09 esboço de o livro dos médiuns
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Allan Kardec - O Livros dos Médiuns - Parte Segunda - Manifestações Espíritas - cap. 9 - Natureza das Comunicações
QUAL O OBSTÁCULO QUE O ESPIRITISMO PRÁTICO ENFRENTA NAS COMUNICAÇÕES?
TIPOS DE MEDIUNIDADE
Sematologia e Tiptologia
Pneumatografia ou Escrita Direta - Pneumatofonia
Pneumatografia ou Escrita Direta - Pneumatofonia
146 A pneumatografia* é a escrita produzida diretamente pelo Espírito, sem nenhum intermediário. É diferente da psicografia**, que é a transmissão do pensamento do Espírito escrito pela mão de um médium.
O fenômeno da escrita direta é, sem dúvida, um dos mais extraordinários do Espiritismo; porém, por mais anormal que possa parecer de início, é hoje um fato verificado e incontestável. Se a teoria é necessária para se dar conta da possibilidade dos fenômenos espíritas em geral, ela o é ainda mais nesse caso, sem dúvida um dos mais estranhos que se possa apresentar, mas que deixa de parecer sobrenatural desde que se compreenda o princípio.
Na primeira vez que esse fenômeno foi revelado, o sentimento dominante foi o da dúvida; a ideia de um embuste logo veio ao pensamento; de fato, todas as pessoas conheciam a ação das tintas chamadas simpáticas ou invisíveis, cujos traços de início não se vêem, mas aparecem depois de algum tempo. Havia, pois, a suspeita de ter-se abusado da credulidade, e não afirmamos que isso nunca tenha sido feito; estamos até convencidos de que algumas pessoas, seja por objetivos comerciais, seja unicamente por amor-próprio e para fazer acreditar em seu poder, têm empregado esse subterfúgio (Veja o capítulo 28, Charlatanismo e trapaça, item no 2, Fraudes espíritas).
Mas, pelo fato de se poder imitar uma coisa, seria absurdo concluir que ela não existe. Não se tem, nesses últimos tempos, encontrado o meio de imitar a lucidez sonambúlica a ponto de causar ilusão? E, pelo fato de exibirem essa enganação em tantos espetáculos, deve-se concluir que não existem verdadeiros sonâmbulos? O fato de alguns comerciantes venderem vinho falsificado é razão para não haver vinho puro? O mesmo acontece com a escrita direta; as precauções a serem tomadas para se certificar do fato eram, aliás, bem simples e bem fáceis, e, graças a essas precauções, não se pode hoje lhe opor nenhuma dúvida.
147 Uma vez que a possibilidade de escrever sem intermediário é um dos atributos do Espírito e que os Espíritos sempre existiram e sempre produziram os diversos fenômenos que conhecemos hoje, eles também devem ter produzido o fenômeno da escrita direta na Antiguidade tanto quanto nos dias atuais; é assim que pode ser explicada a aparição das três palavras no salão de festas de Baltasar1. A Idade Média, tão fecunda em prodígios ocultos, mas que foram abafados nas fogueiras, também deve ter conhecido a escrita direta e talvez encontrasse na teoria das modificações que os Espíritos podem operar sobre a matéria, e que desenvolvemos no capítulo 8, Laboratório do mundo invisível, o princípio da crença na transmutação dos metais.
Quaisquer que tenham sido os resultados obtidos em diversas épocas, foi apenas depois da popularização das manifestações espíritas que se levou a sério a questão da escrita direta. O primeiro que a difundiu em Paris nos últimos anos foi o barão de Guldenstubbe, que publicou sobre esse assunto uma obra bastante interessante, contendo um grande número de fac-símiles das escritas que obteve. O fenômeno já era conhecido nos Estados Unidos há algum tempo. A posição social do barão de Guldenstubbe, sua independência, a consideração de que desfrutava nas mais altas rodas afastam incontestavelmente toda suspeita de fraude voluntária, pois ele não poderia ter sido movido por nenhum motivo de interesse. Quando muito, o que se poderia supor é que teria sido vítima de uma ilusão; porém, em relação a isso, um fato responde categoricamente: a obtenção do mesmo fenômeno por outras pessoas cercadas de todas as precauções necessárias para evitar qualquer fraude ou qualquer motivo de erro.
148 A escrita direta é obtida, assim como a maior parte das manifestações não-espontâneas, por meio do recolhimento, da prece e da evocação. Muitas vezes, são obtidas em igrejas, sobre os túmulos, aos pés de estátuas ou de imagens de personagens que são evocadas; mas é evidente que a localidade não tem outra influência senão a de provocar um maior recolhimento e uma concentração maior do pensamento; porque está provado que ela pode ser obtida igualmente nos lugares mais comuns, sobre um simples móvel doméstico, se houver as condições morais necessárias e se houver alguém com a faculdade mediúnica necessária.
No princípio, acreditou-se ser preciso colocar um lápis e um papel; o fato podia, então, até certo ponto, ser explicado. Sabemos que os Espíritos operam o movimento e o deslocamento de objetos, que eles os pegam e os lançam, algumas vezes, bem longe; eles poderiam, então, muito bem apanhar o lápis e escrever; visto que fazem isso pela mão do médium, por uma prancheta etc., poderiam igualmente fazê-lo de uma maneira direta. Porém, não tardou para que se verificasse que a presença do lápis não era necessária e que bastava um simples pedaço de papel, dobrado ou não, para que nele, após alguns minutos, aparecesse a escrita. Aqui o fenômeno muda completamente de aspecto e nos lança para uma ordem de coisas inteiramente nova. As letras foram escritas com uma substância qualquer; a partir do momento que ninguém forneceu essa substância ao Espírito, então, foi ele mesmo quem a fez; de onde a tirou? Aí estava o problema.
Se quisermos nos reportar às explicações dadas no capítulo 8, questões nos 127 e 128, encontraremos a teoria completa desse fenômeno. Nessa escrita, o Espírito não se serve nem de nossas substâncias nem de nossos instrumentos; ele mesmo faz a matéria e os instrumentos de que precisa, tirando seus materiais do elemento primitivo universal, que, pela ação de sua vontade, sofre as modificações necessárias para o efeito que ele quer produzir. Ele pode, portanto, muito bem fabricar tanto o lápis vermelho, a tinta de imprimir, a tinta comum quanto o lápis preto ou até mesmo caracteres tipográficos bastante resistentes para dar relevo à escrita, conforme pudemos verificar. A filha de um senhor que conhecemos, uma criança de uns doze ou treze anos, obteve páginas inteiras escritas com uma substância amarelada parecida com o lápis pastel, uma espécie de lápis de cera.
149 Tal é o resultado a que nos conduziu o fenômeno da tabaqueira relatado no capítulo 7, Bicorporeidade e transfiguração, questão no 116, e sobre o qual nos estendemos longamente, porque nele encontramos a ocasião de observar uma das leis mais importantes do Espiritismo, lei que pode esclarecer mais de um mistério até mesmo do mundo visível. É assim que de um fato, aparentemente comum, pode sair a luz. Tudo está em observar com cuidado, e isso cada um pode fazer como nós, desde que não se limite a observar os efeitos sem lhes procurar as causas. Se nossa fé se fortalece a cada dia, é porque compreendemos; tratai, então, de compreender, se quereis fazer seguidores sérios. Quando se compreende as causas, há ainda um outro resultado: consegue-se traçar uma linha divisória entre a verdade e a superstição.
Se considerarmos a escrita direta sob o ponto de vista das vantagens que pode oferecer, diremos que, até o momento presente, sua principal utilidade foi a constatação de um fato importantíssimo: a intervenção de um poder oculto que nos mostra um novo meio de se manifestar. Porém, as comunicações que são obtidas dessa forma raramente são extensas; geralmente são espontâneas e limitadas a palavras, frases e, muitas vezes, sinais ininteligíveis; elas têm sido obtidas em todas as línguas: em grego, latim, sírio, em caracteres hieroglíficos etc., porém ainda não se prestaram às dissertações seguidas e rápidas, como conseguimos com a psicografia, a escrita pela mão dos médiuns.
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