quarta-feira, 1 de julho de 2015

6 = A REENCARNAÇÃO

Gabriel Delanne

Tradução de Carlos Imbassahy publicada pela Federação Espírita Brasileira

5a Reunião

Objeto do estudo: Capítulos XIII e XIV.

Questões para debate

A. Os Espíritos materializados podem andar, falar, escrever? (Cap. XIII, págs. 283 e 284. Ver itens 158 a 160 do texto abaixo.)
B. Onde e como o perispírito adquiriu suas propriedades? (Cap. XIII, págs. 284 a 287. Ver itens 160 a 164 do texto abaixo.)
C. Segundo Pitres, Bourru, Janet e outros, as aquisições que fazemos deixam um traço indelével em nós. Nem sempre, porém, vêm à nossa consciência, de imediato, todas as coisas que estudamos. Isso significa que esse conhecimento se perdeu? (Cap. XIII, págs. 288 e 289. Ver itens 165 e 166  do texto abaixo.)
D. Existe a hereditariedade psicológica? (Cap. XIII, págs. 291 e 292. Ver itens 168 a 171 do texto abaixo.)
E. Sem a explicação dada pela Palingenesia, como explicar fenômenos como o de Hennecke, que aos 2 anos sabia três línguas e com 2 anos e meio, mamando ainda, pôde prestar um exame de História? (Cap. XIII, págs. 292 e 293. Ver itens 171 a 173 do texto abaixo.)
F. Se a reencarnação realmente existe, por que nos esquecemos das vidas passadas? (Cap. XIV, págs. 300 a 302. Ver itens 176 e 177 do texto abaixo.)
G. Todos os incidentes infelizes da vida são expiações de faltas passadas? (Cap. XIV, págs. 302 e 303. Ver itens 178 e 179 do texto abaixo.)
H. Qual é, afinal, o objetivo da reencarnação? (Cap. XIV, págs. 304 a 306. Ver itens 180 a 187 do texto abaixo.)

Texto para consulta

154. Vimos, das pesquisas feitas pelos sábios mais notáveis do mundo inteiro, que existe no homem um princípio transcendental, desconhecido dos quadros da Fisiologia oficial, porque se nos revela com faculdades que o tornam muitas vezes independente das condições de tempo e espaço que regem o mundo material. (PÁG.  281)

155. É absolutamente certo que o pensamento de um indivíduo pode exteriorizar-se e agir a distância sobre outro ser vivo, independentemente de qualquer ação sensorial. A isso chamamos Telepatia. (PÁGS.  281 e 282)

156. O conjunto das provas nos permite dizer que o Espírito não é um produto do corpo, pois que sobrevive à morte física, e possui sempre o mesmo organismo fluídico, que o acompanha durante a vida e o individualiza depois que se separa do corpo material. (PÁG.  283)

157. Durante a vida, o conhecimento do perispírito faz-nos compreender: 1o - a conservação do tipo indi-
vidual, apesar da renovação incessante de todas as moléculas carnais; 2o - a reparação das partes lesadas; 3o - a continuidade das funções vitais, num meio continuamente em renovação. (PÁG.  283)

158. Nas sessões de materialização se forma um ser estranho aos assistentes e que é objetivo, porque todos o descrevem da mesma maneira, porque é possível fotografá-lo, porque deixa impressões digitais, porque age fisicamente e porque pode falar e escrever. (PÁGS.  283 e 284)

159. O ser materializado possui todas as propriedades fisiológicas de um ser humano comum e faculdades psicológicas. (PÁG.  284)

160. Uma vez que o perispírito possui a faculdade de materializar-se, supomos que no instante do nascimento é ele que forma seu invólucro corporal, que não passa de uma materialização estável e permanente. (PÁG.  284)

161. O corpo espiritual conserva o estatuto das leis biológicas que regem a matéria organizada, e contém todos os arquivos da vida mental. (PÁG.  284)

162. Verificamos que as faculdades transcendentais, como a telepatia, a clarividência, e mesmo a ideoplastia, existem também nos animais. (PÁG.  285)

163. O perispírito adquiriu suas propriedades funcionais, no curso de suas evoluções terrestres, passando, sucessivamente, por toda a fieira da série animal, numa gradação sucessiva e numa evolução contínua. (PÁG.  286)

164. Em todos os seres vivos há as mesmas contribuições orgânicas, as mesmas funções vitais, o mesmo princípio pensante, o mesmo invólucro perispiritual. (PÁG.  287)

165. As experiências de Pitres, Bourru e Burot, Janet e outros provaram que tudo que recebemos deixa um traço indelével, mas as aquisições intelectuais não se apresentam simultaneamente à consciência: a regra é que seu maior número seja esquecido. Esse esquecimento não significa, porém, destruição.  (PÁG.  288)

166. A subconsciência registra sempre os estados mentais e os associa indissoluvelmente aos estados fisiológicos contemporâneos, de sorte que, ressuscitando-se os primeiros, fazem-se renascer os segundos, e vice-versa. Essa regressão da memória pode dar-se espontaneamente ou ser provocada por diferentes processos. Os espiritistas, praticando as experiências magnéticas, descobriram esse poder de renovação das lembranças terrestres, durante a vida, e prosseguiram na regressão até os estados anteriores ao nascimento atual. (PÁGS.  288 e 289)

167. As personalidades distintas que se observam em cada encarnação não prejudicam o princípio da identidade, pois verificamos que um mesmo indivíduo, no curso da vida, pode apresentar oposições prodigiosas de caráter, como Luís V., ora calmo e honesto, ora ladrão e turbulento. (PÁG.  290)

168. Desde que o perispírito possui o poder de organizar a matéria, é a ele que atribuímos essa função para explicar a formação do embrião e do feto. (PÁG.  291)

169. Os caracteres secundários, pertencentes aos pais, podem ser atribuídos a uma ação magnética do pai e da mãe, que modifica mais ou menos profundamente o tipo perispiritual do ser que se encarna, para lhe dar semelhança com seus genitores. (PÁG.  291)

170. Essa hereditariedade física existe, mas não é geral nem absoluta: o mesmo não acontece quando se trata da hereditariedade psicológica, que não existe nunca. (PÁG.  292)

171. Cada ser, voltando à Terra, traz consigo a bagagem do passado. (PÁG.  292)

172. Como explicar de outra forma o caso inverossímil, mas bem real, de Hennecke, que aos 2 anos sabia três línguas e com 2 anos e meio, mamando ainda, pôde prestar um exame de História e Geografia? (PÁG.  292)
173. Embora se saiba que a lembrança do passado, que se manifesta de maneira tão brilhante nas crianças prodígios, não é geralmente conservada, é possível, por vezes, que o Espírito encarnado recupere, momentaneamente, parte de suas lembranças anteriores, quando se veja em lugares antes habitados por ele. (PÁG.  293)

174. Quanto à origem da alma, as opiniões dos teólogos reduzem-se a duas hipóteses: uns admitem que todas as almas estavam contidas na de Adão e que se transmitem pela geração  tal a opinião de S. Jerônimo, Lutero e Tertuliano, que não foi admitida universalmente. Outros entendem que é preciso um ato da vontade divina para que se crie uma alma a cada nascimento, o que é inconciliável com a bondade e justiça de Deus. (PÁG.  298)

175. O estudo das comunicações espíritas provou que a situação da alma, depois da morte, é regida por uma lei de justiça infalível, segundo a qual os seres se encontram em condições de existência rigorosamente determinadas por seu grau evolutivo e pelos esforços que faz para melhorar-se. (PÁG.  299)

176. Admitindo-se que o nascimento  atual é precedido de uma série de existências anteriores,  tudo  se  esclarece e se explica com facilidade: os homens trazem, ao nascer, a intuição do que já adquiriram e são mais ou menos adiantados,  segundo o número de existências percorridas. (PÁG.  300)

177. O esquecimento de nosso passado se explica também com facilidade: se a renovação do passado fosse geral, ela perpetuaria as dissensões e os ódios que foram a causa das faltas anteriores, e se oporia ao progresso. (PÁG.  302)

178. É preciso observar que os incidentes infelizes da vida não são, necessariamente, expiações de faltas anteriores. As provas são condições indispensáveis para obrigar-nos a vencer nosso egoísmo e desenvolver as faculdades e virtudes que nos fazem falta. (PÁG.  302)

179. O mal não é uma fatalidade inelutável de que não nos podemos libertar: é um aguilhão, uma necessidade destinada a compelir o homem para a estrada do progresso. (PÁG.  303)

180. Apesar dos sofismas dos retóricos, o progresso não é uma utopia. Do ponto de vista material, o progresso salta aos olhos, embora, do ponto de vista moral, seja ele mais lento. Quem pode comparar o proletariado atual com a escravidão antiga? (PÁG.  304)

181. As vidas sucessivas têm, pois, por objeto o desenvolvimento da inteligência, do caráter, das faculdades, dos bons instintos, e a supressão dos maus. (PÁG.  305)

182. Sendo contínua a evolução e perpétua a criação, cada um de nós, no correr das existências, é feitura de si mesmo. (PÁG.  305)

183. Partimos todos do mesmo ponto, para chegar ao mesmo fim, e essa comunhão de origem mostra-nos claramente que a fraternidade não é uma palavra vã. (PÁG.  305)

184. O egoísmo é, ao mesmo tempo, um vício e um mau cálculo, porque a melhoria geral só pode resultar do progresso individual de cada um dos membros que constituem a sociedade. (PÁGS.  305 e 306)

185. Quando estas grandes verdades forem bem compreendidas, encontrar-se-á menos dureza entre os que possuem, e menos ódio e inveja nas classes inferiores. (PÁG.  306)

186. Se os que detêm a riqueza ficassem persuadidos de que, na próxima encarnação, poderão surgir nas classes indigentes, teriam evidente interesse em melhorar as condições sociais dos trabalhadores, e estes, reciprocamente, aceitariam com resignação a sua situação momentânea, sabendo que, mais tarde, poderão estar, por sua vez, entre os privilegiados. (PÁG.  306)

187. A Palingenesia é, pois, uma doutrina essencialmente renovadora, é um fator de energia, visto que estimula em nós a vontade, sem a qual nenhum progresso individual ou geral pode realizar-se. (PÁG.  306)

188. Podemos, então, dizer com Maeterlinck:

"Reconheçamos, de passagem, que é lamentável não sejam peremptórios os argumentos dos teósofos e dos neo-espiritistas; porque não houve nunca uma crença mais bela, mais justa, mais pura, mais moral, mais fecunda, mais consoladora, e até certo ponto verossímil que a deles".
"Tão só com a sua doutrina das expiações e das purificações sucessivas, ela explica todas as desigualdades sociais, todas as injustiças abomináveis do destino."  (PÁGS.  306 e 307)


APÊNDICE

1.  Nascido em Paris a 23 de março de 1857, no mesmo ano em que veio a lume a primeira edição de O Livro dos Espíritos, Gabriel Delanne faz parte, ao lado de Léon Denis, Camille Flammarion e Ernesto Bozzano, da elite de escritores espíritas cujas obras o estudioso do Espiritismo não pode desconhecer. Sua desencarnação ocorreu em 15 de fevereiro de 1926, pouco antes de completar 69 anos de idade.

2. As obras de Gabriel Delanne constantes do catálogo da Federação Espírita Brasileira são:  O Fenômeno Espírita,  de 1893;  A Alma é Imortal, de 1895; A Evolução Anímica, de 1895; O Espiritismo perante a Ciência e A Reencarnação.

3. Seu pai, Alexandre Delanne, e sua mãe foram amigos e íntimos companheiros de Kardec durante todo o tempo em que o Codificador realizou em Paris seu trabalho de estruturação da doutrina espírita. Quando Kardec desencarnou, Alexandre Delanne foi a primeira pessoa a dirigir-se à casa do Codificador, atendendo com presteza a um chamado feito pela sra. Amélie Boudet.

4. Ao ver o corpo de Kardec inanimado, Delanne friccionou-o, magnetizou-o, mas em vão. Tudo estava acabado. Conta o sr. E. Müller em carta dirigida ao sr. Finet, referindo-se à visita que fez naquele mesmo dia à casa do Codificador: Penetrando a casa, com móveis e utensílios diversos atravancando a entrada, pude ver, pela porta aberta da grande sala de sessões, a desordem que acompanha os preparativos para uma mudança de domicílio; introduzido numa pequena sala de visitas, que conheceis bem, com seu tapete encarnado, e seus móveis antigos, encontrei a sra. Kardec assentada no canapé, de face para a lareira; ao seu lado, o sr. Delanne; diante deles, sobre dois colchões colocados no chão, junto à porta da pequena sala de jantar, jazia o corpo, restos inanimados daquele que todos amamos. Sua cabeça, envolta em parte por um lenço branco atado sob o queixo, deixava ver toda a face, que parecia repousar docemente e experimentar a suave e serena satisfação do dever cumprido.

5. Um fato curioso ocorrido com Gabriel Delanne, quando ele contava 8 anos, é relatado por Kardec na Revista Espírita de 1865, às págs. 312 a 314. Trata-se de uma experiência de tiptologia que Gabriel, auxiliado por três crianças de sete, cinco e quatro anos, realizou a pedido de uma senhora. O menino, após a evocação, pediu a ela que perguntasse quem respondia. A mulher interrogou e a mesa soletrou duas palavras: Teu pai. Na seqüência, a pedido dela, o Espírito deu três provas de que era mesmo seu pai quem ali se manifestava.

6. Comentando o caso, Kardec informa que não era a primeira vez que a mediunidade se revelava em crianças e o que ocorreu fora já anunciado numa célebre profecia: Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, a que se reporta o livro Atos dos Apóstolos, 2:17.


Londrina, fevereiro de 2001
GEEAG - Grupo de Estudos Espíritas Abel Gomes
Astolfo Olegário de Oliveira Filho
A Reencarnação.doc

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