderia sim, mas não a faria; isso não lhe seria permitido.
12. Teria o poder de fazer uma substância salutar e própria para curar em caso de doença? Isso já aconteceu?
Sim, isso já aconteceu muitas vezes.
13. Ele poderia então fazer uma substância alimentar? Suponhamos, uma fruta, um prato qualquer? Qualquer pessoa poderia comer e ficar saciada*?
Sim, sim; mas não procureis tanto para achar o que é tão fácil de compreender. Basta um raio de sol para tornar perceptíveis a vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço em que viveis. Não sabeis que o ar contém vapores de água? Se os condensardes, fareis com que voltem ao estado normal; se as privardes de calor, essas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão um corpo sólido, e bastante sólido; há ainda muitas outras substâncias das quais os químicos tirarão maravilhas mais espantosas; porém, o Espírito possui instrumentos mais perfeitos que os vossos: a vontade e a permissão de Deus.
A questão da saciedade é aqui muito importante. Como pode produzir a saciedade uma substância cuja existência e propriedades são temporárias e, de algum modo, convencionais? Essa substância, em contato com o estômago, produz a sensação da saciedade, mas não a saciedade resultante da plenitude. Se uma substância dessa natureza pode agir dessa forma e modificar um estado mórbido, ela também pode muito bem agir sobre o estômago e nele produzir a sensação de saciedade. Pedimos, entretanto, aos senhores farmacêuticos e aos fabricantes de fortificantes que não se preocupem e não acreditem que os Espíritos venham lhes fazer concorrência: esses casos são raros, excepcionais, e jamais dependem da vontade, porque senão as pessoas se alimentariam e se curariam a um preço baratíssimo.
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